Questõesde UFU-MG 2016 sobre Português
Havia em Recife inúmeras ruas, as ruas dos ricos, ladeadas por palacetes
que ficavam no centro de grandes jardins. Eu e uma amiguinha brincávamos
muito de decidir a quem pertenciam os palacetes. “Aquele branco é meu. ” “Não,
eu já disse que os brancos são meus. ” “Mas esse não é totalmente branco, tem
janelas verdes. ” Parávamos às vezes longo tempo, a cara imprensada nas
grades, olhando. [...] Numa das brincadeiras de “essa casa é minha”, paramos diante de
uma que parecia um pequeno castelo. No fundo via-se o imenso pomar. E, à
frente, em canteiros bem ajardinados, estavam plantadas as flores.
LISPECTOR, Clarice. Cem anos de perdão. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
p. 60.
A narrativa de ficção joga com sentidos duplos e figurados e explora as variadas
possibilidades da linguagem. Na obra de Clarice Lispector, para atingir uma maior
expressividade na construção do texto, destaca-se ainda a epifania. Considerando-se o
conceito de epifania na obra dessa autora, pode-se ler o conto Cem anos de perdão como
I(...)O menino tinha no olhar um silêncio de chãoe na sua voz uma candura de Fontes.O Pai achava que a gente queria desver o mundopara encontrar nas palavras novas coisas de verassim: eu via a manhã pousada sobre as margens dorio do mesmo modo que uma garça aberta na solidãode uma pedra.(...)BARROS, Manoel de. Menino do mato. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2015. p.13
Em Menino do mato, um eu lírico menino tem o desejo de apreender, sem se
preocupar com explicações, as coisas do mundo, criar novidades por meio das palavras e
de sua inocência pueril. Essa mesma ideia perpassa o fragmento:
Com o intuito de compreender as razões do comportamento humano, a narradora do
conto Felicidade clandestina, de livro homônimo de Clarice Lispector, atém-se a um fato de
sua infância, em que uma menina, filha do dono de uma livraria, percebendo o gosto da
narradora pelos livros e pela leitura, promete lhe emprestar o livro As reinações de
Narizinho, de Monteiro Lobato. Entretanto, numa atitude de crueldade, sempre adia o
empréstimo. Para a narradora personagem, o comportamento da menina advém
Na obra Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, há contos em que crianças são
protagonistas, ora diante de situações densas, ora leves, com suas alegrias e tristezas na
relação com o outro. Nessa tessitura, o fio condutor do conto
Texto I
Logo descobriu que não podia absolutamente mais se mexer. Não se
admirou com esse fato, pareceu-lhe antes um pouco natural que até agora
tivesse conseguido se movimentar com aquelas perninhas finas. No restante
sentia-se relativamente confortável. Na realidade tinha dores no corpo, mas para
ele era como se elas fossem ficar cada vez mais fracas e finalmente
desaparecer por completo. A maçã apodrecida nas suas costas e a região
inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira mole, quase não o
incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de
que precisava desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã.
Permaneceu nesse estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da
torre bateu a terceira hora da manhã. Ele vivenciou o início do clarear geral do
dia lá do lado de fora da janela. Depois, sem intervenção da sua vontade, a
cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu fraco o último fôlego.
KAFKA, Franz. A metamorfose. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p.
78.
Texto II
Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em
atenção às voltas violentas que a água pesada dava no estômago, acordando
pequenos reflexos pelo resto do corpo como luzes. A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e
subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para
poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito
passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol
estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou
a cabeça no tronco da árvore e morreu.
LISPECTOR, Clarice. O grande passeio. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
p. 37-38
Embora de épocas e nacionalidades distintas, os protagonistas de A metamorfose e
do conto O grande passeio têm em comum a
Texto I
Logo descobriu que não podia absolutamente mais se mexer. Não se admirou com esse fato, pareceu-lhe antes um pouco natural que até agora tivesse conseguido se movimentar com aquelas perninhas finas. No restante sentia-se relativamente confortável. Na realidade tinha dores no corpo, mas para ele era como se elas fossem ficar cada vez mais fracas e finalmente desaparecer por completo. A maçã apodrecida nas suas costas e a região inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira mole, quase não o incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da manhã. Ele vivenciou o início do clarear geral do dia lá do lado de fora da janela. Depois, sem intervenção da sua vontade, a cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu fraco o último fôlego.
KAFKA, Franz. A metamorfose. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 78.
Texto II
Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em atenção às voltas violentas que a água pesada dava no estômago, acordando pequenos reflexos pelo resto do corpo como luzes. A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu.
LISPECTOR, Clarice. O grande passeio. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 37-38
Embora de épocas e nacionalidades distintas, os protagonistas de A metamorfose e
do conto O grande passeio têm em comum a
Depreende-se, da leitura de O santo e a porca, que Ariano Suassuna, ao dialogar com
a tradição, retomando a comédia Aululária, de Plauto, e O avarento, de Moliére, recriando-as
a partir de aspectos regionais e universais, associa
O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma
gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a
gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem
a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho
vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando
Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de
tudo.
O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai
arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.
Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.
Só afrouxa a rédea depois do gozo.
Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro
pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.
BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82
Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o
‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos
finais, Cristina
Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse
resgate do mito do deus Dionisos, o verso
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Considerando a leitura do poema e o uso dos recursos expressivos, em Dionisos
Dendrites,
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Uma das melhores interpretações já feitas do verbo “coitadinhar”, neologismo
que aprendi durante um papo-furado com uma grande amiga que é cega, foi feita
no feita no filme “Shrek”. Ela acontece no momento em que o Gato de Botas,
para fugir de uma situação em que estava encurralado, esbugalhou os olhos,
comprimiu o pescoço, ensaiou um choro e conseguiu, por fim, amolecer o
coração dos malvados que o cercavam ilesos. [...]
MARQUES, Jairo. Folha de S. Paulo, 16 de dezembro de 2015, B2 Cotidiano (fragmento).
Entende-se por neologismo a criação ou atribuição de um novo sentido a uma palavra
ou expressão já existente, por meio de processos também existentes na língua. Com base
nessa definição e na contextualização em que o termo “coitadinhar” foi utilizado no filme
“Shrek”, deduz-se que ele significa, EXCETO:
[...] Há uma velha máxima no universo da internet que diz: “Não alimente os trolls
(aqueles que praticam a trolagem – brincadeiras ofensivas que, muitas vezes,
ferem as leis).” Segundo essa teoria, quanto mais a população se incomoda
e quanto mais a mídia divulga as ações desses grupos, mais eles se
tornam populares e engajados. Os defensores da máxima dizem que ela
deveria valer também para a Justiça. Há quem defenda que a ideia de que, à
medida que as autoridades perseguem esses grupos (gangues virtuais), mais
malucos se dispõem a desafiá-las, devido à sensação de impunidade inerente ao
anonimato na rede. Mas, sejam eles alimentados ou não, muitos desses
baderneiros virtuais estão cometendo crimes no mundo real. [...]
FERRARI, Bruno. In: Época, 25 de janeiro de 2016, p. 69 (fragmento adaptado).
Com o objetivo de introduzir o tema do texto, o autor cita uma máxima da internet e, na
sequência, explicita-a. O processo constitutivo dessa explicação baseia-se em uma relação
O emprego das aspas em “nadas” (linha 11) deve-se ao fato de que o autor deseja

O texto tece reflexões acerca do passado, do futuro e do presente, argumentando a
favor da ideia de que se deve

Na Olimpíada da crise, os convidados especiais não vão contar assim com
tanta mordomia. Graças à baixa procura e ao desinteresse dos
patrocinadores, o comitê organizador dos Jogos está com dificuldade de
erguer camarotes para algumas modalidades. O de vôlei de praia, esporte
no qual o Brasil é destaque, não vai dispor da estrutura. O camarote para o
tênis, no Parque Olímpico, também foi cancelado. A construção ocorre
apenas se os pedidos são suficientes para compensar os custos.
Veja, ed. 2460, ano 49, nº. 2, 13 de janeiro de 2016, p. 29.
No último período do texto, as formas verbais em destaque foram empregadas
para
O vírus zika segue sua escalada. Ele é suspeito de causar boa parte dos
3.611 casos de microcefalia em bebês no Brasil desde outubro de 2015,
segundo o levantamento mais recente do Ministério da Saúde. No dia 17
de janeiro, a Organização Pan-Americana da Saúde na região, declarou
que 18 países, praticamente toda a América Latina, já detectaram casos
de infecção pelo vírus. O invasor chegou até a América do Norte. Durante
a última semana, apareceram notificações de casos nos Estados Unidos.
Foram duas gestantes em Illinois, outra com suspeita de zika na Califórnia
e três pessoas diagnosticadas na Flórida. Esses casos se somam aos
primeiros registrados no início do mês: uma mulher no Texas e um bebê
que nasceu com microcefalia no Havaí. [...] Um novo estudo, elaborado
por um grupo internacional de pesquisadores, sugere que é questão de
tempo até que o vírus comece a se disseminar dentro dos Estados Unidos
e, possivelmente, da Europa. [...]
BUSCATO, Marcela. Época, 25 de janeiro de 2016, p. 42 (fragmento).
Ao descrever a crescente trajetória do vírus zika, por meio de dados oficiais, a
produtora do texto tem por objetivo:

De acordo com as ideias desenvolvidas no texto, assinale a alternativa
INCORRETA.
De acordo com as ideias desenvolvidas no texto, assinale a alternativa
INCORRETA.