I(...)O menino tinha no olhar um silêncio de chãoe na sua voz uma candura de Fontes.O Pai achava que a gente queria desver o mundopara encontrar nas palavras novas coisas de verassim: eu via a manhã pousada sobre as margens dorio do mesmo modo que uma garça aberta na solidãode uma pedra.(...)BARROS, Manoel de. Menino do mato. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2015. p.13
Em Menino do mato, um eu lírico menino tem o desejo de apreender, sem se
preocupar com explicações, as coisas do mundo, criar novidades por meio das palavras e
de sua inocência pueril. Essa mesma ideia perpassa o fragmento:
Gabarito comentado
Gabarito comentado:
Tema central: Interpretação de texto e figuras de linguagem, exigindo do candidato a análise da visão poética e inocente da infância sobre o mundo, utilizando recursos expressivos e linguagem conotativa.
No fragmento de Manoel de Barros, nota-se a valorização do olhar infantil capaz de reinventar o mundo por meio da imaginação e da expressão poética: “o menino tinha no olhar um silêncio de chão” e “eu via a manhã pousada sobre as margens do rio”. Tanto o vocabulário quanto as imagens mostram uma compreensão sensível e criativa da realidade, típica da inocência pueril.
Análise da alternativa correta:
A) O trecho de Carlos Drummond de Andrade traz a postura imaginativa e fantasiosa do menino, frequentemente vista como mentira pelos adultos (“dragões da independência cuspindo fogo”, “tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu”). O diagnóstico “este menino é mesmo um caso de poesia” valoriza o poder criativo da infância — exatamente como o poema de Manoel de Barros, que sugere a capacidade de aprender o mundo por meio da beleza e imaginação, sem racionalizações adultas.
Essa resposta é confirmada pelas gramáticas consagradas (Bechara, Cunha & Cintra), que associam a linguagem conotativa e as figuras de linguagem ao discurso poético e à subjetividade própria da representação da infância.
Análise das alternativas incorretas:
B) Millôr Fernandes trabalha com crítica social e linguagem satírica, vemos termos como “Estrôncio 90”, “bicho-papão” e “homem verde”, que têm menos relação com inocência infantil e mais com ironia sobre a sociedade: o texto foge do olhar puro e criativo da criança.
C) Mário Quintana discorre sobre mudanças nos hábitos de leitura infantil, com tom nostálgico e crítico, mas não reproduz, em si, o encanto ou a imaginação poética infantil. O foco é a crítica à superficialidade dos “guinchos e uivos”, não a celebração da criatividade.
D) Vinicius de Moraes explora imagem sensorial e erótica com a lua, num lirismo adulto, distante do ponto de vista pueril. Não se trata de celebrar a inocência da criança, mas do poeta adulto enxergando (e transformando) o mundo.
Estratégia: Ao resolver questões assim, busque palavras-chave e tom do texto. Analise se o foco está na visão infantil, na criatividade espontânea, ou se há crítica social, nostalgia ou erotização – estes últimos desviam do tema central da questão.
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