Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse
resgate do mito do deus Dionisos, o verso
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto poético — O foco está em compreender como o poema utiliza imagens e símbolos ligados à mitologia para expressar sentidos e emoções. O exame das alternativas exige capacidade de identificar quais sentidos implícitos se comunicam por meio das metáforas e das referências ao mito de Dioniso.
Justificativa da alternativa correta:
Alternativa C – “Ramos nascem de seu peito” indica a relação de simbiose do deus Dioniso com a natureza.
Explicação: No universo mitológico e poético, Dioniso é o deus do vinho, da fertilidade e das forças vegetais. O verso destacado constrói uma metáfora: os “ramos” que nascem do peito de Dioniso representam a união vital do deus com a natureza – um crescimento orgânico que parte do próprio ser divino, simbolizando a renovação, o ciclo de vida e a fertilidade.
De acordo com Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), a interpretação coerente do texto deve considerar as relações semânticas entre as frases, bem como o contexto cultural do mito.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta: “As bocas mordem colos e flancos desnudados” não descreve um séquito de animais, e sim ações humanas marcadas por êxtase e sensualidade — provavelmente as bacantes ou tíades, seguidoras do deus.
B) Incorreta: “Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos” não subverte a ambientação de Dioniso. Pelo contrário, as festas dionisíacas são tradicionalmente noturnas, associadas ao mistério e à celebração do vinho.
D) Incorreta: “Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio” não se refere a vítimas imoladas, mas sim às participantes do culto, devotas extasiadas, que se ligam afetiva e religiosamente ao deus.
Dica importante: Ao interpretar poesias em provas, atente-se à simbologia dos versos e relacione-os ao contexto cultural. Evite interpretações literais de imagens nitidamente metafóricas ou simbólicas.
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