Texto I
O desafio da escolha profissional
Roseli Filizatti
Mello, F. A. F. (2002). O desafio da escolha profissional. São Paulo: Papirus, 240 p.
A opção por uma profissão nem sempre é algo fácil e pode tornar-se uma tortura para o jovem que
necessita posicionar-se diante de uma profissão. Isso ocorre porque normalmente a escolha é feita numa
época de transformações e mudanças físicas e psíquicas, o que por si só já gera conflitos. Além disso, a
sociedade, a família e os amigos cobram urgência num posicionamento para o qual nem sempre o jovem
está preparado.
No presente livro o autor disserta sobre a orientação vocacional, as dificuldades encontradas durante o
processo de escolha profissional e sobre as consequências que uma escolha inadequada pode trazer. São
explanadas também influências teóricas, tipos de orientação e reflexões sobre as variáveis relacionadas
com a escolha profissional. Os títulos e subtítulos que compõem os sete capítulos do livro elucidam
claramente o conteúdo tratado.
No primeiro capítulo, Orientação Vocacional e Psicologia: Visão Inicial, o autor relata um breve histórico
sobre a orientação vocacional (OV) e discute o significado do termo vocação. Expõe os fundamentos
teóricos que sustentam a OV, com base em diversas áreas de conhecimento psicológico: psicologia
diferencial, psicologia do desenvolvimento, psicologia da personalidade e psicodinâmica, psicologia social e
sociologia e psicologia industrial. O capítulo termina com a análise da influência externa e interna sobre os
comportamentos humanos e o papel da OV nesse contexto, qual seja, ajudar o sujeito a se conhecer e a
conhecer o seu meio, para então escolher uma profissão mais adequada a sua realidade e conteúdos
internos.
Concepções sobre o Processo de Orientação Vocacional, o segundo capítulo, relata, a princípio, as
principais teorias que conduzem a OV, abordando a psicometria, a carreira, a motivação e a teoria
psicodinâmica. O autor descreve as teorias, ressalta seus pontos fortes e dificuldades e alega que o ideal
seria uma integração dessas para melhor eficácia da OV. Defende que a OV faz parte de um processo, que
não se faz somente durante a orientação, e sim durante toda a história de vida do sujeito, que acumula
informações e reações emocionais trazidas da interação com o meio e aspectos internos, desde a infância,
e se transformam em crenças e preferências. Essas crenças e preferências são trazidas à tona nesse
processo e trabalhadas a fim de verificar se não são simplistas ou irreais. Durante o capítulo são definidos
alguns conceitos relacionados ao tema e às teorias descritas, como interesses, valores e crenças, validade,
fidedignidade, precisão e padronização.
O terceiro capítulo, Desenvolvimento, Maturidade e Adequação Vocacional, traz a explanação sobre o
desenvolvimento vocacional durante a vida do sujeito, como parte do desenvolvimento da personalidade. O
autor relaciona desenvolvimento vocacional com desenvolvimento ocupacional e desenvolvimento pessoal.
Ainda, salienta que o desenvolvimento desses processos se relaciona com a identidade pessoal, identidade
vocacional e identidade ocupacional. O capítulo estabelece os estágios da vida vocacional-ocupacional:
estágio do crescimento, exploratório, estabelecimento, declínio e aposentadoria, descrevendo os fatores
que podem afetar esse desenvolvimento.
No quarto capítulo, O Processo da Escolha Profissional, o autor alega que a escolha se faz sempre num
processo constante de diagnóstico-prognóstico (feito pelo sujeito e pelo orientador), envolvendo diagnóstico
pessoal, informação ocupacional e prognóstico vocacional. Entre as teorias psicométrica, psicodinâmica ou
integrada, defende como melhor solução o uso da teoria integrada. Uma escolha vocacional traz conflitos
porque envolve, além das aptidões, capacidades, desejos e aspirações do sujeito, também aspectos
emocionais, visto que se trata de um projeto de vida. O autor enfatiza que o conflito é acentuado pelo fato
de sempre existir uma variedade de ocupações compatíveis com cada indivíduo e pelas dificuldades
emocionais ao lidar com perdas e ao enfrentar o desconhecido. Assim, a escolha também se relaciona com
o tipo de estrutura psicológica, emocional e social do sujeito, podendo se dar de forma prematura. Ao final
do capítulo, ressalta que a responsabilidade por uma escolha profissional não é somente do sujeito que passa pela orientação, mas também do orientador. E ainda mais, enfatiza que se ocorrer uma escolha
inadequada, poderá haver uma desestruturação existencial e emocional do sujeito.
A Orientação Vocacional com Grupos Típicos, as características de cada população, as peculiaridades que
devem ser focadas com cada tipo de grupo são discutidas no quinto capítulo. O autor discute a OV com
adolescentes, aposentados ativos ou idosos saudáveis, adultos desempregados, insatisfeitos com a
profissão ou instáveis, deficientes físicos, mulheres e os que apresentam uma condição social ou
econômica inferiorizada.
No sexto capítulo o autor aborda A Informação Ocupacional e sua importância, ou seja, é necessário dar
informações claras, precisas e detalhadas sobre o mundo profissional em que o orientado pretende
ingressar. Elas devem focalizar tendências para o futuro e ser bem trabalhadas para o sujeito compreendê-las e analisá-las, podendo ser transmitidas pelo psicólogo orientador, ou ser buscadas pelo próprio
orientando ou escola. O autor ressalva novamente a assimilação dessas informações desde a infância, de
uma forma muitas vezes informal. Na OV as mesmas podem ser transmitidas pela técnica de baralho
chamada R-O. Enfatiza a polivalência ocupacional e finaliza o capítulo ressaltando os motivos que podem
levar a uma falha no processo de OV, como reestruturação do mercado de trabalho, falta de maturidade do
jovem, conteúdos transmitidos inadequadamente, visão distorcida do perfil psicológico da profissão.
A obra é finalizada com o capítulo sobre O Processo e sua Prática sob três perspectivas, o tempo, as
estratégias e os procedimentos. Defende que embora a escolha seja feita no presente, destina-se a uma
vida profissional futura, referindo-se a um projeto de vida. Também trata dos critérios para a escolha
profissional que devem ser baseados na polivalência ocupacional, nos atributos pessoais do sujeito, na
amplitude ocupacional, na busca por uma solução adequada, nos interesses, na motivação e nos valores
predominantes do sujeito, no seu conceito de carreira e em seus aspectos psicológicos. Analisa os
procedimentos a serem utilizados, citando a entrevista e instrumentos como a Bateria CEPA, testes
objetivos e projetivos. Mostra a importância do pré-diagnóstico e diagnóstico vocacional, os quais servem
para posicionar o orientador e o sujeito e de base para a elaboração de táticas de ação. Aborda o papel da
auto-imagem na escolha por uma profissão e mostra a importância do prognóstico vocacional, resultado da
interação entre orientador e sujeito, para analisar e sintetizar os dados levantados no processo e assim
resolver os conflitos referentes à ocupação profissional. Disserta, ainda, sobre os três objetivos
fundamentais da OV: ajudar o cliente a clarificar sua identidade vocacional, a alcançar um
autoconhecimento realista para uma escolha profissional adequada e a contribuir para o desenvolvimento
de sua personalidade e ajustamento psicológico.
O conteúdo é um tema atual e importante para o auxílio dos jovens que necessitam de amparo para uma
escolha profissional adequada. O assunto foi tratado de forma abrangente, o que possibilita uma visão geral
e adequada sobre o mesmo; além disso, a obra apresenta-se estruturada de maneira organizada e com
linguajar simples, o que facilita a leitura e o entendimento.
Cabe ressaltar que embora seja apresentado no final do livro um “Questionário sobre valores e objetivos de
vida”, a meu ver, essa obra seria mais completa se fossem discutidos outros instrumentos que podem ser
utilizados no processo de OV. O autor se centra mais na entrevista e acaba não descrevendo outros
instrumentos.
Embora cite no final do livro uma vasta referência bibliográfica, no transcorrer da obra ele se referencia
muito a Super et al. (1957). Fica a impressão de que outros autores não foram pesquisados.
Psico-USF (Impr.) vol.8 no.1 Itatiba Jan./June 2003.
Fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712003000100013
Acesso em 29 de setembro de 2016.