Questão ced5060c-00
Prova:UEMG 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Variação Linguística, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As gravações de “Cuitelinho”
(Sírio Possenti)

“Cuitelinho” é o título de belíssima canção “folclórica”, já gravada por dezenas de cantores. Sua letra é corpus muito interessante para quem quiser saber como é o português falado no Brasil. Sendo música do folclore, tem evidentemente muitas características da gramática do português popular. Ouvindo as diversas gravações, descobrem-se pelo menos duas coisas: a primeira é que há muita variação, especialmente de pronúncia ou sotaque; a segunda, bem mais curiosa, deixando os detalhes de lado, refere-se ao fato de que, quanto menos “letrados” são os cantores, mais eles corrigem a letra, confirmando a tese de que a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante.

(http://goo.gl/QTUzd. Acesso: 28/03/2013. Adaptado.)


O que as correções feitas pelos intérpretes na pronúncia da letra “Cuitelinho” revelam acerca da relação entre ideologia e variação linguística?

A
A ignorância por parte dos cantores populares em relação aos fatores políticos que envolvem a linguagem.
B
A imposição da variante padrão da língua como estratégia de dominação de uma classe sobre as demais.
C
O maior conhecimento da variante não padrão da língua por parte dos cantores mais letrados e esclarecidos.
D
O orgulho dos intérpretes menos letrados ao afirmarem uma identidade popular expressa no sotaque.

Gabarito comentado

R
Rafael BarbosaMonitor do Qconcursos

Tema central: Variação linguística e interferência da ideologia dominante. Trata-se de uma questão de interpretação de texto e análise sociolinguística, exigindo do candidato reconhecer a relação entre uso da língua e poder social.

No texto, o autor aponta que canteores menos “letrados” tendem a modificar a letra da canção em direção à norma padrão, o que confirma a tese da imposição da ideologia da classe dominante – ou seja, a variante da elite é percebida como superior, e mesmo aqueles de fora desse grupo acabam reproduzindo essa visão.

Regra/conceito fundamental: Segundo a sociolinguística (cf. Marcos Bagno, Celso Cunha & Lindley Cintra), a norma-padrão não é a única forma legítima da língua; há uma pluralidade legítima de usos. A “imposição” do padrão, entretanto, é uma forma de reafirmar o poder social de uma classe.

Justificativa da alternativa CORRETA (B):
A alternativa B diz: “A imposição da variante padrão da língua como estratégia de dominação de uma classe sobre as demais.” O enunciado afirma, com todas as letras, que quanto menos “letrados” são os cantores, mais corrigem a letra, confirmando a tese de que a ideologia dominante é a da classe dominante. Aqui, o padrão é visto como instrumento de poder e dominação – ou, nas palavras de Karl Marx, como expressão da ideologia da classe dominante (cf. A Ideologia Alemã), reforçando o papel social da linguagem.

Análise das alternativas INCORRETAS:

  • A: Fala em “ignorância” dos cantores; o texto, porém, não julga os cantores, mas discute como todos acabam reproduzindo o padrão, muitas vezes inconscientemente.

  • C: Diz que cantores “mais letrados” conhecem melhor a variante não padrão. O texto aponta o oposto: quanto menos letrado, maior a tendência a buscar o padrão.

  • D: Fala em orgulho dos menos letrados ao afirmar identidade popular. O texto revela o contrário: a tendência é corrigir a letra, não valorizá-la em sua forma popular.

Estratégias para futuras provas: Atente-se a palavras-chave como “ideologia dominante”, “corrigem a letra” e “classe dominante”, que direcionam a leitura para a sociolinguística e relações de poder. Cuidado com alternativas que deslocam o sentido social do texto ou introduzem julgamentos não presentes no enunciado.

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