Aos dezoito anos pai Norato deu uma facada num rapaz, num adjutório, e abriu o pé no
mundo. Nunca mais ninguém botou os olhos em riba dele, afora o afilhado. — Padrinho, evim
cá chamá o sinhô pra mode i morá mais eu. — Quá, flo, esse caco de gente num sai daqui mais
não. — Bamo. Buli gente num bole, mais bicho... O sinhô anda perrengado...
ÉLIS, B. Obras reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.
A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma grande variedade de dialetos. Nesse sentido,
a linguagem usada no texto
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda variação linguística, especificamente o uso de dialetos na Língua Portuguesa falada no Brasil. Esse tema busca avaliar se o candidato compreende a existência de diferentes formas de falar o português, relacionadas a contextos regionais, históricos e sociais, conforme previsto tanto por gramáticas normativas quanto por estudiosos da língua.
Justificativa da alternativa correta (D): “representa falantes de determinado grupo social”
O texto utiliza expressões e estruturas gramaticais que fogem da norma-padrão (“quá, flo, esse caco de gente num sai daqui mais não”, “evim cá chamá o sinhô pra mode i morá mais eu”), evidenciando a fala característica de um grupo social/regional específico. Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, a língua varia conforme fatores sociais, regionais e históricos. O Manual de Redação da Presidência também ressalta o respeito às variedades linguísticas.
Portanto, a linguagem do texto não é erro, nem simplificação, mas expressão identitária de determinado grupo, associando-se ao conceito de dialeto, como destaca Evanildo Bechara.
Análise das alternativas incorretas:
A) "revela o subdesenvolvimento do país."
Incorreta, pois a diversidade linguística é natural em qualquer sociedade, desenvolvida ou não. Não há relação entre o uso de dialeto e subdesenvolvimento — trata-se de um fenômeno universal e legítimo, como afirmam as gramáticas de referência.
B) "constitui uma fala socialmente inaceitável."
Errada, pois considerar a fala de grupos regionais ou populares “inaceitável” é preconceito linguístico, postura combatida por linguistas modernos (cf. Magda Soares e Cunha & Cintra).
C) "impede a comunicação entre os personagens."
Também está equivocada. Os personagens dialogam plenamente — pelo contrário, o uso de dialeto promovem maior identificação e compreensão entre eles.
Estratégia para provas: Ao identificar elementos linguísticos próprios de uma região, grupo social ou faixa etária, pense sempre em variedade legítima da língua. Evite associar valor negativo ou ideias preconceituosas (subdesenvolvimento, inadequação, ineficácia). Atenção com alternativas que generalizem ou que usem termos absolutos negativos nestes contextos — geralmente são incorretas.
Resumo: O diálogo na questão representa fielmente a fala de um grupo social, fato que demonstra a riqueza e autenticidade da variação da língua portuguesa no Brasil. Saber reconhecer e respeitar essa diversidade é fundamental para se dar bem em provas de interpretação!
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






