Questõesde CÁSPER LÍBERO sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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CÁSPER LÍBERO 2013 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De um lado, ocorre que, hoje, cada vez mais intensamente, cresce o número de pessoas que, embora procurando trabalhar, não conseguem colocação e não contam com qualquer outra forma de sobrevivência. Assim, ainda que, objetivamente, haja condições para que disponham de mais tempo livre e possam preenchê-lo de forma mais independente, aumenta o número daqueles que, ao invés de tempo livre, vivem um tempo sem ocupação, sentem-se pressionados pela condição de nãotrabalho e, portanto, impedidos de crescerem enquanto indivíduos.”
Fonte: Oliva-Augusto, Maria Helena. Tempo, indivíduo e vida social. Cienc. Cult. Out/dez 2002, vol 54, nº2, p.30-33.


As ideias do texto se mostram coerentes com a

A
ocorrência do desemprego como fenômeno social que atinge os trabalhadores que não se dedicam com afinco ao trabalho.
B
necessidade do indivíduo de ampliar o tempo disponível para o lazer – mérito daqueles que trabalham.
C
ideia de que o capitalismo é a sociedade das oportunidades, portanto, somente não trabalham indivíduos sem iniciativa.
D
noção, na sociedade capitalista, de que o tempo não pertence ao indivíduo, mesmo não formalmente ocupado.
E
concepção de ócio como merecimento advindo do trabalho exaustivo e como meta a ser alcançada por todos.
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CÁSPER LÍBERO 2013 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Mia Couto, escritor moçambicano, em entrevista ao Jornal Folha de SPaulo declarou: “O Brasil tem uma ideia muito mistificada da África. A gente imagina que, por ser negro, um brasileiro teria mais intimidade com a África, mas isso é uma bobagem. Essa visão reducionista e simplificada também é uma coisa que os próprios africanos adotaram. Muitos deles traduziram uma África que os próprios europeus criaram. Não houve a África do bom selvagem, em que todos viviam em harmonia até a chegada dos colonizadores. Houve uma mão de dentro até na escravatura, cumplicidades entre africanos e europeus”.
Fonte: Folha Ilustrada. Publicado em 27-08-2013. Acessado em 21-09-2013


Segundo as ideias de Mia Couto,

A
o Brasil é uma extensão da África, já que a presença de africanos influenciou nossa formação cultural.
B
a ideia de que nativos viviam em harmonia antes da colonização é uma visão idealizada.
C
a escravidão, uma violência imposta pelos europeus, era desconhecida na África.
D
os colonizados rejeitam padrões culturais impostos pelos colonizadores.
E
os processos de colonização destruíram a vida harmoniosa que existia na África e no Brasil.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

“O modelo político de desenvolvimento que hoje se esboça no Brasil poderia ser chamado de tecnoburocrático-capitalista. Está baseado em uma aliança entre a tecnoburocracia militar e civil de um lado, e o capitalismo internacional e nacional do outro. Esta aliança apoia-se, por sua vez, em um modelo econômico de desenvolvimento que se caracteriza pela modernização da economia, pela concentração de renda nas classes altas e médias e pela marginalização da classe baixa”. (Luiz Carlos Bresser Pereira. Desenvolvimento e crise no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1972). No texto acima, publicado em 1972, entende-se que:

A
o modelo de desenvolvimento econômico então aplicado ao Brasil subordinava-se ao modelo político, caracterizado este por uma aliança entre setores político-burocráticos e setores empresariais capitalistas.
B
o Brasil esboçava um modelo político capitalista, mas um modelo econômico não capitalista, pois excludente da classe baixa, que não compartilhava de níveis de renda satisfatórios.
C
o capitalismo internacional esboçava uma aliança com o capitalismo nacional, o que encontrava correspondência em uma aliança política entre tecnocratas civis estrangeiros e quadros políticos militares nacionais.
D
o aumento das diferenças entre as classes altas e médias, de um lado, e a classe baixa, de outro, é consequência de um modelo político-econômico urdido por grupos políticos tanto nacionais como estrangeiros.
E
o desenvolvimento capitalista no Brasil era impossibilitado pela baixa participação da renda das classes mais altas nos empreendimentos modernizadores em curso no país.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

“Tanto a exposição crua das mazelas sociais presente na obra de Aluísio Azevedo, como a tentativa de representar literariamente as contradições de tal sociedade, desenvolvida por Machado, evidenciavam, porém, que a literatura produzida no Brasil tomara definitivamente novo rumo (...). Fosse por choque ou reflexão, ficava claro que os literatos brasileiros ostensivamente voltavam seu olhar para as ruas, tirando delas matéria para sua arte”. Leonardo Affonso Pereira. A realidade como vocação. In: Keila Grinberg & Ricardo Salles [orgs.] O Brasil imperial v.III. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

As “mazelas sociais”, assim como as “contradições de tal sociedade” às quais o texto se refere têm, dentre seus denominadores comuns:

A
o atraso rural do Brasil, que ainda não conseguira atingir um nível de desenvolvimento econômico capaz de transformá-lo em país capitalista.
B
a criminalidade urbana, que atingia níveis assustadores em muitas cidades do Brasil, em razão da crescente imigração de trabalhadores pobres.
C
a perda crescente de tradições imperiais brasileiras em relação às quais tais autores eram nostálgicos.
D
as marcas senhoriais e contraditórias de uma sociedade que ainda não abolira a escravidão.
E
a falta de reconhecimento, por parte da sociedade em geral, do talento dos grandes escritores brasileiros.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A propósito do nascimento da imprensa no Brasil, pode-se afirmar corretamente que ela:

A
foi decidida como uma medida pública do governo de D. Pedro I, interessado na criação de instituições nacionais e, portanto brasileiras, diferentes das portuguesas até então existentes.
B
corresponde à vinda dos primeiros capitães-donatários no século XVI, que precisavam de meios de impressão para comunicação com o distante governo português metropolitano.
C
deveu-se à atividade mineradora iniciada no final do século XVIII, que adensou núcleos urbanos e aumentou a circulação de pessoas e de informações entre as regiões da Colônia.
D
tem origem incerta, uma vez que é impossível precisar o contexto histórico no qual ela surgiu.
E
relaciona-se à transferência da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, quando teve início a publicação regular de livros, jornais e documentos oficiais.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o argumento central do texto:

Leia o texto a seguir e responda à questão.


Jeitinho e jeitão: uma tentativa de interpretação do caráter brasileiro


Nascido inicialmente das contradições entre uma ordem liberal formal e uma realidade escravista, o jeitinho transformou-se em código geral de sociabilidade.
Recordo um caso pessoal, passado há muito tempo. Eu trabalhava com Celso Furtado (rigorosamente antijeitinho), que recebia um diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento, por sinal um conterrâneo seu. Este, vendo-me por perto, e julgando que eu não era parte da conversa, pediu-me água. Pediu a primeira, a segunda e a terceira vez. Fui obrigado a dizer-lhe que não confundisse gentileza com servilismo, e que da próxima vez ele mesmo se servisse. Não ocorria àquele senhor que alguém que não fosse da sua grei pudesse tomar parte de uma conversa com altos representantes da banca interamericana. A origem do jeitinho, assim como a da cordialidade teorizada por Sérgio Buarque, se explica pela incompletude das relações mercantis capitalistas. Parece sempre que as pessoas estão “sobrando”. Elas são como que resquícios de relações não mercantis, não cabem no universo da civilidade. E às pessoas que sobram pode ser pedida qualquer coisa, já que é obrigação do dominado servir ao dominante.
Qualquer reunião brasileira está cheia de batidinhas nas costas na hora do cumprimento, impondo logo de saída uma intimidade que é intimatória e intimidatória. Um dos cumprimentos mais característicos de Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, é bater com as costas da mão na barriga dos interlocutores. Mesmo em encontros formais, o primeiro gesto de Lula ao se aproximar de qualquer pessoa é tocar-lhe a barriga.
A matriz desses gestos encontra-se evidentemente no longo período escravagista. Nele, o corpo dos negros era propriedade, podia ser tocado e usado. O surpreendente é que esses gestos e costumes tenham persistido ao longo de 100 anos de vigência de um capitalismo pleno. O escravismo e a escravidão não explicam inteiramente a “longa duração” da informalidade generalizada e dos hábitos que a acompanham. Os Estados Unidos tiveram um sistema escravista que chegou até a organizar fazendas de criação de negros. A ruptura com o escravismo custou à nação norte-americana uma guerra civil que deixou marcas até hoje. Mas o jeitinho não foi o expediente que usaram para superar os problemas colocados pelo capitalismo que avança.
Aqui, o jeitinho das classes dominantes se impôs na abolição da escravatura. Primeiro veio a Lei do Ventre Livre: garotos e garotas negros eram libertados em meio à escravidão. Mas como inexistia a perspectiva de terem terra, emprego ou salário, a libertação não lhes servia para quase nada. 
Depois veio a Lei dos Sexagenários. Aos 60 anos, os negros que ainda estivessem vivos eram libertados. Ora, já se sabia que a vida média de um escravo não alcançava os 40 anos. Como mostrou Luiz Felipe de Alencastro em O Tratado dos Viventes, depois de décadas de labuta no eito, o consumo do trabalho pelo capital não era uma metáfora: o negro era um molambo de gente, e não um homem livre, mesmo quando libertado pela Lei dos Sexagenários.
O que parecia cautela e previsão era, na verdade, o jeitinho (e o jeitão) em movimento. Gradualmente, até a chamada Lei Áurea, a escravidão persistiu. Isso criou uma superpopulação trabalhadora que o sistema produtivo não tinha como incorporar. Com a industrialização, tão sonhada pelos modernos, o problema se agravou. Tendo que copiar uma industrialização de matriz exógena, que tende sempre à economia do trabalho, os excedentes populacionais cresceram exponencialmente.
Assim, o chamado trabalho informal tornou-se estrutural no capitalismo brasileiro. É ele que regula a taxa de salários, e não as normas trabalhistas fundadas por Vargas. A partir daí todas as burlas são permitidas e estimuladas. A pergunta que um candidato a emprego mais ouve é: com carteira ou sem carteira? O funcionário com carteira resulta em descontos para a Previdência. Ou, se o salário for um pouquinho melhor, até para o Imposto de Renda. A resposta do candidato ao emprego é óbvia: sem carteira.
Quando o trabalhador ou trabalhadora que têm consciência dos seus direitos recusam o emprego sem carteira, às vezes, escutam “malandro, não quer trabalhar”.
Em qualquer setor, em qualquer atividade, o jeitinho se impõe. O executivo de terno italiano de grife, o apresentador da televisão e a atriz de um musical não são assalariados. São pessoas jurídicas, PJs, unicamente para que empresas paguem menos impostos. Advogados, dentistas e prestadores de serviços oferecem seus préstimos com ou sem recibo, e esse último é mais barato. Bancários, telefonistas, vendedores e outras tantas categorias viram sua profissão periclitar: eles são agora atendentes de call centers, terceirizados por grandes empresas. O jeitinho é a regra não escrita, sem exigência legal, mas seguida ao pé da letra nas relações micro e macrossociais. Está tão estabelecido, é tão natural que estranhá-lo (hoje menos do que ontem, reconheça-se) pode ser entendido como pedantismo, arrogância ou ignorância: “Nego metido a besta”, é a sentença. A não resolução da questão do trabalho, o seu estatuto social, é no fundo a matriz do jeitinho. Simpático, ele é uma das maiores marcas do moderno atraso brasileiro. (Francisco de Oliveira, revista piauí n. 73, outubro 2012, excerto). 
A
O jeitinho brasileiro nasceu durante a escravidão, quando o corpo dos negros era propriedade dos senhores e podia ser tocado e usado, dando origem a uma série de gestos e costumes que persistiram ao longo do século XX, no qual o capitalismo brasileiro se estabeleceu.
B
O trabalho informal tornou-se estrutural no capitalismo brasileiro, regulando a taxa de salários e desrespeitando as normas trabalhistas criadas por Getúlio Vargas. A origem desse processo remonta ao fim da escravidão, quando burlar as normas passou a ser permitido e estimulado.
C
As regras não escritas do jeitinho brasileiro são seguidas de maneira tão rigorosa pela sociedade brasileira que todo aquele que se recusa a praticá-lo acaba sendo tachado de pedante, arrogante ou ignorante.
D
Com a modernização da sociedade brasileira, a industrialização, de matriz exógena, privilegiou a economia do trabalho, levando os excedentes populacionais a um crescimento desordenado que lhes causou a falta de emprego formal.
E
O jeitinho – cuja origem remonta às contradições entre uma ordem liberal formal e uma realidade escravista e pode ser explicada pela incompletude das relações mercantis capitalistas – transformou-se em código geral das relações sociais no Brasil.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Quanto ao texto, trata-se de:

Leia o texto a seguir e responda à questão.


Jeitinho e jeitão: uma tentativa de interpretação do caráter brasileiro


Nascido inicialmente das contradições entre uma ordem liberal formal e uma realidade escravista, o jeitinho transformou-se em código geral de sociabilidade.
Recordo um caso pessoal, passado há muito tempo. Eu trabalhava com Celso Furtado (rigorosamente antijeitinho), que recebia um diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento, por sinal um conterrâneo seu. Este, vendo-me por perto, e julgando que eu não era parte da conversa, pediu-me água. Pediu a primeira, a segunda e a terceira vez. Fui obrigado a dizer-lhe que não confundisse gentileza com servilismo, e que da próxima vez ele mesmo se servisse. Não ocorria àquele senhor que alguém que não fosse da sua grei pudesse tomar parte de uma conversa com altos representantes da banca interamericana. A origem do jeitinho, assim como a da cordialidade teorizada por Sérgio Buarque, se explica pela incompletude das relações mercantis capitalistas. Parece sempre que as pessoas estão “sobrando”. Elas são como que resquícios de relações não mercantis, não cabem no universo da civilidade. E às pessoas que sobram pode ser pedida qualquer coisa, já que é obrigação do dominado servir ao dominante.
Qualquer reunião brasileira está cheia de batidinhas nas costas na hora do cumprimento, impondo logo de saída uma intimidade que é intimatória e intimidatória. Um dos cumprimentos mais característicos de Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, é bater com as costas da mão na barriga dos interlocutores. Mesmo em encontros formais, o primeiro gesto de Lula ao se aproximar de qualquer pessoa é tocar-lhe a barriga.
A matriz desses gestos encontra-se evidentemente no longo período escravagista. Nele, o corpo dos negros era propriedade, podia ser tocado e usado. O surpreendente é que esses gestos e costumes tenham persistido ao longo de 100 anos de vigência de um capitalismo pleno. O escravismo e a escravidão não explicam inteiramente a “longa duração” da informalidade generalizada e dos hábitos que a acompanham. Os Estados Unidos tiveram um sistema escravista que chegou até a organizar fazendas de criação de negros. A ruptura com o escravismo custou à nação norte-americana uma guerra civil que deixou marcas até hoje. Mas o jeitinho não foi o expediente que usaram para superar os problemas colocados pelo capitalismo que avança.
Aqui, o jeitinho das classes dominantes se impôs na abolição da escravatura. Primeiro veio a Lei do Ventre Livre: garotos e garotas negros eram libertados em meio à escravidão. Mas como inexistia a perspectiva de terem terra, emprego ou salário, a libertação não lhes servia para quase nada. 
Depois veio a Lei dos Sexagenários. Aos 60 anos, os negros que ainda estivessem vivos eram libertados. Ora, já se sabia que a vida média de um escravo não alcançava os 40 anos. Como mostrou Luiz Felipe de Alencastro em O Tratado dos Viventes, depois de décadas de labuta no eito, o consumo do trabalho pelo capital não era uma metáfora: o negro era um molambo de gente, e não um homem livre, mesmo quando libertado pela Lei dos Sexagenários.
O que parecia cautela e previsão era, na verdade, o jeitinho (e o jeitão) em movimento. Gradualmente, até a chamada Lei Áurea, a escravidão persistiu. Isso criou uma superpopulação trabalhadora que o sistema produtivo não tinha como incorporar. Com a industrialização, tão sonhada pelos modernos, o problema se agravou. Tendo que copiar uma industrialização de matriz exógena, que tende sempre à economia do trabalho, os excedentes populacionais cresceram exponencialmente.
Assim, o chamado trabalho informal tornou-se estrutural no capitalismo brasileiro. É ele que regula a taxa de salários, e não as normas trabalhistas fundadas por Vargas. A partir daí todas as burlas são permitidas e estimuladas. A pergunta que um candidato a emprego mais ouve é: com carteira ou sem carteira? O funcionário com carteira resulta em descontos para a Previdência. Ou, se o salário for um pouquinho melhor, até para o Imposto de Renda. A resposta do candidato ao emprego é óbvia: sem carteira.
Quando o trabalhador ou trabalhadora que têm consciência dos seus direitos recusam o emprego sem carteira, às vezes, escutam “malandro, não quer trabalhar”.
Em qualquer setor, em qualquer atividade, o jeitinho se impõe. O executivo de terno italiano de grife, o apresentador da televisão e a atriz de um musical não são assalariados. São pessoas jurídicas, PJs, unicamente para que empresas paguem menos impostos. Advogados, dentistas e prestadores de serviços oferecem seus préstimos com ou sem recibo, e esse último é mais barato. Bancários, telefonistas, vendedores e outras tantas categorias viram sua profissão periclitar: eles são agora atendentes de call centers, terceirizados por grandes empresas. O jeitinho é a regra não escrita, sem exigência legal, mas seguida ao pé da letra nas relações micro e macrossociais. Está tão estabelecido, é tão natural que estranhá-lo (hoje menos do que ontem, reconheça-se) pode ser entendido como pedantismo, arrogância ou ignorância: “Nego metido a besta”, é a sentença. A não resolução da questão do trabalho, o seu estatuto social, é no fundo a matriz do jeitinho. Simpático, ele é uma das maiores marcas do moderno atraso brasileiro. (Francisco de Oliveira, revista piauí n. 73, outubro 2012, excerto). 
A
um artigo de viés sociológico que aborda um fenômeno reproduzido sistemicamente nas relações sociais e que repercute nas instituições, normas, leis e valores brasileiros.
B
uma crônica satírica por meio da qual o autor explica a natureza do fenômeno do jeitinho brasileiro, desde o período escravista até o governo do presidente Lula.
C
um texto memorialístico, construído em torno de uma singular ocorrência lembrada pelo autor, a partir da qual é apresentada uma visão crítica da sociedade brasileira.
D
uma crônica leve e bem-humorada que apresenta algumas razões de ser do jeitinho brasileiro, sem condenar ou reprovar a prática de antemão.
E
um artigo de cunho político que aborda o jeitinho como um problema a ser combatido não somente nas relações sociais no Brasil, mas, sobretudo, na economia do País.
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CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No texto “Um pingo de chuva”, que integra o livro Os da minha rua, Ondjaki relata a despedida dos professores cubanos que voltavam a seu país de origem. “O camarada professor Ángel explicou-nos, com palavras um bocadinho difíceis, que a missão deles em Angola tinha terminado e que se iam embora muito em breve”. Assinale a opção que enuncia fatores relacionados à presença desses professores em Angola, na década de 1980.

A
A Segunda Guerra Mundial; o fim da ditadura salazarista; a descolonização da África.
B
A ditadura cubana; a guerra fria; o imperialismo britânico.
C
A partilha da África; o imperialismo soviético; o apartheid.
D
A guerra fria; a guerra civil angolana; o internacionalismo cubano.
E
A Revolução dos Cravos; a guerra étnica e tribal; a Conferência de Berlim.
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CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em Dois irmãos, de Milton Hatoum, o personagem Yaqub parte para São Paulo com o objetivo de se estabelecer profissionalmente. Em tal passagem, que se dá após o término da Segunda Guerra Mundial, o narrador expressa uma expectativa comum: “Naquela época, Yaqub e o Brasil inteiro pareciam ter um futuro promissor”. No período, contudo, o país viveu uma intensa disputa político-ideológica a respeito dos caminhos que levariam ao desenvolvimento. Este debate teve como eixo central:

A
O embate entre a corrente agroexportadora, cujo principal expoente foi a UDN, e a corrente industrialista, que unia os capitais nacionais modernos e os capitais internacionais, tendo por isso nos EUA um aliado.
B
A contraposição dos proprietários agrários e industriais ao governo de Jânio Quadros, que perdeu o apoio das elites econômicas ao condecorar o líder guerrilheiro Che Guevara, ato que identificou sua imagem ao bloco soviético.
C
A oposição entre a proposta desenvolvimentista, liberal e democrática, defendida por Juscelino Kubitschek, e a postura do FMI que, representando os interesses do capital internacional, aliou-se ao Exército e apoiou a ideia de um golpe militar.
D
A oposição entre a corrente populista, que impedia a liberdade sindical e aprofundou as diferenças regionais no país, e a proposta democrática defendida por estudantes e trabalhadores visando à liberdade de expressão e de associação.
E
A oposição entre a corrente nacionalista, que teve no getulismo seu principal expoente, e a corrente internacionalista, caracterizada por seu alinhamento aos EUA e pela defesa da abertura da economia ao capital externo.
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CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre Os da minha rua, de Ondjaki, é correto afirmar que:

A
O narrador das 22 histórias explora um quadro da infância vivida num período em que a precariedade das condições materiais não interditava a experiência da comunhão, estimulando a utopia presente na luta contra o colonialismo e na ideia de uma sociedade mais justa.
B
Os dois narradores que participam das 22 histórias vivem, sempre em dupla, um conjunto de fatos marcados pela crueldade infantil da qual não escapam os professores cubanos, os tios e as tias, os pequenos animais e o quase mitológico abacateiro.
C
O narrador das 22 histórias mergulha no tempo histórico e o relaciona a sua própria experiência, convidando o leitor a compartilhar a dinâmica de uma África mítica e ancestral, que pode ser vista tanto como hostil quanto como hospitaleira.
D
Os diversos narradores das 22 histórias resistem à destruição causada pela experiência colonial, inventando para si mesmos uma infância que não existiu. Desse modo, cada história dialoga com a tradição literária angolana, retomando tópicos e renovando propostas fundamentais no percurso literário que se consolida.
E
Os diversos narradores das 22 histórias se fecham sempre aos estímulos exteriores, optando por explorar com acentuada ambiguidade as facilidades do mundo colonial e a violência que o caracterizou. Assim, revelam-se as contradições de uma sociedade que vive entre o peso do colonialismo e a euforia causada pela independência.
29d9f480-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Morfologia - Verbos, Flexão verbal de tempo (presente, pretérito, futuro), Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre o excerto de Os da minha rua, de Ondjaki, apresentado a seguir, é correto afirmar que:


“Uma pessoa quando é criança parece que tem a boca preparada para sabores bem diferentes sem serem muito picantes de arder na língua. São misturas que inventam uma poesia mastigada tipo segredos de fim da tarde. Era assim, antigamente, na casa da minha avó. No tempo da Madalena Kamussekele”. 

A
O tempo tende a estabilizar-se no passado, mas o uso constante dos verbos nas formas do presente coloca em dúvida o que está sendo dito.
B
A infância é responsável pela visão lúdica das personagens, não importando se o presente aponta para os descompassos gerados pela modernidade.
C
A evocação do tempo passado mantém o universo encantado da infância, pleno de poesia.
D
A opção pelo presente revela o intenso diálogo do autor com os meios de comunicação de massa.
E
O tempo passado se mescla continuamente à perspectiva histórica, levando ao registro de uma Angola imemorial.
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CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As mídias sociais também foram usadas para organizar os recentes protestos estudantis no Chile. Assinale a opção que enuncia corretamente os principais motivos que levaram os estudantes chilenos às ruas:

A
Eles se opõem às medidas liberais que acompanharam o processo de redemocratização no Chile (a partir de 1990) as quais resultaram na expansão do ensino privado, exigindo que o governo coloque em prática a reforma constitucional de 2003, sob o governo de Ricardo Lagos.
B
Eles se opõem ao crédito educacional instituído pelo governo de Sebastián Piñera em 2009, mediado por instituições financeiras privadas, cujos juros levaram ao endividamento estudantil. Eles se opõem ainda à significativa redução orçamentária do Ministério da Educação a partir deste mesmo ano.
C
Eles se opõem à reestruturação dos currículos realizada pelo Ministério da Educação no governo de Michelle Bachelet, que estabeleceu metas para a educação básica e média voltadas às exigências do mercado, fazendo decair a qualidade do ensino público.
D
Eles se opõem à gestão centralizada da educação básica e média pelo Ministério da Educação, exigindo a municipalização da educação e a gestão participativa das escolas públicas com o objetivo de reduzir a desigualdade qualitativa entre as instituições públicas e particulares.
E
Eles se opõem aos efeitos da política educacional do governo de Augusto Pinochet na década de 1980 (mantida após a redemocratização), que se caracterizou pela abertura da educação pública ao setor privado por meio de privatizações subvencionadas e créditos educacionais.
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CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Conforme afirma Joel Birman, autor do texto “Ser ou não ser”, a adoção de políticas neoliberais deslocou o lugar do jovem na sociedade. Em agosto deste ano, algumas cidades inglesas foram palco de violentos protestos organizados pela juventude, o que levou o economista David Harvey a afirmar: “Estes jovens estão fazendo o que todos fazem, embora de modo diferente – mais flagrante, mais visível, nas ruas. O thatcherismo despertou os instintos bestiais do capitalismo (...) e, desde então, nada surgiu que os domasse”. Assinale a opção que caracteriza o advento do thatcherismo:

A
Tratou-se de uma resposta à recessão mundial da década de 1970 com a adoção de medidas neoliberais que desmontaram o estado de bem-estar social. A ampliação dos gastos militares estatais gerou um déficit público sem precedentes na década de 1980.
B
Com o objetivo de fazer um contraponto à melhoria dos índices sociais na União Soviética após a Segunda Guerra Mundial e desestimular a imigração, o “thatcherismo” instituiu medidas neoliberais que ampliaram os benefícios sociais exclusivos para os trabalhadores ingleses.
C
Tratou-se de uma política que respondeu à expansão norte-americana após a Segunda Guerra Mundial – com a adoção de medidas desenvolvimentistas –, aumentou as taxas de juros para atrair capitais norte-americanos entre 1979 e 1990 e facilitou a imigração estrangeira, visando à redução dos salários.
D
Tratou-se de uma resposta à crise econômica intensificada a partir de 1973 com a adoção de medidas neoliberais (como o desmonte do estado de bem-estar social para conter os gastos estatais) e a imposição de uma nova legislação antissindical, criando índices massivos de desemprego.
E
O “thatcherismo” correspondeu à segunda fase da guerra fria, ao instituir medidas anticomunistas, ampliar o investimento em ciência e tecnologia – gerando aumento nos índices de desemprego – e elevar as taxas de juros com vista a atrair capitais externos, inclusive financeiros.
2930f88a-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em entrevista à Folha de S. Paulo, de 15/8/2011, o economista François Chesnay afirmou que as revoltas no Norte da África e no Oriente Médio, o “movimento dos IndIgnados” na Espanha, os protestos em Londres e em Tel Aviv e a manifestação dos estudantes no Chile “têm em comum o fato de terem sido estimulados pela juventude. (...) São todos reações ao extraordinário abismo social num tempo em que o consumismo é projetado mundialmente pela tecnologia contemporânea e pelas estratégias de mídia”. Sobre o ponto de vista defendido por Chesnay, é correto afirmar que:

A
As novas tecnologias de mídia globalizam o apelo ao consumo, evidenciando as imensas desigualdades sociais no mundo contemporâneo.
B
É próprio da juventude estimular, por meio das novas tecnologias, a opinião pública a reagir coletiva e violentamente contra as grandes injustiças sociais.
C
As jovens lideranças fazem uso da violência por ser esse o único método de acesso ao consumo.
D
As novas estratégias da mídia explicitam a corrupção político-financeira e, com isso, desencadeiam os protestos da juventude pobre e indignada.
E
A doença mundial de que sofre a juventude consiste na corrupção e no consumismo, disseminados pela mídia por meio das novas tecnologias.
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CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Se as mídias sociais são utilizadas para disseminar formas de violência entre os jovens, conforme aponta o texto “Ser ou não ser”, elas têm demonstrado também ser importantes veículos para organizar mobilizações coletivas, como na chamada “primavera árabe”. Assinale a opção que enuncia corretamente as principais causas das mobilizações ocorridas no Egito e na Tunísia:

A
A restrição do consumo de produtos ocidentais; a discriminação constitucional e a opressão das mulheres jovens; o sistema de quotas para o acesso aos serviços públicos que beneficiam parentes e aliados políticos dos ditadores.
B
A taxa de desemprego maior entre os jovens (cuja presença é expressiva na população de ambos os países), em particular entre os que têm nível superior; a exclusão política determinada pelos regimes autoritários; a repressão policial.
C
O aumento do preço dos alimentos; a alta taxa de desemprego entre os jovens; o sistema político excludente baseado em coligações entre as múltiplas tribos que compõem a unidade política desses países.
D
O enriquecimento ilícito dos quadros do governo ditatorial, em especial dos membros das famílias de Hosni Mubarak e Ben Ali, em contraste com os 35% da população que vive abaixo da linha de pobreza; a opressão religiosa.
E
A restrição crescente ao acesso ao ensino superior e à qualificação profissional, que amplia o desemprego e o subemprego; a opressão religiosa que tolhe a liberdade individual, especialmente a feminina; a exclusão política.
29134877-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o argumento central do texto:

Leia o texto a seguir e responda à questão:


Ser ou não ser

    Na atualidade, a imagem da juventude está marcada ao mesmo tempo pela ambiguidade e pela incerteza. Digo ambiguidade, pois se, de um lado, a juventude é sempre exaltada na contemporaneidade, cantada que é em prosa e verso pelas potencialidades existenciais que condensaria, por outro a condição jovem caracteriza-se por sua posição de suspensão no espaço social, que se materializa pela ausência de seu reconhecimento social e simbólico.
    Seria em decorrência disso que a incerteza é o que se delineia efetivamente como o futuro real para os jovens, em todos os quadrantes do mundo. É preciso destacar, antes de tudo, que a possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição da adolescência no Ocidente, desde o final do século 18, quando as idades da vida foram construídas em conjunção com a família nuclear burguesa, em decorrência da emergência histórica da biopolítica.
    Nesse contexto, a adolescência foi delimitada como o tempo de passagem entre a infância e a idade adulta, na qual o jovem podia empreender experiências nos registros do amor e das escolhas profissionais, até que pudesse se inserir no mercado de trabalho e se casar para reproduzir efetivamente as linhas de força da família nuclear burguesa. Desde os anos 1980, no entanto, essa figuração da adolescência entrou em franco processo de desconstrução, por diversas razões.
    Antes de mais nada, pela revolução feminista dos anos 1960 e 70, com a qual as mulheres foram em busca de outras formas sociais de existência, além da condição materna. Em seguida, porque o deslocamento das mulheres da posição exclusivamente materna foi o primeiro combate decisivo contra o patriarcado, que forjou nossa tradição desde a Antiguidade. Finalmente, a construção do modelo neoliberal da economia internacional, em conjunção com seu processo de globalização, teve o poder de incidir preferencialmente em dois segmentos da população, no que tange ao mercado de trabalho. De fato, foram os jovens e os trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos sociais mais afetados pela voragem neoliberal. Com isso, se os primeiros passaram a se inserir mais tardiamente no dito mercado, os segundos passaram a ser descartados para ser substituídos por trabalhadores jovens e mais baratos, pela precariedade que foi então estabelecida no mercado de trabalho.
    Foi em consequência desse processo que o tempo de duração da adolescência se alongou bastante, ficando então os jovens fora do espaço social formal e lançados perigosamente numa terra de ninguém. Assim, graças à ausência de inserção no mercado de trabalho, a juventude foi destituída de reconhecimento social e simbólico, prolongando-se efetivamente, não tendo mais qualquer limite tangível para seu término. Despossuídos que foram de qualquer reconhecimento social e simbólico, aos jovens restaram apenas o corpo e a força física. É por essa trilha que podemos interpretar devidamente a emergência e a multiplicação das formas de violência entre os jovens na contemporaneidade.
    Esse processo ocorre não apenas no Brasil e na América Latina, mas também em escala internacional. Pode-se depreender aqui a constituição de uma cultura agonística* na juventude de hoje. Assim, a violência juvenil transformou-se em delinquência, inserindo-se efetivamente no registro da criminalidade. No Brasil, os jovens de classe média e das elites passaram a atacar gratuitamente certos segmentos sociais com violência. De mulheres pobres confundidas com prostitutas até homossexuais, passando pelos mendigos, a violência disseminou-se nas grandes metrópoles do país.
    Ao fazerem isso, no entanto, seus gestos delinquentes inscrevem-se numa lógica social precisa e rigorosa. Com efeito, tais segmentos sociais representam no imaginário desses jovens a decadência na hierarquia social, sendo, pois, os signos do que eles poderão ser efetivamente no futuro, na ausência do reconhecimento social e simbólico que os marca. A cultura da força empreende-se regularmente em academias de ginástica, onde os jovens cultuam os músculos, não apenas para se preparar para os combates cotidianos da vida real, mas para forjar também um simulacro de força na ausência efetiva de potência, isto é, na ausência de reconhecimento social e simbólico, lançados que estão aqueles no desamparo.
    É nesse registro que se deve inscrever a disseminação do bullying na contemporaneidade. É preciso dizer, no que concerne a isso, que a provocação e a violência entre os jovens e crianças é uma prática social antiga. O que é novo, contudo, é a ausência de uma autoridade que possa funcionar como mediação no combate entre estes e aqueles, o que incrementou bastante a disseminação dessa prática de violência.
    Não obstante tudo isso, a juventude é ainda glorificada como a representação do que seria o melhor dos mundos possíveis. A juventude seria então a condensação simbólica de todas as potencialidades existenciais. Contudo, se fazemos isso é porque não apenas queremos cultivar a aparência juvenil, por meio de cirurgias plásticas e da medicina estética, mas também porque o código de experimentação que caracterizou a adolescência de outrora se disseminou para a idade adulta e para a terceira idade. Constituiu-se assim uma efetiva adolescência sem fim na tradição ocidental, onde se busca pelo desejo a possibilidade de novos laços amorosos e novas modalidades de realização existencial. (Joel Birman, revista Cult n. 157, maio 2011).


*agonística: relativo a luta, conflito, combate.  
A
A adolescência é um dos períodos mais turbulentos e potencialmente problemáticos da existência humana.
B
Por causa de sua ausência no mercado de trabalho, a juventude foi destituída de reconhecimento social e simbólico.
C
A revolução feminista, o neoliberalismo e a globalização deslocaram o lugar do jovem na sociedade atual e criaram o imperativo do desejo sem fim.
D
Lançados de maneira perigosa numa terra de ninguém, os jovens podem apenas dispor de seu corpo e de sua força física.
E
O bullying é um fenômeno tipicamente adolescente e suas causas estão localizadas na ideia de que a juventude é um mito contemporâneo.
291830a9-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção cuja frase justifica corretamente o título do texto:

Leia o texto a seguir e responda à questão:


Ser ou não ser

    Na atualidade, a imagem da juventude está marcada ao mesmo tempo pela ambiguidade e pela incerteza. Digo ambiguidade, pois se, de um lado, a juventude é sempre exaltada na contemporaneidade, cantada que é em prosa e verso pelas potencialidades existenciais que condensaria, por outro a condição jovem caracteriza-se por sua posição de suspensão no espaço social, que se materializa pela ausência de seu reconhecimento social e simbólico.
    Seria em decorrência disso que a incerteza é o que se delineia efetivamente como o futuro real para os jovens, em todos os quadrantes do mundo. É preciso destacar, antes de tudo, que a possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição da adolescência no Ocidente, desde o final do século 18, quando as idades da vida foram construídas em conjunção com a família nuclear burguesa, em decorrência da emergência histórica da biopolítica.
    Nesse contexto, a adolescência foi delimitada como o tempo de passagem entre a infância e a idade adulta, na qual o jovem podia empreender experiências nos registros do amor e das escolhas profissionais, até que pudesse se inserir no mercado de trabalho e se casar para reproduzir efetivamente as linhas de força da família nuclear burguesa. Desde os anos 1980, no entanto, essa figuração da adolescência entrou em franco processo de desconstrução, por diversas razões.
    Antes de mais nada, pela revolução feminista dos anos 1960 e 70, com a qual as mulheres foram em busca de outras formas sociais de existência, além da condição materna. Em seguida, porque o deslocamento das mulheres da posição exclusivamente materna foi o primeiro combate decisivo contra o patriarcado, que forjou nossa tradição desde a Antiguidade. Finalmente, a construção do modelo neoliberal da economia internacional, em conjunção com seu processo de globalização, teve o poder de incidir preferencialmente em dois segmentos da população, no que tange ao mercado de trabalho. De fato, foram os jovens e os trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos sociais mais afetados pela voragem neoliberal. Com isso, se os primeiros passaram a se inserir mais tardiamente no dito mercado, os segundos passaram a ser descartados para ser substituídos por trabalhadores jovens e mais baratos, pela precariedade que foi então estabelecida no mercado de trabalho.
    Foi em consequência desse processo que o tempo de duração da adolescência se alongou bastante, ficando então os jovens fora do espaço social formal e lançados perigosamente numa terra de ninguém. Assim, graças à ausência de inserção no mercado de trabalho, a juventude foi destituída de reconhecimento social e simbólico, prolongando-se efetivamente, não tendo mais qualquer limite tangível para seu término. Despossuídos que foram de qualquer reconhecimento social e simbólico, aos jovens restaram apenas o corpo e a força física. É por essa trilha que podemos interpretar devidamente a emergência e a multiplicação das formas de violência entre os jovens na contemporaneidade.
    Esse processo ocorre não apenas no Brasil e na América Latina, mas também em escala internacional. Pode-se depreender aqui a constituição de uma cultura agonística* na juventude de hoje. Assim, a violência juvenil transformou-se em delinquência, inserindo-se efetivamente no registro da criminalidade. No Brasil, os jovens de classe média e das elites passaram a atacar gratuitamente certos segmentos sociais com violência. De mulheres pobres confundidas com prostitutas até homossexuais, passando pelos mendigos, a violência disseminou-se nas grandes metrópoles do país.
    Ao fazerem isso, no entanto, seus gestos delinquentes inscrevem-se numa lógica social precisa e rigorosa. Com efeito, tais segmentos sociais representam no imaginário desses jovens a decadência na hierarquia social, sendo, pois, os signos do que eles poderão ser efetivamente no futuro, na ausência do reconhecimento social e simbólico que os marca. A cultura da força empreende-se regularmente em academias de ginástica, onde os jovens cultuam os músculos, não apenas para se preparar para os combates cotidianos da vida real, mas para forjar também um simulacro de força na ausência efetiva de potência, isto é, na ausência de reconhecimento social e simbólico, lançados que estão aqueles no desamparo.
    É nesse registro que se deve inscrever a disseminação do bullying na contemporaneidade. É preciso dizer, no que concerne a isso, que a provocação e a violência entre os jovens e crianças é uma prática social antiga. O que é novo, contudo, é a ausência de uma autoridade que possa funcionar como mediação no combate entre estes e aqueles, o que incrementou bastante a disseminação dessa prática de violência.
    Não obstante tudo isso, a juventude é ainda glorificada como a representação do que seria o melhor dos mundos possíveis. A juventude seria então a condensação simbólica de todas as potencialidades existenciais. Contudo, se fazemos isso é porque não apenas queremos cultivar a aparência juvenil, por meio de cirurgias plásticas e da medicina estética, mas também porque o código de experimentação que caracterizou a adolescência de outrora se disseminou para a idade adulta e para a terceira idade. Constituiu-se assim uma efetiva adolescência sem fim na tradição ocidental, onde se busca pelo desejo a possibilidade de novos laços amorosos e novas modalidades de realização existencial. (Joel Birman, revista Cult n. 157, maio 2011).


*agonística: relativo a luta, conflito, combate.  
A
A imagem da juventude está marcada ao mesmo tempo pela ambiguidade e pela incerteza.
B
Foram os jovens e os trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos sociais mais afetados pela voragem neoliberal.
C
A violência juvenil transformou-se em delinquência, inserindo-se efetivamente no registro da criminalidade.
D
O código de experimentação que caracterizou a adolescência de outrora se disseminou para a idade adulta e para a terceira idade.
E
A possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição da adolescência no Ocidente.
290da55d-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção correta:

Leia o texto a seguir e responda à questão:


Ser ou não ser

    Na atualidade, a imagem da juventude está marcada ao mesmo tempo pela ambiguidade e pela incerteza. Digo ambiguidade, pois se, de um lado, a juventude é sempre exaltada na contemporaneidade, cantada que é em prosa e verso pelas potencialidades existenciais que condensaria, por outro a condição jovem caracteriza-se por sua posição de suspensão no espaço social, que se materializa pela ausência de seu reconhecimento social e simbólico.
    Seria em decorrência disso que a incerteza é o que se delineia efetivamente como o futuro real para os jovens, em todos os quadrantes do mundo. É preciso destacar, antes de tudo, que a possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição da adolescência no Ocidente, desde o final do século 18, quando as idades da vida foram construídas em conjunção com a família nuclear burguesa, em decorrência da emergência histórica da biopolítica.
    Nesse contexto, a adolescência foi delimitada como o tempo de passagem entre a infância e a idade adulta, na qual o jovem podia empreender experiências nos registros do amor e das escolhas profissionais, até que pudesse se inserir no mercado de trabalho e se casar para reproduzir efetivamente as linhas de força da família nuclear burguesa. Desde os anos 1980, no entanto, essa figuração da adolescência entrou em franco processo de desconstrução, por diversas razões.
    Antes de mais nada, pela revolução feminista dos anos 1960 e 70, com a qual as mulheres foram em busca de outras formas sociais de existência, além da condição materna. Em seguida, porque o deslocamento das mulheres da posição exclusivamente materna foi o primeiro combate decisivo contra o patriarcado, que forjou nossa tradição desde a Antiguidade. Finalmente, a construção do modelo neoliberal da economia internacional, em conjunção com seu processo de globalização, teve o poder de incidir preferencialmente em dois segmentos da população, no que tange ao mercado de trabalho. De fato, foram os jovens e os trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos sociais mais afetados pela voragem neoliberal. Com isso, se os primeiros passaram a se inserir mais tardiamente no dito mercado, os segundos passaram a ser descartados para ser substituídos por trabalhadores jovens e mais baratos, pela precariedade que foi então estabelecida no mercado de trabalho.
    Foi em consequência desse processo que o tempo de duração da adolescência se alongou bastante, ficando então os jovens fora do espaço social formal e lançados perigosamente numa terra de ninguém. Assim, graças à ausência de inserção no mercado de trabalho, a juventude foi destituída de reconhecimento social e simbólico, prolongando-se efetivamente, não tendo mais qualquer limite tangível para seu término. Despossuídos que foram de qualquer reconhecimento social e simbólico, aos jovens restaram apenas o corpo e a força física. É por essa trilha que podemos interpretar devidamente a emergência e a multiplicação das formas de violência entre os jovens na contemporaneidade.
    Esse processo ocorre não apenas no Brasil e na América Latina, mas também em escala internacional. Pode-se depreender aqui a constituição de uma cultura agonística* na juventude de hoje. Assim, a violência juvenil transformou-se em delinquência, inserindo-se efetivamente no registro da criminalidade. No Brasil, os jovens de classe média e das elites passaram a atacar gratuitamente certos segmentos sociais com violência. De mulheres pobres confundidas com prostitutas até homossexuais, passando pelos mendigos, a violência disseminou-se nas grandes metrópoles do país.
    Ao fazerem isso, no entanto, seus gestos delinquentes inscrevem-se numa lógica social precisa e rigorosa. Com efeito, tais segmentos sociais representam no imaginário desses jovens a decadência na hierarquia social, sendo, pois, os signos do que eles poderão ser efetivamente no futuro, na ausência do reconhecimento social e simbólico que os marca. A cultura da força empreende-se regularmente em academias de ginástica, onde os jovens cultuam os músculos, não apenas para se preparar para os combates cotidianos da vida real, mas para forjar também um simulacro de força na ausência efetiva de potência, isto é, na ausência de reconhecimento social e simbólico, lançados que estão aqueles no desamparo.
    É nesse registro que se deve inscrever a disseminação do bullying na contemporaneidade. É preciso dizer, no que concerne a isso, que a provocação e a violência entre os jovens e crianças é uma prática social antiga. O que é novo, contudo, é a ausência de uma autoridade que possa funcionar como mediação no combate entre estes e aqueles, o que incrementou bastante a disseminação dessa prática de violência.
    Não obstante tudo isso, a juventude é ainda glorificada como a representação do que seria o melhor dos mundos possíveis. A juventude seria então a condensação simbólica de todas as potencialidades existenciais. Contudo, se fazemos isso é porque não apenas queremos cultivar a aparência juvenil, por meio de cirurgias plásticas e da medicina estética, mas também porque o código de experimentação que caracterizou a adolescência de outrora se disseminou para a idade adulta e para a terceira idade. Constituiu-se assim uma efetiva adolescência sem fim na tradição ocidental, onde se busca pelo desejo a possibilidade de novos laços amorosos e novas modalidades de realização existencial. (Joel Birman, revista Cult n. 157, maio 2011).


*agonística: relativo a luta, conflito, combate.  
A
Trata-se de um texto que aborda a representação da juventude na literatura e na filosofia contemporâneas.
B
Trata-se de um texto no qual o autor explica a natureza do fenômeno do bullying, desde sua origem na década de 1950.
C
Trata-se de um texto no qual o autor reflete sobre como era ser jovem há 50 anos e como é ser jovem hoje.
D
Trata-se de um texto que analisa o papel da mídia na construção do mito da juventude.
E
Trata-se de um texto que mostra como a juventude é um objeto de desejo da sociedade contemporânea, examinando questões comportamentais, políticas e econômicas.
12f882ae-ec
CÁSPER LÍBERO 2010 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia as passagens seguintes de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antonio de Almeida, e responda à questão abaixo:


“A comadre (...) achava melhor metê-lo na Conceição1 a aprender um ofício”.
(...)
“Esta ideia do côvado e meio fez brecha no espírito do Leonardo: ser soldado era naquele tempo, e ainda hoje talvez, a pior coisa que podia suceder a um homem.
(...)
Entretanto o zelo da comadre pôs-se em atividade, e poucos dias depois entrou ela muito contente, e veio participar ao Leonardo que lhe tinha achado um excelente arranjo (...); era o arranjo de servidor na ucharia2 real. (...) Empregado da casa real?! oh! Isso não era coisa que se recusasse (...) A proposta da comadre foi aceita sem uma só reflexão contra, de parte de quem quer que fosse.”


A respeito do “tempo do rei” (1808-1821), período em que se passa a narrativa, é correto afirmar que:

A
A presença da corte portuguesa na cidade do Rio de Janeiro reduziu o número de ocupações nos serviços urbanos e no funcionalismo público para os brasileiros, devido à chegada de grande número de funcionários portugueses.
B
Foram abertos os portos para o comércio com as nações amigas, rompendo-se o pacto colonial, e tornou-se legal o estabelecimento de manufaturas no país.
C
Fundou-se o primeiro banco brasileiro e inauguraram-se o primeiro museu e a primeira bolsa de valores do país.
D
Proibiu-se o tráfico de escravos e estabeleceram-se restrições legais àqueles que se utilizassem de castigos físicos para discipliná-los.
E
O ingresso no exército, com funções de baixa patente, era geralmente considerado pelo homem livre despossuído uma das mais promissoras profissões.
12e7d88e-ec
CÁSPER LÍBERO 2010 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Relacionando as ideias apresentadas no texto à leitura de Memórias de um sargento de milícias, é correto afirmar que o romance de Manuel Antonio de Almeida:

Leia o texto a seguir e responda à questão:


    A Independência (que tem seu ponto de partida na transferência da corte portuguesa em 1808) assinala a estruturação do Estado Brasileiro, o que determina, com a configuração da nova individualidade nacional que o Brasil passava a apresentar, a grande e variada série de consequências que derivam da inclusão no próprio país e sobre a base exclusiva de nacionais, do seu centro político, administrativo e social. A inspiração, orientação e direção do conjunto da vida brasileira se farão daí por diante a partir de seu próprio interior onde se localizarão seus estímulos e impulsos, o que torna possível definir, propor e realizar as aspirações e interesses propriamente nacionais. Do ponto de vista estritamente econômico, destaquemos unicamente o que a estruturação do Estado nacional representaria como fator de ampliação das despesas públicas, com reflexo imediato nas particulares; e portanto de ativação de vida econômica e financeira, aumento da renda nacional e do consumo que isso representa. O efeito conjugado desses fatores resultará, em consequência da brusca transformação ocorrida, no profundo desequilíbrio financeiro e nas crises que caracterizam a vida do Império até meados do século. E constitui circunstância que influi poderosamente no sentido de estimular a integração nacional da economia brasileira. Isso será tanto mais sensível e de efeitos mais amplos, que acresce um fator de ordem político-administrativa a atuar no mesmo sentido. Até a Independência, as capitanias brasileiras, depois províncias e hoje Estados, se achavam dispersas e cada qual muito mais ligada à metrópole portuguesa que às demais. A administração sediada no Rio de Janeiro era de fato, no que respeita ao conjunto da colônia, puramente nominal, e sua jurisdição não ia realmente além da intitulada capital e sede do Vice-reinado e das capitanias meridionais. A transferência da corte torna o Rio de Janeiro efetivamente em centro e capital do país que se articulará assim num todo único. Essa situação se consolidará com a efetivação da Independência e a formação do Estado nacional brasileiro, que constituem assim a definitiva integração territorial do país antes disperso e interligado unicamente através e por via da metrópole.
    De maior proporção ainda, no que respeita à transformação da antiga colônia em coletividade nacional integrada e organizada, são estes primeiros passos decisivos da incorporação efetiva da massa trabalhadora à sociedade brasileira que consistem na supressão do tráfico africano (1850) e seus corolários naturais: o estímulo à imigração europeia de trabalhadores destinados a suprir a falta de mão-de-obra provocada pela supressão daquele tráfico, e a abolição da escravidão (1888). (Caio Prado Júnior. A revolução brasileira.
A
Suprime as camadas básicas (os escravos), pois a narrativa está centrada em personagens que representam as camadas populares que anonimamente participaram da formação da identidade nacional.
B
Omite as camadas dirigentes (o vice-rei, a nobreza, os ministros...), criticando a corrupção econômica e moral em que elas se meteram desde sempre.
C
Explora o par ordem/desordem, no que diz respeito à formação econômica do Brasil Império, às voltas com o aumento da renda nacional e do desequilíbrio financeiro da população de modo geral.
D
Faz uso expressivo da ausência do elemento escravo na narrativa, procurando o autor retratar o mundo sui generis do trabalho no Brasil urbano da primeira metade do século XIX.
E
Retrata afetivamente a participação das classes dirigentes na formação da Nação, objetivando o autor retratar a ascensão da pequena burguesia nos primeiros anos do século XIX.