Questõesde UFU-MG sobre Interpretação de Textos

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Foram encontradas 74 questões
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre a obra de Mia Couto, Terra sonâmbula, depreende-se que esse texto

A
abarca heróis no sentido clássico com capacidade de atos heroicos movidos por sentimentos nobres e elevados em prol da comunidade.
B
funde histórias e estabelece pontos de contato entre épocas diferentes permitindo a identificação de um personagem com outro.
C
solidifica a percepção de uma identidade nacional unificada à medida que há um amadurecimento de personagens.
D
traz à tona a preocupação de reconstrução da cultura moçambicana no sentido de alinhá-la às culturas modernas.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Levando-se em consideração as obras selecionadas e seus personagens, é correto afirmar que

A
Muidinga, em Terra sonâmbula, e Severino, em Morte e vida severina, se assemelham na tentativa de levarem a cabo sua sede de vingança contra o sistema opressor.
B
O pai de Felipe, em O filho eterno, e Rubião, em Quincas Borba, utilizam-se da estrutura da digressão para contar suas histórias.
C
Muidinga, em Terra sonâmbula, e Severino, em Morte e vida severina, manifestam, à sua maneira, grande capacidade de resiliência.
D
Kindzu, em Terra sonâmbula, e Gregor Samsa, em A metamorfose, vão tecendo, cada um, sua história por meio de diários e de lembranças das coisas acontecidas.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos

Em sua última viagem aos Estados Unidos como primeira-ministra, Margaret Tatcher revelou a George Bush: “Antes de nomear um ministro, peço-lhe para decifrar um enigma. A Geoffrey Howe, por exemplo, perguntei: Se é filho de seu pai e não é seu irmão, quem é então? Geoffrey Howe respondeu: Sou eu. E lhe dei o cargo de chanceler”.

Impressionado, Bush resolveu testar o método com seu vice, Don Quayle. Propôs o mesmo enigma. Quayle pediu um tempo para pensar. Depois, telefonou ansioso para Henry Kissinger, que lhe ensinou:

– A resposta é “eu”.

Quayle voltou a Bush com ar de triunfo:

– A resposta é Kissinger.

Bush bradou, contrariado:

– Não, é Geoffrey Howe.

POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1998.


A piada baseia-se na solução de um enigma. Depois de ser apresentado a um político inglês, Geoffrey Howe, o enigma é apresentado aos políticos estadunidenses George Bush, Don Quayle e Henry Kissinger. Do ponto de vista linguístico, o efeito humorístico dessa piada deve-se ao fato de que a referência do pronome pessoal na resposta ao enigma é interpretada equivocadamente por

A
Quayle e Bush.
B
Quayle e Kissinger.
C
Bush e Kissinger.
D
Bush, Quayle e Kissinger.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em suas obras, Machado de Assis faz questionamentos de várias teorias de sua época, como a darwinista, a evolucionista e a positivista.


Além de críticas, em Quincas Borba, Machado faz uma caricatura do

A
Naturalismo ao submeter Sofia à fatalidade das leis naturais.
B
Romantismo ao exaltar Palha como um típico burguês em ascensão.
C
Absolutismo ao caracterizar Rubião como imperador.
D
Determinismo ao projetar em Palha a vitória do mais forte.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos

Em relação às características que marcam Gregor Samsa, em Metamorfose, destaca-se a

A
alienação, visto que, ao dedicar-se à família e ao trabalho, é absorvido por esses e deixa de ter vida social.
B
passividade, já que fica à mercê da companhia em que trabalha e à espera do dinheiro oriundo da irmã.
C
preocupação com a família, visto que sofre para sustentá-la em seus gastos mesmo após sua transformação.
D
dissimulação, já que consegue enganar seus fregueses como caixeiro-viajante e esconder sua situação para a família.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos

Em relação aos contos da obra Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, é correto afirmar que, no conto

A
Os obedientes, os falsos elogios do marido para a esposa desencadeiam uma crise de relacionamento que leva a mulher à morte.
B
A legião estrangeira, Ofélia insiste em procurar a narradora para que essa a auxilie a deixar sua meninice e a crescer intelectualmente.
C
A quinta história, o narrador procede a uma investigação sobre as várias maneiras de exterminar baratas de sua residência.
D
Os desastres de Sofia, a narradora relata suas inquietações de criança antes de entrar na adolescência e se transformar em uma mulher.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Levando-se em consideração a leitura dos contos de Clarice Lispector e o conceito de EPIFANIA, isto é, o instante de revelação, a súbita percepção ou a transformação na consciência, assinale a alternativa que exemplifica um desses momentos.

A
Em O primeiro beijo, o garoto bebe água diretamente da boca da estátua.
B
Em Os obedientes, o marido e a esposa conversavam a respeito de política.
C
Em A legião estrangeira, Ofélia encontrava-se com a narradora no elevador.
D
Em Os desastres de Sofia, a narradora enfrenta o professor para ser expulsa da sala.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Capítulo XLIV

Não vades crer que a dor aqui foi mais verdadeira que a cólera; foram iguais em si mesmas, os efeitos é que foram diversos. A cólera deu em nada; a humilhação debulhou-se em lágrimas legítimas. E contudo não faltaram a esta senhora ímpetos de estrangular Sofia, calcá-la aos pés, arrancar-lhe o coração aos pedaços, dizendo-lhe na cara os nomes crus que atribuía ao marido... Tudo imaginações! Crede-me: há tiranos de intenção. Quem sabe? Na alma desta senhora passou agora um tênue fio de Calígula...

ASSIS, Machado. Quincas Borba. São Paulo: Editora Globo, 1997. p. 53.


Levando-se em consideração a leitura de Quincas Borba e o capítulo, em que há referência a D. Tonica, identifica(m)-se, nesse capítulo,

A
intertextualidade em ‘...fio de Calígula...’, que revela a extrema crueldade presente em D. Tonica.
B
ironia que se faz notar em ‘... a humilhação debulhou-se em lágrimas legítimas’.
C
gradação que está presente em ‘... estrangular Sofia, calcá-la aos pés, arrancar-lhe o coração aos pedaços’.
D
aspectos da metalinguagem que se evidenciam em, por exemplo, ‘vades’, ‘crede-me’.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Por que Raduan Nassar parou de escrever? Essa pergunta com ares novelescos continua um enigma inexplicado. Depois de se preparar por 20 anos, a consagração veio junto com a estréia no lançamento do romance "Lavoura Arcaica" (1975), seguido de outro êxito atordoante, a novela "Um Copo de Cólera" (1978). No auge de uma carreira recém-começada, as traduções de vento em popa, quando seus leitores antecipam proezas ainda maiores que estavam por vir, de repente o escritor paulista anunciou que passava a arar outras terras, trocava a literatura pela agricultura [...].

FRIAS FILHO, O. O silêncio de Raduan. Folha de S. Paulo, 10 out. 1996. Disponível em:<https://goo.gl/8Q8oyN> . Acesso em: 30 mar. 2018.


Na coluna publicada no jornal Folha de São Paulo em outubro de 1996, a informação sobre o abandono da literatura pelo escritor Raduan Nassar

A
foi transcrita sob a forma de discurso indireto introduzido por um verbo de dizer que pode ser considerado sinônimo de declarar.
B
foi relatada sem marcas linguísticas que permitam distinguir as palavras do escritor das palavras do autor do texto.
C
foi transcrita diretamente embora não seja possível identificar as marcas formais comumente usadas nessa forma de discurso relatado.
D
foi relatada indiretamente sem que as regras gramaticais para esse fim fossem seguidas adequadamente pelo autor do texto.
6a449e51-a5
UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos

Uma das principais teorias sobre a chegada dos primeiros humanos às Américas é de que eles teriam migrado da Ásia, usando uma rota pela costa do Pacífico durante o final da última era glacial. O nível do mar caiu, e isso pode ter revelado ligações terrestres entre os dois continentes, que nossos antepassados aproveitaram para ir de um ao outro. Apesar de ser uma teoria bastante plausível, ela tinha um problema: não havia nada que a comprovasse. Até agora.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Victoria (Canadá) e publicado nesta quarta-feira, 28, na revista científica Plos One, mostrou que 29 pegadas de 13 mil anos foram encontradas sob sedimentos em uma ilha da Columbia Britânica, na costa canadense do Oceano Pacífico. Considerando-se que a era glacial entrou em declínio há 11,2 mil anos, tanto a idade quanto a localização das pegadas batem exatamente com a teoria da migração.

Disponível em: <https://goo.gl/Z5TZ1Y> . Acesso em: 30 mar. 2018.


Publicado em uma revista de vulgarização científica, o texto foi produzido com o objetivo de

A
informar sobre a descoberta de uma evidência que confirma uma das principais teorias sobre a migração dos homens para o continente americano.
B
opinar sobre a falta de evidências que confirmem uma das principais teorias sobre a migração dos homens para o continente americano.
C
comparar duas teorias conflitantes sobre a migração dos homens para o continente americano.
D
resumir as principais teorias sobre a migração dos homens para o continente americano.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Problemas da língua culta, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto


O último quadro da tirinha apresenta um uso pronominal bastante comum na modalidade oral do português brasileiro, independentemente do grau de escolaridade, da região ou da classe social do falante.


Assinale a alternativa que apresenta o uso pronominal equivalente à modalidade escrita e cujo registro seja formal.

A
Quais as chances de a senhora avaliar a ele com carinho e compreensão?
B
Quais as chances de a senhora avaliar-lhe com carinho e compreensão?
C
Quais as chances de a senhora lhe avaliar com carinho e compreensão?
D
Quais as chances de a senhora avaliá-lo com carinho e compreensão?
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos

Se quer medir forças, sei que eu me garanto,

Sem conversa frouxa, sem me olhar de canto,

Fecha a boca, ouça, eu não tô brincando,

Sua estratégia é fraca, já vou chegar te derrubando.


CONKA, Karol. Karol Conka. Download digital, 2001.


Karol Conka é uma rapper brasileira reconhecida por canções que exaltam a mulher. No refrão de Me garanto, de sua autoria, a forma tô 

A
representa uma inadequação ao grau de formalidade exigido pela letra da canção, um gênero escrito que circula oralmente em contextos públicos.
B
caracteriza uma variedade linguística estigmatizada, já que, no Brasil, o rap está associado a comunidades socialmente marginalizadas.
C
desmistifica a dicotomia entre a fala e a escrita, visto que figura em um gênero que apresenta um meio de produção sonoro e uma concepção discursiva gráfica.
D
indicia a inclusão de uma variante típica da fala informal à norma padrão, visto que figura em um texto escrito formal.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência

Há uma pequena árvore na porta de um bar, todos passam e dão uma beliscada na desprotegida árvore. Alguns arrancam folhas, alguns só puxam e outros, às vezes, até arrancam um galho. O homem que vive na periferia é igual a essa pequena árvore, todos passam por ele e arrancam-lhe algo de valor. A pequena árvore é protegida pelo dono do bar, que põe em sua volta uma armação de madeira; assim, ela fica segura, mas sua beleza é escondida. O homem que vive na periferia, quando resolve buscar o que lhe roubaram, é posto atrás das grades pelo sistema. Tentam proteger a sociedade dele, mas também escondem sua beleza.

FERRÉZ. Capão Pecado. São Paulo: Labortexto, 2000.


Tomada, isoladamente, a proposição “Tentam proteger a sociedade dele” poderia ser considerada ambígua. Para explicitar o sentido que essa oração assume no contexto em que foi empregada, a expressão “a sociedade dele” deve ser substituída por

A
a sociedade contra ele.
B
a sociedade para ele.
C
a sociedade com ele.
D
a sua sociedade.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

Fernanda é tudo que sobrou do que sempre me ensinaram. A sombra dos quarenta graus à sombra. Procurem os gestos no vocabulário, olhem Fernanda: estão todos lá. Sua vida é um palco iluminado. À direita as gambiarras do perfeccionismo. À esquerda os praticáveis do impossível. Em cima o urdimento geral de uma tentativa de enredo a ser refeita todas as noites, toda a vida. Atrás os bastidores, o mistério essencial. Embaixo, o porão, que torna viáveis os mágicos e onde, faz tanto tempo!, se ocultava o ponto. Em frente o diálogo, que é uma fé, e comove montanhas.

Disponível em:<https://goo.gl/ww4RDN> . Acesso em: 01 abr. 2018.


Na seção Retratos 3x4 de seu site, Millôr Fernandes escreve sobre alguns de seus amigos, dentre eles, a atriz Fernanda Montenegro.


Assinale o recurso em torno do qual o texto sobre a atriz foi construído.

A
Eufemismo.
B
Antítese.
C
Metonímia.
D
Metáfora.
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

Parado, com a colher suspensa sobre a bancada de aço inox, o sujeito atravancava minha passagem. Ia enfiá-la no pote de ervilhas, arremeteu, pousou-a na bandeja de beterrabas, levantou uma rodela, soltou-a, duas gotas vermelhas respingaram no talo de uma couve-flor. Fosse mais para trás, lá pela travessa do agrião, eu poderia ultrapassá-lo e chegar aos molhos a tempo de colocar azeite e vinagre antes que ele se aproximasse, mas da beterraba aos temperos é um passo e então seria eu a atrapalhar sua cadência. (Segundo a etiqueta não escrita dos restaurantes por quilo, a ultrapassagem só é permitida se não for reduzir a velocidade do ultrapassado – o que seria equivalente a furar a fila).


Tudo é movimento, dizia Heráclito; o mundo gira, a lusitana roda, anunciava a televisão: só eu não me mexia, preso diante da cumbuca de grãos de bico com atum. Fiquei irritado. Aquele homem hesitante estava travando o fluxo de minha vida, dali para frente todos os eventos estariam quinze segundos atrasados: da entrega desta crônica ao meu último suspiro.

PRATA, A. A zona do agrião. Estadão, 23 dez. 2008. Disponível em: <https://goo.gl/oE4E42>. Acesso em: 30 mar. 2018.


Narrada na primeira pessoa do singular, a crônica parte de um evento corriqueiro na fila de um restaurante por quilo para elaborar uma reflexão sobre a passagem do tempo. No texto, a função metalinguística da linguagem é evidenciada no fragmento

A
“Segundo a etiqueta não escrita dos restaurantes por quilo, a ultrapassagem só é permitida se não for reduzir a velocidade do ultrapassado [...].”
B
“[...] dali para frente todos os eventos estariam quinze segundos atrasados: da entrega desta crônica ao meu último suspiro.”
C
“Parado, com a colher suspensa sobre a bancada de aço inox, o sujeito atravancava minha passagem.”
D
“Tudo é movimento, dizia Heráclito; o mundo gira, a lusitana roda, anunciava a televisão [...].”
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UFU-MG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Muitos paquistaneses acreditam que a mídia local e internacional promove a jovem ativista de forma exagerada e desnecessária. Partidos de direita afirmam que a "campanha" para promovê-la é a prova de que há um "lobby internacional" por trás de tudo isso. [...]


Os defensores da ganhadora do Nobel da Paz acusam os "odiadores de Malala" de campanha de difamação contra ela. Até que a mentalidade das pessoas mude, argumentam, a jovem não poderá viver em sua terra natal de forma permanente.

Disponível em:<https://goo.gl/abhkYN>. Acesso em: 30 mar. 2018.


No texto sobre o retorno de Malala Yousafzai ao Paquistão pela primeira vez desde que foi baleada pelo Talibã, o emprego das aspas em "odiadores de Malala" tem o efeito de

A
aludir de forma pejorativa aos partidos de direita.
B
destacar uma expressão coloquial usada por paquistaneses.
C
delimitar palavras ditas por entrevistados.
D
veicular imparcialidade do enunciador.
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UFU-MG 2016 - Português - Interpretação de Textos

   Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade.
   Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.
  E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.
LISPECTOR, Clarice. Perdoando Deus. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 41.

O fragmento evidencia as percepções iniciais da personagem narradora. Tais percepções, no desenrolar do conto, são caracterizadas pela 

A
indagação a respeito da existência humana.
B
crescente soberba em relação aos semelhantes.
C
assimilação de variadas experiências grotescas.
D
intensificação do asco ao animal em decomposição.
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UFU-MG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

       Havia em Recife inúmeras ruas, as ruas dos ricos, ladeadas por palacetes que ficavam no centro de grandes jardins. Eu e uma amiguinha brincávamos muito de decidir a quem pertenciam os palacetes. “Aquele branco é meu. ” “Não, eu já disse que os brancos são meus. ” “Mas esse não é totalmente branco, tem janelas verdes. ” Parávamos às vezes longo tempo, a cara imprensada nas grades, olhando.
    [...] Numa das brincadeiras de “essa casa é minha”, paramos diante de uma que parecia um pequeno castelo. No fundo via-se o imenso pomar. E, à frente, em canteiros bem ajardinados, estavam plantadas as flores.
LISPECTOR, Clarice. Cem anos de perdão. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 60.

A narrativa de ficção joga com sentidos duplos e figurados e explora as variadas possibilidades da linguagem. Na obra de Clarice Lispector, para atingir uma maior expressividade na construção do texto, destaca-se ainda a epifania. Considerando-se o conceito de epifania na obra dessa autora, pode-se ler o conto Cem anos de perdão como

A
antítese do prazer da criança que desvela, por meio do ato de roubar, as possibilidades da transgressão das rígidas normas impostas pela sociedade, mas que sofre de forma antecipada devido à possibilidade da punição.
B
metáfora da passagem da infância para a adolescência, uma vez que a descoberta dos grandes jardins com suas rosas e pitangas acena, figurativamente, para a descoberta do erotismo e da sexualidade.
C
alegoria da dor da criança pobre que, ao andar pelas ruas ricas do espaço urbano, percebe a desigualdade social de Recife, o que autoriza e legitima o ato de roubar.
D
metonímia do mal que se manifesta, de forma inofensiva, nas crianças, por meio do roubo de rosas e de pitangas, mas que na vida adulta se manifestará em atos e atitudes que prejudicarão a sociedade.
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UFU-MG 2016 - Português - Interpretação de Textos

I
(...)
O menino tinha no olhar um silêncio de chão
e na sua voz uma candura de Fontes.
O Pai achava que a gente queria desver o mundo
para encontrar nas palavras novas coisas de ver
assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do
rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão
de uma pedra.
(...)
BARROS, Manoel de. Menino do mato. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2015. p.13

 Em Menino do mato, um eu lírico menino tem o desejo de apreender, sem se preocupar com explicações, as coisas do mundo, criar novidades por meio das palavras e de sua inocência pueril. Essa mesma ideia perpassa o fragmento: 

A
“Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. [...] Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: - Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia. ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. p. 24.
B
“Vai embora gato/ De cima do telhado/ Senão o papaizinho/ Te faz desintegrado/ Dorme, filhinho, / Que esta vida é cômica, / Estrôncio 90/ Mentalidade atômica/ Sonha querido/ Enquanto sobe o jato/ Vamos pairando/ Com nosso pé-de-pato/ Bicho-papão, bicho-papão, / Me multa esse Poláris/ Que parou na contramão/ Boi-boi-boi, / boi da cara preta/ Liquida o homem verde/ Que caiu doutro planeta. ” FERNANDES, Millôr. Papáverum Millôr. Rio de Janeiro: Nórdica, 1974. p. 142. 
C
“[...] Em meus tempos de criança, era aquela encantação. Lia-se continuamente e avidamente um mundaréu de histórias (e não estórias) principalmente as do Tico-Tico. Mas lia-se corrido, isto é, frase após frase, do princípio ao fim. Ora, as crianças de hoje não se acostumam a ler correntemente, porque apenas olham as figuras dessas histórias em quadrinhos, cujo ‘texto’ se limita a simples frases interjetivas e assim mesmo muita vez incorretas. No fundo, uma fraseologia de guinchos e uivos, uma subliteratura de homem das cavernas. ” QUINTANA, Mário. 80 anos de poesia. São Paulo: Globo, 2002. 
D
“Em meio a um cristal de ecos/ O poeta vai pela rua/ Seus olhos verdes de éter/ Abrem cavernas na lua. / A lua volta de flanco/ Eriçada de luxúria/ O poeta, aloucado e branco/ Palpa as nádegas da lua. / [...]/ O poeta todo se lava/ De palidez e doçura. / Ardente e desesperada/ A lua vira em decúbito. ” MORAES, Vinicius. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
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UFU-MG 2016 - Português - Interpretação de Textos

Na obra Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, há contos em que crianças são protagonistas, ora diante de situações densas, ora leves, com suas alegrias e tristezas na relação com o outro. Nessa tessitura, o fio condutor do conto

A
Miopia progressiva indica a manipulação das coisas e das pessoas por parte do protagonista para garantir a sua entrada no mundo adulto.
B
Restos de Carnaval destaca o desejo da personagem menina de divertir-se como centro das atenções na festa de momo.
C
Tentação evidencia a importância do olhar entre os protagonistas para representar a comunicação entre eles.
D
Come, meu filho prioriza o discurso autoritário da mãe para contrapor-se ao fluxo de consciência do filho.