Capítulo XLIV

Não vades crer que a dor aqui foi mais verdadeira que a cólera; foram iguais em si mesmas, os efeitos é que foram diversos. A cólera deu em nada; a humilhação debulhou-se em lágrimas legítimas. E contudo não faltaram a esta senhora ímpetos de estrangular Sofia, calcá-la aos pés, arrancar-lhe o coração aos pedaços, dizendo-lhe na cara os nomes crus que atribuía ao marido... Tudo imaginações! Crede-me: há tiranos de intenção. Quem sabe? Na alma desta senhora passou agora um tênue fio de Calígula...

ASSIS, Machado. Quincas Borba. São Paulo: Editora Globo, 1997. p. 53.

Levando-se em consideração a leitura de Quincas Borba e o capítulo, em que há referência a D. Tonica, identifica(m)-se, nesse capítulo,

Comentário do Gabarito – Interpretação e Figuras de Linguagem

Tema central: Esta questão avalia sua capacidade de identificar funções de linguagem e figuras de linguagem (com foco na metalinguagem) dentro de um trecho literário. Trata-se de competência fundamental em provas do Vestibular, pois exige leitura atenta do texto e domínio da terminologia da Língua Portuguesa, conforme preconizam gramáticas como as de Bechara e Cunha & Cintra.

Justificativa da alternativa correta (D):

A alternativa D é a correta ao identificar aspectos de metalinguagem nas formas verbais arcaicas “vades” e “crede-me”. A metalinguagem ocorre quando a linguagem reflete sobre si mesma. Aqui, Machado usa o português antigo (e declamações dirigidas ao leitor), destacando o uso da própria língua como tema – fenômeno que, segundo Bechara, caracteriza função metalinguística (“linguagem que discute a si própria”). O trecho convida o leitor a reparar no próprio modo de falar, tornando a estrutura do idioma parte da mensagem.

Análise das alternativas incorretas:

A) Aponta intertextualidade em “fio de Calígula”. Não há intertextualidade, pois não há diálogo explícito com outro texto, mas uma referência histórica (alusão). Intertextualidade envolve citações ou imitação estrutural de um texto por outro, o que não ocorre aqui.

B) Supõe ironia em “a humilhação debulhou-se em lágrimas legítimas”. Não há ironia, pois o autor claramente informa que as lágrimas foram genuínas. Ironia é dizer o contrário do que se pretende, buscando duplo sentido, o que não é o caso.

C) Indica gradação em “estrangular Sofia, calcá-la aos pés, arrancar-lhe o coração aos pedaços”. Embora haja enumeração de ações, não há hierarquia intensificadora evidente. Gradação, para a norma, é sequência crescente ou decrescente – como exemplificam Cunha & Cintra – o que não caracteriza o fragmento.

Estratégia para a prova: Sempre relacione o conceito pedido à definição normativa e busque evidências textuais. Atenção a possíveis pegadinhas: alusão não é intertextualidade, enumeração não é necessariamente gradação, e ironia exige antítese entre intenção e expressão.

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