Questõesde UNEB sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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Foram encontradas 75 questões
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UNEB 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Texto A

O Cárcere das Almas

AH! Toda alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades.
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma, entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e funéreas
Nas prisões colossais e abandonadas
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo

Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do mistério?!

SOUSA, João Cruz e. Poesia por Tasso de Silva. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1960. p. 73.


Texto B

Corpo no cerco
os quatro pontos do globo
os quatro cantos do céu
as quatro esquinas do quarto
o corpo todo travado
no olhar cicatrizado

nas mãos as chaves
oxi(sol)dadas
onde as portas
(de sair aonde ?)
onde o norte
só desnorte
mais a leste, sem oeste

os meus membros quatro exatos
quatro minhas as paredes
cerco do corpo no quarto
meu corpo cortado em quatro

CUNHA, Helena Parente. Corpo no cerco. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978. p. 20-21.

Considerando-se os poemas em questão, a análise sem respaldo encontra-se em

A
A referência ao corpo se dá como algo que aprisiona, entrelaça e dificulta a liberdade.
B
O estilo de que se apropriam os poetas para a manifestação de sua criação faz uso de uma linguagem peculiar ao período literário de cada poeta, que os aproxima pela abordagem da temática.
C
A metáfora de “chaves” representa, simultaneamente, libertação e aprisionamento: no texto A, a libertação da alma, presa no corpo; no B, a transposição de uma realidade frustrante, presa na fragmentação de um “eu” fragilizado.
D
As personas poéticas dos poemas veem-se em uma situação de cárcere em que o padecimento é inevitável, quer pela condição física, como no poema de Cruz e Souza, ou pela psicológica, como no de Helena Cunha.
E
A inspiração que conduz os poetas à concretização de suas ideias em poesia se faz por meio de um olhar sobre si mesmo.
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CANDIDO PORTINARI, Retirantes (Retirantes), 1944 Óleo s/ tela 190 x 180 cm. Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil. Disponível em: http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/id_portinari_retirantes.html. Acesso em: 14 fev. 2016.


A imagem destacada, de Candido Portinari, dialoga com alguns romances da literatura regionalista, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, O Quinze, de Rachel de Queiroz, e Essa Terra, de Antônio Torres.


Em relação a Essa Terra, de Antônio Torres, a alternativa que está inadequada ao contexto global da obra é a

A
A obra está dividida em quatro partes, que, por sua vez, está subdividida em capítulos, apresentando, inclusive, diferentes pontos de vista, em função da alternância de narradores.
B
A ida e o retorno de Nelo representam os dois lados de um Brasil que se completam: o sul é a redenção de um nordeste subdesenvolvido.
C
Nelo configura o desejo íntimo das demais habitantes de Junco: a saída de um ambiente inóspito e a expectativa de um retorno triunfal.
D
A narrativa consiste em um relato fragmentário e memorialístico das desventuras de uma família nordestina, entre as asperezas do sertão e a ilusão de uma metrópole.
E
A ausência de sentimento de pertencimento a que os nordestinos são submetidos resulta da dificuldade das relações que se estabelecem entre eles e a realidade socioeconômica dos lugares em que transitam.
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Os homens da empresa funerária haviam feito um bom trabalho, eram competentes e treinados. Como disse o santeiro, ao passar um instante para ver como as coisas se apresentavam, “nem parecia o mesmo morto”. Penteado, barbeado, vestido de negro, camisa alta e gravata, sapatos lustrosos, era realmente Joaquim Soares da Cunha quem descansava no caixão funerário — um caixão régio (constatou satisfeita Vanda), de alças douradas, com uns babados nas bordas.
Vanda pensou que Otacília sentir-se-ia feliz no distante círculo do universo onde se encontrasse. Porque se impunha finalmente sua vontade, a filha devotada restaurara Joaquim Soares da Cunha, aquele bom, tímido e obediente esposo e pai...

AMADO, Jorge. A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água. 42. ed. Rio de Janeiro: Record. p. 45-47.

Considerando-se o trecho destacado no contexto da obra, a forma verbal “restaurara”, em “restaurara Joaquim Soares da Cunha”, pode ser entendida como

A
resgate da sua morte moral.
B
reparação da sua morte física.
C
restabelecimento da sua morte memorável.
D
restituição das três mortes, simultaneamente.
E
restauração das mortes física e moral, simultaneamente.
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Fragmento 1

O largo seria apenas isso não fosse a mulher que vem tropeçando muito, talvez bêbada ou uma epiléptica, quase a alcançar a escadaria do pátio da igreja. Cai, estremecendo, em silêncio.
— Misericórdia! Exclamo, já a correr, aproximando-me. E, mal me debruço para acudi-la, não tenho dúvida de que está morrendo. Dois ou três minutos de vida, no máximo.
[...]
Há a bolsa de couro, no chão, ao lado do corpo. Usada, gasta, suja. Aí, junto aos pés, é como uma parte do corpo que deve guardar os pertences da mulher. [...] a mulher no calçamento, morta, indiferente ao mundo.”

FILHO, Adonias. Um corpo sem nome. O Largo da Palma. Rio de Janeiro: Bertrand, Brasil, 2005. p. 73-74.


Fragmento 2

O que se espera, pelo mais certo das coisas, é que faleçam os avós antes dos netos, e que sejamos sepultados por nossos filhos. Do contrário, toda tristeza se multiplica pelo peso das nossas dores. Este sentimento me abrasava em gelo naquele exato instante, quando senti as palavras pontiagudas do médico, no momento da maior aflição:
— Sinto muito, acabamos de perdê-lo. Eu o havia perdido antes mesmo de sua morte. Isso era o doloroso: não poder confortá-lo e amparar-me em seus últimos hálitos. Mas como pôde meu pai morrer assim, longe de nossos olhos e palavras, atrelado ao mundo por tentáculos de monitores? Era um jeito completamente contrário aos nossos sentimentos. [...]
Era inglória a morte de meu pai, ele não a desejava assim. E isso era um peso, só agora eu o media. Ele sempre dizia não temer sua hora em sua justa vez, que se fosse dignamente ao lado dos seus, como parte de nossas vidas, como era o certo em seus bons tempos, sem as salvações por apenas uns dias e horas.

FONSECA, Aleilton. O desterro dos mortos: contos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. p. 91-92.

Considerando-se os fragmentos dos textos no contexto das obras O Largo da Palma e O desterro dos mortos, marque V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas, as afirmações sobre elas.

( ) Os fragmentos destacados apresentam identidade temática na medida em que abordam questões como abandono e solidão na momento da morte.
( ) A moça que morre no Largo da Palma ilustra bem um drama existencial: o anonimato de uma morte solitária.
( ) O filho que perde o pai se dá conta da solidão a que são condenados os doentes terminais em hospitais, sem a presença reconfortante de parentes e amigos.
( ) Tanto a moça que morre na Palma como o pai que morre deixando o filho saudoso representam o anonimato social, seres que morrem sem ter contribuído na construção do tecido social.
( ) As narrativas ilustram bem os problemas ligados à contemporaneidade que ocorrem como consequência dos avanços tecnológicos.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

A
V V V V V
B
V F F V F
C
V V V F F
D
F V V F F
E
F F F V V
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Comparando-se os fragmentos destacados do romance Tenda dos Milagres e considerando-se a totalidade da obra, fica evidente

Fragmento 1

    Quem foi esse tal de Archanjo? Alguma figura exponencial, um professor, um doutor, um luminar, um prócer político, ao menos um comerciante rico? Nada disso: um reles bedel da Faculdade de Medicina, pouco mais que um mendigo, praticamente um operário. Espumava o insigne cidadão e eu não lhe nego motivos para tamanha cólera. Dedicara sua existência a clamar contra o porneia, a dissolução dos costumes, os maiôs, Marx e Lênin, o abastardamento da língua portuguesa, “última flor do Lácio”, e que resultados obtivera? Nenhum: impera a pornografia nos livros, no teatro, no cinema e na vida; a dissolução dos costumes fez-se normalidade quotidiana, as moças conduzem a pílula junto ao terço, os maiôs viraram biquínis e olhe lá; como se não bastassem Marx e Lênin, aí estão Mao-Tse-Tung e Fidel Castro, sem falar nos padres, todos eles possuídos do demônio; quanto a livros e língua portuguesaos tomos do ilustre acadêmico, vazados no terso e castiço idioma de Camões e publicados por conta do autor, jazem nas prateleiras das livrarias, em eterna consignação, enquanto vendem-se aos milhares os livros daqueles escribas que desprezam as regras da gramática e reduzem a língua dos clássicos a um subdialeto africano.

AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. 5. ed. São Paulo: Martins, 1970. p. 66.


Fragmento 2

“Não há no mundo gente melhor do que vocês, povo mais civilizado do que o povo mulato da Bahia”, dissera a sueca ao despedir-se na Tenda dos Milagres, em conversa com Lídio, Budião e Aussá. Chegara de longe, vivera com eles, dizia por saber, um saber sem restrições ou dúvidas, de real conhecimento. Por que então o doutor Nilo Argolo – catedrático de Medicina Legal na Faculdade e mentor científico da congregação, com renome de sábio e descomunal biblioteca — escrevera sobre os mestiços da Bahia ... ?

AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. 5. ed. São Paulo: Martins, 1970. p. 119.
A
um contraste na ideologia subjacente a cada discurso, que se percebe nas duas formações discursivas opostas em seus personagens.
B
uma afinidade ideológica entre os dois discursos, já que abordam temas semelhantes com formações análogas.
C
um distanciamento ideológico entre os pontos de vista, uma vez que esses apresentam argumentos inverossímeis para justificar seus posicionamentos.
D
um discurso ideológico que converge para a mesma conclusão, embora apresentem argumentos divergentes.
E
dois métodos de argumentação divergentes que se encaminham para um ponto em comum, embora sigam linhas ideológicas distintas.
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Analisando-se a estrutura redacional em que a articulista se expressou, pode-se afirmar:

TEXTO:



CRITELLI, Dulce. Disponível em: http://www.cartaeducacao.com.br/ artigo/somos-todos-testemunhas. Acesso em: 10 fev. 2106. Adaptado.

A
Para a manifestação de suas ideias, embora citem alguns intelectuais renomados, observa-se uma inadequação temática em relação às observações deles, que contribuem para a falta de coerência do texto.
B
A presença de diferentes vozes polifônicas, reconhecidas pelo mundo da intelectualidade, tem por objetivo dar a si alguma credibilidade, em virtude do seu anonimato neste meio.
C
O assunto a que se propõe tratar, por ser de pouco interesse coletivo, demanda de referências bibliográficas que sustentem sua argumentação.
D
O registro no texto de um sujeito coletivo, manifestado no uso de “nós”, confere ao assunto, além de uma contemporaneidade, uma preocupação humanista em relação às ferramentas tecnológicas impostas pela comunicação.
E
O uso da linguagem conotativa, expressa por meio de um discurso indireto, em que diferentes estudiosos do comportamento humano se manifestam, contribui para importância do tema.
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Nos fragmentos de Tenda dos Milagres, os personagens Arcanjo e Nilo são evidenciados. Considerando-se o romance em sua totalidade, eles representam parte da sociedade soteropolitana da época.

A alternativa em que essa representação está correta é a

Fragmento 1

    Quem foi esse tal de Archanjo? Alguma figura exponencial, um professor, um doutor, um luminar, um prócer político, ao menos um comerciante rico? Nada disso: um reles bedel da Faculdade de Medicina, pouco mais que um mendigo, praticamente um operário. Espumava o insigne cidadão e eu não lhe nego motivos para tamanha cólera. Dedicara sua existência a clamar contra o porneia, a dissolução dos costumes, os maiôs, Marx e Lênin, o abastardamento da língua portuguesa, “última flor do Lácio”, e que resultados obtivera? Nenhum: impera a pornografia nos livros, no teatro, no cinema e na vida; a dissolução dos costumes fez-se normalidade quotidiana, as moças conduzem a pílula junto ao terço, os maiôs viraram biquínis e olhe lá; como se não bastassem Marx e Lênin, aí estão Mao-Tse-Tung e Fidel Castro, sem falar nos padres, todos eles possuídos do demônio; quanto a livros e língua portuguesaos tomos do ilustre acadêmico, vazados no terso e castiço idioma de Camões e publicados por conta do autor, jazem nas prateleiras das livrarias, em eterna consignação, enquanto vendem-se aos milhares os livros daqueles escribas que desprezam as regras da gramática e reduzem a língua dos clássicos a um subdialeto africano.

AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. 5. ed. São Paulo: Martins, 1970. p. 66.


Fragmento 2

“Não há no mundo gente melhor do que vocês, povo mais civilizado do que o povo mulato da Bahia”, dissera a sueca ao despedir-se na Tenda dos Milagres, em conversa com Lídio, Budião e Aussá. Chegara de longe, vivera com eles, dizia por saber, um saber sem restrições ou dúvidas, de real conhecimento. Por que então o doutor Nilo Argolo – catedrático de Medicina Legal na Faculdade e mentor científico da congregação, com renome de sábio e descomunal biblioteca — escrevera sobre os mestiços da Bahia ... ?

AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. 5. ed. São Paulo: Martins, 1970. p. 119.
A
Archanjo incorpora a figura do boêmio marginal, que não se adapta aos códigos burgueses, por isso se torna um revolucionário; já Argolo afigura-se mais prudente na crítica do mundo burguês, sendo a parcimônia uma de suas marcas.
B
Archanjo representa a tentativa de afirmação de uma camada popular marginalizada e discriminada; Argolo faz oposição a isso, apropria-se de um discurso eivado de preconceitos.
C
Archanjo faz oposição política a Argolo na disputa pela liderança de grupos sociais bem definidos, porém dispersos pelos diversos espaços da cidade.
D
Archanjo representa a resistência negra e tenta derrubar tabus sociais como patriarcalismo e homofobia, enquanto Argolo luta para mantê-los vivos.
E
Tanto Archanjo como Argolo são arautos de um novo tempo, em que o preconceito e a tirania não encontram terreno fértil para surgir.
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As ideias apresentadas no texto permitem afirmar que o articulista estabelece uma relação direta entre

TEXTO:

SANTOS, Milton. Uma globalização perversa. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 17.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 37-39. Adaptado. 

A
avanços tecnológicos e insatisfação da humanidade.
B
globalização e ampliação das relações sociais.
C
desamparo humano e violência estrutural da sociedade.
D
crescimento das funções do Estado e ampliação da pobreza.
E
ações humanas mundializada e competitividade.
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UNEB 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Segundo o geógrafo Milton Santos, quando se amplia o papel político das empresas na regulação da vida social,

TEXTO:

SANTOS, Milton. Uma globalização perversa. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 17.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 37-39. Adaptado. 

A
há um crescimento econômico, tanto no âmbito coletivo quanto no individual.
B
surge uma nova classe de trabalhadores mais comprometidos com a produtividade.
C
decresce a sensibilidade coletiva e o nível de solidariedade entre as pessoas.
D
aumenta o poder do Estado e, consequentemente, a adoção de padrões comportamentais que eliminam a pobreza.
E
surge o conceito de bem social e o comprometimento de todos para com o bem público.
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UNEB 2016 - Português - Interpretação de Textos, Uso dos conectivos, Funções morfossintáticas da palavra SE, Coesão e coerência, Sintaxe, Concordância verbal, Concordância nominal, Pontuação, Uso da Vírgula, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre os aspectos linguísticos presentes no texto, é correto afirmar:

TEXTO:

SANTOS, Milton. Uma globalização perversa. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 17.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 37-39. Adaptado. 

A
A partícula “se”, presente nas formas verbais “impõe-se” (l. 5), “sentem-se” (l. 22) e “se amplia” (l. 30), tem função reflexiva e denuncia uma imposição de um sujeito ativo.
B
Os termos o e a, presentes na passagem destacada “o que também constitui uma incitação a que adotem” (l. 23-24), substituem as palavras “quadro” e “pessoas”, respectivamente, reforçando a argumentação do geógrafo acerca de uma “globalização perversa.”
C
A passagem “Há um verdadeiro retrocesso quanto à noção de bem público e de solidariedade” (l. 26-27) constitui uma comprovação argumentativa das ideias do período anterior, e a forma “Há” poderia ser substituída por “existe” sem comprometer o teor da informação.
D
“Hoje, propaga-se tudo, e a própria política é, em grande parte, subordinada às suas regras.” (l. 54-55), a vírgula, registrada quatro vezes na passagem destacada, ocorre pelo mesmo motivo: destacar circunstâncias, reiterando a mensagem do período anterior “A publicidade tem, hoje, uma penetração muito grande em todas as atividades.” (l. 52-53).
E
Em “Falsificam-se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia nos dá” (l. 58-60), o conector “já que” estabelece entre as duas orações ideia de proporcionalidade.
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UNEB 2016 - Português - Por que- porque/ porquê/ por quê, Interpretação de Textos, Pronomes relativos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Problemas da língua culta, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Morfologia - Pronomes

A afirmação sobre a passagem transcrita do texto está correta em

TEXTO:

SANTOS, Milton. Uma globalização perversa. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 17.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 37-39. Adaptado. 

A
Em “buscam conformar segundo um novo ethos as relações sociais e interpessoais” (l. 11-13), a palavra em negrito pode ser substituída por “como”, expressando a mesma ideia semântica do “como” em “impõe-se à maior parte da humanidade como uma globalização perversa.” (l. 5-6).
B
“A perversidade sistêmica é um dos seus corolários.” (l. 20-21), o termo destacado, dentro do parágrafo, faz referência a “novos totalitarismos” (l. 15).
C
“Dentro desse quadro, as pessoas sentem-se desamparadas” (l. 22-23), os elementos circunstanciais “Dentro desse quadro” é posteriormente reafirmados pelo relativo “do qual” em “do qual é emblemático o encolhimento das funções sociais e políticas do Estado” (l. 27-29).
D
No fragmento “explica o porquê da presença generalizada do ideológico em todos esses pontos.” (l. 40-41), considerando-se a norma culta, não é indicada a substituição de “porquê” por “ por que”, uma vez que compromete a relação semântica entre os signos da mensagem.
E
Em “Hoje, propaga-se tudo, e a própria política é, em grande parte, subordinada às suas regras.” (l. 54-55), o determinante “própria”, semanticamente, expressa ideia de inclusão.
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UNEB 2016 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Marque com V ou com F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas, em relação às ideias do texto.

( ) A linguagem, por ser o elemento comum entre o homem, o distingue dos demais seres, mas, em contrapartida, inviabiliza a sua conduta identitária, tornando-o mero componente de uma sociedade globalizada.
( ) A aceitação e o reconhecimento do ser humano como parte de um grupo, por meio de sua realidade, é o princípio norteador da condição social do homem.
( ) Toda exposição pública visa ao compartilhamento de um virtuosismo pessoal, e as redes sociais, um ineditismo da pós-modernidade, asseguram ao que foi compartilhado a certeza de testemunhos benéficos que reforçam a sua utilidade.
( ) Em uma sociedade do espetáculo, como a brasileira, a necessidade de exposição narcisista contribui para que as redes sociais desvirtuem o seu caráter público a serviço do privado.
( ) Os compartilhamentos indevidos decorrentes da falta de valoração humana e de autoestima entre os jovens conferem às redes sociais um papel paradoxal de sua função precípua.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

TEXTO:



CRITELLI, Dulce. Disponível em: http://www.cartaeducacao.com.br/ artigo/somos-todos-testemunhas. Acesso em: 10 fev. 2106. Adaptado.

A
V V V V V
B
V F V F F
C
V F F V F
D
F V V V F
E
F V F V V
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UNEB 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

“Não é de estranhar, pois, que realidade e ideologia se confundam na apreciação do homem comum” (l. 41-42)

Marque com V ou com F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas, que constituem respaldos para o pensamento destacado.

( ) Uma das características da informação na atualidade é a “coisificação” de uma ideologia que se insere igualitariamente na produção de consumo e na produção da notícia.
( ) As condições tecnológicas permitem uma ação humana mundializada, por isso as informações são transmitidas em tempo real, o que impossibilita a manipulação das notícias, uma vez que o que se diz é comprovado pelas imagens.
( ) A escolha adequada da linguagem para a emissão das ideias elaboradas insidiosamente constitui os princípios eficazes de uma mensagem manipulada: informar, sem criar questionamentos, e persuadir sem deixar dúvidas.
( ) A repetição de uma mesma notícia, dentro dos meios de comunicação, visa a deixar o ouvinte mais bem informado e, consequentemente, esclarecido diante das informações apresentadas, já que esse mecanismo comprova a fidedignidade da mensagem.
( ) A falta de discernimento do homem comum entre o real e o imaginário no mundo da comunicação, em virtude da manipulação das notícias, consolida,de maneira eficiente, os propósitos de uma humanidade mundializada.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

TEXTO:

SANTOS, Milton. Uma globalização perversa. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 17.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 37-39. Adaptado. 

A
F V F V V
B
V V F V F
C
V V V F F
D
V F V F V
E
F V V V F
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UNEB 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Segundo a argumentação do autor, os novos paradigmas que permeiam as relações sociais e interpessoais a partir do final do século passado têm sua origem

TEXTO:

SANTOS, Milton. Uma globalização perversa. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 17.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 37-39. Adaptado. 

A
nas surpreendentes condições de tecnologia impostas ao mundo indiscriminadamente sem considerar as particularidades de cada nação.
B
na implantação de revolucionárias ideias políticas e sociais surgidas a partir do avanço tecnológico, possibilitando a sua disseminação.
C
no crescimento de um novo poder ideológico que visa a restabelecer os ideais perdidos com a Modernidade.
D
no novo modelo psicossocial resultante das novas relações sociais, cujo objetivo é legitimar o direito de individualidade e de cidadania.
E
na imposição de uma totalitarismo ideológico que se infiltra na sociedade pelo despreparo crítico e psicológico de seus cidadãos frente às novas tecnologias.
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UNEB 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Eis a fábrica. Entrei de novo, sem licença. Eu andava a esmo, pelo meio do salão de trabalho, tropeçando nos matos rasteiros. Eu só queria repor as peças em seus lugares, ligar as máquinas, aquecer o forno e despertar a chaminé. O menino de novo me observava, talvez curioso ante minha empreitada. Eu perscrutava-lhe uma pergunta que ele não alcançou formular. Eu, também funcionário, em certo depois, minha função era a última de todas. Enfim, eu agora a exercia. Ouvi que a fábrica apitava e me senti arrepiar inteiro. Estava findo esse turno de trabalho. Então eu fui saindo.
— Esta fábrica está morta.
O menino disse isso e retomou sua bicicleta. Deu uma última olhada, foi-se a guiar para longe, fazendo girar o tempo presente. Era já o cair da tarde; e dentro de mim o apito da fábrica chorava. Eu via de novo a fumaça formando nuvens e provava o cheiro morno dos biscoitos. Continuei caminhando, sem olhar para trás, os matos já não me incomodavam. Era hora, e eu ia saindo pelo mesmo portão aberto, por onde as minhas lágrimas passavam.
FONSECA, Aleilton. O sabor das nuvens. O desterro dos mortos: contos. 3. ed. Itabuna: Via Litterarum, 2012. p. 51.

No conto O sabor das nuvens, que faz parte da obra “O desterro dos mortos”, metaforiza-se a morte através da perda

A
da inocência infantil, fazendo o sujeito narrador mergulhar em mundo de sonhos que foi desconstruído pela constatação de que a fábrica de biscoitos nunca existiu concretamente.
B
de uma experiência subjetiva de prazer proporcionada, na infância, pela existência de uma fábrica de biscoitos que se acabou em ruínas, mas que será registrada por meio da escrita.
C
do sentimento de esperança diante da certeza de que em algum momento o narrador personagem poderia concretizar uma sonho que foi sempre frustrado.
D
da memória de um momento que passou despercebido para o narrador-personagem, que, no presente, busca reconstruí-lo através da própria literatura.
E
de uma referência identitária destituída durante a infância do sujeito narrador, que, no presente da enunciação, busca reencontrá-la através da memória.
dbe1252e-bb
UNEB 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A comparação entre os versos de Helena Parente e os de Cecília Meireles está sem respaldo textual na alternativa

A
Os dois textos poéticos revelam uma escritura feminina marcada pela melancolia e pela busca de identidade.
B
O poema de Helena Parente é o único que faz uma retrospectiva de uma procura antiga e incessante de sua própria identidade.
C
O não reconhecimento identitário, embora em contextos e momentos diferentes, é a tônica temática nos dois poemas.
D
A voz lírica de Helena Parente reflete sobre as experiências múltiplas vividas na busca de sua identidade, enquanto a de Cecília Meireles não se reconhece na efemeridade de seu eu.
E
Os versos de Cecília Meireles revelam melancolia e tristeza na constatação e negação subsequente da efemeridade da vida, ao contrário dos de Helena Parente que explicitam uma consciência complacente e satisfeita na constatação de uma velhice madura e bem vivida.
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UNEB 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Voltou-se para os curiosos ainda a fitá-la, era aquela gentinha do Tabuão, a ralé em cuja companhia Quincas se comprazia. Que faziam ali? Não compreendiam que Quincas Berro D’água terminara ao exalar o último suspiro? Que ele fora apenas uma invenção do diabo? Um sonho mau, um pesadelo? Novamente Joaquim Soares da Cunha voltaria e estaria um pouco entre os seus, no conforto de uma casa honesta, reintegrado em sua respeitabilidade. Chegara a hora do retorno e desta vez Quincas não poderia rir na cara da filha e do genro, mandá-los plantar batatas, dar-lhes um adeusinho irônico e sair assoviando. Estava estendido no catre, sem movimentos. Quincas Berro D’água acabara.

Vanda levantou a cabeça, passeou um olhar vitorioso pelos presentes, ordenou com aquela voz de Otacília:

— Desejam alguma coisa? Senão, podem ir saindo. Dirigiu-se depois ao santeiro:

— O senhor podia fazer o favor de chamar um médico? Para o atestado de óbito.

O santeiro aquiesceu com a cabeça, estava impressionado. Os outros retiravam-se devagar. Vanda ficou só com o cadáver. Quincas Berro D’água sorria e o dedo grande do pé direito parecia crescer no buraco da meia.

AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro D’água. São Paulo: Companhia da Letras, 2008. p. 25.


Contextualizado na obra, o fragmento em destaque permite afirmar que Vanda

A
representa a ideologia de preconceito e intolerância diante da cultura popular e dos estratos sociais inferiores da cidade de Salvador.
B
reconsidera a avaliação que fazia dos amigos de Quincas Berro D’água, admitindo que seu genitor nunca perdera a sua respeitabilidade.
C
reproduz os valores do grupo social a que pertence, mas trata com respeito e cortesia os amigos do falecido, em respeito à sua memória.
D
idealiza a figura do pai, mesmo reconhecendo que ele nunca voltaria a ser o “Joaquim Soares da Cunha”, um respeitável chefe de família.
E
não compreendia as escolhas paternas, embora reconhecesse que a vida no Tabuão era mais livre e espontânea do que a vida que levava ao lado da mulher Otacília.
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Ao aproximar-se, Pedro Archanjo notou que Nilo Argolo punha os braços atrás das costas para impedir qualquer tentativa de aperto de mão. Um calor subiu-lhe ao rosto.

Com o desplante de quem examinasse bicho ou coisa, atentamente o professor estudou a fisionomia e o porte do funcionário; no rosto infenso refletiu-se indisfarçável surpresa ao constatar o garbo e a limpeza nos trajes do mulato, o perfeito decoro. De certos mestiços, o catedrático pensava e, em determinados casos, até dizia: Este merecia ser branco, o que o desgraça é o sangue africano.

— Foi você quem escreveu uma brochura intitulada A vida...

—... popular da Bahia... — Archanjo superara a humilhação inicial, dispunha-se ao diálogo. — Deixei um exemplar para o senhor na secretaria.

— Diga senhor professor — corrigiu, áspero, o lente ilustre. — Senhor professor, não senhor apenas, não se esqueça. Conquistei o título em concurso, tenho direito a ele e o exijo. Compreendeu?

— Sim, senhor professor — a voz distante e álgida, o único desejo de Pedro Archanjo era ir-se embora.

— Diga-me: as diversas anotações sobre costumes, festas tradicionais, cerimônias fetichistas, que você classifica de obrigações, são realmente exatas?

— Sim, senhor professor.

— Sobre cucumbis, por exemplo. São verídicas?

— Sim, senhor professor.

— Não foram inventadas por você?

— Não, senhor professor.

— Li sua brochura e, tendo em conta quem a escreveu — novamente o examinou com olhos fulvos e hostis —, não lhe nego certo mérito, limitado a algumas observações, bem entendido. Carece de qualquer seriedade científica e as conclusões sobre mestiçagem são necessidades delirantes e perigosas. Mas nem por isso deixa de ser repositório de fatos dignos de atenção. Vale leitura.

AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. 47. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 143-144.


A leitura do fragmento de “Tenda dos Milagres”, devidamente contextualizado na obra, permite afirmar:

A
A figura de Pedro Archanjo representa a sabedoria popular e mestiça, que valoriza a influência da cultura africana nos hábitos da sociedade baiana, confrontando-se ideologicamente com o professor Nilo Argolo, representante, através da teoria de eugenia racial, da cultura branca, preconceituosa.
B
A fala de Pedro Archanjo denuncia uma postura de poder e supremacia diante do discurso preconceituoso e racista do professor, que reproduz os valores da Faculdade de Medicina na Bahia do século XIX.
C
O fragmento destacado traz a problematização do romance-tese, na medida em que ratifica a concepção do discurso de alguns acadêmicos sobre a degenerescência psíquica e mental dos povos mestiços.
D
O professor Nilo Argolo é obrigado a reconhecer o valor literário da obra escrita por Pedro Archanjo, ainda que ela fosse de encontro à sua própria teoria eugênica como melhoramento de raça.
E
O discurso do professor Nilo Argolo reproduz a ideologia acadêmica que valoriza a cultura mestiça em detrimento de pesquisas científicas marcadas pela concepção do ideal eugênico.
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O que houve com Valentim, deixando-o sem despedir-se, perdendo-se na multidão, ele jamais saberia. Só, novamente só, com as suas trevas e o porrete de apalpar o chão. Passo a passo, muito devagar, retornou e tão só em si mesmo que não percebeu sequer os que, a seu lado, regressavam às casas. Andou assim, sempre a pensar nos enforcados, até que reconheceu o Largo da Palma pela aspereza das pedras e o macio da grama. Tudo o que queria, afinal, era o seu lugar no canto do pátio da igreja.
E, ao aproximar-se, ao sentir o cheiro do incenso, pensou que naquele momento já cortavam as cabeças e as mãos dos enforcados. Colocadas em exposição, no Cruzeiro de São Francisco ou na Rua Direita do Palácio, até que ficassem os ossos. O Largo da Palma, porque sem povo e sem movimento, seria poupado. Ajoelhou-se, então, pondo as mãos na porta da igreja.
E, única vez em toda a vida, agradeceu à Santa da Palma ter nascido cego.
FILHO, Adonias. O Largo da Palma. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 96-97.

Inserindo-se o fragmento destacado na leitura global da novela “Os enforcados”, é correto afirmar:

A
O Largo da Palma, para o cego, foi poupado da exposição da dor e da miséria dos enforcados porque não sugeria resistência ou ameaça, visto que seus moradores compactuavam da ideologia dominante.
B
O cego do Largo da Palma, em função de sua deficiência visual, torna-se alheio e distante de cenas de crueldade que comprovam as perseguições e o cerceamento de discursos de resistência na Colônia do século XVIII.
C
O deficiente visual, após a decapitação dos condenados, não compreende o silêncio que assola a cidade e fica decepcionado com a atitude de Valentim, que não reage diante da injustiça praticada pela Metrópole aos moradores da Colônia.
D
A denúncia de medo e opressão, que se concretiza no conto “Os enforcados”, gera, no personagem que nascera destituído da visão, uma reflexão sobre seu ceticismo religioso e a necessidade de agradecer pelos desígnios divinos, diante da situação vivida.
E
A ironia que se estabelece na narrativa justifica-se pelo fato de o foco narrativo se desenvolver pela percepção de um cego, que capta verdades de um contexto histórico de opressão na Colônia por meio de sutilezas quase imperceptíveis aos olhos humanos.
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Mamãe, quando ela disse a seus pais que ia se casar comigo, eles se revoltaram:
Todo baiano é negro.
Todo baiano é pobre.
Todo baiano é veado.
Todo baiano acaba largando a mulher e os filhos para voltar para a Bahia.
Mas nós nos casamos mesmo assim. Tivemos dois filhos (um dia ainda lhe mando um retrato de seus netos). Depois ela fugiu com Zé do Pistom e levou os meus filhos.
Zé está me matando. Eles estão me matando. Devem ser uma dúzia de homens, fardados e armados. Aqui, no meio da rua. Na grande capital.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Cresce logo, menino, para você ir para São Paulo.
Aqui vivi e morri um pouco todos os dias.
No meio da fumaça, no meio do dinheiro.
Não sei se fico ou se volto.
Não sei se estou em São Paulo ou no Junco.
— Levanta, corno.
Eles me mandam dançar um xaxado. Não posso, não aguento, não suporto. Voltaram a me bater.
O homem na janela deve ter saído da janela. Apagou a luz, desapareceu, foi dormir.
São Paulo é uma cidade deserta.
Outra pancada e esqueci de tudo.
TORRES, Antônio. Essa Terra. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 62-63.

Considerando-se a leitura global da obra “Essa Terra”, o fragmento em destaque evidencia

A
a realidade de preconceito e de exclusão vivida por Totonhim no período em que se afastou de sua terra natal.
B
o desenraizamento do personagem Nelo que, ao voltar e não se reconhecer em suas origens, resolve se matar
C
a dificuldade experimentada por uma família no interior da Bahia, retratando, com isso, a diferença da vida no interior e na capital.
D
o drama da migração nordestina para São Paulo, relatando, por meio do fluxo de consciência, situações de opressão e as consequências psicológicas que envolveram toda a família.
E
o caos e a inverossimilhança no discurso indireto livre do filho pródigo, que, ao retornar da capital paulista, busca justificar seu distanciamento e renúncia em relação a suas origens.