Questão dbdc41c0-bb
Prova:UNEB 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O que houve com Valentim, deixando-o sem despedir-se, perdendo-se na multidão, ele jamais saberia. Só, novamente só, com as suas trevas e o porrete de apalpar o chão. Passo a passo, muito devagar, retornou e tão só em si mesmo que não percebeu sequer os que, a seu lado, regressavam às casas. Andou assim, sempre a pensar nos enforcados, até que reconheceu o Largo da Palma pela aspereza das pedras e o macio da grama. Tudo o que queria, afinal, era o seu lugar no canto do pátio da igreja.
E, ao aproximar-se, ao sentir o cheiro do incenso, pensou que naquele momento já cortavam as cabeças e as mãos dos enforcados. Colocadas em exposição, no Cruzeiro de São Francisco ou na Rua Direita do Palácio, até que ficassem os ossos. O Largo da Palma, porque sem povo e sem movimento, seria poupado. Ajoelhou-se, então, pondo as mãos na porta da igreja.
E, única vez em toda a vida, agradeceu à Santa da Palma ter nascido cego.
FILHO, Adonias. O Largo da Palma. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 96-97.

Inserindo-se o fragmento destacado na leitura global da novela “Os enforcados”, é correto afirmar:

A
O Largo da Palma, para o cego, foi poupado da exposição da dor e da miséria dos enforcados porque não sugeria resistência ou ameaça, visto que seus moradores compactuavam da ideologia dominante.
B
O cego do Largo da Palma, em função de sua deficiência visual, torna-se alheio e distante de cenas de crueldade que comprovam as perseguições e o cerceamento de discursos de resistência na Colônia do século XVIII.
C
O deficiente visual, após a decapitação dos condenados, não compreende o silêncio que assola a cidade e fica decepcionado com a atitude de Valentim, que não reage diante da injustiça praticada pela Metrópole aos moradores da Colônia.
D
A denúncia de medo e opressão, que se concretiza no conto “Os enforcados”, gera, no personagem que nascera destituído da visão, uma reflexão sobre seu ceticismo religioso e a necessidade de agradecer pelos desígnios divinos, diante da situação vivida.
E
A ironia que se estabelece na narrativa justifica-se pelo fato de o foco narrativo se desenvolver pela percepção de um cego, que capta verdades de um contexto histórico de opressão na Colônia por meio de sutilezas quase imperceptíveis aos olhos humanos.

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