Voltou-se para os curiosos ainda a fitá-la, era aquela gentinha do Tabuão, a ralé em cuja companhia Quincas se comprazia. Que faziam ali? Não compreendiam que Quincas Berro D’água terminara ao exalar o último suspiro? Que ele fora apenas uma invenção do diabo? Um sonho mau, um pesadelo? Novamente Joaquim Soares da Cunha voltaria e estaria um pouco entre os seus, no conforto de uma casa honesta, reintegrado em sua respeitabilidade. Chegara a hora do retorno e desta vez Quincas não poderia rir na cara da filha e do genro, mandá-los plantar batatas, dar-lhes um adeusinho irônico e sair assoviando. Estava estendido no catre, sem movimentos. Quincas Berro D’água acabara.

Vanda levantou a cabeça, passeou um olhar vitorioso pelos presentes, ordenou com aquela voz de Otacília:

— Desejam alguma coisa? Senão, podem ir saindo. Dirigiu-se depois ao santeiro:

— O senhor podia fazer o favor de chamar um médico? Para o atestado de óbito.

O santeiro aquiesceu com a cabeça, estava impressionado. Os outros retiravam-se devagar. Vanda ficou só com o cadáver. Quincas Berro D’água sorria e o dedo grande do pé direito parecia crescer no buraco da meia.

AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro D’água. São Paulo: Companhia da Letras, 2008. p. 25.

Contextualizado na obra, o fragmento em destaque permite afirmar que Vanda

Tema central: Interpretação de texto e Semântica. Nessa questão, é fundamental analisar como o texto apresenta Vanda em relação aos amigos de Quincas Berro D’água, observando o significado das palavras e a postura da personagem.

Justificativa da alternativa correta (A):

O texto evidencia o preconceito e a intolerância de Vanda ao se referir aos amigos do pai como "gentinha do Tabuão" e "ralé", expressões de tom pejorativo. Segundo a norma-padrão e explanações de autores como Bechara, a análise semântica deve considerar a intenção do falante e o contexto. Vanda os expulsa do local e demonstra clara aversão à cultura popular e às classes sociais mais baixas. Assim, a alternativa A está correta e condiz com a interpretação direta e indireta do texto, como recomenda o estudo da semântica e da compreensão inferencial.

Análise das alternativas incorretas:

B) Não há no texto qualquer reconsideração ou reconhecimento da respeitabilidade do pai. Vanda mantém seu julgamento.

C) Apesar de reproduzir valores de seu grupo, Vanda não trata com respeito os amigos do falecido; pelo contrário, é ríspida e impõe sua presença de forma autoritária.

D) Não ocorre idealização do pai. Vanda busca restaurar a imagem do antigo chefe de família, não idealizá-lo — ela nega a existência do Quincas, chamando-o de “invenção do diabo”.

E) Não existe no trecho qualquer reconhecimento de que a vida no Tabuão fosse mais livre ou espontânea: Vanda despreza toda essa vivência.

Estratégias para o aluno:

Em questões de interpretação, atente-se a adjetivos e apelidos empregados no texto, pois eles revelam muito sobre o julgamento das personagens. Termos pejorativos e atitudes explícitas reforçam inferências corretas. Se houver dúvida, elimine as opções baseando-se em palavras-chave e na lógica do texto.

Resumo: A alternativa A é a única coerente com o texto, pois Vanda age com preconceito diante dos amigos populares de Quincas Berro D’água, demonstrando intolerância social. Essa análise segue a norma-padrão e recomendação das gramáticas de referência.

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