Questõesde FGV 2015 sobre Português
Costuma-se considerar que O Ateneu, de Raul Pompeia, embora tenha como subtítulo “Crônica
de saudades”, pertence à modalidade literária conhecida como romance de formação, cujo
modelo ou paradigma é a narrativa do percurso de aprendizagem de um jovem, no qual ele
forma seu caráter, supera os problemas encontrados e prepara sua inserção harmônica na
sociedade.
Admitindo-se esse paradigma, a reflexão sobre o tempo apresentada pelo narrador na abertura
do livro, aqui reproduzida, indica que O Ateneu irá se configurar como um romance de formação
No início do texto, o pai do narrador revela pensar que a experiência do mundo é centrada na
luta. Consideradas as diferenças, também vê o mundo principalmente sob esse prisma a
personagem
Uma nota pessoal do autor de O Ateneu, Raul Pompeia, registra que, na sua concepção, “a prosa
tem de ser eloquente, para ser artística, tal como os versos”. Essa concepção
I manifesta-se na composição do trecho de O Ateneu, aqui reproduzido;
II orienta igualmente a prosa machadiana de Quincas Borba;
III contraria o ideal estilístico do autor de São Bernardo, Graciliano Ramos.
Está correto o que se indica em
A presença, no introito do livro, de amplas considerações a respeito do aparato judiciário
existente no Rio de Janeiro do período joanino, já indica a relevância, na obra,
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
O convívio de um repertório narrativo de caráter mítico ou lendário e de referências diretas a
coisas e pessoas reais, pertencentes à realidade histórica, presente nas Memórias de um sargento
de milícias, caracteriza também, principalmente, a estrutura da obra
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Na frase “disse-me meu pai”, ocorre ordem indireta, uma vez que seu sujeito está posposto ao
verbo. No texto, há outros exemplos desse tipo de inversão.
Considere os seguintes trechos:
I “que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de
carinho”;
II “que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental”;
III “e não viesse de longe a enfiada das decepções”.
Configura também frase com sujeito posposto a que está citada em
Dentre as expressões do texto relativas à atividade própria dos meirinhos, citadas abaixo, a única
que assume conotação pejorativa é
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Já na frase de abertura das Memórias de um sargento de milícias – “Era no tempo do rei.” –, que
remete ao mesmo tempo à abertura-padrão dos contos da carochinha e ao período joanino da
história do Brasil, manifestam-se as duas modalidades do tempo presentes nessa obra: uma, de
caráter lendário e intemporal e, outra, de caráter histórico bem determinado.
O convívio dessas duas modalidades do tempo indica que, do ponto de vista dessa obra, a
história brasileira caracterizou-se pela conjunção de
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Os conectivos sublinhados nos trechos “posto que as fotos passaram a ser produzidas em
máquinas digitais” e “que, anos depois, será difícil precisar”, tendo em vista as relações sintático-semânticas estabelecidas no texto, introduzem, respectivamente, orações que exprimem ideia de
Tendo em vista o tom de crônica que a colunista imprime a seu artigo, ela se sente livre para
utilizar elementos linguísticos que não se enquadram nas normas da língua escrita padrão.
Dos elementos citados abaixo, o único que NÃO tem essa característica, isto é, o único que
preserva a norma-padrão é o emprego
Examine os seguintes comentários sobre diferentes elementos linguísticos presentes no texto:
I Na oração que inicia o texto, a palavra “concretas” é um adjetivo que amplia o significado de
outro adjetivo.
II No trecho “do documento que depois será objeto de pesquisa histórica”, a palavra “objeto”
assume sentido abstrato.
III A expressão “prova dos nove” deve ser entendida, no texto, em seu sentido literal.
Está correto o que se afirma em
Considerando-se os elementos descritivos presentes no texto, é correto apontar, nele, o emprego
de
Embora tenha sido publicado em jornal, o texto contém recursos mais comuns na linguagem
literária do que na jornalística. Exemplificam tais recursos a hipérbole e a metáfora, que ocorrem,
respectivamente, nos seguintes trechos:
Dentre as reminiscências da autora, há algumas que têm um caráter negativo ou desagradável, e
outras, um caráter positivo ou agradável. Essa oposição distingue o que está descrito nos dois
trechos citados em:
No primeiro parágrafo, o conectivo “entretanto” introduz
uma oração que contém, em relação à associação feita
no período anterior, ideia de
Das seguintes propostas de substituição para o trecho
sublinhado em “os poucos de que dispomos”, a única
que requer o uso de preposição antes do pronome
“que”, tal como ocorre no referido trecho, é:
Comparando-se as características de Capitães da Areia
(1937), bastante visíveis no excerto, às características
mais notórias de Macunaíma (1928), pode-se identificar
corretamente uma transformação ocorrida na transição
do primeiro Modernismo, da década de 1920, ao qual
pertence Macunaíma, para a segunda fase modernista,
posterior a 1930, período em que surge Capitães da
Areia. Nessa transição, deu-se a passagem de uma
( ...) Um dia, passado muito tempo, Pedro Bala ia com o Sem-Pernas pelas ruas. Entraram numa igreja da Piedade, gostavam de ver as coisas de ouro, mesmo era fácil bater uma bolsa de uma senhora que rezasse. Mas não havia nenhuma senhora na igreja àquela hora. Somente um grupo de meninos pobres e um capuchinho que lhes ensinava catecismo.
— É Pirulito... — disse Sem-Pernas.
Pedro Bala ficou olhando. Encolheu os ombros:
— Que adianta?
Sem-Pernas olhou:
— Não dá de comer...
— Um dia vai ser padre também. Tem que ser é tudo junto.
Sem-Pernas disse:
— A bondade não basta.
Completou:
— Só o ódio...
Pirulito não os via. Com uma paciência e uma bondade extremas ensinava às crianças buliçosas as lições de catecismo. Os dois Capitães da Areia saíram balançando a cabeça. Pedro Bala botou a mão no ombro do Sem-Pernas.
— Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta. A voz bondosa de Pirulito atravessa a igreja. A voz de ódio do Sem-Pernas estava junto de Pedro Bala. Mas ele não ouvia nenhuma. Ouvia era a voz de João de Adão, o doqueiro, a voz de seu pai morrendo na luta.
Jorge Amado, Capitães da Areia
Atente para as seguintes afirmações referentes ao
excerto, considerado no contexto de Capitães da Areia:
I Os termos “bondade”, “ódio” e “luta”, postos em
questão no excerto, encontram-se objetivamente em
relação dialética – na qual a contradição entre os dois
primeiros é superada na síntese operada pelo termo
“luta”, que os engloba e ultrapassa.
II Vista no conjunto da trajetória da personagem, a
cena registra um momento decisivo no processo de
politização de Pedro Bala.
III Para definir os perfis que as personagens Pirulito,
Sem-Pernas e Pedro Bala assumem no excerto, as
palavras-chave poderiam ser, respectivamente,
ilusão, ressentimento e projeto.
Está correto o que se afirma em
( ...) Um dia, passado muito tempo, Pedro Bala ia com o Sem-Pernas pelas ruas. Entraram numa igreja da Piedade, gostavam de ver as coisas de ouro, mesmo era fácil bater uma bolsa de uma senhora que rezasse. Mas não havia nenhuma senhora na igreja àquela hora. Somente um grupo de meninos pobres e um capuchinho que lhes ensinava catecismo.
— É Pirulito... — disse Sem-Pernas.
Pedro Bala ficou olhando. Encolheu os ombros:
— Que adianta?
Sem-Pernas olhou:
— Não dá de comer...
— Um dia vai ser padre também. Tem que ser é tudo junto.
Sem-Pernas disse:
— A bondade não basta.
Completou:
— Só o ódio...
Pirulito não os via. Com uma paciência e uma bondade extremas ensinava às crianças buliçosas as lições de catecismo. Os dois Capitães da Areia saíram balançando a cabeça. Pedro Bala botou a mão no ombro do Sem-Pernas.
— Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta. A voz bondosa de Pirulito atravessa a igreja. A voz de ódio do Sem-Pernas estava junto de Pedro Bala. Mas ele não ouvia nenhuma. Ouvia era a voz de João de Adão, o doqueiro, a voz de seu pai morrendo na luta.
Jorge Amado, Capitães da Areia
Embora as atitudes assumidas por Pirulito, Sem-Pernas e
Pedro Bala sejam bastante diferentes entre si, todas as
três são reações a um estado de coisas cuja causa
principal, tal como identificada no contexto de Capitães
da Areia, é a
( ...) Um dia, passado muito tempo, Pedro Bala ia com o Sem-Pernas pelas ruas. Entraram numa igreja da Piedade, gostavam de ver as coisas de ouro, mesmo era fácil bater uma bolsa de uma senhora que rezasse. Mas não havia nenhuma senhora na igreja àquela hora. Somente um grupo de meninos pobres e um capuchinho que lhes ensinava catecismo.
— É Pirulito... — disse Sem-Pernas.
Pedro Bala ficou olhando. Encolheu os ombros:
— Que adianta?
Sem-Pernas olhou:
— Não dá de comer...
— Um dia vai ser padre também. Tem que ser é tudo junto.
Sem-Pernas disse:
— A bondade não basta.
Completou:
— Só o ódio...
Pirulito não os via. Com uma paciência e uma bondade extremas ensinava às crianças buliçosas as lições de catecismo. Os dois Capitães da Areia saíram balançando a cabeça. Pedro Bala botou a mão no ombro do Sem-Pernas.
— Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta. A voz bondosa de Pirulito atravessa a igreja. A voz de ódio do Sem-Pernas estava junto de Pedro Bala. Mas ele não ouvia nenhuma. Ouvia era a voz de João de Adão, o doqueiro, a voz de seu pai morrendo na luta.
Jorge Amado, Capitães da Areia