Dentre as expressões do texto relativas à atividade própria dos meirinhos, citadas abaixo, a única
que assume conotação pejorativa é
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se
mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome,
porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de
não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos
meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um
dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a
demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os
extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis
combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se
chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de Texto – Semântica/Conotação Pejorativa.
O comando exige identificar, entre as expressões do texto, qual delas assume uma conotação pejorativa, ou seja, uma utilização de palavra ou expressão com sentido depreciativo ou desvalorizador.
Justificativa da alternativa correta:
A alternativa E) “trejeitos judiciais” é a correta. A palavra “trejeitos” possui, no contexto, sentido negativo, depreciativo. Conforme a norma culta, por obras como Evanildo Bechara (“trejeito” como gesto excessivo, afetado ou artificial) e o Dicionário Houaiss, o termo pode denotar “cacoete” ou “maneirismo ridículo”. Dessa forma, “trejeitos judiciais” sugere uma crítica aos modos exagerados, afetados ou até artificiais da prática judicial, atribuindo julgamento negativo, diferente das outras opções, que apenas designam aspectos técnicos.
Análise das alternativas incorretas:
A) “cadeia judiciária”: expressão denotativa, refere-se à estrutura do Judiciário. Não há julgamento depreciativo, apenas descrição do conjunto de órgãos do sistema.
B) “demanda”: termo técnico-jurídico que indica “processo” ou “ação”. Sem valor pejorativo.
C) “citações, provarás”: partes do rito judicial, palavras técnicas da área, neutras em termos de valoração.
D) “razões principais e finais”: expressão restrita à argumentação processual – sequer permite juízo depreciativo.
Estratégia para questões semelhantes:
Fique atento ao vocabulário que sugere ironia, exagero ou artificialidade (como “trejeitos”, “truques”, “afetações”). Observe o contexto e o tom do fragmento para perceber possíveis críticas embutidas pelo autor. Cuidado com termos técnicos ou neutros (comuns em textos jurídicos) – geralmente não possuem a intenção de depreciar, diferentemente de expressões carregadas de juízo ou ironia.
Lembre que a identificação do sentido pejorativo exige percepção não só do significado das palavras, mas também do tom crítico do autor (um ponto importante para concursos de Administração, que exigem precisão de leitura e análise de subtilezas semânticas).
Referência: Bechara, Evanildo. “Moderna Gramática Portuguesa” – sobre variações comuns de sentido e valor contextual de termos.
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