O convívio de um repertório narrativo de caráter mítico ou lendário e de referências diretas a
coisas e pessoas reais, pertencentes à realidade histórica, presente nas Memórias de um sargento
de milícias, caracteriza também, principalmente, a estrutura da obra
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se
mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome,
porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de
não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos
meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um
dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a
demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os
extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis
combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se
chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto literário focada na estrutura narrativa, especialmente no conceito de hibridismo entre elementos míticos/lendários e referências históricas reais. Explora também noções de tipologia textual e intertextualidade.
Justificativa da alternativa correta (D – Macunaíma, de Mário de Andrade):
Para resolver esta questão, observe que o enunciado destaca a convivência, em "Memórias de um Sargento de Milícias", de elementos míticos/lendários — ou seja, fabulosos, folclóricos — e referências diretas à realidade histórica brasileira. Segundo a norma-padrão e a teoria literária (vide Bechara; Candido), isso caracteriza uma narrativa de estrutura híbrida e altamente intertextual.
O mesmo ocorre em "Macunaíma": a obra modernista mistura lendas indígenas, mitos africanos, folclore brasileiro e fatos reconhecíveis da cultura nacional, criando um texto em que o fantástico e o histórico dialogam.
Estratégia para questões similares: Atente-se a expressões que indicam mistura entre fantasioso e real. Procure, nas obras mencionadas, aquelas reconhecidas pelo uso de mito, lenda e crítica à realidade nacional concreta.
Análise das alternativas incorretas:
A) Senhora (José de Alencar): Trata de amor romântico e crítica social, sem incorporar mitos/lendas ou elementos fantásticos ao retrato histórico.
B) O cortiço (Aluísio Azevedo): Narrativa realista/naturalista; todo foco é na descrição objetiva da vida do cortiço, sem elementos lendários.
C) Quincas Borba (Machado de Assis): Mesmo sendo obra de grande valor filosófico, permanece na esfera do realismo psicológico e social. Não mistura mitos ou lendas à história.
E) São Bernardo (Graciliano Ramos): É introspectivo, centrado no drama existencial, também sem traços míticos ou folclóricos.
Conceitos-chave conforme gramáticas de referência:
De acordo com Bechara e Cunha & Cintra, a tipologia textual narrativa pode ser marcada pelo hibridismo entre o factual e o ficcional, qualificando obras que entrelaçam mito e história.
Resumo – como resolver futuros itens:
Identifique se a alternativa associa fantástico/mítico a realidade histórica. Marque textos modernistas ou inovadores nesse sentido.
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