Questõessobre Conceitos Filosóficos
Em 1962, o físico norte-americano Thomas Kuhn
publicou o livro A estrutura das revoluções científicas,
obra que contribui para a construção de uma história
das ideias e das ciências e foi fundamental para o
desenvolvimento da filosofia da ciência. Segundo Kuhn,
a estrutura básica do desenvolvimento de uma disciplina
científica passa pelas seguintes etapas:
Fundamos, como afirmam alguns cientistas, o
antropoceno: uma nova era geológica com altíssimo poder
de destruição, fruto dos últimos séculos que significaram
um transtorno perverso do equilíbrio do sistema-Terra.
Como enfrentar esta nova situação nunca ocorrida antes
de forma globalizada e profunda? Temos pessoalmente
trabalhado os paradigmas da sustentabilidade e do
cuidado como relação amigável e cooperativa para
com a natureza. Queremos, agora, agregar a ética da
responsabilidade.
BOFF, L. Responsabilidade coletiva. Disponível em: http://leonardoboff.wordpress.com.
Acesso em: 14 maio 2013.
A ética da responsabilidade protagonizada pelo filósofo
alemão Hans Jonas e reinvindicada no texto é expressa
pela máxima:
Fundamos, como afirmam alguns cientistas, o antropoceno: uma nova era geológica com altíssimo poder de destruição, fruto dos últimos séculos que significaram um transtorno perverso do equilíbrio do sistema-Terra. Como enfrentar esta nova situação nunca ocorrida antes de forma globalizada e profunda? Temos pessoalmente trabalhado os paradigmas da sustentabilidade e do cuidado como relação amigável e cooperativa para com a natureza. Queremos, agora, agregar a ética da responsabilidade.
BOFF, L. Responsabilidade coletiva. Disponível em: http://leonardoboff.wordpress.com. Acesso em: 14 maio 2013.
A ética da responsabilidade protagonizada pelo filósofo alemão Hans Jonas e reinvindicada no texto é expressa pela máxima:
O texto compara hipoteticamente dois padrões morais
que divergem por se basearem respectivamente em
O texto compara hipoteticamente dois padrões morais que divergem por se basearem respectivamente em
Pode-se admitir que a experiência passada dá
somente uma informação direta e segura sobre
determinados objetos em determinados períodos do
tempo, dos quais ela teve conhecimento. Todavia, é esta
a principal questão sobre a qual gostaria de insistir: por
que esta experiência tem de ser estendida a tempos
futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos,
unicamente são similares em aparência. O pão que
outrora comi alimentou-me, isto é, um corpo dotado de
tais qualidades sensíveis estava, a este tempo, dotado
de tais poderes desconhecidos. Mas, segue-se daí que
este outro pão deve também alimentar-me como ocorreu
na outra vez, e que qualidades sensíveis semelhantes
devem sempre ser acompanhadas de poderes ocultos
semelhantes? A consequência não parece de nenhum
modo necessária.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
O problema descrito no texto tem como consequência a
Pode-se admitir que a experiência passada dá somente uma informação direta e segura sobre determinados objetos em determinados períodos do tempo, dos quais ela teve conhecimento. Todavia, é esta a principal questão sobre a qual gostaria de insistir: por que esta experiência tem de ser estendida a tempos futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos, unicamente são similares em aparência. O pão que outrora comi alimentou-me, isto é, um corpo dotado de tais qualidades sensíveis estava, a este tempo, dotado de tais poderes desconhecidos. Mas, segue-se daí que este outro pão deve também alimentar-me como ocorreu na outra vez, e que qualidades sensíveis semelhantes devem sempre ser acompanhadas de poderes ocultos semelhantes? A consequência não parece de nenhum modo necessária.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
O problema descrito no texto tem como consequência a
Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza.
Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se
uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é
oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi
inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado
amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos
de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas
cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo.
Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se.
Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não
nos querem tragar!
NIETZSCHE, F Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.
O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um
entendimento da doutrina niilista, uma vez que
Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!
NIETZSCHE, F Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.
O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que
Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso,
justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do
ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas
segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que
aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina,
nada procurando evitar e não se desviando do que quer
que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo,
precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.
LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.
LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo,
embora nossa memória possua todas as demonstrações
feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de
resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos
filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e
Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre
o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter
aprendido, não ciências, mas histórias.
DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o
conhecimento, de modo crítico, como resultado da
Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.
DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
Ser ou não ser — eis a questão.
Morrer — dormir — Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
SHAKESPEARE, W Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Este solilóquio pode ser considerado um precursor do
existencialismo ao enfatizar a tensão entre
Ser ou não ser — eis a questão.
Morrer — dormir — Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
SHAKESPEARE, W Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existencialismo ao enfatizar a tensão entre
Sentimos que toda satisfação de nossos desejos
advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém
hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua
fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à
fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas
as preocupações.
SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
O trecho destaca uma ideia remanescente de uma
tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade
se mostra indissociavelmente ligada à
Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações.
SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à
O Texto 6 fala sobre a aceleração da vida. A sociedade
atual vivencia a potencialidade da evolução que
prolonga a vida e que, ao mesmo tempo, leva a sua banalização.
Os avanços da tecnologia e da ciência, por
exemplo, geraram um aumento da expectativa de vida
da população. Mas a sociedade, não sabendo lidar com a
população da terceira idade, começou a rever os aspectos
dessa nova vida, e pesquisas surgiram para amenizar
e conciliar essa atual realidade. Os processos atuais
que aceleram a modernização de uma parte da sociedade
aceleram também a exclusão de outros. Na verdade,
ao fazermos escolhas, somos responsáveis por elas e por
seus impactos sobre nós mesmos, e sobre toda a humanidade.
Como afirma o filósofo parisiense, estamos
“condenados a ser livres”, pois ele associa liberdade a
responsabilidade. Ao unir as duas, ele assegura que essa
é a filosofia mais otimista possível, pois, apesar de assumirmos
a responsabilidade pelo impacto de nossas ações
sobre os outros, podemos optar por exercer um controle
estrito sobre o modo como moldamos nosso mundo e a
nós mesmos. Entre as alternativas a seguir, marque a que
corresponde corretamente ao nome desse filósofo:
TEXTO 6
Rápido, rápido
Sofro – sofri – de progéria, uma doença na qual o organismo corre doidamente para a velhice e a morte. Doidamente talvez não seja a palavra, mas não me ocorre outra e não tenho tempo de procurar no dicionário – nós, os da progéria, somos pessoas de um desmesurado senso de urgência. Estabelecer prioridades é, para nós, um processo tão vital como respirar. Para nós, dez minutos equivalem a um ano. Façam a conta, vocês que têm tempo, vocês que pensam que têm tempo. Enquanto isso, eu vou escrevendo aqui – e só espero poder terminar. Cada letra minha equivale a páginas inteiras de vocês. Façam a conta, vocês. Enquanto isso, e resumindo:
8h15min – Estou nascendo. Sou o primeiro filho – que azar! – e o parto é longo, difícil. Respiro, e já vou dizendo as primeiras palavras (coisas muito simples, naturalmente: mamã, papá) para grande surpresa de todos! Maior surpresa eles têm quando me colocam no berço – desço meia hora depois, rindo e pedindo comida! Rindo! Àquela hora,
8h45min – eu ainda podia rir.
9h20min – Já fui amamentado, já passei da fase oral – meus pais (ele, dono de um pequeno armazém; ela, de prendas domésticas) já aceitaram, ao menos em parte, a realidade, depois que o pediatra (está aí uma especialidade que não me serve) lhes explicou o diagnóstico e o prognóstico. E já estou com dentes! Em poucos minutos (de acordo com o relógio de meu pai, bem entendido) tenho sarampo, varicela, essas coisas todas.
Meus pais me matriculam na escola, não se dando conta que às 10h40min, quando a sineta bater para o recreio, já terei idade para concluir o primeiro grau. Vou para a escola de patinete; já na esquina, porém, abandono o brinquedo que parece-me então muito infantil. Volto-me, e lá estão os meus pais chorando, pobre gente.
10h20min – Não posso esperar o recreio; peço licença à professora e saio. Vou ao banheiro; a seiva da vida circula impaciente em minhas veias. Manipulo-me. Meu desejo tem nome: Mara, da oitava série. Por enquanto é mais velha do que eu. Lá pelas onze horas poderia namorá-la – mas então, já não estarei no colégio. Ali, me foge o doce pássaro da juventude.
[...]
(SCLIAR, Moacyr. Melhores contos. 6. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 54-55.)
Por que a ética voltou a ser um dos temas mais
trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos
anos 1960 a política ocupava esse lugar e muitos
cometeram o exagero de afirmar que tudo era político.
(José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em
Adauto Novaes, Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p.
239.)
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento
filosófico, é correto afirmar que:
Por que a ética voltou a ser um dos temas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos 1960 a política ocupava esse lugar e muitos cometeram o exagero de afirmar que tudo era político.
(José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes, Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239.)
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, é correto afirmar que:
Considerando os sentidos e as estruturas do texto acima e outros aspectos por ele suscitados, julgue o item que se segue.
De acordo com o texto, métodos científicos desenvolvidos no século XVII foram aplicados a outras áreas de conhecimento e representaram um contraponto a dogmas e crenças vigentes nessa época.
De acordo com o texto, métodos científicos desenvolvidos no século XVII foram aplicados a outras áreas de conhecimento e representaram um contraponto a dogmas e crenças vigentes nessa época.
Considerando os sentidos e as estruturas do texto acima e outros aspectos por ele suscitados, julgueo item que se segue.
Na pergunta iniciada na linha 6, é apresentada proposta de aplicação dos métodos da física a outras áreas do conhecimento.
Na pergunta iniciada na linha 6, é apresentada proposta de aplicação dos métodos da física a outras áreas do conhecimento.
Com base no texto acima, julgue o próximo item.
A carta é um dos tipos de texto relacionados à filosofia e disponíveis desde a Antiguidade. Atualmente, por e-mail, pode-se realizar a troca de correspondência filosófica não só entre um remetente e um destinatário, mas também entre pessoas de um grupo, o que amplia o diálogo e acrescenta à filosofia um novo registro, o virtual.
A carta é um dos tipos de texto relacionados à filosofia e disponíveis desde a Antiguidade. Atualmente, por e-mail, pode-se realizar a troca de correspondência filosófica não só entre um remetente e um destinatário, mas também entre pessoas de um grupo, o que amplia o diálogo e acrescenta à filosofia um novo registro, o virtual.
Assinale a alternativa que contempla adequadamente a opinião do médico, sob o ponto de vista filosófico.
Folha – Não é contraditório um epidemiologista questionar o conceito de risco?
Luis David Castiel – Tem também um lado opressivo que me incomoda. Uma dimensão moralista, que rotula as pessoas que se expõem ao risco como displicentes e que, portanto, merecem ser punidas [pela doença], se acontecer o evento ao qual estão se expondo. Estamos à mercê dessa prescrição constante que a gente tem que seguir. Na hora em que você traz para perto a ameaça, tem que fazer uma gestão cotidiana dela. Não há como, você teria que controlar todos os riscos possíveis e os impossíveis de se imaginar. É a riscofobia.
Folha – Há um meio do caminho entre a fobia e o autocuidado?
Luis David Castiel – A pessoa tem que puxar o freio de emergência quando achar necessário, decidir até que ponto vai conseguir acompanhar todos os ditames da saúde. (…) Na saúde, a vigilância constante, o excesso de exames criou uma nova categoria: a pessoa não está doente, mas não é saudável. Está sob risco.
Chama atenção o drama vivido pela personagem
do fragmento extraído do livro A mesa dos inocentes,
de Adelice Barros (Texto 4).
Marque a alternativa correta concernente às reflexões
da personagem no fragmento em questão:
Marque a alternativa correta concernente às reflexões da personagem no fragmento em questão:
TEXTO 4
A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.
A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?
(BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)
O Texto 4 retrata o conflito de uma mulher consigo
mesma em razão de um sentimento de culpa. Culpa e
punição sempre estiveram presentes no universo feminino.
Durante a Idade Média e no limiar da modernidade,
na Europa, as atitudes das mulheres eram vistas como
ameaças à ordem estabelecida pelo poder patriarcal e
pelo poder soberano, em nome do povo, para defender
a moral e o direito da comunidade. Analise os itens a
seguir sobre a temática:
I-Para os teólogos e moralistas da Idade Média, a sensualidade
da mulher sempre esteve no centro das
reprovações. Por isso, a preocupação constante dos
religiosos com a repressão ou o controle da sexualidade,
pois as mulheres, fracas e entregues aos próprios instintos, dificilmente resistiam às artimanhas
do Demônio.
II-As canções medievais das fiandeiras retratam o espaço
privado das mulheres como lugar de recolhimento,
de devaneio, de espera e de convivência.
III-Na perspectiva do pensamento burguês, a imagem
da mulher aparece depreciada nas narrativas literárias dos séculos XIV e XV. O amor cortês se transforma
em ridicularização, malícia e reprovação dos
excessos das mulheres, especialmente a gula e a falta
de controle dos instintos.
De acordo com os itens analisados, marque a alternativa
que contém apenas proposições corretas:
I-Para os teólogos e moralistas da Idade Média, a sensualidade da mulher sempre esteve no centro das reprovações. Por isso, a preocupação constante dos religiosos com a repressão ou o controle da sexualidade, pois as mulheres, fracas e entregues aos próprios instintos, dificilmente resistiam às artimanhas do Demônio.
II-As canções medievais das fiandeiras retratam o espaço privado das mulheres como lugar de recolhimento, de devaneio, de espera e de convivência.
III-Na perspectiva do pensamento burguês, a imagem da mulher aparece depreciada nas narrativas literárias dos séculos XIV e XV. O amor cortês se transforma em ridicularização, malícia e reprovação dos excessos das mulheres, especialmente a gula e a falta de controle dos instintos.
De acordo com os itens analisados, marque a alternativa que contém apenas proposições corretas:
TEXTO 4
A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.
A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?
(BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)
Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar
as pessoas a levar uma vida “correta" no maior número
possível das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa
tornou-se uma das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes
empenhados em arbitrar o que é realmente bom para
você. É uma provação permanente. Médicos, nutricionistas,
personal trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à
forma física, ambientalistas, militantes da produção orgânica,
burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e mais
uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho expedem
decretos cada vez mais frequentes, e cada vez mais severos,
sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O fato é que
toda essa gente, quase sempre com as melhores intenções,
acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em
torno do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer
de comer bem vai sendo substituído pela obrigação de comer
certo. Modelos, atrizes e outras pessoas que precisam pesar
pouco para fazer sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou
mais, praticamente sem ter feito uma única refeição decente
na vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um mundo sombrio
de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e sabe-se
lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o que se ganha
em toda essa história. A perspectiva de morrer, um dia, no
peso ideal?
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o
autor,
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o autor,
Em 40 anos, nunca vi alguém se curar com a força do pensamento.
Para mim, se Maomé não for à montanha, a montanha
vir a Maomé é tão improvável quanto o Everest aparecer na
janela da minha casa. A fé nas propriedades curativas da assim
chamada energia mental tem raízes seculares. Quantos
católicos foram canonizados porque lhes foi atribuído o poder
espiritual de curar cegueiras, paraplegias, hanseníase e
até esterilidade feminina? Quantos pastores evangélicos convencem
milhões de fiéis a pagar-lhes os dízimos ao realizar
façanhas semelhantes diante das câmeras de TV? Por que a
energia emanada do pensamento positivo serve apenas para
curar doenças, jamais para fazer um carro andar dez metros
ou um avião levantar voo sem combustível? No passado, a
hanseníase foi considerada apanágio dos ímpios; a tuberculose,
consequência da vida desregrada; a AIDS, maldição
divina para castigar os promíscuos. Coube à ciência demonstrar
que duas bactérias e um vírus indiferentes às virtudes dos
hospedeiros eram os agentes etiológicos dessas enfermidades.
Acreditar na força milagrosa do pensamento pode servir ao
sonho humano de dominar a morte. Mas, atribuir a ela tal
poder é um desrespeito aos doentes graves e à memória dos
que já se foram.
(Drauzio Varella. Folha de S.Paulo, 09.06.2007. Adaptado.)
O pensamento do autor, sob o ponto de vista filosófico, pode
ser corretamente caracterizado como
(Drauzio Varella. Folha de S.Paulo, 09.06.2007. Adaptado.)
O pensamento do autor, sob o ponto de vista filosófico, pode ser corretamente caracterizado como