Questõessobre Conceitos Filosóficos

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UNESPAR 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

“A existência precede a essência” é uma inversão feita por Sartre de uma hierarquia milenar de valores defendida pela filosofia tradicional. Marque a alternativa que melhor explica o sentido desta inversão.

A
Sartre é um filósofo existencialista, pois acredita que o homem nasce sem nenhuma pré- determinação no que diz respeito a seu ser, isto é, sem uma essência. Essências são apenas significados estabelecidos a partir da existência humana, isto é, são criadas pelo homem;
B
Para Sartre, o homem é uma existência temporal e livre, de maneira que apenas precisa lidar com escolhas e consequências das suas escolhas. As essências são apenas aquelas estabelecidas por Deus e o homem só as conhecerá depois de sua morte;
C
Sartre, cujo relacionamento amoroso não monogâmico com Simone de Beauvoir causou escândalo na década de 1930, era um filósofo ateu que criticava, na verdade, a crença religiosa em essências intangíveis, sendo sua principal bandeira o combate à religião cristã;
D
Sartre escreve sua teoria do homem a partir de uma visão transcendentalista, mas defende que o ser individual, a existência, é mais importante que a essência;
E
Para Sartre, todas as pessoas nascem como existências livres, mas à medida que vão fazendo escolhas se comprometem de tal modo, que já não é possível exercer a liberdade.
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UNESPAR 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Em 1962, o físico norte-americano Thomas Kuhn publicou o livro A estrutura das revoluções científicas, obra que contribui para a construção de uma história das ideias e das ciências e foi fundamental para o desenvolvimento da filosofia da ciência. Segundo Kuhn, a estrutura básica do desenvolvimento de uma disciplina científica passa pelas seguintes etapas:

A
Hipóteses → ciência normal→ crise →revolução → novas hipóteses → nova ciência normal → nova crise → nova revolução;
B
Hipóteses → ciência normal → revolução → novas hipóteses →nova ciência normal →nova revolução;
C
Fase pré-paradigmática→ciência normal → crise →solução →nova fase pré-paradigmática →nova ciência normal →nova crise →nova solução;
D
Hipóteses → método → crise →revolução → novas hipóteses →novo método →nova crise →nova revolução;
E
Fase pré-paradigmática → ciência normal → crise →revolução → nova fase pré-paradigmática →nova ciência normal →nova crise →nova revolução.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Fundamos, como afirmam alguns cientistas, o antropoceno: uma nova era geológica com altíssimo poder de destruição, fruto dos últimos séculos que significaram um transtorno perverso do equilíbrio do sistema-Terra. Como enfrentar esta nova situação nunca ocorrida antes de forma globalizada e profunda? Temos pessoalmente trabalhado os paradigmas da sustentabilidade e do cuidado como relação amigável e cooperativa para com a natureza. Queremos, agora, agregar a ética da responsabilidade.

BOFF, L. Responsabilidade coletiva. Disponível em: http://leonardoboff.wordpress.com. Acesso em: 14 maio 2013.

A ética da responsabilidade protagonizada pelo filósofo alemão Hans Jonas e reinvindicada no texto é expressa pela máxima:

A
"A tua ação possa valer como norma para todos os homens."
B
"A norma aceita por todos advenha da ação comunicativa e do discurso."
C
"A tua ação possa produzir a máxima felicidade para a maioria das pessoas."
D
"O teu agir almeje alcançar determinados fins que possam justificar os meios."
E
"O efeito de tuas ações não destrua a possibilidade futura da vida das novas gerações."
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

                                    

O texto compara hipoteticamente dois padrões morais que divergem por se basearem respectivamente em 

A
satisfação pessoal e valores tradicionais.
B
relativismo cultural e postura ecumênica.
C
tranquilidade espiritual e costumes liberais.
D
realização profissional e culto à personalidade .
E
engajamento político e princípios nacionalistas.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Pode-se admitir que a experiência passada dá somente uma informação direta e segura sobre determinados objetos em determinados períodos do tempo, dos quais ela teve conhecimento. Todavia, é esta a principal questão sobre a qual gostaria de insistir: por que esta experiência tem de ser estendida a tempos futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos, unicamente são similares em aparência. O pão que outrora comi alimentou-me, isto é, um corpo dotado de tais qualidades sensíveis estava, a este tempo, dotado de tais poderes desconhecidos. Mas, segue-se daí que este outro pão deve também alimentar-me como ocorreu na outra vez, e que qualidades sensíveis semelhantes devem sempre ser acompanhadas de poderes ocultos semelhantes? A consequência não parece de nenhum modo necessária.

HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

O problema descrito no texto tem como consequência a

A
universabilidade do conjunto das proposições de observação.
B
normatividade das teorias científicas que se valem da experiência.
C
dificuldade de se fundamentar as leis científicas em bases empíricas.
D
inviabilidade de se considerar a experiência na construção da ciência.
E
correspondência entre afirmações singulares e afirmações universais.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos, Filosofia da Cultura

Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!

NIETZSCHE, F Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que

A
reforça a liberdade do cidadão.
B
desvela os valores do cotidiano.
C
exorta as relações de produção.
D
destaca a decadência da cultura.
E
amplifica o sentimento de ansiedade.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.

LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.

O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:

A
Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.
B
Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.
C
Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.
D
Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.
E
Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.

DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da

A
investigação de natureza empírica.
B
retomada da tradição intelectual.
C
imposição de valores ortodoxos.
D
autonomia do sujeito pensante.
E
liberdade do agente moral.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Ser ou não ser — eis a questão.

Morrer — dormir — Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!

Os sonhos que hão de vir no sono da morte

Quando tivermos escapado ao tumulto vital

Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão

Que dá à desventura uma vida tão longa.

SHAKESPEARE, W Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.

Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existencialismo ao enfatizar a tensão entre

A
consciência de si e angústia humana.
B
inevitabilidade do destino e incerteza moral.
C
tragicidade da personagem e ordem do mundo.
D
racionalidade argumentativa e loucura iminente.
E
dependência paterna e impossibilidade de ação.
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ENEM 2016 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

      Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações.

SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à

A
consagração de relacionamentos afetivos.
B
administração da independência interior.
C
fugacidade do conhecimento empírico.
D
liberdade de expressão religiosa.
E
busca de prazeres efêmeros.
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PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

O Texto 6 fala sobre a aceleração da vida. A sociedade atual vivencia a potencialidade da evolução que prolonga a vida e que, ao mesmo tempo, leva a sua banalização. Os avanços da tecnologia e da ciência, por exemplo, geraram um aumento da expectativa de vida da população. Mas a sociedade, não sabendo lidar com a população da terceira idade, começou a rever os aspectos dessa nova vida, e pesquisas surgiram para amenizar e conciliar essa atual realidade. Os processos atuais que aceleram a modernização de uma parte da sociedade aceleram também a exclusão de outros. Na verdade, ao fazermos escolhas, somos responsáveis por elas e por seus impactos sobre nós mesmos, e sobre toda a humanidade. Como afirma o filósofo parisiense, estamos “condenados a ser livres”, pois ele associa liberdade a responsabilidade. Ao unir as duas, ele assegura que essa é a filosofia mais otimista possível, pois, apesar de assumirmos a responsabilidade pelo impacto de nossas ações sobre os outros, podemos optar por exercer um controle estrito sobre o modo como moldamos nosso mundo e a nós mesmos. Entre as alternativas a seguir, marque a que corresponde corretamente ao nome desse filósofo:

TEXTO 6

                                 Rápido, rápido

      Sofro – sofri – de progéria, uma doença na qual o organismo corre doidamente para a velhice e a morte. Doidamente talvez não seja a palavra, mas não me ocorre outra e não tenho tempo de procurar no dicionário – nós, os da progéria, somos pessoas de um desmesurado senso de urgência. Estabelecer prioridades é, para nós, um processo tão vital como respirar. Para nós, dez minutos equivalem a um ano. Façam a conta, vocês que têm tempo, vocês que pensam que têm tempo. Enquanto isso, eu vou escrevendo aqui – e só espero poder terminar. Cada letra minha equivale a páginas inteiras de vocês. Façam a conta, vocês. Enquanto isso, e resumindo:

      8h15min – Estou nascendo. Sou o primeiro filho – que azar! – e o parto é longo, difícil. Respiro, e já vou dizendo as primeiras palavras (coisas muito simples, naturalmente: mamã, papá) para grande surpresa de todos! Maior surpresa eles têm quando me colocam no berço – desço meia hora depois, rindo e pedindo comida! Rindo! Àquela hora,

      8h45min – eu ainda podia rir.

      9h20min – Já fui amamentado, já passei da fase oral – meus pais (ele, dono de um pequeno armazém; ela, de prendas domésticas) já aceitaram, ao menos em parte, a realidade, depois que o pediatra (está aí uma especialidade que não me serve) lhes explicou o diagnóstico e o prognóstico. E já estou com dentes! Em poucos minutos (de acordo com o relógio de meu pai, bem entendido) tenho sarampo, varicela, essas coisas todas.

      Meus pais me matriculam na escola, não se dando conta que às 10h40min, quando a sineta bater para o recreio, já terei idade para concluir o primeiro grau. Vou para a escola de patinete; já na esquina, porém, abandono o brinquedo que parece-me então muito infantil. Volto-me, e lá estão os meus pais chorando, pobre gente.

      10h20min – Não posso esperar o recreio; peço licença à professora e saio. Vou ao banheiro; a seiva da vida circula impaciente em minhas veias. Manipulo-me. Meu desejo tem nome: Mara, da oitava série. Por enquanto é mais velha do que eu. Lá pelas onze horas poderia namorá-la – mas então, já não estarei no colégio. Ali, me foge o doce pássaro da juventude.

      [...]

(SCLIAR, Moacyr. Melhores contos. 6. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 54-55.)

A
Herbert Marcuse.
B
Martin Heidegger.
C
Jean-Paul Sartre.
D
Félix Guattari.
6917bba8-19
UNICAMP 2015 - Filosofia - Ética e Liberdade, Conceitos Filosóficos

Por que a ética voltou a ser um dos temas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos 1960 a política ocupava esse lugar e muitos cometeram o exagero de afirmar que tudo era político.

(José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes, Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239.)

A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, é correto afirmar que:

A
O tema foi relevante na obra de Aristóteles e apenas recentemente voltou a ocupar um espaço central na produção filosófica.
B
Os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas reposicionaram o tema da ética como um dos campos mais relevantes para a Filosofia.
C
O pensamento filosófico abandonou sua postura política após o desencanto com os sistemas ideológicos que eram vigentes nos anos 1960.
D
Na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas sociedades atuais, não há demandas éticas rígidas.
8dcae4a9-4e
UNB 2014 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Considerando os sentidos e as estruturas do texto acima e outros aspectos por ele suscitados, julgue o item que se segue.

De acordo com o texto, métodos científicos desenvolvidos no século XVII foram aplicados a outras áreas de conhecimento e representaram um contraponto a dogmas e crenças vigentes nessa época.

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C
Certo
E
Errado
8b324cfe-4e
UNB 2014 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Considerando os sentidos e as estruturas do texto acima e outros aspectos por ele suscitados, julgueo item que se segue.

Na pergunta iniciada na linha 6, é apresentada proposta de aplicação dos métodos da física a outras áreas do conhecimento.

imagem-004.jpg
C
Certo
E
Errado
805c65bf-4e
UNB 2014 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Com base no texto acima, julgue o próximo item.

A carta é um dos tipos de texto relacionados à filosofia e disponíveis desde a Antiguidade. Atualmente, por e-mail, pode-se realizar a troca de correspondência filosófica não só entre um remetente e um destinatário, mas também entre pessoas de um grupo, o que amplia o diálogo e acrescenta à filosofia um novo registro, o virtual.

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C
Certo
E
Errado
e8cc23fd-94
UNESP 2011 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Assinale a alternativa que contempla adequadamente a opinião do médico, sob o ponto de vista filosófico.

Leia o trecho da entrevista com um médico epidemiologista.

Folha – Não é contraditório um epidemiologista questionar o conceito de risco?

Luis David Castiel – Tem também um lado opressivo que me incomoda. Uma dimensão moralista, que rotula as pessoas que se expõem ao risco como displicentes e que, portanto, merecem ser punidas [pela doença], se acontecer o evento ao qual estão se expondo. Estamos à mercê dessa prescrição constante que a gente tem que seguir. Na hora em que você traz para perto a ameaça, tem que fazer uma gestão cotidiana dela. Não há como, você teria que controlar todos os riscos possíveis e os impossíveis de se imaginar. É a riscofobia.

Folha – Há um meio do caminho entre a fobia e o autocuidado?

Luis David Castiel – A pessoa tem que puxar o freio de emergência quando achar necessário, decidir até que ponto vai conseguir acompanhar todos os ditames da saúde. (…) Na saúde, a vigilância constante, o excesso de exames criou uma nova categoria: a pessoa não está doente, mas não é saudável. Está sob risco.
(Folha de S.Paulo, 11.04.2011. Adaptado.)
A
Para o médico Luis Castiel, os imperativos da ciência, se adotados como norma absoluta na avaliação dos comportamentos individuais, podem causar sofrimento emocional.
B
Para o médico, os comportamentos individuais devem ser submetidos a padrões científicos de controle.
C
A riscofobia abordada na entrevista decorre da displicência dos indivíduos em atenderem aos ditames da saúde e da boa forma.
D
Na entrevista, o médico defende a autonomia individual como padrão absoluto para a avaliação de comportamentos de risco.
E
Para o médico, a gestão cotidiana dos riscos depende diretamente da vigilância constante no campo da saúde.
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PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Chama atenção o drama vivido pela personagem do fragmento extraído do livro A mesa dos inocentes, de Adelice Barros (Texto 4).

Marque a alternativa correta concernente às reflexões da personagem no fragmento em questão:

TEXTO 4

      A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.

      A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?

                                   (BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

A
Ela se esforça para pintar o mundo exatamente como ele é, nem que para isso tenha de se expor, confessando suas fraquezas e frustrando qualquer possibilidade de se encontrar na vida.
B
Ela imagina outra realidade, na qual possa se ver livre de seus pecados pela via do sofrimento reparador e purificador de sua consciência, que não lhe dá um só instante de paz.
C
Ela é absolutamente confusa: não consegue articular suas ideias, nem mesmo se reconhece ante a realidade na qual se atirou por vontade própria.
D
Ela ironiza sua própria sombra, numa clara alusão ao que se percebe nas relações dos dias atuais, em que as pessoas devem, antes de mais nada, aprender a não confiar em ninguém.
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PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

O Texto 4 retrata o conflito de uma mulher consigo mesma em razão de um sentimento de culpa. Culpa e punição sempre estiveram presentes no universo feminino. Durante a Idade Média e no limiar da modernidade, na Europa, as atitudes das mulheres eram vistas como ameaças à ordem estabelecida pelo poder patriarcal e pelo poder soberano, em nome do povo, para defender a moral e o direito da comunidade. Analise os itens a seguir sobre a temática:

I-Para os teólogos e moralistas da Idade Média, a sensualidade da mulher sempre esteve no centro das reprovações. Por isso, a preocupação constante dos religiosos com a repressão ou o controle da sexualidade, pois as mulheres, fracas e entregues aos próprios instintos, dificilmente resistiam às artimanhas do Demônio.

II-As canções medievais das fiandeiras retratam o espaço privado das mulheres como lugar de recolhimento, de devaneio, de espera e de convivência.

III-Na perspectiva do pensamento burguês, a imagem da mulher aparece depreciada nas narrativas literárias dos séculos XIV e XV. O amor cortês se transforma em ridicularização, malícia e reprovação dos excessos das mulheres, especialmente a gula e a falta de controle dos instintos.

De acordo com os itens analisados, marque a alternativa que contém apenas proposições corretas:

TEXTO 4

      A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.

      A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?

                                   (BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

A
I e II.
B
I , II e III
C
I e III.
D
II e III.
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UNESP 2011 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar as pessoas a levar uma vida “correta" no maior número possível das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa tornou-se uma das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes empenhados em arbitrar o que é realmente bom para você. É uma provação permanente. Médicos, nutricionistas, personal trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à forma física, ambientalistas, militantes da produção orgânica, burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e mais uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho expedem decretos cada vez mais frequentes, e cada vez mais severos, sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O fato é que toda essa gente, quase sempre com as melhores intenções, acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em torno do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer de comer bem vai sendo substituído pela obrigação de comer certo. Modelos, atrizes e outras pessoas que precisam pesar pouco para fazer sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou mais, praticamente sem ter feito uma única refeição decente na vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um mundo sombrio de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e sabe-se lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o que se ganha em toda essa história. A perspectiva de morrer, um dia, no peso ideal?

                                                                                                 (J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)

Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o autor,

A
é positiva a adoção de procedimentos científicos no campo nutricional.
B
o tema da qualidade de vida deve ser enfocado sob critérios morais.
C
os padrões hegemônicos vigentes na sociedade atual no campo da nutrição são elogiáveis.
D
a felicidade depende do número de calorias ingeridas pelo ser humano.
E
a autonomia individual deveria ser o critério para definir os parâmetros de uma vida adequada.
3d010d60-8d
UNESP 2011 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Em 40 anos, nunca vi alguém se curar com a força do pensamento. Para mim, se Maomé não for à montanha, a montanha vir a Maomé é tão improvável quanto o Everest aparecer na janela da minha casa. A fé nas propriedades curativas da assim chamada energia mental tem raízes seculares. Quantos católicos foram canonizados porque lhes foi atribuído o poder espiritual de curar cegueiras, paraplegias, hanseníase e até esterilidade feminina? Quantos pastores evangélicos convencem milhões de fiéis a pagar-lhes os dízimos ao realizar façanhas semelhantes diante das câmeras de TV? Por que a energia emanada do pensamento positivo serve apenas para curar doenças, jamais para fazer um carro andar dez metros ou um avião levantar voo sem combustível? No passado, a hanseníase foi considerada apanágio dos ímpios; a tuberculose, consequência da vida desregrada; a AIDS, maldição divina para castigar os promíscuos. Coube à ciência demonstrar que duas bactérias e um vírus indiferentes às virtudes dos hospedeiros eram os agentes etiológicos dessas enfermidades. Acreditar na força milagrosa do pensamento pode servir ao sonho humano de dominar a morte. Mas, atribuir a ela tal poder é um desrespeito aos doentes graves e à memória dos que já se foram.

                                                                    (Drauzio Varella. Folha de S.Paulo, 09.06.2007. Adaptado.)

O pensamento do autor, sob o ponto de vista filosófico, pode ser corretamente caracterizado como

A
compatível com os pressupostos mecanicistas e cartesianos da ciência.
B
uma visão para a qual a fé na força milagrosa do pensamento apresenta a propriedade de curar doenças.
C
uma visão holística, de acordo com a qual a mobilização das energias mentais pode influenciar positivamente organismos enfermos e possibilitar a restituição da saúde.
D
uma visão cética no que se refere ao progresso da ciência.
E
compatível com concepções teológicas emitidas por líderes religiosos católicos e evangélicos.