Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar
as pessoas a levar uma vida “correta" no maior número
possível das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa
tornou-se uma das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes
empenhados em arbitrar o que é realmente bom para
você. É uma provação permanente. Médicos, nutricionistas,
personal trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à
forma física, ambientalistas, militantes da produção orgânica,
burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e mais
uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho expedem
decretos cada vez mais frequentes, e cada vez mais severos,
sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O fato é que
toda essa gente, quase sempre com as melhores intenções,
acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em
torno do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer
de comer bem vai sendo substituído pela obrigação de comer
certo. Modelos, atrizes e outras pessoas que precisam pesar
pouco para fazer sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou
mais, praticamente sem ter feito uma única refeição decente
na vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um mundo sombrio
de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e sabe-se
lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o que se ganha
em toda essa história. A perspectiva de morrer, um dia, no
peso ideal?
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o
autor,
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o autor,
Gabarito comentado
Resposta correta: E
Tema central: o texto critica a compulsão social para normatizar a alimentação e valoriza a ideia de que cada indivíduo deve ter liberdade para escolher como viver sua vida alimentar. Para resolver a questão é preciso identificar o tom crítico do autor e ligar esse tom a conceitos filosóficos como autonomia e paternalismo.
Resumo teórico: Autonomia (filosofia política e bioética) significa que o indivíduo tem direito à autodeterminação sobre sua vida e escolhas pessoais. Em oposição, o paternalismo justifica intervenções em nome do "bem" do outro. Textos críticos ao paternalismo remetem a autores liberais como John Stuart Mill (On Liberty) e à bioética contemporânea (Beauchamp & Childress: princípio da autonomia).
Justificativa da alternativa E: O autor descreve um cenário de pressão externa — médicos, nutricionistas, críticos — que transforma o prazer de comer em obrigação. Essa crítica indica que o critério correto para definir uma vida adequada deve ser a autonomia individual, ou seja, respeitar as escolhas pessoais em vez de impor modelos hegemônicos. Assim, a alternativa E reflete com precisão a posição defendida pelo texto.
Análise das alternativas incorretas:
A — Errada. O autor não elogia a simples adoção de procedimentos científicos: critica um sistema de normas e ansiedades, mesmo vindo "quase sempre com as melhores intenções".
B — Errada. Não há defesa de uma abordagem moralizante; o texto reprova o enquadramento moral autoritário sobre hábitos alimentares.
C — Errada. O autor condena os padrões hegemônicos, não os elogia.
D — Errada. A felicidade reduzida a calorias é uma caricatura que o autor ironiza; não é sua tese.
Estratégia para provas: ao ler textos dissertativos procure o tom (ironia, denúncia, elogio), destaque palavras-chave (ex.: "compulsão", "obrigação", "ansiedade") e relacione-as a conceitos filosóficos básicos (autonomia vs. paternalismo). Isso ajuda a eliminar alternativas que distorcem a posição do autor.
Referências úteis: John Stuart Mill, On Liberty; T. L. Beauchamp & J. F. Childress, Principles of Biomedical Ethics (princípio da autonomia).
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