Questão d85cb704-a6
Prova:ENEM 2016
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos, Filosofia da Cultura

Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!

NIETZSCHE, F Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que

A
reforça a liberdade do cidadão.
B
desvela os valores do cotidiano.
C
exorta as relações de produção.
D
destaca a decadência da cultura.
E
amplifica o sentimento de ansiedade.

Gabarito comentado

Athos VieiraHistoriador, Mestre em Ciência Política pelo IESP/UERJ e Doutorando em Ciência Política pelo IESP/UERJ
Nietzsche foi um dos mais poderosos críticos da cultura ocidental em suas bases e deu profundidade filosófica ao termo "niilismo". Uma das primeiras vezes em que o termo foi utilizado foi pelo escritor russo Dostoiévski quando em Os irmãos Karamazov (1879) o coloca na sentença de Ivan, niilista: "Se Deus não existe, tudo é lícito!" Mas de que trata esse termo? Objetivamente, de uma descrença completa nos valores e, principalmente, nos fins sugeridos pela estrutura cultural ocidental. A crítica de Nietzsche se apóia na crença de que a base filosófica socrático-platônica enredou o mundo em uma ilusão que emprestou significado à vida humana nublando e anulando a potência mesma da vida. A ideia de um mundo perfeito, eterno, alcançável pela razão em oposição ao mundo sensível, temporário, imperfeito nos prendeu a um devir que se sobrepõe ao tempo atual da vida e suas possibilidades reais. Esse enclausuramento a uma fantasia para onde iríamos foi a base do cristianismo que se estabeleceu ao longo de mais de um milênio na Europa e tinha na figura de Deus um elemento de segurança pelos valores e futuro aí compreendidos. O filósofo alemão é também famoso pela frase "Deus está morto", na qual tenta sintetizar toda sua crítica à estrutura valorativa e anti-humana presente no cerne da cultural ocidental-cristã. O trecho citado pelo exercício representa uma das grandes críticas do autor aos destinos dessa cultura, uma completa incapacidade de visualizar sentido e horizonte. Um niilismo completo. A resposta é letra D.

Gabarito do professor: Letra D


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