Questõesde UEMG sobre Português

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Foram encontradas 111 questões
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Análise sintática, Sintaxe, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Texto 3


“ALIEN INTERVIEW” (Entrevista com um alienígena)


No momento em que o ser alienígena tinha sido devolvido à base eu já tinha passado várias horas com ela. Como já referi, o Sr. Cavitt me disse para ficar com a extraterrestre, já que eu era a única pessoa entre nós que poderia compreendê-la e manter comunicação telepaticamente. Eu não pude compreender e entender a minha capacidade de me “comunicar” telepaticamente com o ser extraterrestre. Eu nunca antes havia tido experiência com comunicação telepática com alguém.

A comunicação não-verbal que eu experimentei era como a compreensão que se tem quando uma criança ou um cão está tentando fazer você entender alguma coisa, mas muito, muito mais direta e poderosa! Mesmo que não houvesse falado “palavras”, ou comunicação através de sinais, a intenção dos pensamentos eram inconfundíveis para mim. Percebi mais tarde que, apesar de eu receber o pensamento, eu necessariamente não interpretava o seu significado exatamente.

[...]

Disponível em:<http://www.bibliotecapleyades.net/vida_alien/alieninterview/alieninterview.htm) >. Acesso em 10 nov.


Assinale a alternativa correta a respeito do Texto 3 e de seus elementos linguísticos.

A
As aspas foram utilizadas ao longo do texto para marcar ironia por parte do autor, tendo em vista que houve um deslocamento semântico no uso das palavras marcadas por esse sinal. Tal efeito de sentido também se dá pelo uso do ponto de exclamação em “[...] mas muito, muito mais direta e poderosa! [...]”.
B
Em “[...] o ser alienígena tinha sido devolvido à base [...]”, a crase é utilizada por haver, antes dela, uma perífrase verbal formada por dois verbos auxiliares mais um verbo no particípio e por haver, depois dela, um substantivo feminino.
C
Em “[...] era como a compreensão que se tem quando uma criança ou um cão está tentando fazer você entender alguma coisa [...]”, o “se” exerce função de índice de indeterminação do sujeito.
D
Em “Como já referi, o Sr. Cavitt me disse para ficar com a extraterrestre [...]” e em “[...] era como a compreensão que se tem [...]”, os termos em destaque estabelecem relações de sentido diferentes.
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia o início da crônica Fantasmas de Minas:


“Tão logo Scliar soube que eu pretendia passar o carnaval em Ouro Preto e não conseguira hotel, amavelmente ofereceu-me sua casa. É uma linda casa, informou com ar matreiro. Tão matreiro que dava até para desconfiar. Mas eu já ouvira falar na casa, [...]”.

SABINO, Fernando. As melhores histórias de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. p. 147.


Tendo como base o restante dessa crônica, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a alternativa com a sequência correta.


( ) Ao longo da crônica, especialmente em sua última parte, há alusões a locais históricos de Minas Gerais e de seus “fantasmas”. O narrador percorre algumas cidades até chegar a Belo Horizonte, cidade na qual o fantasma é ele próprio.

( ) Pode-se afirmar que essa crônica, com uma linguagem permeada por traços de oralidade, consegue ir a fundo no sentimento humano. Isso se dá de maneira mais evidente na narrativa a partir de quando o narrador vai embora de Ouro Preto e passa a apresentar uma linguagem carregada de lirismo.

( ) O narrador em primeira pessoa corrobora para a aproximação do leitor para com a matéria narrada.

              A questão refere-se à obra As melhores histórias de Fernando Sabino.


                   O texto a seguir é um excerto da crônica O caso do charuto.


E o ascensorista inflexível. Que o homem guardasse o charuto no bolso, engolisse o charuto, fizesse o que melhor lhe parecesse. Sem o quê, ele não subiria. Distraído pelos próprios argumentos, o homem, em vez de se desfazer do charuto, tirou dele uma baforada. Foi o bastante para generalizar-se a confusão. A senhora do Bronx resolveu intervir, alegando raivosamente que ela não tinha nada com aquela história e queria subir. O panamenho, como se estivesse no mundo da lua, perguntava em vão e em mau inglês em que andar era o Consulado do Panamá. O gordinho gritava que aquilo era um desaforo etc. etc. E o elevador parado. O dono do charuto levou-o novamente à boca, para ter as mãos livres e poder se explicar, provocando indignação geral. Então o gordinho, fora de si, estendeu o braço para com uma tapa derrubar o charuto, resolvendo assim a questão. Acontece, porém, que seu gesto foi mal calculado e o que ele deu foi um bofetão na cara do homem. O charuto saltou no ar largando brasa para cima do panamenho, que até então não entendia coisa nenhuma.

SABINO, Fernando. As melhores histórias de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. p. 61.  

A
V – V – F.
B
V – V – V.
C
F – V – V.
D
V – F – V.
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Com base na leitura da obra As melhores histórias de Fernando Sabino, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.


I. Algumas tramas se passam em Nova Iorque e há referências a espaços artísticos, bares, restaurantes e artistas que são famosos no contexto estadunidense.

II. Por vezes, tem-se nas narrativas uma perspectiva, da parte do narrador, perpassada pelo preconceito racial. Isso se faz notar de maneira explícita na crônica Albertine Disparue, por meio da caracterização da personagem Albertina, a qual é funcionária do narrador.

III. O recurso da ironia não é uma constância na obra.

IV. Por causa da linguagem leve, divertida e acessível presente nas crônicas, as reflexões profundas ficam em segundo plano. Tal característica é comum no gênero crônica.

V. Muitas das crônicas presentes na obra apresentam processos intertextuais, seja por meio da evocação direta e indireta de textos literários, seja por meio da alusão ou citação do nome de outros autores da literatura, dentre eles Marcel Proust.

              A questão refere-se à obra As melhores histórias de Fernando Sabino.


                   O texto a seguir é um excerto da crônica O caso do charuto.


E o ascensorista inflexível. Que o homem guardasse o charuto no bolso, engolisse o charuto, fizesse o que melhor lhe parecesse. Sem o quê, ele não subiria. Distraído pelos próprios argumentos, o homem, em vez de se desfazer do charuto, tirou dele uma baforada. Foi o bastante para generalizar-se a confusão. A senhora do Bronx resolveu intervir, alegando raivosamente que ela não tinha nada com aquela história e queria subir. O panamenho, como se estivesse no mundo da lua, perguntava em vão e em mau inglês em que andar era o Consulado do Panamá. O gordinho gritava que aquilo era um desaforo etc. etc. E o elevador parado. O dono do charuto levou-o novamente à boca, para ter as mãos livres e poder se explicar, provocando indignação geral. Então o gordinho, fora de si, estendeu o braço para com uma tapa derrubar o charuto, resolvendo assim a questão. Acontece, porém, que seu gesto foi mal calculado e o que ele deu foi um bofetão na cara do homem. O charuto saltou no ar largando brasa para cima do panamenho, que até então não entendia coisa nenhuma.

SABINO, Fernando. As melhores histórias de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. p. 61.  

A
I, II, III e IV.
B
Apenas II e V.
C
Apenas I, II e V.
D
Apenas I e V.
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Levando em consideração a totalidade da crônica O caso do charuto, percebe-se que o narrador

              A questão refere-se à obra As melhores histórias de Fernando Sabino.


                   O texto a seguir é um excerto da crônica O caso do charuto.


E o ascensorista inflexível. Que o homem guardasse o charuto no bolso, engolisse o charuto, fizesse o que melhor lhe parecesse. Sem o quê, ele não subiria. Distraído pelos próprios argumentos, o homem, em vez de se desfazer do charuto, tirou dele uma baforada. Foi o bastante para generalizar-se a confusão. A senhora do Bronx resolveu intervir, alegando raivosamente que ela não tinha nada com aquela história e queria subir. O panamenho, como se estivesse no mundo da lua, perguntava em vão e em mau inglês em que andar era o Consulado do Panamá. O gordinho gritava que aquilo era um desaforo etc. etc. E o elevador parado. O dono do charuto levou-o novamente à boca, para ter as mãos livres e poder se explicar, provocando indignação geral. Então o gordinho, fora de si, estendeu o braço para com uma tapa derrubar o charuto, resolvendo assim a questão. Acontece, porém, que seu gesto foi mal calculado e o que ele deu foi um bofetão na cara do homem. O charuto saltou no ar largando brasa para cima do panamenho, que até então não entendia coisa nenhuma.

SABINO, Fernando. As melhores histórias de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. p. 61.  

A
acaba por afastar o leitor do conteúdo narrado, uma vez que as situações são inverossímeis.
B
expressa uma visão de mundo conivente com a irracionalidade de algumas leis.
C
em terceira pessoa problematiza uma questão de saúde pública por meio da sátira. Isso fica evidente ao final da crônica.
D
apresenta, por meio do humor, crítica à burocracia.
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a alternativa correta.


A
No primeiro quadrinho do texto “Rotina”, o narrador coordena várias orações, gerando um efeito de sentido que remete a ações rotineiras. Isso é reforçado pela locução adverbial de tempo.
B
O uso da expressão “todos os dias” (Texto “Rotina”, primeiro quadrinho) remete ao sentido de “tenho tempo livre” (Texto “Trabalivre”, penúltimo verso), sentido esse que está ao mesmo tempo implícito na última fala do personagem “Hoje vou tomar dois cafés” (Texto “Rotina”, terceiro quadrinho).
C
O humor do texto “Rotina” se revela na reação do personagem Daniel diante das atividades maçantes de seu dia a dia, agindo com inconformismo.
D
A expressão “Chega!!!” (Texto “Rotina”, segundo quadrinho) é formada por um verbo bitransitivo, para o qual há dois complementos implícitos, o objeto direto oracional “que se dane” e o objeto indireto oracional “de trabalhar”.
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a alternativa correta a respeito dos elementos linguísticos da música “Trabalivre”.

                                      Texto 2


                                   Trabalivre

                                                                                   (Tribalistas)


Um dia minha mãe me disse

Você já é grande, tem que trabalhar

Naquele instante aproveitei a chance

Vi que eu era livre para me virar

Fiz minha mala, comprei a passagem

O tempo passou depressa e eu aqui cheguei

Passei por tudo que é dificuldade

Me perdi pela cidade mas já me encontrei


Domingo boto meu pijama

Deito lá na cama para não cansar

Segunda-feira eu já tô de novo

Atolado de trabalho para entregar

Na terça não tem brincadeira

Quarta-feira tem serviço para terminar

Na quinta já tem hora extra

E na sexta o expediente termina no bar


Mas tenho o sábado inteiro pra mim mesmo

Fora do emprego

Pra me aprimorar


Sou easy, eu não entro em crise

Tenho tempo livre

Pra me trabalhar

Disponível em: <https://www.letras.mus.br/tribalistas/trabalivre/> . Acesso em: 10 nov. 2017.

A
No excerto “Mas tenho o sábado inteiro pra mim mesmo / Fora do emprego / Pra me aprimorar”, o elemento coesivo de contraposição indica que o sábado representa um dia de descanso, ao contrário dos outros dias da semana. No entanto essa expectativa é quebrada quando se insere uma finalidade alheia ao descanso.
B
Os verbos conjugados no presente do indicativo demonstram que as ações realizadas pelo eu lírico são pontuais e se dão no presente momentâneo do ato enunciativo.
C
A colocação dos pronomes pessoais do caso oblíquo presentes no texto obedece à norma culta da língua portuguesa. Tal fato pode ser observado especialmente no verso “Me perdi pela cidade mas já me encontrei”.
D
Os advérbios de modo dão o tom narrativo ao texto, utilizados para caracterizar ações durativas como a que se expressa no verso “O tempo passou depressa e eu aqui cheguei”.
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos

No Texto 1, o autor defende que

                                             Texto 1


                O poeta contemporâneo ainda tem com o que se espantar?

                                                                                                 (Audrey de Mattos)


Falar da poesia contemporânea, esta que está aí, sendo produzida neste exato instante, é pensar nas mudanças que, de Aristóteles aos vanguardistas do século XX, transformaram a forma conhecida por poesia em território do heterogêneo: grotesco e sublime, temas elevados e temas cotidianos, linguagem polida e palavreado chulo, tudo convive na poesia contemporânea, nem de longe pacificamente, pois que o estranhamento e o (des)entendimento que assomam à alma de quem lê dão conta de que a atual poesia não veio para repousar (nem deixar repousar) em margens plácidas.

[...]

Trata-se então de ouvir o inaudível e ver o invisível, conforme a fórmula clássica baudelairiana. A linguagem poética, até então mero instrumento de reprodução da realidade, “reclamará uma maior autonomia em relação à normatividade do mundo, reivindicando assim algo que parecia impossível: a capacidade de transfigurar o real e integrar-se ao mundo como elemento constitutivo deste” (Tereza Cabañas, in “A poética da inversão”).

[...]

Do poema enterrado ao poema digital, a poesia incorporará tantas e tão variadas formas de expressão que levarão Antonio Cicero a afirmar, em fins da primeira década do século XXI: “Não há mais vanguarda”. “Qualquer fetichismo residual em relação a qualquer forma convencional da poesia” foi eliminado e “a consequente relativização de todas as formas tradicionais de poesia” afeta todos os poetas pós-vanguarda.

[...]

Adaptado de <http://lounge.obviousmag.org/conversa_de_botequim/2014/09/poesia-no-seculo-xxi-rumos.html#ixzz4ybiYJXfM. Acesso em: 10 nov. 2017.

A
a poesia moderna se recria como um instrumento de reprodução da realidade, fiel aos elementos que constituem a sociedade atual, a fim de mantê-la intacta e inalterada.
B
a poesia, no século XXI, segue um modelo vanguardista em que se privilegia a contemplação do que é sublime, belo e homogêneo, de modo a expor suas contradições.
C
os novos poetas buscam uma poesia clássica aliada à modernidade dos meios de comunicação, em que se relativizam todos os movimentos literários anteriores ao século XXI.
D
o poeta contemporâneo representa uma literatura heterogênea, na qual há uma tensão que propicia o questionamento e a mobilização do que é real.
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UEMG 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Para defender seu ponto de vista, o autor do Texto 1 usa determinadas estratégias de argumentação e composição textual. Assinale a alternativa que NÃO apresenta estratégias utilizadas.

                                             Texto 1


                O poeta contemporâneo ainda tem com o que se espantar?

                                                                                                 (Audrey de Mattos)


Falar da poesia contemporânea, esta que está aí, sendo produzida neste exato instante, é pensar nas mudanças que, de Aristóteles aos vanguardistas do século XX, transformaram a forma conhecida por poesia em território do heterogêneo: grotesco e sublime, temas elevados e temas cotidianos, linguagem polida e palavreado chulo, tudo convive na poesia contemporânea, nem de longe pacificamente, pois que o estranhamento e o (des)entendimento que assomam à alma de quem lê dão conta de que a atual poesia não veio para repousar (nem deixar repousar) em margens plácidas.

[...]

Trata-se então de ouvir o inaudível e ver o invisível, conforme a fórmula clássica baudelairiana. A linguagem poética, até então mero instrumento de reprodução da realidade, “reclamará uma maior autonomia em relação à normatividade do mundo, reivindicando assim algo que parecia impossível: a capacidade de transfigurar o real e integrar-se ao mundo como elemento constitutivo deste” (Tereza Cabañas, in “A poética da inversão”).

[...]

Do poema enterrado ao poema digital, a poesia incorporará tantas e tão variadas formas de expressão que levarão Antonio Cicero a afirmar, em fins da primeira década do século XXI: “Não há mais vanguarda”. “Qualquer fetichismo residual em relação a qualquer forma convencional da poesia” foi eliminado e “a consequente relativização de todas as formas tradicionais de poesia” afeta todos os poetas pós-vanguarda.

[...]

Adaptado de <http://lounge.obviousmag.org/conversa_de_botequim/2014/09/poesia-no-seculo-xxi-rumos.html#ixzz4ybiYJXfM. Acesso em: 10 nov. 2017.

A
Citação e intertextualidade.
B
Paráfrase e raciocínio de causa/ consequência.
C
Paródia e contra-argumentação.
D
Contraposição de termos e alusão histórica.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Texto I

Enquanto isso, você, leitor, juiz supremo, aceita ou rejeita a crônica, exercício permanente de semear fantasia e leveza para que, talvez, venha a colher alguma realidade. (“Miolos do ofício”, p.9).

Texto II

Uma vez mais, apelarei para a fantasia ao narrar. A ficção é o spa da realidade, na qual o fato precisa perder o peso e o estresse da hora. Após alguma reflexão, sobra a humanidade nua e crua – e isso é o que interessa. (“Sobre cavalos e homens”, p.65).

Texto III

Continuamos humanos há um milhão de anos e assim permaneceremos por longo tempo ainda. Para a paixão, milênios são marcas desprovidas de significado, e os corações a ela se submetem encantados. De quebra, as histórias resultantes nos encantam com suas aventuras e, sobretudo, desventuras. Os escritores se esbaldam. Literatura é a realidade sem riscos. (“Um milhão de anos de paixão”, p.73).

GIFFONI, L: O acaso abre portas. Belo Horizonte: Abacate, 2014.

Levando em consideração o contexto do livro, os fragmentos expressam uma concepção de crônica que

A
descreve a realidade com fidelidade aos fatos.
B
interpreta a realidade e livra-a dos perigos.
C
ameniza e metamorfoseia a realidade.
D
simula a realidade para falseá-la.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Os fragmentos assinalam um procedimento linguístico relevante na narrativa de Cachorro Velho. Trata-se da

A questão refere-se ao livro Cachorro Velho, de Teresa Cárdenas.


Texto I


Cachorro Velho aproximou do rosto a borda da cuia e cheirou. O aroma do café adoçado com mel lhe entrou em cheio, reconfortando-o.

Sempre cheirava primeiro. Já era um costume, um ritual aprendido com os anos. Uniu os lábios grossos e bebeu um gole. O líquido desceu numa onda ardente até seu estômago.


Texto II


O feitor tocou o sino e todos se aproximaram do pátio central. O sol da manhã era suave e o vento trazia, quase imperceptível, o cheiro enjoativo da moenda.

Os ajudantes do feitor entregavam às mulheres umas batas de tecido cru, com bolsos grandes, e lenços coloridos. Os homens receberam camisas grossas e calças para o trabalho no campo.


Texto III


Rodeava o engenho um denso manto verde. Troncos de todos os formatos, folhas de cores variadas, flores com todos os perfumes.


CÁRDENAS, Teresa. Cachorro Velho. Rio de Janeiro: Palhas, 2010. p. 07, 51, 61.

A
combinação de estímulos sensoriais.
B
representação de memórias afetivas.
C
fragmentação de espaços narrativos.
D
aproximação de termos antagônicos.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na trama, a caracterização dos personagens de Aroni e Ulundi são indicativas de uma visão

A questão refere-se ao livro Cachorro Velho, de Teresa Cárdenas.


Texto I


Cachorro Velho aproximou do rosto a borda da cuia e cheirou. O aroma do café adoçado com mel lhe entrou em cheio, reconfortando-o.

Sempre cheirava primeiro. Já era um costume, um ritual aprendido com os anos. Uniu os lábios grossos e bebeu um gole. O líquido desceu numa onda ardente até seu estômago.


Texto II


O feitor tocou o sino e todos se aproximaram do pátio central. O sol da manhã era suave e o vento trazia, quase imperceptível, o cheiro enjoativo da moenda.

Os ajudantes do feitor entregavam às mulheres umas batas de tecido cru, com bolsos grandes, e lenços coloridos. Os homens receberam camisas grossas e calças para o trabalho no campo.


Texto III


Rodeava o engenho um denso manto verde. Troncos de todos os formatos, folhas de cores variadas, flores com todos os perfumes.


CÁRDENAS, Teresa. Cachorro Velho. Rio de Janeiro: Palhas, 2010. p. 07, 51, 61.

A
combativa em relação ao jugo imposto sobre os negros, representando o primeiro como uma guerreira abolicionista e o segundo como um dos líderes da rebelião.
B
enaltecedora dos povos africanos, atribuindo ao primeiro a habilidade narrativa na transmissão de contos da tradição da África e ao segundo bravura e heroicidade.
C
desesperançada acerca da humanidade, conferindo ao primeiro a marca da dor por haver tido seu filho assassinado e ao segundo a revolta contra os que lhe oprimiam.
D
irônica sobre a escravidão, propondo o primeiro como uma mulher incapaz de gerar filhos e o segundo como um homem conformado com sua condição de escravo.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Quando a névoa encobriu o corpo de Beira, Cachorro Velho voltou a desabar no solo.

Bufando contra a poeira, lembrou-se da mãe. O rosto lhe chegou de imediato, sem avisar.

Soube que era ela pelos olhos. Pela forma de sua face escura. Pelos seios abundantes, ainda cheios daquele odor que, quando criança, ele buscava em outras mulheres só para reencontrá-la.

Sim, era ela. Havia passado a vida inteira tentando recordá-la, e só naquela hora aziaga seu rosto emergia do Nada.

— Qual é o meu nome? — perguntou à aparição que enchia sua mente. E viu-lhe os lábios grossos se moverem, mas não escutou nenhum som. Os latidos dos cães cobriram a trilha.

Lentamente, a alma do porteiro se levantou no ar e, vislumbrando El Colibrí, entrou na floresta.

CÁRDENAS, Teresa. Cachorro Velho. Rio de Janeiro: Palhas, 2010. p. 141.

Lido no contexto da narrativa, esse fragmento extraído do final do romance sugere

A questão refere-se ao livro Cachorro Velho, de Teresa Cárdenas.


Texto I


Cachorro Velho aproximou do rosto a borda da cuia e cheirou. O aroma do café adoçado com mel lhe entrou em cheio, reconfortando-o.

Sempre cheirava primeiro. Já era um costume, um ritual aprendido com os anos. Uniu os lábios grossos e bebeu um gole. O líquido desceu numa onda ardente até seu estômago.


Texto II


O feitor tocou o sino e todos se aproximaram do pátio central. O sol da manhã era suave e o vento trazia, quase imperceptível, o cheiro enjoativo da moenda.

Os ajudantes do feitor entregavam às mulheres umas batas de tecido cru, com bolsos grandes, e lenços coloridos. Os homens receberam camisas grossas e calças para o trabalho no campo.


Texto III


Rodeava o engenho um denso manto verde. Troncos de todos os formatos, folhas de cores variadas, flores com todos os perfumes.


CÁRDENAS, Teresa. Cachorro Velho. Rio de Janeiro: Palhas, 2010. p. 07, 51, 61.

A
o desnudamento de dramas existenciais, relacionados à ausência materna.
B
a necessidade de se continuar militando contra os rastros de um passado escravista.
C
a importância de se preservar a crença em um tempo futuro de libertação.
D
o ensinamento de legados africanos ainda hoje ameaçados pelo preconceito racial.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De todos os percentuais divulgados, meu favoritíssimo aborda extraterrestres: 78,25% das civilizações alienígenas que nos visitam vêm de fora da Via Láctea. Depois dessa precisão alienígena, eu, que vivia fora de órbita, ando agora 78,25% mais à Terra. Com tanta gente estranha por aqui, acredito que a confusão estatística é coisa de ET. Ou do diabo. Tenho 66,6% de certeza.

GIFFONI, L. Confusão estatística. In: O acaso abre portas. Belo Horizonte: Abacate, 2014. p. 21.

Os recursos de estilo empregados nesse fragmento indicam a intenção do autor de

A
demonstrar indiferença a critérios percentuais.
B
criticar a vagueza de informações numéricas.
C
questionar as probabilidades científicas.
D
ironizar a precisão de dados estatísticos.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos

Esquecidos de que não se encontravam em casa, passaram a noite em busca de si mesmos numa centena de canais. Desculpe, cento e doze.

GIFFONI, L. Os canibais da notícia. In: O acaso abre portas. Belo Horizonte: Abacate, 2014. p. 49.

Considerando-se as relações entre o título e o enredo da crônica “Os canibais da notícia”, os protagonistas são

A
estatísticos que se importam com os números precisos das notícias.
B
jornalistas que agem como abutres em relação aos fatos.
C
aposentados que se alimentam das notícias diárias.
D
vítimas das notícias que os ultrajam.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos

Imagine alguém contando essa historinha: “Depois de receber uma premagem, o ludâmbulo desligou o lucivelo, colocou o focale, chamou o cinesíforo e foi ao local da runimol de que teve notícia por um amigo alvissareiro”. Assim seria contada essa historinha se se tivesse adotado a proposta de Antônio Castro Lopes, filólogo que viveu de 1827 a 1901. Os neologismos que ele propôs, como ludâmbulo, focalo e cinesíforo não pegaram. Então podemos contar hoje a mesma historinha assim: “Depois de receber uma massagem, o turista desligou o abajur, colocou o cachecol, chamou o motorista e foi ao local da avalanche de que teve notícia por um amigo repórter”. Acho muito estranho nessas palavras a proposta de usar “alvissareiro” em vez de repórter. Alvíssaras é uma palavra sempre relacionada a boas notícias, o que não é bem o caso da maioria do que ouvimos ou lemos dos repórteres.

BENEDITO, M. Disponível em: <https://blogdaboitempo.com.br/2016/03/11/chato-cricri-ezung-zung/>. Acesso em: 03 out. 2016. (Adaptado).

No fragmento, o autor questiona o emprego do termo “alvissareiro” por considerá-lo

A
distante da realidade linguística do português brasileiro.
B
impróprio para designar o dia a dia do trabalho de repórter.
C
estranho para ser utilizado como sinônimo de “más notícias”.
D
inadequado diante do teor negativo atribuído a notícias jornalísticas.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos

No início de 2015, um questionário com 36 perguntas e quatro minutos ininterruptos de contato visual ficou conhecido por causa de um artigo da escritora Mandy Len Catron, publicado no jornal norte-americano The New York Times. No texto, ela conta a história de como se apaixonou pelo marido com a ajuda de um método usado para criar intimidade romântica em laboratório, experimento criado há mais de 20 anos pelo professor de psicologia social Arthur Aron, da Universidade de Stony Brooks, nos Estados Unidos.
Em nove dias, o texto foi lido por mais de 5 milhões de pessoas e compartilhado 270 mil vezes no Facebook (inclusive por Mark Zuckerberg). “Criamos esse questionário a fim de ter um método para ser usado em laboratório e estudar os efeitos da intimidade na vida social de uma pessoa. Esse método já foi utilizado em centenas de estudos”, disse Aron à reportagem.
Quando foi criado, o estudo tinha regras bem rígidas: um homem e uma mulher heterossexuais entram em um laboratório por portas separadas. Eles se sentam frente a frente e respondem às perguntas, que têm um teor cada vez mais pessoal. Essa fase leva cerca de 45 minutos e, em seguida, é preciso encarar o outro nos olhos durante quatro minutos, sem desviar o foco. Na experiência conduzida pelo professor Aron, dois participantes do teste se casaram depois de seis meses e chamaram os funcionários do laboratório para a cerimônia.

LOUREIRO, G. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/03/querencontrar-o-amor-ciencia-e-tecnologia-podem-te-ajudar.html >. Acesso em: 10 out. 2016.

Assinale a alternativa em que o trecho em destaque tem a função de dar ênfase à informação apresentada no excerto:

A
“Eles se sentam frente a frente e respondem às perguntas, que têm um teor cada vez mais pessoal.”
B
“Em nove dias, o texto foi lido por mais de 5 milhões de pessoas e compartilhado 270 mil vezes no Facebook (inclusive por Mark Zuckerberg)”.
C
“[...] um método usado para criar intimidade romântica em laboratório, experimento criado há mais de 20 anos pelo professor de psicologia social Arthur Aron”.
D
“No início de 2015, um questionário com 36 perguntas e quatro minutos ininterruptos de contato visual ficou conhecido por causa de um artigo da escritora Mandy Len Catron”.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Uma pessoa verdadeiramente forte

A gente costuma ouvir que uma pessoa é forte, que tem gênio forte, quando ela reage com grande violência em situações que a desagradam. Ou seja, a pessoa de temperamento forte só está bem e calma quando tudo acontece exatamente de acordo com a vontade dela. Nos outros casos, sua reação é explosiva e o estouro costuma provocar o medo nas pessoas que a cercam.
As pessoas que não toleram frustrações, dores e contrariedades são as fracas e não as fortes. Fazem muito barulho, gritam, fazem escândalos e ameaçam bater. São barulhentas e não fortes. O forte é aquele que ousa e se aventura em situações novas, porque tem a convicção íntima de que, se fracassar, terá forças interiores para se recuperar.
Ninguém pode ter certeza de que seu empreendimento – sentimental, profissional, social – será bem-sucedido. Temos medo da novidade justamente por causa disso. O fraco não ousará, pois a simples ideia do fracasso já lhe provoca uma dor insuportável.
O forte ousará porque tem a sensação íntima de que é capaz de aguentar o revés. O forte é aquele que monta no cavalo porque sabe que, se cair, terá forças para se levantar. O fraco encontrará uma desculpa – em geral, acusando uma outra pessoa – para não montar no cavalo. Fará gestos e pose de corajoso, mas, na verdade, é exatamente o contrário. Buscará tantas certezas prévias de que não irá cair do cavalo que, caso chegue a tê-las, o cavalo já terá ido embora há muito tempo. O forte é o que parece ser o fraco: é quieto, discreto, não grita e é o ousado. Faz o que ninguém esperava que ele fizesse.

GIKOVATE, F. Disponível em: <http://flaviogikovate.com.br/uma-pessoa-verdadeiramenteforte/#more-540>. Acesso em: 01 out. 2016.

A relação entre a tese do texto e os argumentos apresentados pelo autor para sustentar seu ponto de vista é caracterizada pela

A
contraposição entre os significados de força e fraqueza.
B
valorização do fracasso e das frustrações da vida.
C
distinção entre a ousadia e o medo da novidade.
D
depreciação de indivíduos considerados fortes.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais

Com a finalidade de explorar determinados efeitos de sentido, o título da crônica faz referência ao gênero textual ‘diário’. Constitui uma característica desse gênero presente no texto

A questão refere-se ao texto a seguir.


Diário alienígena


    Continuo sem entender muito bem. Hoje passou por mim um ser de sexo indefinido, que me deixou ainda mais confuso. Seu aspecto era muito estranho. Tinha um rosto delicado, um nariz pequeno, os lábios bem delineados, mas não muito grossos, formando, no conjunto, o que aqui se chama de mulher bonita. Os cabelos, muito escuros e lisos, eram também femininos, compridos, bem tratados e lustrosos. Mas, assim que se fechava em ponta a linha do queixo, dava-se a transformação: o pescoço, largo e musculoso, era estriado de veias, parecendo inflado a ponto de rebentar. O tronco, imenso e forte, abria-se para os lados em braços espetaculares, rígidos, com gigantescos nós de músculos sobrepondo-se uns aos outros e formando uma curva um pouco semelhante à que encontramos em certos primatas. As pernas eram igualmente brutais, levemente arqueadas devido ao volume dos músculos, dando ao andar uma cadência que em tudo se parecia com o dos seres do outro sexo.
    Já havia visto algumas criaturas um tanto indefinidas por aqui, mas esta me pareceu um exemplo extremo. Não pude classificá-la. Aliás, tenho tido grande dificuldade para fazer as classificações. Tudo me parece de difícil compreensão. Esse pequeno território que nos serve de amostragem traz incoerências que me deixam atônito. Para dizer a verdade, as contradições são muitas, infinitas, não tendo havido ainda um registro lógico capaz de explicar tantas coisas de que já lhe falei, como as discrepâncias na ocupação do espaço, para dar apenas um exemplo.
    Mas a verdade é que, de todos os absurdos a que tenho assistido nesse primeiro contato, nenhum me deixou mais espantado do que o seguinte: como civilização razoavelmente evoluída em termos tecnológicos, eles parecem ter centrado boa parte de sua pesquisa científica na busca do conforto. Inventaram pequenos aparelhos, bastante engenhosos, que lhes facilitam a vida, tornando-os cada vez mais ociosos e aos quais dão nomes variados, como automóveis, computadores, celulares, controle remoto etc. Tudo parece ter sido inventado com um único objetivo: o de leválos a fazer menos esforço físico. Pois muito bem: você acredita que, nas chamadas horas de lazer, eles correm pelas ruas feito loucos, de um lado para o outro, suando em bicas, sem parecer querer chegar a lugar algum? E mais: concentram-se também em locais que chamam de academias e lá se dedicam, sozinhos ou em grupos, às tarefas mais extenuantes e inúteis, muitas vezes atados a aparelhos de tortura, os quais parecem buscar por livre vontade, e não forçados, como já vimos acontecer com outros povos bárbaros. Chegam a caminhar sobre esteiras, sem sair do lugar! Não lhe parece o maior dos absurdos?
    Bem, continuarei observando e tentando entender. Espero estar de volta em breve, na paz de nossa querida Andrômeda – e longe deste planeta louco.

SEIXAS, H. In: Novos contos mínimos. Disponível em: <http://heloisaseixas.com.br/diario-deum-marciano>. Acesso em: 02 out. 2016.
A
a descrição de fatos e personagens, de forma minuciosa e verossímil, como em “Os cabelos, muito escuros e lisos, eram também femininos, compridos, bem tratados e lustrosos”.
B
a estrutura narrativa, com sequências temporais e predomínio de verbos no passado, como em “Hoje passou por mim um ser de sexo indefinido, que me deixou ainda mais confuso”.
C
a identificação dos interlocutores, por meio de vocativos e perguntas retóricas, como em “Chegam a caminhar sobre esteiras, sem sair do lugar! Não lhe parece o maior dos absurdos?”.
D
o relato de memórias e de ações do dia a dia do autor, de caráter subjetivo e informal, como em “Esse pequeno território que nos serve de amostragem traz incoerências que me deixam atônito”.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos



Disponível em :<http://www.comunicaquemuda.com.br/culpa-nao-e-delas/>. Acesso em: 25 set. 2016.

A leitura do infográfico indica que

A
o Nordeste é a região com maior índice de violência contra a mulher.
B
o medo da violência contra a mulher é maior nos municípios com até 50 mil habitantes.
C
quanto maior o nível de escolaridade, menor a tendência de culpar a mulher pelo estupro.
D
entre brasileiros do sexo masculino, a percepção da violência contra a mulher é mais acentuada.
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UEMG 2016 - Português - Interpretação de Textos

No texto, a utilização do ponto de vista de um alienígena é uma estratégia com o propósito de

A questão refere-se ao texto a seguir.


Diário alienígena


    Continuo sem entender muito bem. Hoje passou por mim um ser de sexo indefinido, que me deixou ainda mais confuso. Seu aspecto era muito estranho. Tinha um rosto delicado, um nariz pequeno, os lábios bem delineados, mas não muito grossos, formando, no conjunto, o que aqui se chama de mulher bonita. Os cabelos, muito escuros e lisos, eram também femininos, compridos, bem tratados e lustrosos. Mas, assim que se fechava em ponta a linha do queixo, dava-se a transformação: o pescoço, largo e musculoso, era estriado de veias, parecendo inflado a ponto de rebentar. O tronco, imenso e forte, abria-se para os lados em braços espetaculares, rígidos, com gigantescos nós de músculos sobrepondo-se uns aos outros e formando uma curva um pouco semelhante à que encontramos em certos primatas. As pernas eram igualmente brutais, levemente arqueadas devido ao volume dos músculos, dando ao andar uma cadência que em tudo se parecia com o dos seres do outro sexo.
    Já havia visto algumas criaturas um tanto indefinidas por aqui, mas esta me pareceu um exemplo extremo. Não pude classificá-la. Aliás, tenho tido grande dificuldade para fazer as classificações. Tudo me parece de difícil compreensão. Esse pequeno território que nos serve de amostragem traz incoerências que me deixam atônito. Para dizer a verdade, as contradições são muitas, infinitas, não tendo havido ainda um registro lógico capaz de explicar tantas coisas de que já lhe falei, como as discrepâncias na ocupação do espaço, para dar apenas um exemplo.
    Mas a verdade é que, de todos os absurdos a que tenho assistido nesse primeiro contato, nenhum me deixou mais espantado do que o seguinte: como civilização razoavelmente evoluída em termos tecnológicos, eles parecem ter centrado boa parte de sua pesquisa científica na busca do conforto. Inventaram pequenos aparelhos, bastante engenhosos, que lhes facilitam a vida, tornando-os cada vez mais ociosos e aos quais dão nomes variados, como automóveis, computadores, celulares, controle remoto etc. Tudo parece ter sido inventado com um único objetivo: o de leválos a fazer menos esforço físico. Pois muito bem: você acredita que, nas chamadas horas de lazer, eles correm pelas ruas feito loucos, de um lado para o outro, suando em bicas, sem parecer querer chegar a lugar algum? E mais: concentram-se também em locais que chamam de academias e lá se dedicam, sozinhos ou em grupos, às tarefas mais extenuantes e inúteis, muitas vezes atados a aparelhos de tortura, os quais parecem buscar por livre vontade, e não forçados, como já vimos acontecer com outros povos bárbaros. Chegam a caminhar sobre esteiras, sem sair do lugar! Não lhe parece o maior dos absurdos?
    Bem, continuarei observando e tentando entender. Espero estar de volta em breve, na paz de nossa querida Andrômeda – e longe deste planeta louco.

SEIXAS, H. In: Novos contos mínimos. Disponível em: <http://heloisaseixas.com.br/diario-deum-marciano>. Acesso em: 02 out. 2016.
A
ironizar a percepção de contradições sociais.
B
criticar a busca por conforto no mundo contemporâneo.
C
expressar estranhamento em relação a hábitos humanos.
D
relacionar as novas tecnologias à diminuição do esforço físico.