Questõesde FGV sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Comparando-se as características de Capitães da Areia (1937), bastante visíveis no excerto, às características mais notórias de Macunaíma (1928), pode-se identificar corretamente uma transformação ocorrida na transição do primeiro Modernismo, da década de 1920, ao qual pertence Macunaíma, para a segunda fase modernista, posterior a 1930, período em que surge Capitães da Areia. Nessa transição, deu-se a passagem de uma

(    ...) Um dia, passado muito tempo, Pedro Bala ia com o Sem-Pernas pelas ruas. Entraram numa igreja da Piedade, gostavam de ver as coisas de ouro, mesmo era fácil bater uma bolsa de uma senhora que rezasse. Mas não havia nenhuma senhora na igreja àquela hora. Somente um grupo de meninos pobres e um capuchinho que lhes ensinava catecismo.

    — É Pirulito... — disse Sem-Pernas.

    Pedro Bala ficou olhando. Encolheu os ombros:

    — Que adianta?

    Sem-Pernas olhou:

    — Não dá de comer...

    — Um dia vai ser padre também. Tem que ser é tudo junto.

    Sem-Pernas disse:

    — A bondade não basta.

    Completou:

    — Só o ódio...

    Pirulito não os via. Com uma paciência e uma bondade extremas ensinava às crianças buliçosas as lições de catecismo. Os dois Capitães da Areia saíram balançando a cabeça. Pedro Bala botou a mão no ombro do Sem-Pernas.

    — Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta. A voz bondosa de Pirulito atravessa a igreja. A voz de ódio do Sem-Pernas estava junto de Pedro Bala. Mas ele não ouvia nenhuma. Ouvia era a voz de João de Adão, o doqueiro, a voz de seu pai morrendo na luta.

Jorge Amado, Capitães da Areia 

A
tendência à abstração e à generalidade, para uma atenção a realidades bem determinadas.
B
predominância da influência portuguesa, para o domínio da influência francesa.
C
visão ufanista e patriótica, para uma visão pessimista do Brasil.
D
predileção pelos temas rurais, para a observação prioritária do mundo urbano.
E
concepção da literatura como jogo e divertimento, para uma concepção da literatura como arte.
1d93f8d2-b0
FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Atente para as seguintes afirmações referentes ao excerto, considerado no contexto de Capitães da Areia:

I Os termos “bondade”, “ódio” e “luta”, postos em questão no excerto, encontram-se objetivamente em relação dialética – na qual a contradição entre os dois primeiros é superada na síntese operada pelo termo “luta”, que os engloba e ultrapassa.
II Vista no conjunto da trajetória da personagem, a cena registra um momento decisivo no processo de politização de Pedro Bala.
III Para definir os perfis que as personagens Pirulito, Sem-Pernas e Pedro Bala assumem no excerto, as palavras-chave poderiam ser, respectivamente, ilusão, ressentimento e projeto.

Está correto o que se afirma em

(    ...) Um dia, passado muito tempo, Pedro Bala ia com o Sem-Pernas pelas ruas. Entraram numa igreja da Piedade, gostavam de ver as coisas de ouro, mesmo era fácil bater uma bolsa de uma senhora que rezasse. Mas não havia nenhuma senhora na igreja àquela hora. Somente um grupo de meninos pobres e um capuchinho que lhes ensinava catecismo.

    — É Pirulito... — disse Sem-Pernas.

    Pedro Bala ficou olhando. Encolheu os ombros:

    — Que adianta?

    Sem-Pernas olhou:

    — Não dá de comer...

    — Um dia vai ser padre também. Tem que ser é tudo junto.

    Sem-Pernas disse:

    — A bondade não basta.

    Completou:

    — Só o ódio...

    Pirulito não os via. Com uma paciência e uma bondade extremas ensinava às crianças buliçosas as lições de catecismo. Os dois Capitães da Areia saíram balançando a cabeça. Pedro Bala botou a mão no ombro do Sem-Pernas.

    — Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta. A voz bondosa de Pirulito atravessa a igreja. A voz de ódio do Sem-Pernas estava junto de Pedro Bala. Mas ele não ouvia nenhuma. Ouvia era a voz de João de Adão, o doqueiro, a voz de seu pai morrendo na luta.

Jorge Amado, Capitães da Areia 

A
II e III, somente.
B
I e III, somente.
C
I e II, somente.
D
I, somente.
E
I, II e III.
1d67da54-b0
FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Examine este cartum:


Tendo em vista a reação do garçom, dentre as palavras abaixo, a mais adequada para figurar como legenda do cartum é:

A
jovialidade.
B
literalidade.
C
reciprocidade.
D
solidariedade.
E
contrariedade.
1d81c179-b0
FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Segundo o texto, a única informação sobre Manuel Antônio de Almeida que NÃO está correta é:

À margem de Memórias de um sargento de milícias
    É difícil associar à impressão deixada por essa obra divertida e leve a ideia de um destino trágico. Foi, entretanto, o que coube a Manuel Antônio de Almeida, nascido em 1831 e morto em 1861. A simples justaposição dessas duas datas é bastante reveladora: mais alguns dados, os poucos de que dispomos, apenas servem para carregar nas cores, para tornar a atmosfera do quadro mais deprimente. Que é que cabe num prazo tão curto?
    Uma vida toda em movimento, uma série tumultuosa de lutas, malogros e reerguimentos, as reações de uma vontade forte contra os golpes da fatalidade, os heroicos esforços de ascensão de um self-made man esmagado pelas circunstâncias. Ignoramos quase totalmente seus começos de menino pobre, mas talvez seja possível reconstruí-los em parte pelas cenas tão vivas em que apresenta o garoto Leonardo lançado de chofre nas ruas pitorescas da indolente cidadezinha que era o Rio daquela época. Basta enumerar todas as profissões que o escritor exerceu em seguida para adivinhar o ambiente. Estudante na Escola de Belas-Artes e na Faculdade de Medicina, jornalista e tradutor, membro fundador da Sociedade das Belas-Artes, administrador da Tipografia Nacional, diretor da Academia Imperial da Ópera Nacional, Manuel Antônio provavelmente não se teria candidatado ainda a uma cadeira da Assembleia Provincial se suas ocupações sucessivas lhe garantissem uma renda proporcional ao brilho de seus títulos. Achava-se justamente a caminho da “sua” circunscrição, quando, depois de tantos naufrágios no sentido figurado, pereceu num naufrágio concreto, deixando saudades a um reduzido círculo de amigos, um medíocre libreto de ópera e algumas traduções, do francês, de romances de cordel, aos pesquisadores de curiosidade, e as Memórias de um sargento de milícias ao seu país.
Paulo Rónai, Encontros com o Brasil, Rio de Janeiro:
Edições de Janeiro, 2014. 
A
Além de escritor, jornalista e tradutor, foi também, embora episodicamente, músico erudito.
B
Sua tentativa de ingressar na política acabou contribuindo para levá-lo a um final trágico..
C
No final do texto, fica implícita uma avaliação positiva do seu romance.
D
Talvez tenha vivido, quando criança, algumas peripécias que guardam semelhança com as que fazem parte da história da personagem principal de seu romance.
E
Os rendimentos que recebia em suas inúmeras atividades, provavelmente não eram compatíveis com os esforços que fez para ascender socialmente.
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FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Analise as seguintes afirmações sobre o texto:


I Segundo o autor, tempo psicológico e tempo cronológico nem sempre coincidem.

II O contexto histórico em que se deu a Copa do Mundo de 1950 é abordado com neutralidade pelo autor.

III O autor conclui o texto por meio de uma assertiva em tom premonitório.


Está correto apenas o que se afirma em

A tão falada lição
    Passam os anos menos depressa do que dizem, quando dizem que o tempo corre. Passam mais depressa do que se pensa, quando se trata de vivê-los. São 64 anos. Por exemplo, entre este e 1950, ano de muitas agitações.
    Na política, pela volta de Getúlio, se não para redimir-se da ditadura encerrada cinco anos antes, porque ditadura nenhuma tem redenção, para um governo que, mesmo inconcluído, legou ao Brasil os instrumentos que permitiriam fazer o grande país que não foi feito – Petrobras, BNDE, uma infinidade de outros.
    Entre tantas agitações mais, lá estava a Copa do Mundo, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial, no maior estádio do mundo, para fazer dos brasileiros os campeões mundiais.
    Nos 64 anos seguintes, Getúlio e seu governo desapareceram sob a dureza das versões degradantes e do getulismo mitológico. A Copa e seu final desastroso satisfizeram-se com explicação única e simples: fora do campo, os excessos da autoglorificação antecipada, com louvações e festejos movidos a políticos, artistas, jornalistas, a publicidade comercial; e, no campo, uma (inexistente) falha do goleiro das cores pátrias. 
   
    Há 64 anos se repete essa ladainha de 50, como símbolo e como advertência. Quem quiser uma ideia melhor da explicação dada a 50, é fácil. Basta uma olhadela nos jornais e na TV, a gente da TV e outras gentes em visita à "concentração", a caçada a jogadores, convidados VIP para ver treinos, lá vai a estatueta ao palácio presidencial, os comandantes Felipão e Parreira são claros: "Nós já estamos com uma mão na taça". Igualzinho. Está nos genes.
Janio de Freitas, Folha de S. Paulo, 03/06/2014. Adaptado. 
A
III.
B
I.
C
II.
D
II e III.
E
I e III.
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FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A frase que expressa corretamente a opinião do autor sobre os acontecimentos que marcaram o ano de 1950 é:

A tão falada lição
    Passam os anos menos depressa do que dizem, quando dizem que o tempo corre. Passam mais depressa do que se pensa, quando se trata de vivê-los. São 64 anos. Por exemplo, entre este e 1950, ano de muitas agitações.
    Na política, pela volta de Getúlio, se não para redimir-se da ditadura encerrada cinco anos antes, porque ditadura nenhuma tem redenção, para um governo que, mesmo inconcluído, legou ao Brasil os instrumentos que permitiriam fazer o grande país que não foi feito – Petrobras, BNDE, uma infinidade de outros.
    Entre tantas agitações mais, lá estava a Copa do Mundo, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial, no maior estádio do mundo, para fazer dos brasileiros os campeões mundiais.
    Nos 64 anos seguintes, Getúlio e seu governo desapareceram sob a dureza das versões degradantes e do getulismo mitológico. A Copa e seu final desastroso satisfizeram-se com explicação única e simples: fora do campo, os excessos da autoglorificação antecipada, com louvações e festejos movidos a políticos, artistas, jornalistas, a publicidade comercial; e, no campo, uma (inexistente) falha do goleiro das cores pátrias. 
   
    Há 64 anos se repete essa ladainha de 50, como símbolo e como advertência. Quem quiser uma ideia melhor da explicação dada a 50, é fácil. Basta uma olhadela nos jornais e na TV, a gente da TV e outras gentes em visita à "concentração", a caçada a jogadores, convidados VIP para ver treinos, lá vai a estatueta ao palácio presidencial, os comandantes Felipão e Parreira são claros: "Nós já estamos com uma mão na taça". Igualzinho. Está nos genes.
Janio de Freitas, Folha de S. Paulo, 03/06/2014. Adaptado. 
A
A ditadura imposta por Getúlio Vargas não impediu que ele se reabilitasse perante o povo brasileiro.
B
Uma das causas da derrota da seleção brasileira foi o sentimento de inferioridade de seus jogadores.
C
A imprensa foi um dos poucos setores que tentou evitar o clima do “já ganhou”, que precedeu a Copa do Mundo realizada no Brasil.
D
Parte da explicação que se costuma dar para a derrota da seleção brasileira não se justifica.
E
Getúlio Vargas teve de interromper seu governo, mas deixou uma importante herança política.
8071b5ec-b0
FGV 2015 - Português - Interpretação de Textos, Morfologia - Verbos, Problemas da língua culta, Locução Verbal, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia a seguinte frase: 


O que os olhos não virem o seu coração não vai sentir.



Considere as seguintes afirmações sobre essa frase, utilizada em uma propaganda de software para empresas:

I Contém um erro de conjugação verbal, no uso de “virem” em lugar de “verem”.

II Expressa ideia de futuro por meio da locução “vai sentir”, que equivale a “sentirá”.

III Resulta de uma reelaboração de um conhecido provérbio popular.


Está correto apenas o que se afirma em

A
III.
B
I e II.
C
I.
D
II.
E
II e III.
29f89853-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Passando abruptamente de um estilo primitivo e solene, de lenda, à crônica jocosa e, desta, ao distanciamento crítico da paródia, o escritor ___________________________ jogou sabiamente com níveis de consciência e de comunicação diversos, justificando plenamente o título de ____________________________, mais do que de “romance”, que emprestou a sua obra ____________________________ .

Mantida a sequência, preenchem adequadamente os espaços em branco:

A
Manuel Antônio de Almeida; “folhetim”; Memórias de um sargento de milícias.
B
Machado de Assis; “memórias”; Memórias póstumas de Brás Cubas.
C
Raul Pompeia; “crônica”; O Ateneu.
D
Mário de Andrade; “rapsódia”; Macunaíma.
E
Jorge Amado; “saga”; Capitães da Areia.
2a01fa48-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Acrescentando-se ao teor dos versos “E que, no seu maligno ar imaturo, / ao mesmo tempo saiba ser, não ser” os elementos do humor e da provocação, obtém-se uma descrição aproximada, sobretudo,

Oficina Irritada

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

A
da personagem Jão Fera, de Til.
B
do narrador das Memórias póstumas de Brás Cubas.
C
da personagem João Romão, de O cortiço.
D
do narrador de Capitães da Areia.
E
a personagem Augusto Matraga, de “A hora e vez de Augusto Matraga”.
29ff4f3b-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A procura de um texto “duro”, “abafado”, e avesso à sedução e ao encantamento do leitor, postulada no poema, assemelha-se sobretudo à demanda estilística revelada na obra

Oficina Irritada

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

A
Til, de José de Alencar.
B
O cortiço, de Aluísio Azevedo.
C
O Ateneu, de Raul Pompeia.
D
Vidas secas, de Graciliano Ramos.
E
A hora e vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa.
29f5becf-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Tal como descrito no excerto, o tratamento frequentemente humilhante e injusto dispensado aos agregados é uma das motivações principais

       Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados. 

      Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.  

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

A
do ressentimento que a personagem Jão Fera, de Til, nutria em relação aos proprietários em cuja casa crescera.
B
da submissão que a escrava fugida Bertoleza demonstrava em relação a João Romão, em O cortiço.
C
da ausência de caráter da personagem Macunaíma, do livro homônimo.
D
da melancolia característica do narrador de O Ateneu.
E
da beligerância da personagem Pedro Bala, de Capitães da Areia.
29f1a9c9-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A numerosa presença de pessoas vivendo na condição de agregados, referida pelo narrador, na sociedade representada no romance, deve-se, de modo mais geral,

       Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados. 

      Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.  

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

A
ao desestímulo ao trabalho, induzido pelo assistencialismo do Estado em relação aos mais pobres.
B
à vadiagem característica dos descendentes de degredados portugueses vivendo no Brasil.
C
ao caráter rarefeito do mercado de trabalho livre, na economia escravista.
D
à aversão ao trabalho braçal, que caracterizava os mestiços e negros alforriados.
E
à disseminação do exemplo dado pelas elites locais, composta majoritariamente de rentistas ociosos.
29ee20a5-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considere as seguintes afirmações referentes ao narrador do texto:

I Mostra-se, no excerto, desinteressado de interrogar-se quanto às causas da existência dos agregados.

II Quando critica o comportamento de certos agregados, pressupõe uma atitude de valorização do trabalho, que não era predominante nem, muito menos, efetiva, na sociedade de seu tempo.

III Avalia a condição social e o comportamento dos agregados a partir do ponto de vista deles próprios.

Está correto o que se afirma em

       Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados. 

      Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.  

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

A
I, somente.
B
I e II, somente.
C
I e III, somente.  
D
II e III, somente.
E
I, II,e III.
29d87544-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A visão crítica, marcadamente cética, dos diferentes sistemas de governo, que se pode subentender na tirinha, só NÃO está presente na seguinte citação:


A
A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que, numa democracia, se pode votar antes de obedecer às ordens.
B
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
C
A diferença entre democracia e comunismo é que, na democracia, o governo se proclama povo e, no comunismo, o povo se proclama governo.
D
Como verdadeiro democrata, nunca nego a ninguém o direito de concordar inteiramente comigo.
E
As democracias, embora respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.
29e1289e-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Referem-se de forma crítica a um mesmo conceito desenvolvido no texto as expressões dispostas em gradação ascendente em:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
“impacto”; “desinformação”; “repercussão social”.
B
“massivamente”; “congestionamento”; “sobrecarga”.
C
“mensagem pré-fabricada”; “informações falsas”; “narrativas préconcebidas”.
D
“debate”; “síntese”; “antítese”.
E
“veículos”; “agentes de disseminação”; “fantoches”.
29db16ec-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Das expressões latinas abaixo, todas de largo uso na linguagem culta, a única que contribui para exprimir corretamente uma afirmação presente no texto ocorre na frase:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
O debate é uma condição sine qua non para que da tese e da antítese resulte uma síntese
B
O principal objetivo do terrorismo contemporâneo é manter o status quo por meio de mensagens falsas
C
As pessoas devem replicar, ipsis litteris, relatos pré-concebidos que circulam na rede.
D
Ao repercutir na internet fatos que causam grande comoção, os internautas devem checá-los a posteriori.
E
Recomenda-se seguir a intuição, ao divulgar informações pelas redes sociais ou, lato sensu, ao retuitá-las.
29d5c58b-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A variação do comportamento de Calvin, tal como representada na tirinha, poderia receber, na vida política, o nome de


A
peculato.
B
oportunismo.
C
entreguismo.
D
prevaricação.
E
alienação.
61d6239e-16
FGV 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nesse poema de Carlos Drummond de Andrade, encontram-se presentes, entre outras, as seguintes linhas formais e temáticas bastante características de Claro enigma:

I o emprego de modalidades tradicionais de composição, como, no caso, o verso decassílabo, com rimas cruzadas;
II a desilusão quanto à integração entre a poesia e o mundo exterior;
III a madureza, como consciência crescente da finitude do ser;
IV o recurso à forma fixa do soneto.

Completa de maneira adequada o que se afirma no início da questão o que está em

Texto para a questão


Remissão


Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.


Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,


e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,


enquanto o tempo, em suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo de teu ser?


Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

A
II e IV, somente.
B
I e III, somente.
C
I e II, somente.
D
II e III, somente.
E
I, II, III e IV.
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FGV 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No texto, o poeta

Texto para a questão


Remissão


Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.


Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,


e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,


enquanto o tempo, em suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo de teu ser?


Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

A
questiona incisivamente o seu fazer poético, pondo em causa o sentido mesmo dessa prática.
B
interpela diretamente o leitor, instando-o a abandonar as ilusões literárias tradicionais remanescentes.
C
invoca o espectro do pai morto, para pedir-lhe que o redima de seus fracassos.
D
apostrofa a memória de Mário de Andrade, seu primeiro mestre de poesia, dedicando-lhe um canto alegórico.
E
dialoga com um escritor classicista imaginário, interrogando-o a respeito das contradições em que incorre.
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FGV 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As personagens que compõem a cena são descritas pelo narrador, ora de maneira concisa, por meio de breves estruturas frasais, ora de maneira detalhada, por meio do uso de farta adjetivação. É o que se verifica, respectivamente, com as personagens identificadas no texto pelas expressões

Texto para a questão 

    À hora do primeiro almoço, como prometera, Aristarco mostrou-se em toda a grandeza fúnebre dos justiçadores. De preto. Calculando magnificamente os passos pelos do diretor, seguiam-no em guarda de honra muitos professores. À porta fronteira, mais professores de pé e os bedéis ainda, e a multidão bisbilhoteira dos criados.
    Tão grande a calada, que se distinguia nítido o tique-taque do relógio, na sala de espera, palpitando os ansiados segundos.
    Aristarco soprou duas vezes através do bigode, inundando o espaço com um bafejo de todo-poderoso.
    E, sem exórdio:
    “Levante-se, Sr. Cândido Lima! “Apresento-lhes, meus senhores, a Sra. D. Cândida”, acrescentou com uma ironia desanimada.
    “Para o meio da casa! e curve-se diante dos seus colegas!”
    Cândido era um grande menino, beiçudo, louro, de olhos verdes e maneiras difíceis de indolência e enfado. Atravessou devagar a sala, dobrando a cabeça, cobrindo o rosto com a manga, castigado pela curiosidade pública.
    “Levante-se, Sr. Emílio Tourinho...
    Este é o cúmplice, meus senhores!”
    Tourinho era um pouco mais velho que o outro, porém mais baixo; atarracado, moreno, ventas arregaladas, sobrancelhas crespas, fazendo um só arco pela testa. Nada absolutamente conformado para galã; mas era com efeito o amante.
    “Venha ajoelhar-se com o companheiro.”
    “Agora, os auxiliares...”
    Desde as cinco horas da manhã trabalhava Aristarco no processo. O interrogatório, com o apêndice das delações da polícia secreta e dos tímidos, comprometera apenas dez alunos.
    A chamado do diretor, foram deixando os lugares e postando-se de joelhos em seguimento dos principais culpados.
    “Estes são os acólitos da vergonha, os corréus do silêncio!” C
    ândido e Tourinho, braço dobrado contra os olhos, espreitavam-se a furto, confortando-se na identidade da desgraça, como Francesca e Paolo* no inferno.
  Prostrados os doze rapazes perante Aristarco, na passagem alongada entre as cabeceiras das mesas, parecia aquilo um ritual desconhecido de noivado: a espera da bênção para o casal à frente.
    Em vez da bênção chovia a cólera.


Raul Pompeia, O Ateneu.

* Francesca e Paolo: personagens de A Divina Comédia, de Dante Alighieri.
A
“diretor” / “professores” e “bedéis”.
B
“polícia secreta dos tímidos” / “acólitos da vergonha”.
C
“professores”, “bedéis” e “criados” / “principais culpados”.
D
“acólitos da vergonha” / “diretor”, “professores”, “bedéis” e “criados”.
E
“principais culpados” / “polícia secreta dos tímidos”.