A procura de um texto “duro”, “abafado”, e avesso à sedução e ao
encantamento do leitor, postulada no poema, assemelha-se sobretudo à
demanda estilística revelada na obra
Oficina Irritada
Eu quero compor um soneto durocomo poeta algum ousara escrever.Eu quero pintar um soneto escuro,seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,não desperte em ninguém nenhum prazer.E que, no seu maligno ar imaturo,ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impurohá de pungir, há de fazer sofrer,tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,cão mijando no caos, enquanto Arcturo,claro enigma, se deixa surpreender.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
Gabarito comentado
Gabarito Comentado – Interpretação de Texto Literário
Tema central: A questão exige interpretação literária, avaliando a capacidade do candidato de relacionar a proposta estética de um poema com o estilo de diferentes obras da literatura nacional.
Análise do poema: O eu-lírico expressa o desejo de compor um texto “duro”, “escuro”, “seco, abafado, difícil de ler”, que não desperte prazer no leitor, ou seja, um poema árido, antipático e sem sedução. Esses termos indicam uma busca por uma literatura com linguagem enxuta, seca e sem ornamentos, que espelha a dificuldade e aspereza da existência.
Alternativa correta: D) Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Justificativa: “Vidas Secas” é um marco do regionalismo brasileiro e se destaca pela linguagem minimalista e seca, que reflete a aridez e brutalidade do sertão e de seus personagens. Segundo autores como Ática (Pasquale Cipro Neto) e Cunha & Cintra, Graciliano Ramos constrói frases curtas e evita adjetivações poéticas, transmitindo a secura não só do ambiente, mas também dos sentimentos das personagens. Essa abordagem corresponde exatamente ao ideal “áspero” proposto pelo poema.
Análise das alternativas incorretas:
A) Til, de José de Alencar: Aborda o sentimentalismo romântico, com linguagem envolvente e cativante—oposta ao texto “seco” e “difícil”.
B) O Cortiço, de Aluísio Azevedo: Traz análise social, mas com descrições vivas e linguagem fluida; não há a aridez estilística sugerida na questão.
C) O Ateneu, de Raul Pompeia: Prosa introspectiva, detalhista, quase memorialística – longe do ascetismo textual proposto no poema.
E) A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa: Apresenta riqueza e experimentação linguística, com neologismos e recursos poéticos, contrastando com a secura proposta.
Estratégias e dica para provas: Sempre identifique palavras-chave e os recursos estilísticos descritos—nos enunciados literários, conecte o conceito do texto ao estilo das obras propostas, evitando a tentação de associar apenas por tema ou período histórico.
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