A numerosa presença de pessoas vivendo na condição de agregados, referida
pelo narrador, na sociedade representada no romance, deve-se, de modo mais
geral,
Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as
cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou
convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam
semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada
havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados.
Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande
proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos
a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior
número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à
árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é
mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na
primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada
passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava
por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima
tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com
paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha,
castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares
negócios.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados.
Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto, com foco em contexto histórico-social, análise de elementos explícitos e implícitos, e relações de causa e efeito segundo a norma-padrão.
A questão exige analisar, a partir de um trecho literário, o motivo histórico-social da presença numerosa de agregados em domicílios durante o período da economia escravista no Brasil.
Justificativa para a alternativa correta (C):
“Ao caráter rarefeito do mercado de trabalho livre, na economia escravista.” O texto sinaliza que era comum haver “um, dois e às vezes mais agregados” por casa, muitos deles “refinados vadios”. Isso está diretamente ligado ao contexto de uma sociedade na qual o trabalho era, majoritariamente, realizado por escravizados, limitando as opções de subsistência para pessoas livres sem propriedade. Assim, tornavam-se agregados para sobreviver, já que o mercado de trabalho livre era escasso.
Segundo autores como Celso Cunha & Lindley Cintra (“Nova Gramática...”), a interpretação eficaz requer perceber informações implícitas e relações de causalidade internas ao texto.
Análise das alternativas incorretas:
- A) Assistencialismo do Estado: Não mencionado ou sugerido no texto, nem se encaixa no contexto da época abordada.
- B) Vadiagem dos descendentes de degredados: O texto não restringe a “vadiagem” a grupos étnicos específicos, apenas cita agregados vadios como um tipo, sem universalizar.
- D) Aversão ao trabalho braçal de mestiços/negros alforriados: O enunciado não trata de aversão específica nem de questões étnico-raciais nessa chave.
- E) Exemplo das elites rentistas: O texto foca na relação utilidade/inutilidade do agregado, mas não sugere que tal prática decorra da imitação do comportamento das elites.
Estratégias para concursos: Cuidado com alternativas que envolvem generalizações indevidas ou apresentam causas não abordadas explicitamente ou implicitamente pelo texto. Busque sempre identificar no enunciado indícios de relação de causa e efeito, além de palavras-chave que revelem o contexto social ou histórico.
Conforme Evanildo Bechara, a leitura atenta e a busca por relações explícitas ou sugeridas são indispensáveis para a correta interpretação no padrão de concursos.
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