Questõessobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando-se as operações de retomada de informações na estruturação do texto, há interdependência entre as expressões

    Os velhos papéis, quando não são consumidos pelo fogo, às vezes acordam de seu sono para contar notícias do passado.
    É assim que se descobre algo novo de um nome antigo, sobre o qual já se julgava saber tudo, como Machado de Assis.
   Por exemplo, você provavelmente não sabe que o autor carioca, morto em 1908, escreveu uma letra do hino nacional em 1867 — e não poderia saber mesmo, porque os versos seguiam inéditos. Até hoje.
    Essa letra acaba de ser descoberta, em um jornal antigo de Florianópolis, pelo pesquisador independente Felipe Rissato.
   “Das florestas em que habito/ Solto um canto varonil:/ Em honra e glória de Pedro/ O gigante do Brasil”, diz o começo do hino, composto de sete estrofes em redondilhas maiores, ou seja, versos de sete sílabas poéticas. O trecho também é o refrão da música.
    O Pedro mencionado é o imperador Dom Pedro II. O bruxo do Cosme Velho compôs a letra para o aniversário de 42 anos do monarca, em 2 de dezembro daquele ano — o hino seria apresentado naquele dia no teatro da cidade de Desterro, antigo nome de Florianópolis.

Disponível em: www.revistaprosaversoearte.com. Acesso em: 4 dez. 2018 (adaptado).
A
“Os velhos papéis” e “É assim”.
B
“algo novo” e "sobre o qual".
C
“um nome antigo” e “Por exemplo”.
D
“O gigante do Brasil” e “O Pedro mencionado”.
E
“o imperador Dom Pedro II” e “O bruxo do Cosme Velho”.
306c6373-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na reportagem sobre os 50 anos de Brasília, de Débora Chaves, com a reprodução fotográfica de cadeiras e poltronas de Sérgio Rodrigues, verifica-se que os elementos da estética brasiliense

RODRIGUES, S. Acervo pessoal. 


    A revolução estética brasiliense empurrou os designers de móveis dos anos 1950 e início dos 1960 para o novo. Induzidos a abandonar o gosto rebuscado pelo colonial, a trocar Ouro Preto por Brasília, eles criaram um mobiliário contemporâneo que ainda hoje vemos nas lojas e nas salas de espera de consultórios e escritórios. Colada no uso de madeiras nobres, como o jacarandá e a peroba, e em materiais de revestimento como o couro e a palhinha, desenvolveu-se uma tendência feita de linhas retas e curvas suaves, nos moldes da capital no Cerrado.

CHAVES, D.Disponível em: www.veja.abril.com.br. Acesso em: 29 jul. 2010.

A
aparecem definidos nas linhas retas dos objetos.
B
expressam o desenho rebuscado por meio das linhas.
C
mostram a expressão assimétrica das linhas curvas suaves.
D
apontam a unidade de matéria-prima utilizada em sua fabricação.
E

surgem na simplificação das informações visuais de cada composição.

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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A representação do discurso intimidador engendrada no fragmento é responsável por

– O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar num troço chamado autoridades constituídas? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada Exército Brasileiro, que o senhor tem de respeitar? Que negócio é esse? [...] Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: “dura lex”! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o General, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor. [...] Foi então que a mulher do vizinho do General interveio: – Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido? O delegado apenas olhou-a, espantado com o atrevimento. – Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não é gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso importunaram o General, ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos importunando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um Major do Exército, sobrinha de um Coronel, e filha de um General! Morou? Estarrecido, o delegado só teve força para engolir em seco e balbuciar humildemente: – Da ativa, minha senhora?.

SABINO, F. A mulher do vizinho. In: Os melhores contos. Rio de Janeiro: Record, 1986.
A
ironizar atitudes e ideias xenofóbicas.
B
conferir à narrativa um tom anedótico.
C
dissimular o ponto de vista do narrador.
D
acentuar a hostilidade das personagens.
E
exaltar relações de poder estereotipadas.
304dc8be-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nesse artigo de opinião, a apresentação da letra da canção Sinal fechado é uma estratégia argumentativa que visa sensibilizar o leitor porque

Devagar, devagarinho

    Desacelerar é preciso. Acelerar não é preciso. Afobados e voltados para o próprio umbigo, operamos, automatizados, falas robóticas e silêncios glaciais. Ilustra bem esse estado de espírito a música Sinal fechado (1969), de Paulinho da Viola. Trata-se da história de dois sujeitos que se encontram inesperadamente em um sinal de trânsito. A conversa entre ambos, porém, se deu rápida e rasteira. Logo, os personagens se despedem, com a promessa de se verem em outra oportunidade. Percebe-se um registro de comunicação vazia e superficial, cuja tônica foi o contato ligeiro e superficial construído pelos interlocutores: “Olá, como vai? / Eu vou indo, e você, tudo bem? / Tudo bem, eu vou indo correndo, / pegar meu lugar no futuro. E você? / Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono / tranquilo, quem sabe? / Quanto tempo… / Pois é, quanto tempo… / Me perdoe a pressa / é a alma dos nossos negócios… / Oh! Não tem de quê. / Eu também só ando a cem”.
    O culto à velocidade, no contexto apresentado, se coloca como fruto de um imediatismo processual que celebra o alcance dos fins sem dimensionar a qualidade dos meios necessários para atingir determinado propósito. Tal conjuntura favorece a lei do menor esforço — a comodidade — e prejudica a lei do maior esforço — a dignidade.
    Como modelo alternativo à cultura fast, temos o movimento slow life, cujo propósito, resumidamente, é conscientizar as pessoas de que a pressa é inimiga da perfeição e do prazer, buscando assim reeducar seus sentidos para desfrutar melhor os sabores da vida.

SILVA, M. F. L. Boletim UFMG, n. 1 749, set. 2011 (adaptado). 
A
adverte sobre os riscos que o ritmo acelerado da vida oferece.
B
exemplifica o fato criticado no texto com uma situação concreta.
C
contrapõe situações de aceleração e de serenidade na vida das pessoas.
D
questiona o clichê sobre a rapidez e a aceleração da vida moderna.
E
apresenta soluções para a cultura da correria que as pessoas vivenciam hoje.
30720199-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No texto, os argumentos apresentados permitem inferir que o objetivo do autor é convencer os leitores a

Reaprender a ler notícias

    Não dá mais para ler um jornal, revista ou assistir a um telejornal da mesma forma que fazíamos até o surgimento da rede mundial de computadores. O Observatório da Imprensa antecipou isso lá nos idos de 1996 quando cunhou o slogan “Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito”. De fato, hoje já não basta mais ler o que está escrito ou falado para estar bem informado. É preciso conhecer as entrelinhas e saber que não há objetividade e nem isenção absolutas, porque cada ser humano vê o mundo de uma forma diferente. Ter um pé atrás passou a ser a regra básica número um de quem passa os olhos por uma primeira página, capa de revista ou chamadas de um noticiário na TV.
    Há uma diferença importante entre desconfiar de tudo e procurar ver o maior número possível de lados de um mesmo fato, dado ou evento. Apenas desconfiar não resolve porque se trata de uma atitude passiva. É claro, tudo começa com a dúvida, mas a partir dela é necessário ser proativo, ou seja, investigar, estudar, procurar os elementos ocultos que sempre existem numa notícia. No começo é um esforço solitário que pode se tornar coletivo à medida que mais pessoas descobrem sua vulnerabilidade informativa.

Disponível em: www.observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em: 30 set. 2015 (adaptado).
A
buscarem fontes de informação comprometidas com a verdade.
B
privilegiarem notícias veiculadas em jornais de grande circulação.
C
adotarem uma postura crítica em relação às informações recebidas.
D
questionarem a prática jornalística anterior ao surgimento da internet.
E
valorizarem reportagens redigidas com imparcialidade diante dos fatos.
30906ab1-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Variação Linguística, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas

Falso moralista

Você condena o que a moçada anda fazendo
e não aceita o teatro de revista
arte moderna pra você não vale nada
e até vedete você diz não ser artista

Você se julga um tanto bom e até perfeito
Por qualquer coisa deita logo falação
Mas eu conheço bem o seu defeito
e não vou fazer segredo não

Você é visto toda sexta no Joá
e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar
Fim de semana você deixa a companheira
e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira

Segunda-feira chega na repartição
pede dispensa para ir ao oculista
e vai curar sua ressaca simplesmente
Você não passa de um falso moralista

NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979.
A
“falação” e “pros bailes”.
B
“você” e “teatro de revista”.
C
“perfeito” e “Carnaval”.
D
“bebe bem” e “oculista”.
E
“curar” e “falso moralista”.
30960e9d-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na construção do soneto, as cores representam um recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico

O pavão vermelho

Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.

Costa, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura, 2001.
A
revela a intenção de isolar-se em seu espaço.
B
simboliza a beleza e o esplendor da natureza.
C
experimenta a fusão de percepções sensoriais.
D
metaforiza a conquista de sua plena realização.
E
expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 18 jun. 2019 (adaptado). 


No texto, os recursos verbais e não verbais empregados têm por objetivo

A
divulgar informações científicas sobre o uso indiscriminado de aparelhos celulares.
B
influenciar o leitor a mudar atitudes e hábitos considerados prejudiciais às crianças.
C
relacionar o uso da tecnologia aos efeitos decorrentes da falta de exercícios físicos.
D
indicar medidas eficazes para desestimular a utilização de telefones pelo público infantil.
E
sugerir aos pais e responsáveis a substituição de dispositivos móveis por atividades lúdicas.
3051724e-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O texto atribui o enfraquecimento do mito da democracia racial no futebol à

    A história do futebol brasileiro contém, ao longo de um século, registros de episódios racistas. Eis o paradoxo: se, de um lado, a atividade futebolística era depreciada aos olhos da “boa sociedade” como profissão destinada aos pobres, negros e marginais, de outro, achava-se investida do poder de representar e projetar a nação em escala mundial. A Copa do Mundo no Brasil, em 1950, viria a se constituir, nesse sentido, em uma rara oportunidade. Contudo, na decisão contra o Uruguai sobreveio o inesperado revés. As crônicas esportivas elegiam o goleiro Barbosa e o defensor Bigode como bodes expiatórios, “descarregando nas costas” dos jogadores os “prejuízos” da derrota. Uma chibata moral, eis a sentença proferida no tribunal dos brancos. Nos anos 1970, por não atender às expectativas normativas suscitadas pelo estereótipo do “bom negro”, Paulo César Lima foi classificado como “jogador-problema”. Ele esboçava a revolta da chibata no futebol brasileiro. Enquanto Barbosa e Bigode, sem alternativa, suportaram o linchamento moral na derrota de 1950, Paulo César contra-atacava os que pretendiam condená-lo pelo insucesso de 1974. O jogador assumia as cores e as causas defendidas pela esquadra dos pretos em todas as esferas da vida social. “Sinto na pele esse racismo subjacente”, revelou à imprensa francesa: “Isto é, ninguém ousa pronunciar a palavra ‘racismo’. Mas posso garantir que ele existe, mesmo na Seleção Brasileira”. Sua ousadia consistiu em pronunciar a palavra interdita no espaço simbólico do discurso oficial para reafirmar o mito da democracia racial.

Disponível em: https://observatorioracialfutebol.com.br. Acesso em: 22 jun. 2019 (adaptado).
A
responsabilização de jogadores negros pela derrota na final da Copa de 1950.
B
projeção mundial da nação por um esporte antes destinado aos pobres.
C
depreciação de um esporte associado à marginalidade.
D
interdição da palavra “racismo” no contexto esportivo.
E
atitude contestadora de um “jogador-problema”.
305eb991-57
ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Pronomes pessoais retos, Variação Linguística, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Morfologia - Pronomes

No texto, constata-se que os usos de pronomes variaram ao longo do tempo e que atualmente têm empregos diversos pelas regiões do Brasil. Esse processo revela que

    Os linguistas têm notado a expansão do tratamento informal. “Tenho 78 anos e devia ser tratado por senhor, mas meus alunos mais jovens me tratam por você”, diz o professor Ataliba Castilho, aparentemente sem se incomodar com a informalidade, inconcebível em seus tempos de estudante. O você, porém, não reinará sozinho. O tu predomina em Porto Alegre e convive com o você no Rio de Janeiro e em Recife, enquanto você é o tratamento predominante em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador. O tu já era mais próximo e menos formal que você nas quase 500 cartas do acervo on-line de uma instituição universitária, quase todas de poetas, políticos e outras personalidades do final do século XIX e início do XX.

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 21 abr. 2015 (adaptado). 
A
a escolha de “você” ou de “tu” está condicionada à idade da pessoa que usa o pronome.
B
a possibilidade de se usar tanto “tu” quanto “você” caracteriza a diversidade da língua.
C
o pronome “tu” tem sido empregado em situações informais por todo o país.
D
a ocorrência simultânea de “tu” e de “você” evidencia a inexistência da distinção entre níveis de formalidade.
E

o emprego de “você” em documentos escritos demonstra que a língua tende a se manter inalterada.

3e7d59de-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a alternativa correta que aponta correspondência pertinente entre o recurso expressivo usado pelo poeta e o efeito produzido.

Leia o poema a seguir para responder à questão:


Índia Velha 


Índia Velha índia velha

se lembra do cheiro verde

na fonte limpa

onde se matava a sede

água boa de beber

índia velha

se lembra

do teu tempo de criança

tinha festa e tinha dança

pra chover.

índia velha

se lembra

do primeiro

do segundo

do terceiro branco

que chegou

se lembra?

se lembra

Quando tu andavas nua

olha a cor de teu vestido

encardido

quando andas pela rua.

se lembra!

se lembra de teus colares

teus amores a lua cheia

lençóis de flores na aldeia

se lembra?

índia velha

se lembra

dos pés pisando no mato

olha a cor de teu sapato

pisando asfalto e areia.

índia velha

se lembra

tantos brancos que

chegaram

tantos

que até perdestes as contas

e as contas de teus colares

hoje andas tonta nos bares

e é tão grande a dor que

sentes e que o amor de tua gente

foi junto ao rio

foi junto ao rio

por onde os brancos chegaram

se lembra?

se lembra?


(MARINHO, Emmanuel. Cantos de terra. Campo Grande: Letra Livre, 2016. A primeira edição foi publicada em 1981 [2]).

A
Sinestesia: antiguidade e simplicidade da cultura indígena.
B
Antíteses: confrontos entre brancos e índios.
C
Alternância no uso de pessoas gramaticais: simulação de diálogo entre locutores com hábitos linguísticos diferentes.
D
Falta de sinais de pontuação entre a maioria dos versos: rapidez da ocorrência dos fatos narrados.
E
Repetição do verso “foi junto ao rio” ao final do poema: insistência do interlocutor para fazer que a índia recupere a memória de fatos e cenas que vivenciou.
3e7a1237-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando as relações entre o texto e o processo histórico-social sobre o qual se pronuncia, assinale a alternativa correta.

Leia o poema a seguir para responder à questão:


Índia Velha 


Índia Velha índia velha

se lembra do cheiro verde

na fonte limpa

onde se matava a sede

água boa de beber

índia velha

se lembra

do teu tempo de criança

tinha festa e tinha dança

pra chover.

índia velha

se lembra

do primeiro

do segundo

do terceiro branco

que chegou

se lembra?

se lembra

Quando tu andavas nua

olha a cor de teu vestido

encardido

quando andas pela rua.

se lembra!

se lembra de teus colares

teus amores a lua cheia

lençóis de flores na aldeia

se lembra?

índia velha

se lembra

dos pés pisando no mato

olha a cor de teu sapato

pisando asfalto e areia.

índia velha

se lembra

tantos brancos que

chegaram

tantos

que até perdestes as contas

e as contas de teus colares

hoje andas tonta nos bares

e é tão grande a dor que

sentes e que o amor de tua gente

foi junto ao rio

foi junto ao rio

por onde os brancos chegaram

se lembra?

se lembra?


(MARINHO, Emmanuel. Cantos de terra. Campo Grande: Letra Livre, 2016. A primeira edição foi publicada em 1981 [2]).

A
No poema, evocam-se momentos distintos da história dos povos indígenas brasileiros, num jogo entre uma memória positiva de pertencimento a uma cultura e um presente de dolorosa aculturação à sociedade não indígena, além de aspectos e representações da realidade local.
B
A maioria dos versos reitera uma representação de caráter essencialmente local: a imagem do índio guarani-kaiowá que veio para a cidade grande em busca de uma nova identidade e sua luta por terras na região sul de Mato Grosso do Sul.
C
Na reiteração de “se lembra”, ora como afirmação, ora como exclamação, ora ainda como pergunta, o poeta insiste no processo de desidentificação sofrido pelo indígena sul-matogrossense, que escolheu trocar a aldeia pela cidade.
D
Ao trazer para o poema as imagens do vestido encardido, do sapato sujo e de asfalto e areia, o poeta afasta-se da questão indígena brasileira e cria uma tensão entre o cosmopolita e o universal.
E
Atravessado por um pensamento de natureza universal, o poema metaforiza a chegada dos portugueses, materializada na repetição do nome “branco”/”brancos”, pondo em destaque o significativo papel deste na miscigenação do povo brasileiro.
3e769a39-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Análise sintática, Sintaxe, Pontuação, Uso da Vírgula, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A questão refere ao seguinte fragmento de texto:


Em termos muito simples, podemos dizer que o amor é um horizonte de compreensão que tem em vista a real dimensão do outro, que não o inventa em uma projeção, que permanece aberto ao seu mistério. Se o amor é aberto ao outro, o ódio é fechado a ele. Tendemos a não querer ver o ódio que nos fecha porque ele nos diminui. “Não querer ver” é uma armadilha, pois todos somos afetados pelo ódio e contribuímos com a nossa parte para a sua persistência (TIBURI, Marcia. Odiar, verbo intransitivo. Revista Cult, n. 20, ano 18, p. 59, set. 2015. Fragmento).


A alternativa correta com relação à estrutura sintática e de significação dos enunciados é:


A
as três últimas orações do primeiro período são subordinadas à oração principal (“Em termos muito simples, podemos dizer”), funcionando como complementos do verbo “dizer”.
B
as três últimas orações do primeiro período são de valor restritivo e, entre elas, há relação de adição.
C
das três últimas orações do primeiro período, a primeira é de valor restritivo; as demais são explicativas, conforme se pode confirmar pela presença da vírgula que as antecede.
D
a oração “Se o amor é aberto ao outro” indica a condição para o fato expresso em “o ódio é fechado a ele”, enquanto em “porque ele nos diminui” temos a causa de “que nos fecha”.
E
as orações “porque ele nos diminui” e “pois todos somos afetados pelo ódio” indicam a causa dos processos expressos nas orações a que se vinculam nos respectivos períodos.
3e6c928d-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Funções da Linguagem: emotiva, apelativa, referencial, metalinguística, fática e poética., Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

“Quincas Borba”, considerada uma das grandes obras da fase áurea do escritor Machado de Assis, põe em cena a história de Rubião, um modesto professor de Barbacena, cidade no interior de Minas Gerais, que, ao receber uma herança inesperada do amigo Quincas Borba, resolve mudar para o Rio de Janeiro – na época, centro da vida política e econômica brasileira. Ali, encontra dificuldades para adaptar-se ao modo de ser dos que convivem com o poder, tornando-se uma vítima de aproveitadores que se fazem passar por amigos, caso, sobretudo, do casal Cristiano e Sofia Palha.
O capítulo transcrito a seguir é o último do livro. Nele se encontra uma espécie de síntese da narrativa, ao se elencarem personagens centrais da trama a partir da notícia da morte do cão Quincas Borba, cujo nome é o mesmo de seu primeiro dono, que foi herdado por Rubião.
“Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eia! chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, rite. É a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”
(MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. p. 344).

Apesar de Machado de Assis construir parte significativa de sua obra ainda em fins do século XIX, é possível já verificar, em seus textos, o emprego de recursos próprios da literatura moderna. A esse propósito, sobre o trecho em questão, pode-se afirmar que:

A
a projeção de um leitor hipotético no corpo do texto confere traços de indeterminação à narrativa, atualizando uma questão central do enredo, como se este continuasse em aberto.
B
o exercício de reflexão em torno da metalinguagem, convida o leitor a refletir sobre esse ponto.
C
ao tratar, inicialmente, da morte do cão, criatura querida dos personagens, em seus últimos momentos, de um modo repleto de ternura, o narrador chama atenção para a necessidade de humanização de alguns aspectos da vida em sociedade.
D
a identificação de reações contrárias por parte do leitor (chorar/rir), decorrentes de um mesmo acontecimento, aponta para a criação de uma imagem complexa do ser humano em meio às relações sociais.
E
a parte final do capítulo visa a funcionar como uma espécie de ensinamento moral, desdobrado de toda a história que o precedeu, a ser apreendido pelo leitor, em função do valor universal que acompanha esse desfecho.
3e66d169-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A poesia de Manuel Bandeira, marcada pela simplicidade no modo de dizer, alcança grau considerável de lirismo e de subjetividade ao tratar de cenas do cotidiano, como pode ser notado no exemplo que segue: 

Poema de Finados

Amanhã que é dia dos mortos 

Vai ao cemitério. Vai 

E procura entre as sepulturas

A sepultura de meu pai. 


Leva três rosas bem bonitas.

Ajoelha e reza uma oração.


Não pelo pai, mas pelo filho:

O filho tem mais precisão.


O que resta de mim na vida

É a amargura do que sofri.

Pois nada quero, nada espero.

E em verdade estou morto ali.


(BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. 20 ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993. p. 144-5).


Ao observar a relação entre o conteúdo do Poema de Finados e seus aspectos formais, pode-se afirmar que:  

A
a organização métrica irregular dos versos que o compõem encontra ressonância no estado de espírito que o sujeito lírico vivencia.
B
ao se apresentar como uma espécie de diálogo com seu leitor, o texto opta pelo registro em uma linguagem cuja característica predominante é a de sua informalidade.
C
a presença de vocábulos que se vinculam ao campo de sentidos evocado pelo título contribui para o efeito de unidade do texto.
D
a expectativa construída a respeito da memória do pai, após sua morte, permanece ao longo das três estrofes do poema.
E
a estrutura de diálogo na qual o texto se apresenta restringe suas escolhas verbais à primeira e à segunda pessoas.
3e5bdad1-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia atentamente o texto informativo a seguir.

Nosso símbolo

O nome já deixa evidente a origem indígena da bebida consumida diariamente por sulmato-grossenses de todos os cantos. O tereré só se tornou símbolo do Estado porque os índios guaranis aprenderam a domesticar a erva-mate.

Depois da Guerra do Paraguai, Tomás Laranjeira consegue a concessão de aproximadamente 8 milhões de hectares da região sul-fronteira para explorar a planta. Posteriormente, funda a Companhia Mate Laranjeira, que exporta grande volume para Argentina e para o Uruguai. O professor da UFMS Antônio Hilário Urquiza destaca que 70% da mão de obra utilizada nos ervais era guarani, que já tinham prática na lida.

“Os guaranis que domesticaram a erva-mate, que criaram o tereré, o chimarrão. Não qualquer índio. Foram os guaranis que estão aqui no nosso Estado. E hoje [o tereré] é um símbolo da juventude, da gastronomia, um símbolo identitário do nosso Estado. E é indígena”, reforça o professor e antropólogo. [...]

(Correio do Estado. Caderno especial “MS 41 anos”, 11 out. 2018).


A respeito dos sentidos construídos por esse texto, cujo objetivo maior é o de informar os leitores a respeito do tereré como elemento identitário de Mato Grosso do Sul, é possível afirmar que:

A
entre a expressão empregada no título (nosso símbolo) e a que se encontra em suas linhas iniciais (símbolo do estado), não se verifica nenhuma diferença no que se refere ao grau de subjetividade.
B
de acordo com suas informações, não fosse a contribuição de grupos indígenas diversos, o tereré não teria alcançado a importância que possui para Mato Grosso do Sul.
C
os índices numéricos expostos no segundo parágrafo não apresentam nenhuma informação adicional em relação aos dados expostos no trecho anterior.
D
a referência a um professor na área de estudos antropológicos constitui-se como uma estratégia para conferir maior credibilidade às informações apresentadas.
E
na transcrição da fala do professor, nota-se o seu esforço para caracterizar o tereré como um símbolo de alcance restrito no âmbito do estado sul-mato-grossense.
3e6fe537-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em A hora da estrela, de Clarice Lispector, acompanhamos a história de Macabeá, jovem nordestina que vive, no Rio de Janeiro, uma existência solitária e anônima, marcada por privações de todo o tipo. Nessa obra, a escrita clariceana alterna momentos em que se expressa de um modo direto, próprio para remeter à dureza da vida de sua personagem central, como outros em que emprega diversos recursos afeitos à linguagem poética, como no relato do encontro de Macabéa com Olímpico de Jesus.
“Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Sua exclamação talvez tivesse sido um prenúncio do que ia acontecer no final da tarde desse mesmo dia: no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado de sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso. O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiaba-com-queijo.”
(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 23 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 59).

A respeito do trecho acima, é correto afirmar que:

A
ao se referir à exclamação de Macabéa como um possível “prenúncio do que ia acontecer”, o narrador realça o traço de fatalidade que paira sobre as ações e a vida da personagem no desenrolar da história.
B
a suavidade que se depreende da frase inicial acaba por conferir a todo o parágrafo um sentido romântico, criando o ambiente necessário para o primeiro encontro entre Macabéa e Olímpico.
C
a comparação que associa o bater do coração a um pássaro, ao mesmo tempo, livre e preso aponta diretamente para a simplicidade do sentimento amoroso, o que marca as ações de Macabéa ao longo da narrativa.
D
a imagem “bichos da mesma espécie que se farejam”, remetendo à condição nordestina de Macabéa e Olímpico, revela um preconceito do narrador em torno da origem desses personagens.
E
ao atribuir a Macabéa um olhar sobre Olímpico como “sua goiaba-com-queijo”, o narrador indica uma de suas características marcantes ao longo da história, a de mulher apegada às coisas fúteis da vida.
3e5fa5f3-0b
UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Analise os elementos empregados na construção da letra da canção e assinale a alternativa correta. 

A Via Láctea 

Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz

Mas não me diga isso

Hoje a tristeza não é passageira

Hoje fiquei com febre a tarde inteira

E quando chegar a noite

Cada estrela parecerá uma lágrima

Queria ser como os outros

E rir das desgraças da vida

Ou fingir estar sempre bem

Ver a leveza das coisas com humor

Mas não me diga isso

É só hoje e isso passa

Só me deixe aqui quieto isso passa

Amanhã é um outro dia, não é?


Eu nem sei porque me sinto assim

Vem de repente um anjo triste perto de mim

E essa febre que não passa

E meu sorriso sem graça

Não me dê atenção

Mas obrigado por pensar em mim

Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz

Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido

Eu me sinto tão sozinho

Quando tudo está perdido

Não quero mais ser quem eu sou

Mas não me diga isso

Não me dê atenção

E obrigado por pensar em mim


(LEGIÃO URBANA. A tempestade ou O livro dos dias (álbum). Rio de Janeiro: EMI Music Ltda, 1996).

A
Nos versos iniciais, predomina uma relação de valor causal na articulação entre os seus enunciados, revelando a importância dos elementos mencionados para o sujeito da letra.
B
Nela, recorre-se à metáfora para explicitar o estado melancólico do sujeito, conforme se evidencia na associação construída entre os vocábulos “lágrima” e “estrela”.
C
O enunciado “Quando tudo está perdido”, repetido por seis vezes ao longo da letra da canção, remete ao estado de desesperança em que o sujeito se encontra.
D
As figuras “anjo triste” e “sorriso sem graça” destoam de outras que se verificam no texto, em razão de conferirem traços que alimentam a crença do sujeito na reversão do estado vivido.
E
A construção da letra da canção como um diálogo contribui para atenuar a sensação de melancolia a que o sujeito se vê exposto.
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UFMS 2018 - Português - Interpretação de Textos, Pronomes relativos, Pronomes pessoais retos, Pronomes possessivos, Pronomes pessoais oblíquos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Morfologia - Pronomes

A questão refere ao seguinte fragmento de texto:


Em termos muito simples, podemos dizer que o amor é um horizonte de compreensão que tem em vista a real dimensão do outro, que não o inventa em uma projeção, que permanece aberto ao seu mistério. Se o amor é aberto ao outro, o ódio é fechado a ele. Tendemos a não querer ver o ódio que nos fecha porque ele nos diminui. “Não querer ver” é uma armadilha, pois todos somos afetados pelo ódio e contribuímos com a nossa parte para a sua persistência (TIBURI, Marcia. Odiar, verbo intransitivo. Revista Cult, n. 20, ano 18, p. 59, set. 2015. Fragmento).


Assinale a alternativa correta sobre as relações de coesão estabelecidas no texto.

A
Em “Se o amor é aberto ao outro, o ódio é fechado a ele”, o pronome “ele” retoma “amor”.
B
O pronome “sua”, em “sua persistência”, refere-se ao leitor.
C
No primeiro período do texto, o pronome “o” e o pronome “seu” referem-se a “amor”.
D
O pronome relativo que introduz as três últimas orações do primeiro período (“que”, nas três) retoma, respectivamente, “horizonte de compreensão”, “outro” e “projeção”.
E
Nas três últimas orações do primeiro período, o pronome relativo “que” retoma “horizonte de compreensão”. Assim, o pronome “o” e o pronome “seu” referem-se a “outro”.
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UEA 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O aparecimento de elementos de linguagem poética, fantasiosa, no interior de um formato tipicamente jurídico reafirma

A
a estrutura racional do texto, que apela à rigidez da lógica para prescrever modos estritos de comportamento.
B
a ideologia política dominante no poder central brasileiro que, na época em que o poema foi publicado, defendia a imposição da autoridade sobre excessos da liberdade.
C
o teor libertário do texto, como crítica ao autoritarismo da situação histórica em que o poema foi publicado.
D
a necessidade de regulamentar as atividades culturais, a fim de que a arte não extrapole os limites da civilidade.
E
o apelo do poema a um tom regional, a fim de chamar a atenção do poder federal para uma questão amazônica.