Questõesde FGV 2016 sobre Português

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FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A numerosa presença de pessoas vivendo na condição de agregados, referida pelo narrador, na sociedade representada no romance, deve-se, de modo mais geral,

       Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados. 

      Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.  

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

A
ao desestímulo ao trabalho, induzido pelo assistencialismo do Estado em relação aos mais pobres.
B
à vadiagem característica dos descendentes de degredados portugueses vivendo no Brasil.
C
ao caráter rarefeito do mercado de trabalho livre, na economia escravista.
D
à aversão ao trabalho braçal, que caracterizava os mestiços e negros alforriados.
E
à disseminação do exemplo dado pelas elites locais, composta majoritariamente de rentistas ociosos.
29ea373b-1c
FGV 2016 - Português - Pronomes pessoais oblíquos, Morfologia - Pronomes

A única frase em que o emprego do pronome “lhe” está de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa é:

A
O réu entrou no tribunal, ciente de que o júri não lhe condenaria.
B
O jogador estava convicto de que os torcedores iriam absolver-lhe.
C
Os netos, ao saírem, gritaram: nós lhe amamos, vovó.
D
O atleta supôs que aquele treinamento poderia prejudicar-lhe.
E
O freguês foi logo dizendo ao vendedor: no momento, não posso pagar-lhe.
29ee20a5-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considere as seguintes afirmações referentes ao narrador do texto:

I Mostra-se, no excerto, desinteressado de interrogar-se quanto às causas da existência dos agregados.

II Quando critica o comportamento de certos agregados, pressupõe uma atitude de valorização do trabalho, que não era predominante nem, muito menos, efetiva, na sociedade de seu tempo.

III Avalia a condição social e o comportamento dos agregados a partir do ponto de vista deles próprios.

Está correto o que se afirma em

       Passaram-se assim algumas semanas: Leonardo, depois de acabadas todas as cerimônias, foi declarado agregado à casa de Tomás da Sé, e aí continuou convenientemente arranjado. Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas; no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada havia mais comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados. 

      Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.  

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

A
I, somente.
B
I e II, somente.
C
I e III, somente.  
D
II e III, somente.
E
I, II,e III.
29e713d9-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Variação Linguística

Contrastam, quanto à variedade linguística a que pertencem, as seguintes expressões do texto:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
“onda de incerteza”; “sobrecarga nas linhas”.
B
"circular na rede”; “ocupar espaço”.
C
“pegar carona”; “replicar qualquer informação”.
D
“informações falsas”; “terrorismo contemporâneo”.
E
“agentes de disseminação”; “narrativas pré-concebidas”.
29e3f07c-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Redação - Reescritura de texto

A frase “tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente” ganha em clareza e precisão se for assim reescrita:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
Tornando a pesquisa na internet móvel morosa e inexistente.
B
Transformando em vagaroso o acesso à internet inexistente.
C
Tornando lento ou impossível o acesso à internet móvel.
D
Tornando a busca pela internet móvel lenta e impossível.
E
Transformando a internet móvel num acesso lento e inexistente.
29e1289e-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Referem-se de forma crítica a um mesmo conceito desenvolvido no texto as expressões dispostas em gradação ascendente em:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
“impacto”; “desinformação”; “repercussão social”.
B
“massivamente”; “congestionamento”; “sobrecarga”.
C
“mensagem pré-fabricada”; “informações falsas”; “narrativas préconcebidas”.
D
“debate”; “síntese”; “antítese”.
E
“veículos”; “agentes de disseminação”; “fantoches”.
29de618f-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Considerados no contexto, os termos sublinhados nos trechos “com agendas políticas deletérias” e “mera ocupação de espaço” podem ser substituídos, sem prejuízo do sentido, por:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
lesivas; plena.
B
intencionais; trivial.
C
usurpadoras; efetiva.
D
perniciosas; simples.
E
dissimuladas; fortuita.
29db16ec-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Das expressões latinas abaixo, todas de largo uso na linguagem culta, a única que contribui para exprimir corretamente uma afirmação presente no texto ocorre na frase:

Na crise, viramos fantoches na rede

       Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.

     Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.

       A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.

      Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.

      O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.

Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado. 

A
O debate é uma condição sine qua non para que da tese e da antítese resulte uma síntese
B
O principal objetivo do terrorismo contemporâneo é manter o status quo por meio de mensagens falsas
C
As pessoas devem replicar, ipsis litteris, relatos pré-concebidos que circulam na rede.
D
Ao repercutir na internet fatos que causam grande comoção, os internautas devem checá-los a posteriori.
E
Recomenda-se seguir a intuição, ao divulgar informações pelas redes sociais ou, lato sensu, ao retuitá-las.
29d87544-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A visão crítica, marcadamente cética, dos diferentes sistemas de governo, que se pode subentender na tirinha, só NÃO está presente na seguinte citação:


A
A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que, numa democracia, se pode votar antes de obedecer às ordens.
B
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
C
A diferença entre democracia e comunismo é que, na democracia, o governo se proclama povo e, no comunismo, o povo se proclama governo.
D
Como verdadeiro democrata, nunca nego a ninguém o direito de concordar inteiramente comigo.
E
As democracias, embora respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.
29d5c58b-1c
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A variação do comportamento de Calvin, tal como representada na tirinha, poderia receber, na vida política, o nome de


A
peculato.
B
oportunismo.
C
entreguismo.
D
prevaricação.
E
alienação.
3693c92e-42
FGV 2016 - Português - Intertextualidade

                                     Nova canção do exílio

                                      Um sabiá

                                      na palmeira, longe.

                                     Estas aves cantam

                                     um outro canto.


                                     O céu cintila

                                     sobre flores úmidas.

                                     Vozes na mata,

                                     e o maior amor.


                                     Só, na noite,

                                     seria feliz:

                                     um sabiá,

                                     na palmeira, longe.


                                     Onde é tudo belo

                                     e fantástico,

                                     só, na noite,

                                     seria feliz.

                                     (Um sabiá,

                                     na palmeira, longe.)


                                     Ainda um grito de vida e

                                     voltar

                                     para onde é tudo belo

                                     e fantástico:

                                     a palmeira, o sabiá,

                                     o longe.

                                     

                                     Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo


0 sentido do poema depende, em boa medida, do reconhecimento de que, em sua composição, o autor se vale de uma relação intertextual com a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias. 0 que viabiliza a escolha do poema gonçalvino como referência intertextual é, em primeiro lugar, o fato de ele ser 

A
ainda pouco utilizado em paródias e textos assemelhados.
B
um dos textos mais amplamente conhecidos da literatura brasileira.
C
emblemático do patriotismo que o poema de Drummond tratava de satirizar.
D
objeto da aversão que as vanguardas modernistas nutriam pelos poetas românticos.
E
pouco respeitado pela crítica literária do tempo de Drummond.
36967e49-42
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos

 Nova canção do exílio

                                      Um sabiá

                                      na palmeira, longe.

                                     Estas aves cantam

                                     um outro canto.


                                     O céu cintila

                                     sobre flores úmidas.

                                     Vozes na mata,

                                     e o maior amor.


                                     Só, na noite,

                                     seria feliz:

                                     um sabiá,

                                     na palmeira, longe.


                                     Onde é tudo belo

                                     e fantástico,

                                     só, na noite,

                                     seria feliz.

                                     (Um sabiá,

                                     na palmeira, longe.)


                                     Ainda um grito de vida e

                                     voltar

                                     para onde é tudo belo

                                     e fantástico:

                                     a palmeira, o sabiá,

                                     o longe.


                                    Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo


Da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, o poema de Drummond conserva, sobretudo, 

A
a ausência de adjetivação.
B
o antilusitanismo.
C
o ufanismo nacionalista.
D
a regularidade métrica.
E
a idealização nostálgica.
368e7400-42
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos

      Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras. Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.

                                                                                             Aluísio Azevedo, O cortiço

A crítica literária costuma observar que, em O cortiço, considerado como um todo, ocorre uma espécie de ampla personificação, na medida em que, convertido em um único ente, o próprio cortiço figurado na obra seria sua personagem principal. Esse mesmo processo de personificação ocorre, em escala menor, no seguinte trecho do texto: 

A
“Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral (...).”
B
“Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo.”
C
“De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança.”
D
“E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem.”
E
“A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.”
36910350-42
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras. Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.

Aluísio Azevedo, O cortiço.

Para dar ideia, de maneira mais precisa, da agitação da cena descrita, o narrador se vale do uso reiterado de verbos que expressam ______________________ da ação e de adjetivos de significação ____________________.

As lacunas dessa frase podem ser corretamente preenchidas pelas palavras

A
simultaneidade; intensificada.
B
anterioridade; objetiva.
C
posterioridade; subjetiva.
D
intermitência; conotativa.
E
descontinuidade; denotativa.
3683f245-42
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos

       - A excelentíssima, declarou Seu Ribeiro, entende de escrituração.

      Seu Ribeiro morava aqui, trabalhava comigo, mas não gostava de mim. Creio que não gostava de ninguém. Tudo nele se voltava para o lugarejo que se transformou em cidade e que tinha, há meio século, bolandeira, terços, candeias de azeite e adivinhações em noites de São João. Com mais de setenta anos, andava a pé, de preferência pelas veredas. E só falava ao telefone constrangido. Odiava a época em que vivia, mas tirava-se de dificuldades empregando uns modos cerimoniosos e expressões que hoje não se usam. O reduzido calor que ainda guardava servia para aquecer aqueles livros grossos, de cantos e lombadas de couro. Escrevia neles com amor lançamentos complicados, e gastava quinze minutos para abrir um título, em letras grandes e curvas, um pouco trêmulas, as iniciais cheias de enfeites.

     - Entende muito, continuou. E embora eu não concorde integralmente com o método que preconiza, reconheço que poderá, querendo, encarregar-se da escrita.

        - Obrigada.

      - Não há de quê. A excelentíssima conhece a matéria e tem caligrafia. Eu sou uma ruína. Qualquer dia destes ...

                                                                                                     Graciliano Ramos, São Bernardo.


Considere as seguintes comparações:

A personagem seu Ribeiro, tal como aparece no texto, e a célebre personagem José Dias, de Dom Casmurro, de Machado de Assis,

I têm, ambas, a mania do superlativo, que empregam como modo de compensar imaginariamente a condição subalterna e a dificuldade para formar juízo autônomo;

II diferenciam-se, na medida em que seu Ribeiro é um empregado assalariado, ao passo que José Dias é um agregado e, como tal, inteiramente dependente do favor dos proprietários;

III valem-se igualmente da bajulação ou do elogio desprovido de fundamento real e de sinceridade, como meio de alcançar as boas graças dos proprietários.

Está correto o que se afirma em 

A
I, apenas.
B
II, apenas.
C
I e III, apenas.
D
II e III, apenas.
E
I, II e III.
36866db7-42
FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

       - A excelentíssima, declarou Seu Ribeiro, entende de escrituração.

      Seu Ribeiro morava aqui, trabalhava comigo, mas não gostava de mim. Creio que não gostava de ninguém. Tudo nele se voltava para o lugarejo que se transformou em cidade e que tinha, há meio século, bolandeira, terços, candeias de azeite e adivinhações em noites de São João. Com mais de setenta anos, andava a pé, de preferência pelas veredas. E só falava ao telefone constrangido. Odiava a época em que vivia, mas tirava-se de dificuldades empregando uns modos cerimoniosos e expressões que hoje não se usam. O reduzido calor que ainda guardava servia para aquecer aqueles livros grossos, de cantos e lombadas de couro. Escrevia neles com amor lançamentos complicados, e gastava quinze minutos para abrir um título, em letras grandes e curvas, um pouco trêmulas, as iniciais cheias de enfeites.

     - Entende muito, continuou. E embora eu não concorde integralmente com o método que preconiza, reconheço que poderá, querendo, encarregar-se da escrita.

        - Obrigada.

      - Não há de quê. A excelentíssima conhece a matéria e tem caligrafia. Eu sou uma ruína. Qualquer dia destes ...

                                                                                                     Graciliano Ramos, São Bernardo.


Dado que a narrativa presente no texto de São Bernardo é de tipo realista (no sentido de que tem como ponto de partida a figuração e a análise de realidades observáveis, da esfera do real), a modalidade narrativa que a ela se contrapõe mais frontalmente é a dominante em  

A
Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
B
Senhora, de José de Alencar.
C
Macunaíma, de Mário de Andrade.
D
Capitães da Areia, de Jorge Amado.
E
Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.
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FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

       - A excelentíssima, declarou Seu Ribeiro, entende de escrituração.

      Seu Ribeiro morava aqui, trabalhava comigo, mas não gostava de mim. Creio que não gostava de ninguém. Tudo nele se voltava para o lugarejo que se transformou em cidade e que tinha, há meio século, bolandeira, terços, candeias de azeite e adivinhações em noites de São João. Com mais de setenta anos, andava a pé, de preferência pelas veredas. E só falava ao telefone constrangido. Odiava a época em que vivia, mas tirava-se de dificuldades empregando uns modos cerimoniosos e expressões que hoje não se usam. O reduzido calor que ainda guardava servia para aquecer aqueles livros grossos, de cantos e lombadas de couro. Escrevia neles com amor lançamentos complicados, e gastava quinze minutos para abrir um título, em letras grandes e curvas, um pouco trêmulas, as iniciais cheias de enfeites.

     - Entende muito, continuou. E embora eu não concorde integralmente com o método que preconiza, reconheço que poderá, querendo, encarregar-se da escrita.

        - Obrigada.

      - Não há de quê. A excelentíssima conhece a matéria e tem caligrafia. Eu sou uma ruína. Qualquer dia destes ...

                                                                                                     Graciliano Ramos, São Bernardo.


Na frase “E embora eu não concorde integralmente com o método que preconiza”, os termos sublinhados podem ser substituídos, sem alteração de sentido, por: 

A
plenamente; apregoa.
B
restritamente; pratica.
C
literalmente; prevê.
D
totalmente; exercita.
E
objetivamente; defende.
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FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos

      Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras. Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.

                                                                                             Aluísio Azevedo, O cortiço

Bastante notável no texto, a grande quantidade de anotações oriundas da percepção dos sentidos (no caso, sobretudo o da audição), constitui 

A
resquício romântico, de ocorrência frequente nas obras de Aluísio Azevedo.
B
testemunho da influência da música na literatura do séc. XIX.
C
antecipação da estética do Modernismo.
D
marca de seu pertencimento ao Naturalismo literário.
E
vestígio do período parnasiano do autor.
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FGV 2016 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

       Por que o senhor não escreve coisas poéticas, soltas, gostosas? As crônicas, antigamente, nos deixavam mais leves, de bem com a vida e o mundo. Agora, tudo o que a gente lê nos leva para baixo. Está difícil de suportar. Escrevo na manhã de um domingo. Sete horas. Aquele sol que nos tem castigado, começava a dar sinais de ardência profunda. Olhei pela porta de vidro do terraço e descobri, maravilhado e feliz, que a pitangueira plantada em vaso, que chegou há dois anos, estava repleta de frutos vermelhos, reluzentes, envernizados. Os primeiros. Fiquei admirado. Os pássaros não tinham descoberto? Aquelas frutinhas tinham se salvado? Chupei uma, duas três, queria todas, mas precisava guardar para a família, afinal, eram as primeiras. Pitanga, coisa de infância, do interior. Uma das frutas mais sofisticadas do Brasil, a meu ver. Antigamente, quando viajávamos pela Varig, ao sair do Recife, recebíamos um copo de suco fresco de pitanga, perfumado. Dia desses, Maria Eduarda, amiga pernambucana, me disse: “Você está chegando aqui, sabemos que gosta de vinhos. Que vinho prefere?”. E eu: “Nenhum! Quero suco de pitanga”. Maria Eduarda: “Pois vai tomar das pitangas do pomar de meu pai, Cornélio”. Foi uma celebração!

      Esta é a pitada de poesia que encontrei neste momento. Mas ficaram em minha mente essas perguntas cotidianas que todos estão fazendo. Ouço no dia a dia, pela manhã ao comprar o pão e o leite, no supermercado, no bar, numa escola, na livraria, ao entrar no cinema. Ouvi agora, ao percorrer cinco cidades do litoral (...). Jovens e mais velhos, acreditando que o escritor tem as respostas, me olhavam: “O senhor acha que a gente sai dessa?”. Só consegui dizer: “Não sei e acho que ninguém sabe”.

                                                     Ignácio de Loyola Brandão, O Estado de S. Paulo, 02/10/2015. 



O trecho em que se pode apontar a elipse de um substantivo anteriormente mencionado é: 

A
“Escrevo na manhã de um domingo”.
B
“Aquelas frutinhas tinham se salvado”.
C
“recebíamos um copo de suco fresco de pitanga, perfumado”.
D
“sabemos que gosta de vinhos”.
E
“Pois vai tomar das pitangas do pomar de meu pai”.
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FGV 2016 - Português - Pronomes relativos, Termos essenciais da oração: Sujeito e Predicado, Sintaxe, Morfologia - Pronomes

       Por que o senhor não escreve coisas poéticas, soltas, gostosas? As crônicas, antigamente, nos deixavam mais leves, de bem com a vida e o mundo. Agora, tudo o que a gente lê nos leva para baixo. Está difícil de suportar. Escrevo na manhã de um domingo. Sete horas. Aquele sol que nos tem castigado, começava a dar sinais de ardência profunda. Olhei pela porta de vidro do terraço e descobri, maravilhado e feliz, que a pitangueira plantada em vaso, que chegou há dois anos, estava repleta de frutos vermelhos, reluzentes, envernizados. Os primeiros. Fiquei admirado. Os pássaros não tinham descoberto? Aquelas frutinhas tinham se salvado? Chupei uma, duas três, queria todas, mas precisava guardar para a família, afinal, eram as primeiras. Pitanga, coisa de infância, do interior. Uma das frutas mais sofisticadas do Brasil, a meu ver. Antigamente, quando viajávamos pela Varig, ao sair do Recife, recebíamos um copo de suco fresco de pitanga, perfumado. Dia desses, Maria Eduarda, amiga pernambucana, me disse: “Você está chegando aqui, sabemos que gosta de vinhos. Que vinho prefere?”. E eu: “Nenhum! Quero suco de pitanga”. Maria Eduarda: “Pois vai tomar das pitangas do pomar de meu pai, Cornélio”. Foi uma celebração!

      Esta é a pitada de poesia que encontrei neste momento. Mas ficaram em minha mente essas perguntas cotidianas que todos estão fazendo. Ouço no dia a dia, pela manhã ao comprar o pão e o leite, no supermercado, no bar, numa escola, na livraria, ao entrar no cinema. Ouvi agora, ao percorrer cinco cidades do litoral (...). Jovens e mais velhos, acreditando que o escritor tem as respostas, me olhavam: “O senhor acha que a gente sai dessa?”. Só consegui dizer: “Não sei e acho que ninguém sabe”.

                                                     Ignácio de Loyola Brandão, O Estado de S. Paulo, 02/10/2015. 



Na frase “Aquele sol que nos tem castigado”, o pronome “que” exerce função de sujeito, da mesma forma que em: 

A
“Agora, tudo o que a gente lê”
B
“descobri (...) que a pitangueira plantada em vaso”.
C
que chegou há dois anos”.
D
“sabemos que gosta de vinhos”.
E
Que vinho prefere?”.