Questõesde CÁSPER LÍBERO sobre Modernismo: Tendências contemporâneas

1
1
1
Foram encontradas 29 questões
fe581fad-e7
CÁSPER LÍBERO 2014 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Toda poesia, de Paulo Leminski:

A
“O poeta, como se fosse parnasiano até os limites do delírio, substituiu a realidade social pela realidade imaginária da arte pura, desprezando a multidão e fazendo da poesia uma arma da reação, um narcótico dos intelectuais”. (Otto Maria Carpeaux).
B
“Mas a sensualidade exaltada (na linguagem) e reprimida, que se manifesta na lírica pelo acirramento e pela conciliação dos contrários, explode na poesia erótica, ou erótico-irônica, de outro modo”. (José Miguel Wisnik).
C
“É então que o poeta desgarrado e erradio, abandonado à própria sorte num mundo hostil, reencontra as imagens caras da infância, os cheiros, as cores, as ruas, os quintais de sua cidade natal: a cidade imaginária, fruto do desejo e do trabalho, que o homem carrega intacta na memória frente à catástrofe”. (Davi Arrigucci Jr.)
D
“Sua trajetória trouxe à luz as fraturas de toda vanguarda pós-68. O poeta tentou criar não só uma escrita, mas uma antropologia poética pela qual a aposta no acaso e nas técnicas ultramodernas de comunicação não inibisse o apelo a uma utopia comunitária”. (Alfredo Bosi).
E
“Entre o tema lamentoso (que pode fazer de uma canção do exílio uma canção sobre o exílio, isto é, conformista e perpetuadora da distância) e a altiva ‘ausência’ de tema (que só pode se reduzir ao tema-linguagem), o poeta prefere optar pela consciência presente e crítica do passado”. (Alcides Villaça).
fe54adb3-e7
CÁSPER LÍBERO 2014 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre Tropicália, de Marcelo Machado, é correto afirmar que:

A
O Tropicalismo constituiu uma manifestação cultural coesa e articulada em torno de ideais políticos que procuravam combater a ditadura militar instalada no Brasil em 1964.
B
O movimento tropicalista estendeu-se para além da promulgação do AI-5, em 1968, sendo levado para a Inglaterra com bastante êxito por Caetano Veloso e Gilberto Gil, que se exilaram naquele país.
C
Os tropicalistas retomaram alguns pilares da vanguarda concretista da década de 1950, sobretudo o aspecto visual dos poemas – o que os levou a serem anunciados como criadores neoconcretistas.
D
Para além da música, o Tropicalismo compreendeu criações em diversas áreas artísticas, como o teatro do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE), as instalações do artista plástico Hélio Oiticica e o cinema de Glauber Rocha e de Rogério Sganzerla, por exemplo.
E
Para os tropicalistas, a cultura brasileira era produto de uma mistura – a chamada “geleia geral” –, que não poderia ser resolvida na base de uma síntese coerente e definitiva. Assim, conviviam nas criações tropicalistas a música internacional e as raízes brasileiras, a vanguarda e o kitsch, o acústico e o elétrico.
fe5be75f-e7
CÁSPER LÍBERO 2014 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Os três poemas de Paulo Leminski reproduzidos acima apresentam um forte conteúdo:

Poema 1

o bicho alfabeto

tem vinte e três patas

ou quase


por onde ele passa

nascem palavras

e frases


com frases

se fazem asas

palavras

o vento leve


o bicho alfabeto

passa

fica o que não se escreve


Poema 2

operação de vista

De uma noite, vim.

Para uma noite, vamos,

uma rosa de Guimarães

nos ramos de Graciliano.


Finnegans Wake à direita

un coup de dés à esquerda

que coisa pode ser feita

que não seja pura perda?


Poema 3

Um bom poema

leva anos cinco jogando bola,

mais cinco estudando sânscrito,

seis carregando pedra,

nove namorando a vizinha,

sete levando porrada,

quatro andando sozinho,

três mudando de cidade,

dez trocando de assunto,

uma eternidade, eu e você,

caminhando junto

A
Metafísico.
B
Sinestésico.
C
Metalinguístico.
D
Paradoxal.
E
Metonímico.
b52a30e4-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Teoria Literária, Escolas Literárias

Ao invocar "Ggum, o Prometeu africano'', a dedicatória de Mayombe, de Pepetela:

A
denuncia os ódios tribais.
B
reforça os valores ocidentais.
C
busca recuperar os antigos mitos gregos.
D
identifica as raízes identitárías do povo português.
E
conclama os guerrilheiros à luta.
b5226f63-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que a narrativa trata:

A
do relato de um guerrilheiro que, seguindo seu grande amigo como uma espécie de sombra, testemunha de modo onisciente todos os eventos dos quais o companheiro participa.
B
da história da rainha da Lunda, Lueji, que viveu há quatrocentos anos, e da história de Lu, sua descendente.
C
do processo de amadurecimento de um jovem guerrilheiro durante sua participação num conjunto de ações armadas.
D
da geração de estudantes angolanos que, na década de 1960, urdiram as bases para a luta contra o colonialismo.
E
de uma relação amorosa que expõe o jogo do poder e as alianças políticas marcadas pela corrupção e pelo favoritismo.
b52666a4-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

A modernidade de Mayombe, de Pepetela, reside:

A
na aprendizagem existencial do protagonista, que reflete sobre o ritual da arte.
B
no foco narrativo plural formado pelo depoimento de nove narradores que tecem um painel multífacetado da guerra colonial
C
na alegoria central da obra, que denuncia figuradamente os atos autoritários do colonialismo português.
D
na paródia que se faz à historiografia oficial portuguesa.
E
na alternância entre as pessoas do discurso, uma vez que o romance é narrado ora em P pessoa, ora em pessoa.
f9c5abdb-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que:

A
O romance trata dos velhos fantasmas coloniais que se perpetuaram com a independência de Angola e que sacudiram a frágil sustentação da utopia que mediara o empenho, fundindo ética e estética no projeto literário do continente africano.
B
Em Mayombe o clima de diálogo predomina, mas as conversas são atravessadas pelos sinais da incomunicabilidade. A incompreensão, a rivalidade, as intrigas manifestas ou tão somente sugeridas fazem prever a irrealização dos propósitos que teriam levado à luta.
C
Palco de situações expressivas da atmosfera predominante naquele momento histórico, a floresta labiríntica e traiçoeira funciona estrategicamente como uma alegoria do projeto de nação imaginado e perseguido pelos militantes.
D
A língua em estilhaços, o ritmo desgovernado da memória, o entrecruzamento de referências culturais, o aproveitamento possível de elementos identificados com a tradição integram a estratégia do autor na escolha da floresta como espaço privilegiado do romance.
E
Politizado, o Mayombe é lugar de conflito e contradição, podendo ser visto como uma representação de Luanda, a capital do país, onde a luta ia ganhando força e onde, em novembro de 1975, se proclama a independência do país.
f9c246c9-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre o foco narrativo de Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que:

A
Assumido por vários narradores, cujas falas são organizadas por uma espécie de narrador titular, o fio narrativo do romance é dividido e comungado pelos elementos que vivem as ações do enredo.
B
A divisão do fio narrativo no romance, onde tudo convida à comunhão, constitui uma necessária operação de fragmentação, disposta a marcar os dois lados antagônicos em questão: o dos angolanos e o dos portugueses.
C
A marca do foco narrativo é a da democratização da voz, articulada ao peso dos monólogos nos quais cada narrador está mergulhado e dos quais nunca consegue sair sem se transformar radicalmente.
D
A fragmentação narrativa do romance é um sinal de que a autoridade, de que a palavra é manifestação, não pode ser compartilhada e sim exercida de maneira unívoca.
E
O foco narrativo, que privilegia a constante interação dialógica entre os personagens, configura-se em um universo à parte, independente do espaço onde se dão as ações do romance.
fe8fda50-ef
CÁSPER LÍBERO 2017 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre a divisão do foco narrativo em Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que ela

A
funciona como resposta da literatura angolana ao avanço do capitalismo em sua sociedade, cujo espírito promove o choque entre os planos sociais, culturais e ideológicos, ao quebrar o isolamento desses mundos e fixar a separação entre capital e trabalho.
B
conjuga elementos da modernidade e da tradição, recuperando desta última os aspectos culturais fundamentais, ao mesmo tempo em que põe em questão as heranças negativas ainda presentes na sociedade angolana.
C
descreve os acontecimentos e as alianças que iluminam um Estado movido pelos interesses das classes dominantes e que a favor dela aciona seus aparelhos, quer ideológicos, quer repressivos.
D
articula-se à feição multidimensional das personagens para expressar a tensão interna do romance, expondo as contradições que nem mesmo a nobre motivação coletiva poderia diluir.
E
constitui um exercício cinematográfico, com cortes incríveis pelos quais se dá a mudança de planos, sempre a partir de uma ideia que os costure cineticamente.
fe81bdbb-ef
CÁSPER LÍBERO 2017 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Ao final de Mayombe, de Pepetela, o narrador titular apresenta-se e ficamos sabendo que se trata de(o)

A
Mundo Novo.
B
Chefe de Operações.
C
Comissário Político.
D
Muatiânvua.
E
Comandante Sem Medo.
cf9716a9-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Leite derramado, de Chico Buarque:

A
“Toda a narração lembra uma câmera que narra, que vai flagrando nacos da vida nacional, como a história de Castana Beatriz, que teria morrido numa emboscada durante um período de repressão, e a história de Alyandro Sgaratti, menino pobre, que roubava pão doce na padaria, que, depois, passa a puxar automóveis e se torna o rei do mercado de peças de carros.” (Heitor Ferraz Mello).
B
“Na obra os tempos encontram-se também tensionados, o presente derruído em oposição ao passado faustoso. E é dessa oposição que ressai uma dimensão importante no livro e sem precedentes, ao menos com essa insistência e intensidade, na obra literária de Chico Buarque (…). Leite derramado é o tempo perdido e irrecuperável da vida do narrador.” (Francisco Bosco).
C
“A alguns dos textos dos últimos anos que trabalham com uma lógica coral talvez se pudesse associar a expressão ‘objetos verbais não identificados’, empregada por Christophe Hanna ao tratar dos processos, dos contextos e do funcionamento crítico de certos experimentos literários de difícil classificação.” (Flora Süssekind).
D
“Um escritor profundamente marcado pela experiência como cronista, atividade em que a interlocução é fundamental; mas que ao longo da vida se tornou cada vez mais consciente da distância que havia entre ele e seus leitores. Daí a falta e a precariedade da comunicação se tornarem assuntos que tanto o fascinaram, manifestando-se também na tensão crescente e estrutural da sua relação com o leitor ficcional.” (Hélio de Seixas Guimarães).
E
“O outro local importante de ‘Leite derramado’ é o velho sítio da família. Com espaço da infância, da gente simples e da natureza, parecia um refúgio, o remédio para os desajustamentos do narrador. Ao chegar lá, entretanto, este encontra um povo – crianças inclusive – organizado e escravizado para a contravenção, siderado por videogames, motocicletas, blusões e tintura para cabelos, além de preparado para negociar com as autoridades.” (Roberto Schwarz).
cf93e1d6-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta um conteúdo incoerente com Leite derramado, de Chico Buarque:

A
Narrado em primeira pessoa, combinando alta densidade narrativa com um senso de humor muito particular, o livro é a história de um homem exaurido por seu próprio talento, que se vê emparedado entre duas cidades, duas mulheres, dois filhos e uma série de outros pares simétricos que conferem ao texto o caráter de espelhamento que permeia todo o romance.
B
A fala desarticulada do ancião cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso do personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
C
Em suas leves variantes, as lembranças obsessivas revelam sutilezas ideológicas e psíquicas. E, como essas lembranças têm forte componente plástico, criam imagens fascinantes. É o caso do “vestido azul” comprado pelo pai para a amante, objeto de alta concentração de significados.
D
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, sobrepõem-se e revezam-se. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva.
E
Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual.
cf8b4435-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre as características da literatura africana, presentes em O fio das missangas, de Mia Couto, é correto afirmar:

A
A literatura moçambicana buscou meios de conseguir conviver com os conflitos póscoloniais, explorando narrativas orais de padrão culto, diluindo as marcas culturais híbridas dentro de uma mesma cultura e criando pontos de contato entre a língua europeia trazida pelos colonizadores e as línguas locais.
B
A literatura de Mia Couto irá refletir de modo direto a situação cultural de seu país. O fio das missangas tematiza o universo intelectual de Moçambique, atentando para questões concernentes à construção das identidades literárias cujas referências foram dilaceradas e desvalorizadas pela colonização europeia.
C
O principal problema da literatura pós-colonial moçambicana relaciona-se ao fato de ela fazer interagir uma tradição cultural africana (fortemente enraizada na oralidade) com outra, europeia, resguardada pela autoridade da escrita.
D
A literatura pós-colonial, embora profundamente crítica, não consegue retratar as marcas profundas da exclusão e da dicotomia cultural durante o domínio imperial, as transformações operadas pelo domínio cultural europeu e os conflitos decorrentes.
E
Os escritores moçambicanos passaram a incorporar as estratégias colonialistas existentes na literatura, recusando os mecanismos de subversão experimentados pela imaginação poética, preferindo, em contrapartida, abordar questões relacionadas à tradição da literatura europeia.
cf908a97-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre O fio das missangas, de Mia Couto, é correto afirmar:

A
Predomina um tom épico que dá conta da relação entre o indivíduo, a família, o grupo e a terra como uma inspiração vizinha da lenda popular (da criação do mundo), configurando a votação do(s) herói(s) ao sacrifício e uma espécie de redenção final operada pela ação dos tempos na terra, isto é, pela ação do trabalho presente sobre o futuro.
B
São histórias colhidas no turbilhão de um cotidiano extremamente complexo, não raras vezes violento – física ou psicologicamente; histórias que vão sendo adensadas e condensadas pela leveza da linguagem de uma prosa poética, marca estilística do seu autor; histórias “arredondadas” (diferentes no tom, mas não tão diferentes na forma) que, juntas, dão conta de silêncios e recompõem silêncios – de mulheres, de homens e de toda sorte daqueles à margem (o mendigo, a criança, o velho, o poeta).
C
Trata-se de um livro polifônico que, ao mergulhar no universo simbólico da figura dos desterrados ou marginalizados em sua própria terra, firma-se como um feixe de histórias cuja relação esquizofrênica entre sujeito e espaço se dá na linha principal da viagem empreendida rumo a uma “Moçambique profunda”.
D
No contexto do qual emergem as histórias, nota-se a tentativa muito bem-sucedida do narrador de amenizar o conflito entre os laivos da tradição moçambicana e o vento avassalador do modus vivendi ocidental, que por anos transformou o território africano em uma espécie de tabuleiro de xadrez.
E
As histórias tratam dos problemas sociais de Moçambique sob a metáfora de um colar de missangas que une todos os personagens. Os narradores, por sua vez, exploram a relação sujeito-espaço e logo a coletânea figura como um retrato realista do espaço físico de um país caleidoscópico, uma espacialidade eufórica, que reitera o frenesi da recente libertação conquistada com o fim do colonialismo português.
3c32a054-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

A personagem-narradora de O cesto, que integra O fio das missangas, de Mia Couto, era desprezada pelo marido. Assinale a opção em que a passagem do texto NÃO caracteriza o estado de submissão e passividade vivido por ela:

A
“Hoje será como todos os dias: lhe falarei, junto ao leito, mas ele não me escutará. Não será essa a diferença. Ele nunca me escutou.”
B
“Onde vivo não é na sombra. É por detrás do sol, onde toda a luz há muito se pôs.”
C
“Agora, pelo menos, já não sou mais corrigida. Já não recebo enxovalho, ordem de calar, de abafar o riso.”
D
“Amanhã, tenho que me lembrar para não preparar o cesto da visita.”
E
“Como a pedra, que não tem espera nem é esperada, fiquei sem idade.”
3c2ebe80-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção cujo conteúdo é incoerente com O fio das missangas, de Mia Couto:

A
Embora sejam breves, os contos – cada qual composto como uma missanga – exploram densamente um conjunto de paixões humanas das mais universais: amores desfeitos, traições, vinganças, suicídios, loucura, incesto...
B
Algumas narrativas são marcadas por certa atmosfera de realismo fantástico, que remete às lendas populares de Moçambique. Em “Peixe para Eulália”, por exemplo, há barcos que remam no ar e olhos que saltam de suas órbitas.
C
Neologismos como “vizinho anoitrevido” e “saia almarrotada” revelam, para além da mera experimentação formalista, caminhos entre a oralidade do sudoeste pobre da África e a liberdade poética.
D
A presença de metáforas sobre o ato de narrar aparece não somente em “A infinita fiandeira” (em que uma aranha tece teias “inúteis”, não para enredar presas, mas por pura arte) como também em “O menino que escrevia versos”, em que um garoto é levado ao médico por gostar bastante de escrever – atividade considerada muito estranha.
E
A maioria dos contos explora com fina sensibilidade o universo infantil, dando voz e tessitura à alma de crianças condenadas à não-existência, ao esquecimento. Como objetos descartados, meninos e meninas são aqui equiparados ora a uma saia velha, ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas.
3c27501e-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção cujo conteúdo é incoerente com o romance Leite derramado, de Chico Buarque:

A
O narrador é um homem de cem anos, internado à força num hospital infecto. Entre gritos, vizinhos de leito entubados e baratas andando nas paredes, ele recorda – a 80 anos de distância – o breve casamento em que foi feliz e traído (em sua opinião). De tempos em tempos a boa lembrança ainda é capaz de transformá-lo no “maior homem do mundo”.
B
Quanto mais rememora, mais Eulálio se afunda em repetições: “São tantas as minhas lembranças, e lembranças de lembranças de lembranças, que já não sei em qual camada da memória eu estava agora”. Nas páginas finais, ainda um menino de calças curtas, ele é levado pela mãe para se despedir do tetravô, que agoniza em um hospital. Um homem de rosto pastoso e memória degradada, que pode ser ele mesmo.
C
O núcleo romanesco da intriga – seu elemento de sensação – é o desaparecimento inexplicável de Matilde. Depois de se perguntar se ela se foi com o engenheiro francês, fugiu aos ciúmes do marido, caiu na vida ou pegou uma doença e quis morrer fora da vista dos seus, o narrador revela que ela morreu num acidente de carro, acompanhada de um homem. Assim, essa explicação é adotada pelo próprio marido, pela sogra, pela mãe adotiva, pela filha, pelas colegas desta, pelo pároco da Candelária e pela voz anônima da cidade.
D
A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo em que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor explora as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
E
A narrativa do centenário Eulálio vem borrada pelas deformações próprias da memória. E também pelos estragos que os sonhos nela produzem. “Dia desses fui buscar meus pais no parque dos brinquedos, porque no sonho eles eram meus filhos”, vacila. Do mesmo modo, a literatura não passa de um tapete estendido sobre um alçapão. Rombos, remendos, rasgões expõem uma verdade que se esfarela.
29c82553-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

“Na madrugada de uma sexta-feira encontrou Cid Tanus, um cortejador das últimas polacas e francesas que ainda moravam na cidade decadente (...)”. A decadência de Manaus descrita por Milton Hatoum em Dois irmãos resulta da produção de borracha na região amazônica. Assinale a opção que enuncia fatos relacionados ao auge do primeiro Ciclo da Borracha no Brasil.

A
A urbanização de Manaus e Belém; a imigração europeia a partir de 1880; a construção do Theatro da Paz, em Belém.
B
A indústria automobilística internacional; o movimento migratório de trabalhadores nordestinos a partir de 1877; a construção do Teatro Amazonas.
C
A invenção da vulcanização da borracha, por Charles Goodyear; o modelo agroexportador; a construção da rodovia Transamazônica.
D
A invenção da seringa; a imigração árabe e asiática a partir de 1900; a construção da Cidade Flutuante.
E
A indústria automobilística brasileira; o modo de produção conhecido como plantation; a inauguração da Universidade Federal do Amazonas.
29ba5757-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre o excerto de Dois irmãos, de Milton Hatoum, apresentado a seguir, é correto afirmar que:


“Omissões, lacunas, esquecimento. O desejo de esquecer. Mas eu me lembro, sempre tive sede de lembrança, de um passado desconhecido, jogado sei lá em que praia de rio”. 

A
Situado entre o Oriente e o Amazonas, o relato é a busca de um mundo perdido, que se reconstrói nas falas alternadas, longínquos ecos da tradição oral dos narradores orientais.
B
A narrativa exerce fascínio especial por explorar uma prova evocativa, traçada com raro senso plástico e pendor filosófico: viagem encantada por meandros de frases longas e herméticas, num ritmo de recorrências e revelações.
C
O narrador deixa-se contaminar pela visão de “um paraíso terrestre” encarnado na simplicidade bucólica, tentando uma adaptação, que se sabe desde o início frustrada, na grande cidade.
D
Um dos temas do romance é a passagem do tempo. Vasculhando os restos de outras histórias, o narrador tenta reconstituir os estilhaços do passado, ora como testemunha, ora como quem ouviu e guardou, mudo, as histórias dos outros.
E
É através da sua infância – coisa real, palpada, sentida – que o narrador sente a força de qualquer infância, e inventa-a, e descobre-a; e reinventa-a, e redescobre-a. É através da paisagem que o circunda que ele apreende a beleza da terra em que os homens avançam, amam, morrem.
29bef6ad-ec
CÁSPER LÍBERO 2011 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre o excerto de Dois irmãos, de Milton Hatoum, apresentado a seguir, é correto afirmar que:


“Manaus cresceu assim: no tumulto de quem chega primeiro. Desse tumulto participava Halim, que vendia coisas antes de qualquer um”.

A
A narrativa trata de fatos vividos em um plano doméstico, sem se esquecer de articulá-los, de tempos em tempos, a um pano de fundo histórico, que dá conta do crescimento da região norte do País, na segunda metade do século XX.
B
A narrativa trata de fatos vividos em um plano doméstico, sem se esquecer de articulá-los, de tempos em tempos, a um pano de fundo social, procurando investigar as causas da pobreza que atinge até hoje o norte do País.
C
A narrativa trata de fatos vividos em um plano político, sem se esquecer de articulá-los, de tempos em tempos, a um pano de fundo doméstico, voltado à exploração da memória e das reminiscências do núcleo familiar.
D
A narrativa trata de fatos vividos em um plano mítico, sem se esquecer de articulá-los, de tempos em tempos, a um pano de fundo sociocultural, que dá conta da presença indígena no norte do País.
E
A narrativa trata de fatos vividos em um plano político, sem se esquecer de articulá-los, de tempos em tempos, a um pano de fundo ideológico, que dá conta do crescimento da luta armada contra o regime militar, no final da década de 1960.