Questão f9c246c9-e7
Prova:CÁSPER LÍBERO 2016
Disciplina:Literatura
Assunto:Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre o foco narrativo de Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que:

A
Assumido por vários narradores, cujas falas são organizadas por uma espécie de narrador titular, o fio narrativo do romance é dividido e comungado pelos elementos que vivem as ações do enredo.
B
A divisão do fio narrativo no romance, onde tudo convida à comunhão, constitui uma necessária operação de fragmentação, disposta a marcar os dois lados antagônicos em questão: o dos angolanos e o dos portugueses.
C
A marca do foco narrativo é a da democratização da voz, articulada ao peso dos monólogos nos quais cada narrador está mergulhado e dos quais nunca consegue sair sem se transformar radicalmente.
D
A fragmentação narrativa do romance é um sinal de que a autoridade, de que a palavra é manifestação, não pode ser compartilhada e sim exercida de maneira unívoca.
E
O foco narrativo, que privilegia a constante interação dialógica entre os personagens, configura-se em um universo à parte, independente do espaço onde se dão as ações do romance.

Gabarito comentado

M
Marcela PascalMentora Qconcursos

Tema central: O foco dessa questão é a estrutura do foco narrativo em Mayombe, de Pepetela, destacando como as vozes narrativas são organizadas e a relação entre os narradores-personagens e o narrador principal.

Comentário e conceito essencial: O romance Mayombe emprega a polifonia narrativa, conceito de Mikhail Bakhtin, isto é, diversas vozes se entrelaçam – tanto do narrador em terceira pessoa (onisciente) quanto dos próprios personagens (primeira pessoa). Isso promove uma multiplicidade de olhares sobre a realidade da luta angolana. O fio do enredo não pertence apenas a um, mas é compartilhado e muitas vezes articulado por comentários e reflexões desses narradores-personagens.

Justificativa da Alternativa Correta (A): A alternativa correta descreve exatamente essa organização polifônica. Os vários narradores apresentam suas vivências, e um narrador principal costura essas vozes, sem excluir a participação dos demais. Isso resulta numa narrativa dividida e comungada, refletindo tanto conflitos internos quanto diferentes identidades dos envolvidos na luta de Angola.

Por que as demais estão incorretas?

  • B – Erro: limita o antagonismo apenas a angolanos versus portugueses, quando o livro aprofunda principalmente as divergências internas (tribalismo, ideologias) entre os próprios guerrilheiros.
  • C – Pegadinha: exagera ao afirmar que os personagens "nunca conseguem sair" de seus monólogos sem se transformar radicalmente. Isso não é regra no romance; há múltiplas vozes, mas nem sempre há transformação profunda.
  • D – Erro conceitual: afasta-se do conceito de polifonia; em Mayombe, a autoridade da palavra é compartilhada, não unívoca.
  • E – Generalização indevida: diz que o universo narrativo é "independente do espaço", o que é incorreto, pois o espaço da floresta influencia fortemente a narrativa e o diálogo dos personagens.

Dicas de prova e interpretação: Fique atento a alternativas que resumem excessivamente conflitos, propõem mudanças radicais, ou fazem oposições simplistas. Em obras polifônicas, valorize alternativas que reconhecem o compartilhamento da voz narrativa e a multiplicidade de perspectivas.

Referências: RIBEIRO, Renildo. "Mayombe: o entrecruzar de vozes narrativas..." e WOITEXEM, Guilherme. Autores e obras de referência reforçam a análise correta.

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