Questõesde CÁSPER LÍBERO sobre Escolas Literárias

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cf9716a9-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Leite derramado, de Chico Buarque:

A
“Toda a narração lembra uma câmera que narra, que vai flagrando nacos da vida nacional, como a história de Castana Beatriz, que teria morrido numa emboscada durante um período de repressão, e a história de Alyandro Sgaratti, menino pobre, que roubava pão doce na padaria, que, depois, passa a puxar automóveis e se torna o rei do mercado de peças de carros.” (Heitor Ferraz Mello).
B
“Na obra os tempos encontram-se também tensionados, o presente derruído em oposição ao passado faustoso. E é dessa oposição que ressai uma dimensão importante no livro e sem precedentes, ao menos com essa insistência e intensidade, na obra literária de Chico Buarque (…). Leite derramado é o tempo perdido e irrecuperável da vida do narrador.” (Francisco Bosco).
C
“A alguns dos textos dos últimos anos que trabalham com uma lógica coral talvez se pudesse associar a expressão ‘objetos verbais não identificados’, empregada por Christophe Hanna ao tratar dos processos, dos contextos e do funcionamento crítico de certos experimentos literários de difícil classificação.” (Flora Süssekind).
D
“Um escritor profundamente marcado pela experiência como cronista, atividade em que a interlocução é fundamental; mas que ao longo da vida se tornou cada vez mais consciente da distância que havia entre ele e seus leitores. Daí a falta e a precariedade da comunicação se tornarem assuntos que tanto o fascinaram, manifestando-se também na tensão crescente e estrutural da sua relação com o leitor ficcional.” (Hélio de Seixas Guimarães).
E
“O outro local importante de ‘Leite derramado’ é o velho sítio da família. Com espaço da infância, da gente simples e da natureza, parecia um refúgio, o remédio para os desajustamentos do narrador. Ao chegar lá, entretanto, este encontra um povo – crianças inclusive – organizado e escravizado para a contravenção, siderado por videogames, motocicletas, blusões e tintura para cabelos, além de preparado para negociar com as autoridades.” (Roberto Schwarz).
cf84761e-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

Sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade, autor de Sentimento do mundo, é correto afirmar que:

A
A sua poesia verdadeira, a que lhe deu glória e popularidade porque constituía, realmente, a expressão de sua alma, o grito das suas artérias, a voz do seu temperamento, era aquela que alguém chamou, uma vez, o seu “erotismo dourado”. Drummond sem beijos, sem a ronda voluptuosa dos corpos sensuais e fugitivos, das bocas súplices e dos braços estendidos como tentáculos do pecado, não seria Drummond.
B
Na poesia de Drummond, as palavras atuam no sentido de iluminar ou isolar para os olhos um sinal da esparsa beleza geral. Fruto da circunstância, o poema é por vezes pequena joia faiscante e secreta extraída do instante consumido. Em cada poema um convite à perene virgindade do primeiro olhar, um retorno às fontes de energia de quem observa as coisas como se as visse pela primeira vez.
C
O caráter pessimista da poesia de Drummond quanto ao pretenso poder da ciência contra o mistério do universo, essa falta de crença na eficácia de todo o esforço humano, é uma das suas características que mais o aproximam de nós, exilados há muito do ingênuo ufanismo cientificista do século passado. Drummond é o poeta do fracasso do enfrentamento do mistério, da impotência perante o incognoscível.
D
Nos poemas, os grandes acontecimentos públicos do século são expressos através de uma atormentada, galhofeira ou benévola autoanálise. A esta se acopla uma reflexão poética sobre a vivência do cidadão brasileiro, e o intelectual cosmopolita em tempos que podem ser trágicos, dramáticos, nostálgicos, pessimistas ou alegres. Experiência privada e fatos públicos nacionais e estrangeiros, em correlação e sistema de troca entranháveis, compõem a textura das sucessivas coletâneas de poemas.
E
O poeta dá geralmente à imaginação as prerrogativas de um poder absoluto e, portanto, quem deseja compreendê-lo e, em consequência, assimilar as suas criações, terá que reconhecer, previamente, esse primado. A imaginação criadora de Drummond corresponde ao que a crítica qualifica de plástica, imaginação exterior, na qual costumam prevalecer as associações de caráter objetivo, tornando-se por isso mesmo mais atenta às coisas do espaço visível.
cf93e1d6-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta um conteúdo incoerente com Leite derramado, de Chico Buarque:

A
Narrado em primeira pessoa, combinando alta densidade narrativa com um senso de humor muito particular, o livro é a história de um homem exaurido por seu próprio talento, que se vê emparedado entre duas cidades, duas mulheres, dois filhos e uma série de outros pares simétricos que conferem ao texto o caráter de espelhamento que permeia todo o romance.
B
A fala desarticulada do ancião cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso do personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
C
Em suas leves variantes, as lembranças obsessivas revelam sutilezas ideológicas e psíquicas. E, como essas lembranças têm forte componente plástico, criam imagens fascinantes. É o caso do “vestido azul” comprado pelo pai para a amante, objeto de alta concentração de significados.
D
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, sobrepõem-se e revezam-se. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva.
E
Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual.
cf908a97-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre O fio das missangas, de Mia Couto, é correto afirmar:

A
Predomina um tom épico que dá conta da relação entre o indivíduo, a família, o grupo e a terra como uma inspiração vizinha da lenda popular (da criação do mundo), configurando a votação do(s) herói(s) ao sacrifício e uma espécie de redenção final operada pela ação dos tempos na terra, isto é, pela ação do trabalho presente sobre o futuro.
B
São histórias colhidas no turbilhão de um cotidiano extremamente complexo, não raras vezes violento – física ou psicologicamente; histórias que vão sendo adensadas e condensadas pela leveza da linguagem de uma prosa poética, marca estilística do seu autor; histórias “arredondadas” (diferentes no tom, mas não tão diferentes na forma) que, juntas, dão conta de silêncios e recompõem silêncios – de mulheres, de homens e de toda sorte daqueles à margem (o mendigo, a criança, o velho, o poeta).
C
Trata-se de um livro polifônico que, ao mergulhar no universo simbólico da figura dos desterrados ou marginalizados em sua própria terra, firma-se como um feixe de histórias cuja relação esquizofrênica entre sujeito e espaço se dá na linha principal da viagem empreendida rumo a uma “Moçambique profunda”.
D
No contexto do qual emergem as histórias, nota-se a tentativa muito bem-sucedida do narrador de amenizar o conflito entre os laivos da tradição moçambicana e o vento avassalador do modus vivendi ocidental, que por anos transformou o território africano em uma espécie de tabuleiro de xadrez.
E
As histórias tratam dos problemas sociais de Moçambique sob a metáfora de um colar de missangas que une todos os personagens. Os narradores, por sua vez, exploram a relação sujeito-espaço e logo a coletânea figura como um retrato realista do espaço físico de um país caleidoscópico, uma espacialidade eufórica, que reitera o frenesi da recente libertação conquistada com o fim do colonialismo português.
cf8b4435-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Sobre as características da literatura africana, presentes em O fio das missangas, de Mia Couto, é correto afirmar:

A
A literatura moçambicana buscou meios de conseguir conviver com os conflitos póscoloniais, explorando narrativas orais de padrão culto, diluindo as marcas culturais híbridas dentro de uma mesma cultura e criando pontos de contato entre a língua europeia trazida pelos colonizadores e as línguas locais.
B
A literatura de Mia Couto irá refletir de modo direto a situação cultural de seu país. O fio das missangas tematiza o universo intelectual de Moçambique, atentando para questões concernentes à construção das identidades literárias cujas referências foram dilaceradas e desvalorizadas pela colonização europeia.
C
O principal problema da literatura pós-colonial moçambicana relaciona-se ao fato de ela fazer interagir uma tradição cultural africana (fortemente enraizada na oralidade) com outra, europeia, resguardada pela autoridade da escrita.
D
A literatura pós-colonial, embora profundamente crítica, não consegue retratar as marcas profundas da exclusão e da dicotomia cultural durante o domínio imperial, as transformações operadas pelo domínio cultural europeu e os conflitos decorrentes.
E
Os escritores moçambicanos passaram a incorporar as estratégias colonialistas existentes na literatura, recusando os mecanismos de subversão experimentados pela imaginação poética, preferindo, em contrapartida, abordar questões relacionadas à tradição da literatura europeia.
cf87e934-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade:

A
“Sua poesia tem a frescura das fontes e das flores úmidas de orvalho e o calor dos ninhos e leitos amorosos. Nela, vida e arte poética se fundem e se transfundem, num enlace entranhado e duradouro. Armada de uma proteção estética e de uma aura humana capazes de evitar ou minimizar o processo danificador da posteridade, essa poesia apurada e madura ostenta, na mesa do leitor, a sua matéria nutriente como um pão.” (Lêdo Ivo).
B
“Lúcida, ao grau extremo, sua poesia opera muita vez um agônico e lancinante movimento no sentido de substituir a religião perdida pelo prazer estético que lhe proporciona a consciência de seu altíssimo valor. O culto da beleza deveria assim atender às suas ávidas exigências religiosas, pois o poeta, que vivera todas as dúvidas do século, já não mais poderia crer em dogmas e tradições.” (Ivan Junqueira).
C
“Poesia dos sentimentos abissais, da perda, da desilusão amorosa, do enfrentamento da loucura e da morte, narrados pelo poeta de voz cosmopolita radicado no Rio de Janeiro. Mas poesia, também, de esperança e de alegria: plena de vento, luz e sol contra o sombrio império do niilismo pós-moderno.” (Antonio Carlos Secchin).
D
“Sua obra apresenta, no Brasil (e, sobretudo, realizada, como foi, no interior), estranha unidade e regularidade do fluxo criador. Continuada confissão, ela é entretanto de ressonância restrita e velada, animada dum sentimento místico sem arroubos nem iluminações fulgurantes. Quando, porém, o poeta dominava a obsessão funérea, que lhe tinge grande parte da obra, é que vislumbramos a qualidade da sua alma, tão afim com a daquele Aleijadinho das igrejas da sua terra.” (Andrade Murici).
E
“As palavras enunciadas pelo poema drummondiano podem passar como palavras de leitor porque todos os seres humanos são reiteradamente dados como irmãos na sua poesia. Tal como desenhada pela poesia de Drummond, a fraternidade universal não pode nem deve ser encarada de maneira leviana e ser conceituada às pressas. (...) Os obstáculos que surgem entre o poeta e o seu possível leitor, impedindo o companheirismo, escapam ao que podemos chamar de a condição humana, já que são construções do colonialismo ocidental ou da historia do capitalismo.” (Silviano Santiago).
cf7f6dfb-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta uma informação incoerente com os fatos narrados em O cortiço, de Aluísio Azevedo:

A
João Romão, ladrão como rato, foi surrupiando materiais de obra a desoras e conseguiu levantar, casinha a casinha, o cortiço dos Carapicus.
B
Rita Baiana, no delírio, chama como a Sulamita pelo seu amado, e a boca cheirosa da mulata repete as palavras líricas da moça de Salomão, pensando no carinho do beijo da outra boca perfumada a rosa.
C
A senhora Piedade foi notando a frieza do marido, tanto mais quanto uma bruxa que havia no cortiço, consultando as cartas de um baralho, declarou-lhe: “Ele tem a cabeça virada por uma mulher trigueira”.
D
O capoeira Firmo, ralado de ciúmes, aboletou-se na estalagem fronteira, a Cabeça de Gato, e tornou-se logo chefe dessa gentalha. Desde logo surgiu uma rivalidade sanguínea entre os dois cortiços. Quem fosse “cabeça de gato” era inimigo dos Carapicus.
E
O Jerônimo entrou logo para o cortiço mais a mulher, senhora Piedade; e lá, todas as noites na guitarra, matavam as saudades da terra, ela e o seu rico homem.
cf75a72d-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Sobre as características do Romantismo, escola literária à qual pertence o romance Til, de José de Alencar, é correto afirmar que:

A
A obsessão do novo a qualquer preço é contraponto de uma retórica já repetida à saciedade. Valoriza-se naturalmente o que não se tem: é mister procurar coisas novas para que o mundo resulte mais rico e mais glorioso. 
B
O momento literário nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da tradição clássica e de formas bem definidas, julgadas dignas de imitação.
C
A natureza é expressiva. Ela significa e revela. Prefere-se a noite ao dia, pois à luz crua do sol o real impõe-se ao indivíduo, mas é na treva que latejam as forças inconscientes da alma: o sonho, a imaginação. O mundo natural encarna as pressões anímicas.
D
Socialismo, freudismo, catolicismo existencial: eis as chaves que serviram para a decifração do homem em sociedade e sustentariam ideologicamente o romance empenhado desses anos fecundos para a prosa narrativa.
E
Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima; e buscam-se para ambas causas naturais (raça, clima, temperamento) ou culturais (meio, educação) que lhe reduzem muito a área de liberdade.
cf7c4256-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre as características do Naturalismo, escola literária à qual pertence o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, é correto afirmar que:

A
O gosto pela Natureza impele o escritor naturalista na direção da Pátria, entrevista como projeção do “eu”. Politicamente liberal, sente-se “o arauto das inquietações populares”, mago, profeta, gênio, predestinado; idealista, acredita no progresso do Homem e sonha com uma Idade de Ouro, sob o signo da Liberdade, Fraternidade, Igualdade. Volta-se para os burgueses e plebeus, e por vezes tinge de cores revolucionárias as suas obras centradas no povo.
B
O Naturalismo interior fundava-se na psicologia, não raro nas suas formas complexas, patológicas, buscando o consórcio da mimese representativa com o imaginário. Submisso ao tempo da subjetividade, aproximava-se da intemporalidade da psicanálise, da imaginação e, por conseguinte, da literatura simbolista.
C
O Naturalismo transpira o sentimento segundo o qual “vivemos em tempos totalmente novos; a história contemporânea é a fonte da nossa significância; somos herdeiros, não do passado, mas, sim, do cenário ou do ambiente que nos circunda e nos engloba; a modernidade é uma nova consciência, uma condição sem igual da mente humana”.
D
Os adeptos do Naturalismo, na linha do materialismo histórico, pregavam a necessidade de transformar o mundo por meio da tomada de consciência das desigualdades sociais. Consideravam decadente a burguesia, enalteciam o trabalho dos operários e camponeses, num populismo não raro beirando o simplismo ou a esquematização mecânica. Admitiam as causas econômicas e políticas como as mais importantes, se não exclusivas, da luta de classes.
E
O escritor naturalista equipara-se, no seu afã de atingir a verdade positiva, aos cientistas, atuando “sobre os caracteres, sobre as paixões, sobre os fatos humanos e sociais, como o químico e o físico atuam sobre os corpos brutos, como o fisiologista atua sobre os corpos vivos”. Em suma, quer para si o estatuto de cientista. E procura anular a distância entre a realidade e a ficção: adquirindo caráter experimental, o texto literário converte-se num laboratório.
cf793dc2-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Sobre as características da prosa de ficção de José Alencar, presentes em Til, é correto afirmar que:

A
À idolatria do dinheiro, que aviltaria a nova sociedade do Segundo Império, Alencar opusera seu desprezo impotente. Daí os enredos valerem como documento apenas indireto de um estado de coisas, no caso, o tomar corpo de uma ética burguesa e realista das conveniências durante o Segundo Reinado.
B
O regionalismo de Alencar mistura elementos tomados à narrativa oral, os “causos” e as “estórias” do interior do Brasil, com uma boa dose de idealização. Esta é responsável por uma linguagem adjetivosa e convencional na maioria dos quadros agrestes.
C
Alencar explora o dom do memorialista e a finura da observação moral, mas no uso desses dotes deixa atuar tal carga de passionalidade que o estilo de seu romance mal se pode definir, em sentido estrito, romântico, afetado que é pela plasticidade nervosa de alguns retratos e ambientes.
D
Em Alencar predomina o gosto da fala regional em si mesma: sintaxe, modismos, léxico, fonética, quase tudo se acha colado à vivência dos homens e das coisas do interior, configurando uma linguagem cuja camada verbal serve de instrumento eficaz à representação dos dramas caboclos.
E
O Brasil ideal de Alencar seria uma espécie de cenário selvagem onde, expulsos os portugueses, reinariam capitães altivos, senhores do baraço e cutelo rodeados de sertanejos e peões, livres, sim, mas fiéis até a morte. Alguma coisa assim como a Europa pré-industrial, mas regenerada pela seiva da natureza americana.
cf722846-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é correto afirmar que:

A
O tom de Brás Cubas, em sua gratuidade, logo postula um ambiente de aceitação irresponsável e de ironia solta, um “és não és” de farsa metafísica. O leitor não pode levar a sério o tom do suposto autor e logo de saída vê-se na contingência de engatilhar um sorriso divertido ou meio forçado, conforme entram a reagir os seus nervos.
B
O estudo do desagregar-se psicológico do protagonista, a sua persistência no delírio entrelaçada à invenção do emplasto, é extraordinária e contrastada com a agudeza humorística. As intenções propriamente simbólicas do texto, iniciadas com as dissertações paradoxais de Quincas Borba, são levadas avante num andamento seguro que, pela progressão rigorosa e ágil, confirma a excepcional categoria do defunto-autor.
C
Em Brás Cubas, a música exerce uma função organizadora do enredo, analisando o progressivo despertar de Virgília, à medida que ela volta ao piano de que se abstivera com a viuvez. Essa música terá para ela o sentido de anular as distâncias do tempo e do espaço e criar um mundo harmonioso.
D
O defunto-autor é, na superfície, meramente o agente através do qual a verdade é descoberta, o estranho no mundo patriarcal, fechado, da casa-grande, e que tropeça em seus mais terríveis segredos. Mas é mais do que isso; ele próprio nos diz, em diversos trechos, que não está com a consciência tranquila acerca do seu papel no caso.
E
Brás Cubas, apesar da gravidade do tema e da estrutura formal, dá a impressão de um “divertimento”, não há dúvida. E em que consiste tal divertimento? O divertimento, núcleo do livro, é montado sobre a oposição de caracteres de Brás Cubas e Virgília.
cf6a337a-ed
CÁSPER LÍBERO 2013 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Assinale a opção que apresenta uma informação incoerente com os fatos narrados em Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis:

A
O envio de uma cestinha de morangos, de Virgília a Brás Cubas, e o bilhete dela, “intimando-o a vir jantar”, assinado “Sua verdadeira amiga”, é um momento que precipita a ação. “Morangos adúlteros”, comenta um amigo, que está com ela na hora em que chega o presente. Brás Cubas é levado a crer que Virgília está disposta a deixar-se conquistar por ele.
B
Depois de estudar no exterior, Brás Cubas volta para a pátria e perde a mãe. Uma grande dor o possui. Aguilhoado por ela, vai procurar lenitivo na solidão. O pai visita-o, e em vez de encontrar nele a angústia e o desconsolo, Brás Cuba só enxerga a vaidade por ter recebido uma carta do regente, ao mesmo tempo que o desejo de ser introduzido na política.
C
Nada prendia Brás Cubas a Virgília; o amor fora substituído pela saciedade em ambos; o filho, que Virgília a principio anunciara, morrera antes de nascer. Por isso, acabou cedendo às propostas de casamento que a irmã lhe fazia. Mas estava escrito que ele nunca haveria de formar família; a noiva morre poucos dias antes do ato realizar-se.
D
Foi depois do falecimento da noiva que Brás Cubas entrou na política. Foi deputado; escapou de ser ministro e não foi reeleito. Mas um amigo o consolou, um amigo de vida bastante agitada, que da ociosidade fora levado ao vício, e do vício ao crime. Esse amigo a quem uma fortuna, herdada inesperadamente, afastara do caminho da correção imaginou um sistema de filosofia: o humanitismo.
E
Brás Cubas nasceu de pais ricos e complacentes que o amavam com ardor, mas de um amor antes específico e animal do que esclarecido e elevado. As suas inconveniências e travessuras passavam como rasgos de espírito. As suas exigências, por mais esdrúxulas, eram sempre satisfeitas. Daí a primeira tendência para a satisfação, para o otimismo, tendência auxiliada pela fatuidade, que herdara do pai.
3c32a054-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

A personagem-narradora de O cesto, que integra O fio das missangas, de Mia Couto, era desprezada pelo marido. Assinale a opção em que a passagem do texto NÃO caracteriza o estado de submissão e passividade vivido por ela:

A
“Hoje será como todos os dias: lhe falarei, junto ao leito, mas ele não me escutará. Não será essa a diferença. Ele nunca me escutou.”
B
“Onde vivo não é na sombra. É por detrás do sol, onde toda a luz há muito se pôs.”
C
“Agora, pelo menos, já não sou mais corrigida. Já não recebo enxovalho, ordem de calar, de abafar o riso.”
D
“Amanhã, tenho que me lembrar para não preparar o cesto da visita.”
E
“Como a pedra, que não tem espera nem é esperada, fiquei sem idade.”
3c2ebe80-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção cujo conteúdo é incoerente com O fio das missangas, de Mia Couto:

A
Embora sejam breves, os contos – cada qual composto como uma missanga – exploram densamente um conjunto de paixões humanas das mais universais: amores desfeitos, traições, vinganças, suicídios, loucura, incesto...
B
Algumas narrativas são marcadas por certa atmosfera de realismo fantástico, que remete às lendas populares de Moçambique. Em “Peixe para Eulália”, por exemplo, há barcos que remam no ar e olhos que saltam de suas órbitas.
C
Neologismos como “vizinho anoitrevido” e “saia almarrotada” revelam, para além da mera experimentação formalista, caminhos entre a oralidade do sudoeste pobre da África e a liberdade poética.
D
A presença de metáforas sobre o ato de narrar aparece não somente em “A infinita fiandeira” (em que uma aranha tece teias “inúteis”, não para enredar presas, mas por pura arte) como também em “O menino que escrevia versos”, em que um garoto é levado ao médico por gostar bastante de escrever – atividade considerada muito estranha.
E
A maioria dos contos explora com fina sensibilidade o universo infantil, dando voz e tessitura à alma de crianças condenadas à não-existência, ao esquecimento. Como objetos descartados, meninos e meninas são aqui equiparados ora a uma saia velha, ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas.
3c2bb43f-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Naturalismo, Realismo, Escolas Literárias, Romantismo

Sobre Leite derramado, de Chico Buarque, é correto afirmar que:

A
o romance retoma a verve naturalista de O cortiço, de Aluísio Azevedo, ao explorar a ideia de que o ciúme e o amor não se esgotam em si mesmos e estão atrelados a questões de raça e de etnia. Entre várias irmãs de tez clara, Matilde é a única de pele escura, para desgosto da sogra, que, entretanto, tem um irmão “beiçudo”. Mais adiante se saberá que a moça é filha adotiva, fruto de uma escapadela baiana do pai.
B
o romance retoma a matéria romântica presente em Til, de José de Alencar, e a ultrapassa pelo viés do realismo, ao denunciar como uma relação desigual, na qual nome de família, dinheiro e preconceito de cor e classe se articulam com desejo e ciúme e formam um padrão consistente, que vira cacoete. Seus desdobramentos mais reveladores ocorrem no hospital, onde o patriarca centenário, agora já sem tostão, faz a corte a praticamente todas as enfermeiras de turno, às quais promete casamento, roupas finas, nome ilustre, palacete e baixelas, desde que se dediquem só a ele.
C
o romance retoma a tradição da saga familiar marcada pela decadência, gênero consagrado no romance ocidental moderno de que fez uso José de Alencar em Til. Entretanto, a ordem lógica e cronológica habitual da saga é embaralhada, por se tratar de uma memória desfalecente; repetitiva, mas contraditória; obsessiva, mas fragmentada.
D
o romance estabelece um franco diálogo com Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, não somente ao apresentar um narrador em primeira pessoa que destila mediocridade e preconceitos oligárquicos como também ao explorar a desproporção entre a intensidade da vida amorosa do protagonista e a irrelevância de sua vida espiritual.
E
percorre todo o texto a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher, por meio de um viés determinista, tal como ocorre em Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Os múltiplos traços de Matilde, seu “olhar em pingue-pongue”, suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo em que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos.
3c237730-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre o naturalismo brasileiro, escola literária a que se filia O cortiço, de Aluísio Azevedo, é correto afirmar que:

A
a obsessão do naturalismo pelo novo a qualquer preço é contraponto de um discurso repleto de clichês. A poética da novidade deságua no efeito retórico-psicológico e na exploração do bizarro.
B
o determinismo reflete-se na perspectiva em que se movem os narradores ao trabalhar suas personagens. A pretensa neutralidade não chega a ocultar o fato de que o foco narrativo carrega sempre de tons sombrios o destino das suas criaturas.
C
a literatura que se escreveu sob o signo do naturalismo representou, além de um conjunto de experiências de linguagem, uma crítica global às estruturas mentais das velhas gerações e um esforço de penetrar mais fundo na realidade brasileira.
D
o naturalismo representou um sintoma da crise do liberalismo jurídico abstrato, da sua incapacidade de planificar o progresso de um povo; e significou um passo adiante na construção de uma sociologia do povo brasileiro.
E
a natureza naturalista é expressiva. Ela significa e revela. Prefere-se a noite ao dia, pois à luz crua do sol o real impõe-se ao indivíduo, mas é na treva que latejam as forças inconscientes da alma: o sonho, a imaginação.
3c1ff48e-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre O cortiço, de Aluísio Azevedo, é correto afirmar que:

A
o autor não abandona a análise dos temperamentos individuais, mas prefere acompanhar o mecanismo de fusão no ambiente coletivo, que conduz à perda da singularidade dos seres, mutuamente entrelaçados pela vivência conjunta. Seres que integram um todo unificado, um organismo social devorador, pulsante, no qual as leis da natureza imperam.
B
a redução das criaturas ao nível animal é compatível com o código naturalista da despersonalização. Entretanto, a natureza humana – em vez de soar como uma selva onde os fortes comem os fracos, explicando toda sorte de vilanias e torpezas – é exaltada por meio de uma idealização mal disfarçada.
C
na teia da sociedade apresentada pelo romance, tudo se prende ao prestígio da riqueza, que de fora vem precisar os contornos das diferenças individuais; na trama da vida afetiva, as matrizes dos gestos e das palavras são a agressividade e a libido.
D
o esquema romanesco da obra está fundado na memória dos episódios mais cruéis da vida no cortiço, cobrindo de melancolia e amargura o perfil dos moradores e fazendo as personagens femininas mergulharem em uma atmosfera de ressentimento e desilusão.
E
o autor montou um enredo centrado em pessoas, diluindo o máximo que pôde as sequências de descrições muito precisas, nas quais cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem do cortiço a personagem mais convincente do romance naturalista brasileiro. Logo, é das personagens que deriva o quadro social.
3c27501e-ed
CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Assinale a opção cujo conteúdo é incoerente com o romance Leite derramado, de Chico Buarque:

A
O narrador é um homem de cem anos, internado à força num hospital infecto. Entre gritos, vizinhos de leito entubados e baratas andando nas paredes, ele recorda – a 80 anos de distância – o breve casamento em que foi feliz e traído (em sua opinião). De tempos em tempos a boa lembrança ainda é capaz de transformá-lo no “maior homem do mundo”.
B
Quanto mais rememora, mais Eulálio se afunda em repetições: “São tantas as minhas lembranças, e lembranças de lembranças de lembranças, que já não sei em qual camada da memória eu estava agora”. Nas páginas finais, ainda um menino de calças curtas, ele é levado pela mãe para se despedir do tetravô, que agoniza em um hospital. Um homem de rosto pastoso e memória degradada, que pode ser ele mesmo.
C
O núcleo romanesco da intriga – seu elemento de sensação – é o desaparecimento inexplicável de Matilde. Depois de se perguntar se ela se foi com o engenheiro francês, fugiu aos ciúmes do marido, caiu na vida ou pegou uma doença e quis morrer fora da vista dos seus, o narrador revela que ela morreu num acidente de carro, acompanhada de um homem. Assim, essa explicação é adotada pelo próprio marido, pela sogra, pela mãe adotiva, pela filha, pelas colegas desta, pelo pároco da Candelária e pela voz anônima da cidade.
D
A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo em que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor explora as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
E
A narrativa do centenário Eulálio vem borrada pelas deformações próprias da memória. E também pelos estragos que os sonhos nela produzem. “Dia desses fui buscar meus pais no parque dos brinquedos, porque no sonho eles eram meus filhos”, vacila. Do mesmo modo, a literatura não passa de um tapete estendido sobre um alçapão. Rombos, remendos, rasgões expõem uma verdade que se esfarela.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é correto afirmar que:

A
embora lance o leitor ao desafio, genuinamente romanesco, do confronto de ideias, não se pode classificar a obra como um “romance filosófico” ou “romance de ideias”, pois nela sobressaem as peripécias narrativas.
B
o escritor propõe um singular cruzamento da tradição do romance humorístico europeu – Laurence Sterne, Miguel de Cervantes, Denis Diderot, Almeida Garrett... – com a problematização da existência ou da condição humana.
C
trata-se de um “romance de costumes”, decerto, mas costumes sempre inseparáveis de situações particulares; ou “romance moral”, mas de uma moralidade desconjuntada pelo humor, ou seja, sem conteúdo generalizável.
D
Machado lançou mão de modelos literários anacrônicos e os recuperou em uma época de crença férrea no progresso e na ciência, tornando tais modelos, entretanto, incompatíveis com o exame – impiedoso e retrógrado – da vida, da história e da sociedade humana.
E
trata-se do último romance da chamada fase romântica do escritor. Fase, aliás, que, por muito tempo, constituiu um emblema de sua prosa romanesca, ou de seu estilo, ou de seu humor.
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CÁSPER LÍBERO 2012 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Sobre Til, de José de Alencar, é correto afirmar que:

A
Alencar acentua um perfil feminino esboçado sob a visão romântica, e mesmo romanesca, do comportamento afetivo e social da mulher. São passíveis e merecedores de análise, em primeiro plano, a presença da mulher numa sociedade em mudanças, marcada pela ascensão da classe burguesa de comerciantes e banqueiros enriquecidos, honesta ou inescrupulosamente, ao lado da classe aristocratizada ligada à economia rural, tanto uma quanto a outra à procura de posições de relevo na vida pública.
B
o romance se apresenta, desde as suas primeiras páginas, sob a pressão pungente da nostalgia, do fatalismo, da resignação. Seu argumento depurado ou reduzido ao essencial flui sobre inspirações líricas, também envolvendo o épico e o histórico. O herói e a heroína passam a traduzir a significação mais profunda da sentimentalidade e do destino de um povo mestiço – aquele que habitará a pátria do autor.
C
o romance, escrito em linguagem marcada por certa objetividade informativa, quebra a monotonia romântica pelos apostos caracterizadores das qualidades e virtudes das coisas descritas. Dois são os interlocutores: o homem do interior fixado na terra, conhecedor dela e de suas possibilidades, e o homem da cidade, portador da curiosidade de recém-chegado que comenta, direta ou indiretamente, o procedimento do homem do interior.
D
Alencar produz uma espécie de saga do desbravamento do interior paulista e da fixação do homem na terra, como se repetisse a aventura histórica da “penetração” sertão adentro, ainda sob a sedução do Eldorado. As personagens, verdadeiras sucessoras dos primitivos desbravadores, respiram uma atmosfera épica, mas não abrem mão das relações românticas pautadas pelas aparências de pudor e severidade de costumes da sociedade.
E
Alencar amplia o cenário da representação do Brasil, não dispensando o lendário e o mítico, embora seu objetivo fundamental seja dimensionar o homem e a paisagem interiorana, de maneira abrangente e contrastante. O meio físico no romance é cenário para o grande impulso da vida e da ação de heróis portadores de gestos cavalheirescos, movidos pelo destemor, pelas generosidades e pelo amor não raro contido, marcado pela renúncia, pela abnegação.