Questõesde PUC-GO sobre Filosofia

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Foram encontradas 11 questões
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PUC-GO 2010 - Filosofia - Filosofia e a Grécia Antiga

Intelectuais que viveram na Grécia do século V a.C., ensinavam retórica, oratória e técnicas de memorização. Exerceram grande influência sobre a cultura grega e tiveram como adversário teórico o filósofo Sócrates. Assinale a única alternativa que corresponde ao grupo a que se refere o texto:

TEXTO 05

      Fecho os olhos com insistência e tento resgatar a veracidade daqueles momentos. Tudo insólito, orvalho matutino, insolitíssimo.
     Na infância, corríamos quintal adentro. Subíamos nas grimpas das árvores e lá brincávamos de morar. Ela sempre no andar de baixo; eu, nas alturas. [...] O mundo dali era pequeno e ao mesmo tempo enorme. Eu e o mundo. Um no dentro do outro. Um além do outro. Tão longe e tão junto. [...] Ficava, eu, horas e horas, assim, balançando nas grimpas. Esquecia do tempo. Às vezes, brincávamos de impulsionar forte o galho, no ritmo do balanço até que lançássemos o nosso corpo da copa de uma árvore aos galhos de outras árvores próximas, feito pássaros: voando de galho em galho, de árvore em árvore, transpondo os limites do vazio e do céu.

(RODRIGUES, Maria Aparecida. A Transfiguração de Lúcia In:. _______ . Cinzas da paixão e outras estórias. Goiânia: Ed. da UCG, 2007. p. 19.)
A
Pitagóricos
B
Sofistas
C
Eleatas
D
Jônios
6c31639e-24
PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

O Texto 6 fala sobre a aceleração da vida. A sociedade atual vivencia a potencialidade da evolução que prolonga a vida e que, ao mesmo tempo, leva a sua banalização. Os avanços da tecnologia e da ciência, por exemplo, geraram um aumento da expectativa de vida da população. Mas a sociedade, não sabendo lidar com a população da terceira idade, começou a rever os aspectos dessa nova vida, e pesquisas surgiram para amenizar e conciliar essa atual realidade. Os processos atuais que aceleram a modernização de uma parte da sociedade aceleram também a exclusão de outros. Na verdade, ao fazermos escolhas, somos responsáveis por elas e por seus impactos sobre nós mesmos, e sobre toda a humanidade. Como afirma o filósofo parisiense, estamos “condenados a ser livres”, pois ele associa liberdade a responsabilidade. Ao unir as duas, ele assegura que essa é a filosofia mais otimista possível, pois, apesar de assumirmos a responsabilidade pelo impacto de nossas ações sobre os outros, podemos optar por exercer um controle estrito sobre o modo como moldamos nosso mundo e a nós mesmos. Entre as alternativas a seguir, marque a que corresponde corretamente ao nome desse filósofo:

TEXTO 6

                                 Rápido, rápido

      Sofro – sofri – de progéria, uma doença na qual o organismo corre doidamente para a velhice e a morte. Doidamente talvez não seja a palavra, mas não me ocorre outra e não tenho tempo de procurar no dicionário – nós, os da progéria, somos pessoas de um desmesurado senso de urgência. Estabelecer prioridades é, para nós, um processo tão vital como respirar. Para nós, dez minutos equivalem a um ano. Façam a conta, vocês que têm tempo, vocês que pensam que têm tempo. Enquanto isso, eu vou escrevendo aqui – e só espero poder terminar. Cada letra minha equivale a páginas inteiras de vocês. Façam a conta, vocês. Enquanto isso, e resumindo:

      8h15min – Estou nascendo. Sou o primeiro filho – que azar! – e o parto é longo, difícil. Respiro, e já vou dizendo as primeiras palavras (coisas muito simples, naturalmente: mamã, papá) para grande surpresa de todos! Maior surpresa eles têm quando me colocam no berço – desço meia hora depois, rindo e pedindo comida! Rindo! Àquela hora,

      8h45min – eu ainda podia rir.

      9h20min – Já fui amamentado, já passei da fase oral – meus pais (ele, dono de um pequeno armazém; ela, de prendas domésticas) já aceitaram, ao menos em parte, a realidade, depois que o pediatra (está aí uma especialidade que não me serve) lhes explicou o diagnóstico e o prognóstico. E já estou com dentes! Em poucos minutos (de acordo com o relógio de meu pai, bem entendido) tenho sarampo, varicela, essas coisas todas.

      Meus pais me matriculam na escola, não se dando conta que às 10h40min, quando a sineta bater para o recreio, já terei idade para concluir o primeiro grau. Vou para a escola de patinete; já na esquina, porém, abandono o brinquedo que parece-me então muito infantil. Volto-me, e lá estão os meus pais chorando, pobre gente.

      10h20min – Não posso esperar o recreio; peço licença à professora e saio. Vou ao banheiro; a seiva da vida circula impaciente em minhas veias. Manipulo-me. Meu desejo tem nome: Mara, da oitava série. Por enquanto é mais velha do que eu. Lá pelas onze horas poderia namorá-la – mas então, já não estarei no colégio. Ali, me foge o doce pássaro da juventude.

      [...]

(SCLIAR, Moacyr. Melhores contos. 6. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 54-55.)

A
Herbert Marcuse.
B
Martin Heidegger.
C
Jean-Paul Sartre.
D
Félix Guattari.
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PUC-GO 2015 - Filosofia - A Política

O Texto 6 relata uma situação polêmica sobre o beijo na boca entre dois homens. Sobre o beijo, até onde se tem notícia, o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo na história do cinema foi no ano de 1927, no filme Wings (Asas). Os astros Buddy Rogers e Richard Arlen interpretam dois pilotos de combate que disputam a afeição de uma mesma mulher (Clara Bow). Essa é a trama do filme. Nenhum dos dois “mostra tanto amor por ela... como demonstra um pelo outro.” O beijo foi bastante tímido. No ano de 2014, uma cena se destacou nas novelas da Globo. O beijo gay entre Felix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) que foi ao ar no último capítulo da novela Amor à vida. Na verdade, a quebra de determinados preconceitos ou mudança de comportamento geralmente ocorre porque a sociedade constituída de homens está em constante mudança. Há os que defendem a quebra de paradigmas e lutam por sua liberdade e autonomia. Dentre as correntes filosóficas citadas a seguir, marque a alternativa que apresenta a corrente que contribuiu para a valorização da autonomia e liberdade do indivíduo.

TEXTO 6

[…]

Amado (na sua euforia profissional) – Cunha,

escuta. Vi um caso agora. Ali, na praça da Bandeira. Um caso que. Cunha, ouve. Esse caso pode ser a tua salvação!

Cunha (num lamento) – Estou mais sujo do que pau de galinheiro!

Amado (incisivo e jocundo) – Porque você é uma besta, Cunha. Você é o delegado mais burro do Rio de Janeiro.

(Cunha ergue-se.)

Cunha (entre ameaçador e suplicante) – Não pense que. Você não se ofende, mas eu me ofendo.

Amado (jocundo) – Senta!

(Cunha obedece novamente.)

Cunha (com um esgar de choro) – Te dou um tiro!

Amado – Você não é de nada. Então, dá. Dá!

Quedê?

Cunha – Qual é o caso?

Amado – Olha. Agorinha, na praça da Bandeira. Um rapaz foi atropelado. Estava juntinho de mim. Nessa distância. O fato é que caiu. Vinha um lotação raspando. Rente ao meio-fio. Apanha o cara. Em cheio. Joga longe. Há aquele bafafá. Corre pra cá, pra lá. O sujeito estava lá, estendido, morrendo.

Cunha (que parece beber as palavras do repórter) – E daí?

Amado (valorizando o efeito culminante) – De repente, um outro cara aparece, ajoelha-se no asfalto, ajoelha-se. Apanha a cabeça do atropelado e dá-lhe um beijo na boca.

CUNHA (confuso e insatisfeito) – Que mais?

Amado (rindo) – Só.

Cunha (desorientado) – Quer dizer que. Um sujeito beija outro na boca e. Não houve mais nada. Só isso?

(Amado ergue-se. Anda de um lado para outro. Estaca, alarga o peito.)

Amado – Só isso!

Cunha – Não entendo.

Amado (abrindo os braços para o teto) – Sujeito burro! (para o delegado) Escuta, escuta! Você não quer se limpar? Hein? Não quer se limpar?

Cunha – Quero!

Amado – Pois esse caso.

Cunha – Mas ...

Amado – Não interrompe! Ou você não percebe?

Escuta […]

(RODRIGUES,  Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 12/13.)

A
Positivismo.
B
Iluminismo.
C
Estoicismo.
D
Epicurismo.
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PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

Chama atenção o drama vivido pela personagem do fragmento extraído do livro A mesa dos inocentes, de Adelice Barros (Texto 4).

Marque a alternativa correta concernente às reflexões da personagem no fragmento em questão:

TEXTO 4

      A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.

      A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?

                                   (BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

A
Ela se esforça para pintar o mundo exatamente como ele é, nem que para isso tenha de se expor, confessando suas fraquezas e frustrando qualquer possibilidade de se encontrar na vida.
B
Ela imagina outra realidade, na qual possa se ver livre de seus pecados pela via do sofrimento reparador e purificador de sua consciência, que não lhe dá um só instante de paz.
C
Ela é absolutamente confusa: não consegue articular suas ideias, nem mesmo se reconhece ante a realidade na qual se atirou por vontade própria.
D
Ela ironiza sua própria sombra, numa clara alusão ao que se percebe nas relações dos dias atuais, em que as pessoas devem, antes de mais nada, aprender a não confiar em ninguém.
c182984c-9a
PUC-GO 2015 - Filosofia - A Política

O Texto 4 faz referência a dúvida e a certeza. Descartes, o pai da filosofia moderna, começa duvidando de tudo. Na verdade, o seu método parte de um ceticismo que é levado ao extremo para se chegar a uma verdade indubitável. Tendo Descartes como referência, analise as proposições a seguir e marque a alternativa correta:

TEXTO 4

      A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.

      A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?

                                   (BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

A
Descartes parte em busca de um conjunto de verdades que não possam ser postas em dúvida e, a partir delas, constata através dos sentidos as afirmações que são verdadeiras e começa a construir o seu conceito de existência no momento em que alcança a verdade inata.
B
Descartes sempre duvidava; porém, sua única certeza estava no fundamento de seu método, que consistia em confiar em seus sentidos como base segura para aquisição do conhecimento. Afinal, nem todos tinham a sua formação acadêmica (Direito, Filosofia, Medicina, Matemática e Química); portanto, os seus sentidos eram treinados para descobrir a certeza.
C
Descartes estabelece quatro regras para o método, são elas: a evidência: acolher apenas o que aparece ao espírito; a análise: dividir cada dificuldade em parcelas menores; o cogito: pensar as premissas mais complexas da análise; a conclusão: fechar todas as premissas com base nas ideias inatas.
D
“Penso, logo existo" trata-se da conclusão do argumento do cogito, por meio do qual Descartes pretende encontrar um fundamento seguro para a construção do edifício do conhecimento.
c1887fa6-9a
PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

O Texto 4 retrata o conflito de uma mulher consigo mesma em razão de um sentimento de culpa. Culpa e punição sempre estiveram presentes no universo feminino. Durante a Idade Média e no limiar da modernidade, na Europa, as atitudes das mulheres eram vistas como ameaças à ordem estabelecida pelo poder patriarcal e pelo poder soberano, em nome do povo, para defender a moral e o direito da comunidade. Analise os itens a seguir sobre a temática:

I-Para os teólogos e moralistas da Idade Média, a sensualidade da mulher sempre esteve no centro das reprovações. Por isso, a preocupação constante dos religiosos com a repressão ou o controle da sexualidade, pois as mulheres, fracas e entregues aos próprios instintos, dificilmente resistiam às artimanhas do Demônio.

II-As canções medievais das fiandeiras retratam o espaço privado das mulheres como lugar de recolhimento, de devaneio, de espera e de convivência.

III-Na perspectiva do pensamento burguês, a imagem da mulher aparece depreciada nas narrativas literárias dos séculos XIV e XV. O amor cortês se transforma em ridicularização, malícia e reprovação dos excessos das mulheres, especialmente a gula e a falta de controle dos instintos.

De acordo com os itens analisados, marque a alternativa que contém apenas proposições corretas:

TEXTO 4

      A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.

      A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?

                                   (BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

A
I e II.
B
I , II e III
C
I e III.
D
II e III.
c136100f-9a
PUC-GO 2015 - Filosofia - O Sujeito Moderno

      De acordo com Hugo Friedrich, em A Estrutura da lírica moderna (1978), a obscuridade lírica moderna fascina o leitor “na medida em que o desconcerta. A magia de sua palavra e seu sentido de mistério agem profundamente, embora a compreensão permaneça desorientada. “A poesia pode comunicar-se, antes de ser entendida", observou T. S. Eliot em seus ensaios. Essa junção de incompreensibilidade e fascinação pode ser chamada de dissonância, pois gera uma tensão que tende mais à inquietude que à serenidade. A tensão dissonante é um objetivo das artes modernas em geral" (FRIEDRICH, 1978, p. 15). O autor lembra ainda que Baudelaire escreveu: “Existe uma certa glória em não ser compreendido" (Baudelaire apud Friedrich, 1978, p. 16). E acrescenta que ninguém escreveria versos “se o problema da poesia consistisse em fazer-se compreensível" (Friedrich, 1978, p. 16). Essa tese defende a ideia da poesia como uma criação autossuficiente, plurissignificativa.

                                 (FRIEDRICH, Hugo. A estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1978.)

      O texto poético de  Delermando Vieira confirma a assertiva de que poesia é um enigma e um ouriço não muito acessível, cheio de mistérios, encantos, matizes da polissemia da linguagem literária.

Considerando o poema selecionado, analise os itens abaixo quanto à sua correção:

I-A morte nesse poema é revelação e introdução. Todas as iniciações atravessam uma fase de morte antes de abrir o acesso a uma vida nova.

II-Esse texto, na qualidade de obra de arte, tem a propriedade de abrir-se sobre a totalidade do mundo para dele nos dar a ver e viver o essencial. E, enquanto abre-se ao mundo e à sua “realidade", visa não a uma explicação, mas a uma tomada de consciência em relação ao próprio ser das coisas: uma constatação.

III-O ser implica o não ser como sua condição, a vida segue a presença da morte, e o viver é, ao mesmo tempo, a existência do fim.

De acordo com os itens analisados, marque a alternativa que contém apenas proposições corretas:




TEXTO 2

                                                   XX

                                        Os Homens

                                         nesta manhã de sangrenta primavera

                                         parecem não mais saber

                                         o que nunca souberam,

                                         que a Vida é para sempre

                                         sã ou demente

                                          tão de repente

                                          tão de repente! 


                        (VIEIRA, Delermando.  Os tambores da tempestade. Goiânia: Poligráfica, 2010. p. 108.)

A
I e II
B
I , II e III.
C
I e III .
D
II e III.
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PUC-GO 2015 - Filosofia

O Texto 7, extraído de Melhores contos, de Moacyr Scliar, coloca frente a frente dois universos: o dos adultos, que tentam sempre estabelecer e manter a ordem, e o das crianças, recriado ludicamente pela fantasia. Marque a alternativa que melhor ilustra essa afirmação:

TEXTO 7

                                      Ao mar

    Choveu dias e depois amanheceu. Joel chegou à janela e olhou o quintal: estava tudo inundado! Joel vestiu-se rapidamente, disse adeus à mãe, embarcou numa tábua e pôs-se a remar. Hasteou no mastro uma bandeira com a estrela de David... 

     O barco navegava mansamente. As noites se sucediam, estreladas. No cesto de gávea Joel vigiava e pensava em todos os esplêndidos aventureiros: Krishna, o faquir que ficou cento e dez dias comendo cascas de ovo; Mac-Dougal, o inglês que escalou o Itatiaia com uma das mãos amarradas às costas; Fred, que foi lançado num barril ao golfo do México e recolhido um ano depois na ilha da Pintada. Moma, irmão de sangue de um chefe comanche; Demócrito que dançava charleston sobre fios de alta tensão... 

    — A la mar! A la mar! – gritava Joel entoando cânticos ancestrais. Despertando pela manhã, alimentava-se de peixes exóticos; escrevia no diário de bordo e ficava a contemplar as ilhas. Os nativos viam-no passar – um ser taciturno, distante, nas águas, distante do céu. Certa vez – uma tempestade! Durou sete horas. Mas não o venceu, não o venceu! 

     E os monstros? Que dizer deles, se nunca ninguém os viu? 

     Joel remava afanosamente; às vezes, parava só para comer e escrever no diário de bordo. Um dia, disse em voz alta: "Mar, animal rumorejante!" Achou bonita esta frase; até anotou no diário. Depois, nunca mais falou. 

     À noite, Joel sonhava com barcos e mares, e ares e céus, e ventos e prantos, e rostos escuros, monstros soturnos. Que dizer destes monstros, se nunca ninguém os viu? 

     — Joel, vem almoçar! – gritava a mãe. Joel viajava ao largo; perto da África. 

(SCLIAR, Moacyr. Melhores contos. Seleção de Regina Zilbermann. São Paulo: Global, 2003. p. 105/106.)


A
Choveu dias e depois amanheceu. Joel chegou à janela e olhou o quintal: estava tudo inundado! Joel vestiu-se rapidamente, disse adeus à mãe, embarcou numa tábua e pôs-se a remar. Hasteou no mastro uma bandeira com a estrela de David.
B

E os monstros? Que dizer deles, se nunca ninguém os viu?

Joel remava afanosamente; às vezes, parava só para comer e escrever no diário de bordo.

C
O barco navegava mansamente. As noites se sucediam, estreladas. No cesto de gávea Joel vigiava e pensava em todos os esplêndidos aventureiros: Krishna, o faquir que ficou cento e dez dias comendo cascas de ovo; Mac-Dougal, o inglês que escalou o Itatiaia com uma das mãos amarradas às costas [...].
D

À noite, Joel sonhava com barcos e mares, e ares e céus, e ventos e prantos, e rostos escuros, monstros soturnos. Que dizer destes monstros, se nunca ninguém os viu?

— Joel, vem almoçar! – gritava a mãe. Joel viajava ao largo; perto da África.

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PUC-GO 2015 - Filosofia

   O Texto 6 faz menção a desejo. É curioso observar como o ato de desejar está sempre presente na vida humana desde o nascimento. O desejo de se descobrir, o desejo de viver, o desejo de passar no vestibular, o desejo de ser feliz e o desejo de ter. O desejo é força propulsora que nos move. Nada nos empurra mais à ação que a vontade de possuir. O capitalismo, sabendo dessa nossa fraqueza de querer possuir, acabou por se apoderar dela. Ele lucra cada dia mais com o consumismo dos indivíduos. Esse consumo alicerçado numa fome insaciável de comprar nasce muitas vezes no subconsciente do homem, com a alienação imposta pela chamada “indústria cultural". A ideia de que o consumo não é desejo natural, mas antinatural, está alicerçada na filosofia de um filósofo grego da antiguidade. Ele defende que o maior prazer só é alcançável por meio do conhecimento, da amizade e de uma vida moderada, livre do medo e da dor. E que o homem sábio busca a realização dos desejos naturais e necessários, combate os desejos antinaturais e artificiais e evita com todas as suas forças os desejos dispensáveis.


Marque a alternativa que apresenta o autor desse pensamento:

TEXTO 6

[...]
Arandir (numa alucinação) – Dália, faz o seguinte. Olha o seguinte: diz à Selminha. (violento) Diz que, em toda minha vida, a única coisa que salva é o beijo no asfalto. Pela primeira vez. Dália, escuta! Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu me senti bom! (furioso) Eu me senti quase, nem sei! Escuta, escuta! Quando eu te vi no banheiro, eu não fui bom, entende? Desejei você. Naquele momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei. Saí logo, mas desejei a cunhada. Na praça da Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É lindo! É lindo, eles não entendem. Lindo beijar quem está morrendo! (grita) Eu não me arrependo! Eu não me arrependo!

Dália – Selminha te odeia! (Arandir volta para a cunhada, cambaleante. Passa a mão na boca encharcada.)

Arandir (com voz estrangulada) – Odeia. (muda de tom) Por isso é que recusou. Recusou o meu beijo. Eu quis beijar e ela negou. Negou a boca. Não quis o meu beijo.

Dália – Eu quero!

Arandir (atônito) – Você?Dália (sofrida) – Selminha não te beija, mas eu.

Arandir (contido) – Você é uma criança. (Dália aperta entre as mãos o rosto de Arandir.)

Arandir – Dália. (Dália beija-o, de leve, nos lábios.)

Dália – Te beijei.

Arandir (maravilhado) – Menina!

Dália (quase sem voz) – Agora me beija. Você. Beija.

Arandir (desprende-se com violência) – Eu amo Selminha!

Dália (desesperada) – Eu me ofereço e. Selminha não veio e eu vim.

Arandir – Dália, eu mato tua irmã. Amo tanto que. (muda de tom) Eu ia pedir. Pedir à Selminha para morrer comigo.

Dália – Morrer?

Arandir (desesperado) – Eu e Selminha! Mas ela não veio!

Dália (agarra o cunhado. Quase boca com boca, sôfrega) – Eu morreria.

Arandir – Comigo?

Dália (selvagem) – Contigo! Nós dois! Contigo! Eu te amo!

[...]

(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 98-100.)


A
Epicuro
B
Platão
C
Protágoras
D
Diógenes
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PUC-GO 2015 - Filosofia

       O jogo de olhares retratado em “O outro" (Texto 3) encerra a temática da transcendência, recorrente em Das estampas. Ser e tempo se confundem no instante do olhar, quando o narrador se vê no outro. Essa percepção de si a partir do outro pode ser identificada em:


I-“Ele me olhou como se estivesse descobrindo o mundo. Me olhou e reolhou em fração de segundo. Só vi isso porque estava olhando-o na mesma sintonia".

II-“Era um ser de meia idade, os cabelos com alguns fios grisalhos, postura de gente séria, camisa branca, um cidadão comum que jamais flertaria com outra pessoa no trânsito".

III-“Ele era o outro e isso era tudo. É como se, na igualdade de milhares de humanos, de repente, o ser se redescobrisse num outro espécime".


Com base nas proposições, marque a alternativa cujos itens estão todos corretos:

TEXTO 3  

                                       O outro

     Ele me olhou como se estivesse descobrindo o mundo. Me olhou e reolhou em fração de segundo. Só vi isso porque estava olhando-o na mesma sintonia. A singularização do olhar. Tentei disfarçar virando o pescoço para a direita e para a esquerda, como se estivesse fazendo um exercício, e numa dessas viradas olhei rapidamente para ele no volante. Ele me olhava e volveu rapidamente os olhos, fingindo estar tirando um cisco da camisa. Era um ser de meia idade, os cabelos com alguns fios grisalhos, postura de gente séria, camisa branca, um cidadão comum que jamais flertaria com outra pessoa no trânsito. E assim, enquanto o semáforo estava no vermelho para nós, ficou esse jogo de olhares que não queriam se fixar, mas observar o outro espécime que nada tinha de diferente e ao mesmo tempo tinha tudo de diferente. Ele era o outro e isso era tudo. É como se, na igualdade de milhares de humanos, de repente, o ser se redescobrisse num outro espécime. Quando o semáforo ficou verde, nós nos olhamos e acionamos os motores. 

                                              (GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 130.)

A
I e II.
B
I , II e III.
C
I e III.
D
II e III.
6e0ca0b8-34
PUC-GO 2015 - Filosofia - Conceitos Filosóficos

     O Texto 1 apresenta no seu primeiro verso uma das temáticas que norteiam bem a situação do homem contemporâneo: a angústia. É interessante observar que esse tema ganha força na atualidade, principalmente pelo viés do consumo. Veja o fragmento abaixo: 


     “Diante de um mercado forte e diversificado, o homem da sociedade contemporânea é continuamente bombardeado por sedutoras peças publicitárias que prometem bem-estar, status, conforto, projeção imediata e ilusão de segurança. Com a chegada das festas de fim de ano, a lógica do 'consumo, logo existo', segundo a qual o bem-estar é conquistado pela aquisição de produtos, se torna ainda mais evidente. Em casos extremos, a compulsão por compras pode se tornar patológica."

                                                        (Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/cons....
                                                                                                                     Acesso em: 3 jan. 2015. Adaptado.)


Sobre essa temática (angústia) que envolve o homem e o fragmento anterior, analise as proposições a seguir:


I- Nietzsche, um dos pensadores mais importantes do século XIX, retorna até os gregos para defender Sócrates; afinal, ele foi o primeiro a encaminhar a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões. Ele orienta seus escritos na direção de subjugar pela razão as forças vitais, instintivas, pois só ela garante o bom e o valoroso. E, portanto, a razão consegue pôr um fim à angústia humana.    


II- Kierkegaard, filósofo dinamarquês do século XIX, foi o primeiro a descrever a angústia como experiência fundamental do ser livre ao se colocar em situação de escolha. Para ele, a existência é permeada de contradições que a razão é incapaz de solucionar. A solução da contradição se daria pela paixão. 


III- Na atualidade, vive-se a loucura de desejar. O consumo tem como objetivo deixar a pessoa descontente (angustiada) com o que já possui e desejar o que não precisa possuir. Os capitalistas têm como lema despertar nas pessoas a necessidade de comprar loucamente. E, para tanto, procuram fazer o homem se perder nos chamados desejos artificiais. Segundo Jacques Lacan, filósofo e psicanalista, o seu desejo parte do desejo do outro. Você não irá querer um Galaxy ou um Xbox 360 se o outro não tiver tal objeto. Para o desejo se constituir enquanto tal, existe a necessidade do outro. Para Lacan, “O desejo do homem é o desejo do outro".


IV-Hegel é um dos filósofos que ajudam a fortalecer a ideia Kierkegaardiana quando, em sua obra Fenomenologia do espírito, trata sobre como solucionar os conflitos do ser humano por meio do conceito. Hegel acredita e defende que a angústia precede o ato livre. Para ele, o ser humano é visto como ser existente.


Em relação às proposições analisadas, assinale a alternativa correta:


TEXTO 1

               As vozes do homem 

Naquele momento de angústia,

o homem não sabia se era o mau ou o bom ladrão.

E quando a mais amarga das estrelas o oprimia demais,

eis que a sua boca ia dizendo:

eu sou anjo.

E os pés do homem: nós somos asas.

E as mãos: nós somos asas.

E a testa do homem: eu sou a lei.

E os braços: nós somos cetros.

E o peito: eu sou o escudo.

E as pernas: nós somos as colunas.

E a palavra do homem: eu sou o Verbo.

E o espírito do homem: eu sou o Verbo.

E o cérebro: eu sou o guia.

E o estômago: eu sou o alimento.

E se repetiram depois as acusações milenárias.

E todas as alianças se desfizeram de súbito.

E todas as maldições ressoaram tremendas.

E as espadas de fogo interceptaram o caminho da

[árvore da vida.

E as mãos abarcaram o pescoço do homem:

nós te abarcaremos.



[...]

                                                           (LIMA, Jorge de. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2006. p. 94.)

A
somente os itens I e III são verdadeiros.
B
somente os itens I e IV são verdadeiros.
C
somente os itens II e III são verdadeiros.
D
somente os itens II e IV são verdadeiros.