O Texto 6 faz menção a desejo. É curioso observar
como o ato de desejar está sempre presente na vida humana
desde o nascimento. O desejo de se descobrir, o desejo
de viver, o desejo de passar no vestibular, o desejo de
ser feliz e o desejo de ter. O desejo é força propulsora que
nos move. Nada nos empurra mais à ação que a vontade
de possuir. O capitalismo, sabendo dessa nossa fraqueza
de querer possuir, acabou por se apoderar dela. Ele lucra
cada dia mais com o consumismo dos indivíduos. Esse consumo alicerçado numa fome insaciável de comprar
nasce muitas vezes no subconsciente do homem, com a
alienação imposta pela chamada “indústria cultural". A
ideia de que o consumo não é desejo natural, mas antinatural,
está alicerçada na filosofia de um filósofo grego da
antiguidade. Ele defende que o maior prazer só é alcançável por meio do conhecimento, da amizade e de uma
vida moderada, livre do medo e da dor. E que o homem
sábio busca a realização dos desejos naturais e necessários, combate os desejos antinaturais e artificiais e evita
com todas as suas forças os desejos dispensáveis.
Marque a alternativa que apresenta o autor desse pensamento:
Marque a alternativa que apresenta o autor desse pensamento:
TEXTO 6
[...]
Arandir (numa alucinação) – Dália, faz o seguinte.
Olha o seguinte: diz à Selminha. (violento) Diz
que, em toda minha vida, a única coisa que salva é
o beijo no asfalto. Pela primeira vez. Dália, escuta!
Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu
me senti bom! (furioso) Eu me senti quase, nem
sei! Escuta, escuta! Quando eu te vi no banheiro,
eu não fui bom, entende? Desejei você. Naquele
momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei.
Saí logo, mas desejei a cunhada. Na praça da
Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É lindo! É lindo,
eles não entendem. Lindo beijar quem está morrendo!
(grita) Eu não me arrependo! Eu não me
arrependo!
Dália – Selminha te odeia! (Arandir volta para a
cunhada, cambaleante. Passa a mão na boca encharcada.)
Arandir (com voz estrangulada) – Odeia. (muda de
tom) Por isso é que recusou. Recusou o meu beijo.
Eu quis beijar e ela negou. Negou a boca. Não quis
o meu beijo.
Dália – Eu quero!
Arandir (atônito) – Você?Dália (sofrida) – Selminha não te beija, mas eu.
Arandir (contido) – Você é uma criança. (Dália aperta entre as mãos o rosto de Arandir.)
Arandir – Dália. (Dália beija-o, de leve, nos lábios.)
Dália – Te beijei.
Arandir (maravilhado) – Menina!
Dália (quase sem voz) – Agora me beija. Você. Beija.
Arandir (desprende-se com violência) – Eu amo Selminha!
Dália (desesperada) – Eu me ofereço e. Selminha não veio e eu vim.
Arandir – Dália, eu mato tua irmã. Amo tanto que. (muda de tom) Eu ia pedir. Pedir à Selminha para morrer comigo.
Dália – Morrer?
Arandir (desesperado) – Eu e Selminha! Mas ela não veio!
Dália (agarra o cunhado. Quase boca com boca, sôfrega) – Eu morreria.
Arandir – Comigo?
Dália (selvagem) – Contigo! Nós dois! Contigo! Eu te amo!
[...]
(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1995. p. 98-100.)
[...]
Arandir (numa alucinação) – Dália, faz o seguinte. Olha o seguinte: diz à Selminha. (violento) Diz que, em toda minha vida, a única coisa que salva é o beijo no asfalto. Pela primeira vez. Dália, escuta! Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu me senti bom! (furioso) Eu me senti quase, nem sei! Escuta, escuta! Quando eu te vi no banheiro, eu não fui bom, entende? Desejei você. Naquele momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei. Saí logo, mas desejei a cunhada. Na praça da Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É lindo! É lindo, eles não entendem. Lindo beijar quem está morrendo! (grita) Eu não me arrependo! Eu não me arrependo!
Dália – Selminha te odeia! (Arandir volta para a cunhada, cambaleante. Passa a mão na boca encharcada.)
Arandir (com voz estrangulada) – Odeia. (muda de tom) Por isso é que recusou. Recusou o meu beijo. Eu quis beijar e ela negou. Negou a boca. Não quis o meu beijo.
Dália – Eu quero!
Arandir (atônito) – Você?Dália (sofrida) – Selminha não te beija, mas eu.
Arandir (contido) – Você é uma criança. (Dália aperta entre as mãos o rosto de Arandir.)
Arandir – Dália. (Dália beija-o, de leve, nos lábios.)
Dália – Te beijei.
Arandir (maravilhado) – Menina!
Dália (quase sem voz) – Agora me beija. Você. Beija.
Arandir (desprende-se com violência) – Eu amo Selminha!
Dália (desesperada) – Eu me ofereço e. Selminha não veio e eu vim.
Arandir – Dália, eu mato tua irmã. Amo tanto que. (muda de tom) Eu ia pedir. Pedir à Selminha para morrer comigo.
Dália – Morrer?
Arandir (desesperado) – Eu e Selminha! Mas ela não veio!
Dália (agarra o cunhado. Quase boca com boca, sôfrega) – Eu morreria.
Arandir – Comigo?
Dália (selvagem) – Contigo! Nós dois! Contigo! Eu te amo!
[...]
(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 98-100.)
Gabarito comentado
Alternativa correta: A — Epicuro
Tema central: a questão pede identificação do autor antigo cuja ética classifica desejos em naturais/necessários, naturais/não necessários e vãos/antas, defendendo que o maior prazer se alcança por meio do conhecimento, da amizade e de uma vida moderada, buscando ataraxia (tranquilidade) e aponia (ausência de dor).
Resumo teórico (claro e progressivo): Epicuro (341–270 a.C.) afirma que o prazer é o bem supremo, mas não um prazer desenfreado. A felicidade é alcançada pela remoção da dor corporal (aponia) e da perturbação da alma (ataraxia). Para tanto, distingue desejos: naturais e necessários (ex.: comer, abrigar-se), naturais não necessários (ex.: luxo excessivo), e vãos/antas (ex.: fama, riqueza ilimitada). O sábio satisfaz os necessários, modera os outros e evita os vãos. Também enfatiza amizade e reflexão filosófica (Carta a Meneceu; Doutrinas Principais). Fontes: Cartas de Epicuro, Doutrinas Principais; Diogenes Laertius, “Lives”; Stanford Encyclopedia of Philosophy (entry “Epicurus”).
Justificativa da resposta: O enunciado descreve exatamente a ética epicureia: prazer entendido como ausência de dor e medo, ênfase no conhecimento e na amizade, e a recomendação de combater desejos artificiais/dispensáveis. Por isso a escolha de Epicuro é a correta.
Análise das alternativas incorretas:
B — Platão: Para Platão, a alma tem partes (racional, irascível, apetitiva) e o bem está ligado ao mundo das Formas e à justiça; não faz a classificação epicureia de desejos nem prioriza prazer como critério central.
C — Protágoras: Sofista que afirma “o homem é a medida de todas as coisas”; foco em relativismo e retórica, não em uma teoria normativa sobre tipos de desejo e ataraxia.
D — Diógenes (o cínico): Defende vida simples e desprezo pelas convenções, criticando desejos artificiais — mas sua proposta é ascética e de provocação, não sistematiza a distinção epicureia nem centra o prazer como critério equilibrado através do conhecimento e da amizade.
Estratégia para gabaritar: Procure palavras-chave no enunciado: “maior prazer”, “conhecimento”, “amizade”, “vida moderada”, “combate aos desejos artificiais/dispensáveis” — todas remetem a Epicuro. Em provas, identifique termos doutrinários precisos antes de escolher.
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