Questão c182984c-9a
Prova:PUC-GO 2015
Disciplina:Filosofia
Assunto:A Política

O Texto 4 faz referência a dúvida e a certeza. Descartes, o pai da filosofia moderna, começa duvidando de tudo. Na verdade, o seu método parte de um ceticismo que é levado ao extremo para se chegar a uma verdade indubitável. Tendo Descartes como referência, analise as proposições a seguir e marque a alternativa correta:

TEXTO 4

      A dúvida, continuou Laura, maldita dúvida. Essa é minha companheira, a sombra inconveniente que me segura pelos calcanhares, que há de seguir comigo até o túmulo. A morte de Tomázia, será que ela me convinha? Talvez me conviesse. Essa hipótese, eu não tenho como descartar. Seu desaparecimento anularia a prova de meu crime? Teria poder para apaziguar a culpa que continuava latejando mesmo depois de meu rompimento definitivo com Vítor? A dúvida acabou se revelando muito superior à certeza. Mil, um milhão de vezes mais forte. Talvez se eu tivesse sido obrigada a confessar meu crime aos pés de um juiz, se tivesse sido enjaulada entre mulheres que me odiavam, que me submetessem ao horror do estupro, que atentassem contra minha pessoa, a sensação de culpa tivesse sido atenuada. Juro que cheguei a sentir inveja do destino reservado às muçulmanas que cometem o pecado do adultério. Desejei, sim, ser publicamente difamada, arrastada pelos cabelos, enterrada até o pescoço, e, finalmente, ter a cabeça esfacelada a pedradas. Qualquer coisa, qualquer situação limite teria sido menos penosa do que seguir carregando a culpa, enquanto simulava a mais absoluta indiferença. Não tenho vocação para o disfarce, a simulação. Ah, como eu lamentei a perda de meu direito de exibir minha fraqueza como outras mulheres faziam! Mas não, eu tinha a permanente obrigação de ser forte, de estar preparada para o momento em que meu mundo viesse abaixo, como veio.

      A visão de mulheres com as cabeças esfaceladas, transformadas em um bolo de carne sangrento e disforme, partículas de cérebro espatifadas pra tudo que é lado, arrepiou meu corpo dolorido. Sentindo um princípio de náusea, comecei a fungar uma emoçãozinha desconfiada. Essa bruxa tá me embromando, penso, daqui a pouco eu entro na dela, caio em prantos e, alagada de piedade, abraço a velha, aliso seus cabelos grisalhos, cubro-lhe a face enrugada com beijinhos consoladores. Calma, tia, calma! Cuidado com a pressão. Tem aí algum tranquilizante que eu possa lhe dar?

                                   (BARROS, Adelice da Silveira. A mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

A
Descartes parte em busca de um conjunto de verdades que não possam ser postas em dúvida e, a partir delas, constata através dos sentidos as afirmações que são verdadeiras e começa a construir o seu conceito de existência no momento em que alcança a verdade inata.
B
Descartes sempre duvidava; porém, sua única certeza estava no fundamento de seu método, que consistia em confiar em seus sentidos como base segura para aquisição do conhecimento. Afinal, nem todos tinham a sua formação acadêmica (Direito, Filosofia, Medicina, Matemática e Química); portanto, os seus sentidos eram treinados para descobrir a certeza.
C
Descartes estabelece quatro regras para o método, são elas: a evidência: acolher apenas o que aparece ao espírito; a análise: dividir cada dificuldade em parcelas menores; o cogito: pensar as premissas mais complexas da análise; a conclusão: fechar todas as premissas com base nas ideias inatas.
D
“Penso, logo existo" trata-se da conclusão do argumento do cogito, por meio do qual Descartes pretende encontrar um fundamento seguro para a construção do edifício do conhecimento.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta: alternativa D

Tema central: a questão versa sobre o método cartesiano — especialmente o dubitare metódico e o argumento do cogito — e exige reconhecer qual alternativa expressa corretamente o papel do "Penso, logo existo" como fundamento seguro do conhecimento.

Resumo teórico rápido: Descartes inicia com dúvida metódica (duvidar de tudo que seja passível de dúvida) para eliminar crenças incertas e chegar a uma verdade indubitável. Essa verdade é o cogito — "cogito, ergo sum" — a constatação imediata de que, ao duvidar ou pensar, o sujeito existe. As obras-chave: Discourse on Method e Meditações Metafísicas.

Por que D está correta: A alternativa D afirma que "Penso, logo existo" é a conclusão do argumento do cogito e que serve de fundamento seguro para reconstruir o conhecimento. Isso corresponde exatamente ao propósito cartesiano: encontrar uma certeza indubitável que sustente todo o edifício do saber.

Por que as outras estão erradas:

A: Incorreta — afirma que Descartes usa os sentidos para constatar as verdades de partida. Na verdade, ele desconfia dos sentidos e só os reintroduz depois, quando ideias claras e distintas justificam sua confiança.

B: Incorreta — contradiz a própria gênese do método cartesiano: Descartes não confiava nos sentidos como base segura; o método parte justamente da suspensão da confiança sensorial.

C: Incorreta — mistura e deturpa as "regras" do Discurso (e troca a ordem/descrição). As máximas cartesianas são: evidência (aceitar só o claro e distinto), análise (dividir problemas), síntese (ir do simples ao complexo) e enumeração (revisões completas). O "cogito" não é uma dessas regras, mas a verdade encontrada pelo método.

Dica para provas: Busque termos-chave: "fundamento seguro", "cogito", "dúvida metódica" e verifique se a alternativa relaciona corretamente dúvida/sentidos/fundamento. Evite opções que apresentem confiança imediata nos sentidos ou listas imprecisas do método.

Fonte principal: René Descartes — Discourse on Method; Meditações Metafísicas.

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