De acordo com Hugo Friedrich, em A Estrutura da
lírica moderna (1978), a obscuridade lírica moderna fascina
o leitor “na medida em que o desconcerta. A magia
de sua palavra e seu sentido de mistério agem profundamente,
embora a compreensão permaneça desorientada.
“A poesia pode comunicar-se, antes de ser entendida",
observou T. S. Eliot em seus ensaios. Essa junção
de incompreensibilidade e fascinação pode ser chamada
de dissonância, pois gera uma tensão que tende mais à
inquietude que à serenidade. A tensão dissonante é um
objetivo das artes modernas em geral" (FRIEDRICH,
1978, p. 15). O autor lembra ainda que Baudelaire escreveu:
“Existe uma certa glória em não ser compreendido"
(Baudelaire apud Friedrich, 1978, p. 16). E acrescenta
que ninguém escreveria versos “se o problema da poesia
consistisse em fazer-se compreensível" (Friedrich,
1978, p. 16). Essa tese defende a ideia da poesia como
uma criação autossuficiente, plurissignificativa.
(FRIEDRICH, Hugo. A estrutura da lírica moderna. São
Paulo: Duas Cidades, 1978.)
O texto poético de Delermando Vieira confirma a
assertiva de que poesia é um enigma e um ouriço não
muito acessível, cheio de mistérios, encantos, matizes da
polissemia da linguagem literária.
Considerando o poema selecionado, analise os itens
abaixo quanto à sua correção:
I-A morte nesse poema é revelação e introdução. Todas
as iniciações atravessam uma fase de morte antes
de abrir o acesso a uma vida nova.
II-Esse texto, na qualidade de obra de arte, tem a propriedade
de abrir-se sobre a totalidade do mundo para dele nos dar a ver e viver o essencial. E, enquanto
abre-se ao mundo e à sua “realidade", visa
não a uma explicação, mas a uma tomada de consciência
em relação ao próprio ser das coisas: uma
constatação.
III-O ser implica o não ser como sua condição, a vida
segue a presença da morte, e o viver é, ao mesmo
tempo, a existência do fim.
De acordo com os itens analisados, marque a alternativa
que contém apenas proposições corretas:
(FRIEDRICH, Hugo. A estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1978.)
O texto poético de Delermando Vieira confirma a assertiva de que poesia é um enigma e um ouriço não muito acessível, cheio de mistérios, encantos, matizes da polissemia da linguagem literária.
Considerando o poema selecionado, analise os itens abaixo quanto à sua correção:
I-A morte nesse poema é revelação e introdução. Todas as iniciações atravessam uma fase de morte antes de abrir o acesso a uma vida nova.
II-Esse texto, na qualidade de obra de arte, tem a propriedade de abrir-se sobre a totalidade do mundo para dele nos dar a ver e viver o essencial. E, enquanto abre-se ao mundo e à sua “realidade", visa não a uma explicação, mas a uma tomada de consciência em relação ao próprio ser das coisas: uma constatação.
III-O ser implica o não ser como sua condição, a vida segue a presença da morte, e o viver é, ao mesmo tempo, a existência do fim.
De acordo com os itens analisados, marque a alternativa que contém apenas proposições corretas:
TEXTO 2
XX
Os Homens
nesta manhã de sangrenta primavera
parecem não mais saber
o que nunca souberam,
que a Vida é para sempre
sã ou demente
tão de repente
tão de repente!
(VIEIRA, Delermando. Os tambores da tempestade.
Goiânia: Poligráfica, 2010. p. 108.)
TEXTO 2
XX
Os Homens
nesta manhã de sangrenta primavera
parecem não mais saber
o que nunca souberam,
que a Vida é para sempre
sã ou demente
tão de repente
tão de repente!
(VIEIRA, Delermando. Os tambores da tempestade. Goiânia: Poligráfica, 2010. p. 108.)
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa D
Tema central: trata-se da poética moderna: a dissonância lírica (obscuridade que fascina) e da relação entre vida e morte na experiência poética. É preciso conectar o poema às teses de Hugo Friedrich (sobre poesia que comunica antes de ser "entendida") e a noções filosóficas sobre ser, finitude e rito de passagem.
Resumo teórico: Friedrich (A estrutura da lírica moderna, 1978) descreve a modernidade poética como plurissignificativa e propositalmente enigmática; T. S. Eliot ressalta que a poesia comunica-se antes de ser compreendida. Em filosofia, a relação ser–não-ser e a consciência da finitude são tratadas por Heidegger (Ser e Tempo) e a ideia de "morte como passagem/renovação" aparece em estudos sobre ritos de iniciação (Van Gennep; Eliade).
Justificativa da alternativa correta (II e III):
II — correta. O item diz que a obra de arte abre-se ao mundo para provocar uma tomada de consciência, não uma mera explicação. Isso converge com a tese de Friedrich/Eliot: a poesia ativa uma percepção existencial antes da elaboração conceitual. No poema, há uma epifania coletiva — “parecem não mais saber / o que nunca souberam” — que aponta para essa constatação existencial.
III — correta. Afirma a interdependência entre vida e morte: viver implica o fim como horizonte. O verso “a Vida é para sempre / sã ou demente … tão de repente” articula a presença súbita da mortalidade na experiência vital, alinhando-se à noção filosófica de finitude que estrutura o sentido do ser.
Análise do item I — por que é incorreto:
I — incorreta. Afirma que a morte no poema funciona como rito iniciático que leva a uma “vida nova”. Não há no texto evidência de processo ritual de morte/renascimento; o poema destaca surpresa e tomada de consciência diante da condição humana, não uma iniciação ritualizada. Assim, extrapola-se um esquema antropológico (Van Gennep/Eliade) sem respaldo textual.
Dicas de prova: 1) Identifique palavras-chave do enunciado e do poema (p.ex. “sangrenta primavera”, “tão de repente”); 2) Relacione-as a conceitos teóricos solicitados (dissonância, finitude); 3) Descarte alternativas que generalizam além do texto (como ritos não evidenciados); 4) Busque suporte em autores citados no enunciado (Friedrich, Eliot).
Referências breves: Friedrich, Hugo (1978); T. S. Eliot — ensaios; Heidegger, Ser e Tempo (sobre finitude); Van Gennep/Eliade (ritos) — para relação teórica.
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