O teor argumentativo do Texto 2 é reforçado também:
TEXTO 2
A revolução digital
Texto e papel. Parceiros de uma história de êxitos.
Pareciam feitos um para o outro.
Disse “pareciam”, assim, com o verbo no passado, e já me
explico: estão em processo de separação.
Secular, a união não ruirá do dia para a noite. Mas o
divórcio virá, certo como o pôr-do-sol a cada fim de tarde.
O texto mantinha com o papel uma relação de
dependência. A perpetuação da escrita parecia
condicionada à produção de celulose.
Súbito, a palavra descobriu um novo meio de propagação: o
cristal líquido. Saem as árvores. Entram as nuvens de
elétrons.
A mudança conduz a veredas ainda não exploradas. De
concreto há apenas a impressão de que, longe de
enfraquecer, a ebulição digital tonifica a escrita.
Isso é bom. Quando nos chega por um ouvido, a palavra
costuma sair por outro. Vazando-nos pelos olhos, o texto
inunda de imagens a alma.
Em outras palavras: falada, a palavra perde-se nos desvãos
da memória; impressa, desperta o cérebro, produzindo uma
circulação de ideias que gera novos textos. A Internet é, por
assim dizer, um livro interativo. Plugados à rede, somos,
autores e leitores. Podemos visitar as páginas de um
clássico da literatura. Ou simplesmente, arriscar textos
próprios.
Otto Lara Resende costumava dizer que as pessoas
haviam perdido o gosto pela troca de correspondências.
Antes de morrer, brindou-me com dois telefonemas. Em um
deles prometeu: “Mando-te uma carta qualquer dia destes”.
Não sei se teve tempo de render-se ao computador. Creio
que não. Mas, vivo, Otto estaria surpreso com a
popularização crescente do correio eletrônico.
O papel começa a experimentar o mesmo martírio imposto
à pedra quando da descoberta do papiro. A era digital está
revolucionando o uso do texto. Estamos virando uma
página. Ou, por outra, estamos pressionando a tecla
“enter”.
Josias de Souza. A revolução digital. Folha de São Paulo. 6/05/96.
Caderno Brasil, p. 2).
TEXTO 2
A revolução digital
Texto e papel. Parceiros de uma história de êxitos. Pareciam feitos um para o outro.
Disse “pareciam”, assim, com o verbo no passado, e já me explico: estão em processo de separação.
Secular, a união não ruirá do dia para a noite. Mas o divórcio virá, certo como o pôr-do-sol a cada fim de tarde.
O texto mantinha com o papel uma relação de dependência. A perpetuação da escrita parecia condicionada à produção de celulose.
Súbito, a palavra descobriu um novo meio de propagação: o cristal líquido. Saem as árvores. Entram as nuvens de elétrons.
A mudança conduz a veredas ainda não exploradas. De concreto há apenas a impressão de que, longe de enfraquecer, a ebulição digital tonifica a escrita.
Isso é bom. Quando nos chega por um ouvido, a palavra costuma sair por outro. Vazando-nos pelos olhos, o texto inunda de imagens a alma.
Em outras palavras: falada, a palavra perde-se nos desvãos da memória; impressa, desperta o cérebro, produzindo uma circulação de ideias que gera novos textos. A Internet é, por assim dizer, um livro interativo. Plugados à rede, somos, autores e leitores. Podemos visitar as páginas de um clássico da literatura. Ou simplesmente, arriscar textos próprios.
Otto Lara Resende costumava dizer que as pessoas haviam perdido o gosto pela troca de correspondências. Antes de morrer, brindou-me com dois telefonemas. Em um deles prometeu: “Mando-te uma carta qualquer dia destes”.
Não sei se teve tempo de render-se ao computador. Creio que não. Mas, vivo, Otto estaria surpreso com a popularização crescente do correio eletrônico.
O papel começa a experimentar o mesmo martírio imposto à pedra quando da descoberta do papiro. A era digital está revolucionando o uso do texto. Estamos virando uma página. Ou, por outra, estamos pressionando a tecla “enter”.
Josias de Souza. A revolução digital. Folha de São Paulo. 6/05/96.
Caderno Brasil, p. 2).