“A filosofia vai surgir ligada a esses dois tipos de palavras, isto é, à alétheia e à dóxa. Essa ligação é diferenciada, ou seja, não será sempre a mesma nos diferentes períodos da filosofia grega. Assim, na fase inicial, os filósofos procuravam falar nos dois campos: falam como poetas e adivinhos, isto é, no campo da palavra-verdade, e falam como chefes políticos, isto é, no campo da palavra persuasão. A seguir, com os filósofos Pitágoras de Samos e Parmênides de Eléia, afastam a dóxa e fortalecem apenas a alétheia. No entanto, a partir do desenvolvimento da democracia, sobretudo em Atenas, um grupo de filósofos novos, os sofistas, afastam a alétheia e fortalecem exclusivamente a dóxa. Finalmente, com Sócrates e Platão, será feito um esforço gigantesco (decisivo para todo pensamento ocidental) para colocar a alétheia no lugar da dóxa. Será o momento em que a filosofia, em vez de ocupar-se com a origem do mundo e as causas de suas transformações, se interessará exclusivamente pelos homens, pela vida social e política” (CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia – Dos pré-socráticos a Aristóteles. Volume I. 1ª ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994).
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre o tema, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) e, em seguida, assinale a alternativa correta.
( ) Essas observações sobre a alétheia e a dóxa nos ajudam a compreender por que a filosofia nascente, embora sendo uma cosmologia (isto é, uma explicação racional sobre a origem do mundo e as causas de suas transformações), emprega um vocabulário político e humano para referir-se o cosmos. É que a linguagem disponível para a filosofia é a linguagem da pólis e esta é projetada na explicação da natureza ou do universo.
( ) A palavra dóxa deriva do verbo dokéo, que significa: 1) tomar o partido que se julga o mais adaptado a uma situação; 2) conformar-se a uma norma; 3) escolher e decidir. A dóxa pertence ao vocabulário político da decisão, deliberação e opinião.
( ) Exercício do pensamento e da linguagem, a filosofia nascente não irá diferenciar-se da palavra dos guerreiros e dos políticos, pois não possui uma pretensão específica, deseja apenas argumentar e persuadir.
( ) No pensamento mítico e na organização sócio-política que antecede o surgimento da pólis, a alétheia possui uma relação intrínseca com os procedimentos oraculares e divinatótios: é a lembrança do que foi contemplado no oráculo e ouvido, ali, dos deuses, que é a verdade, alétheia.
“A filosofia vai surgir ligada a esses dois tipos de palavras, isto é, à alétheia e à dóxa. Essa ligação é diferenciada, ou seja, não será sempre a mesma nos diferentes períodos da filosofia grega. Assim, na fase inicial, os filósofos procuravam falar nos dois campos: falam como poetas e adivinhos, isto é, no campo da palavra-verdade, e falam como chefes políticos, isto é, no campo da palavra persuasão. A seguir, com os filósofos Pitágoras de Samos e Parmênides de Eléia, afastam a dóxa e fortalecem apenas a alétheia. No entanto, a partir do desenvolvimento da democracia, sobretudo em Atenas, um grupo de filósofos novos, os sofistas, afastam a alétheia e fortalecem exclusivamente a dóxa. Finalmente, com Sócrates e Platão, será feito um esforço gigantesco (decisivo para todo pensamento ocidental) para colocar a alétheia no lugar da dóxa. Será o momento em que a filosofia, em vez de ocupar-se com a origem do mundo e as causas de suas transformações, se interessará exclusivamente pelos homens, pela vida social e política” (CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia – Dos pré-socráticos a Aristóteles. Volume I. 1ª ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994).
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre o tema, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) e, em seguida, assinale a alternativa correta.
( ) Essas observações sobre a alétheia e a dóxa nos ajudam a compreender por que a filosofia nascente, embora sendo uma cosmologia (isto é, uma explicação racional sobre a origem do mundo e as causas de suas transformações), emprega um vocabulário político e humano para referir-se o cosmos. É que a linguagem disponível para a filosofia é a linguagem da pólis e esta é projetada na explicação da natureza ou do universo.
( ) A palavra dóxa deriva do verbo dokéo, que significa: 1) tomar o partido que se julga o mais adaptado a uma situação; 2) conformar-se a uma norma; 3) escolher e decidir. A dóxa pertence ao vocabulário político da decisão, deliberação e opinião.
( ) Exercício do pensamento e da linguagem, a filosofia nascente não irá diferenciar-se da palavra dos guerreiros e dos políticos, pois não possui uma pretensão específica, deseja apenas argumentar e persuadir.
( ) No pensamento mítico e na organização sócio-política que antecede o surgimento da pólis, a alétheia possui uma relação intrínseca com os procedimentos oraculares e divinatótios: é a lembrança do que foi contemplado no oráculo e ouvido, ali, dos deuses, que é a verdade, alétheia.
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa C (V – V – F – V)
Tema central: A oposição grega entre alétheia (verdade, “desvelamento”) e dóxa (opinião, crença) explica mudanças de foco da filosofia antiga: da linguagem mítica e oracular para explicações racionais e, depois, para debates políticos e retóricos (sofistas) e a reação socrático-platônica em busca da verdade.
Resumo teórico: - Alétheia: não apenas “correspondência factual”, mas sentido grego de desvelar o que está escondido (Heidegger retoma essa noção); ligada a tradições oraculares e à ânsia de explicação racional nos pré-socráticos. - Dóxa: opinião pública, deliberação política, retórica — campo dos sofistas, do discurso persuasivo e da decisão na pólis.
Justificativa das asserções (V/F):
1ª (V) — Correta. A linguagem dos primeiros filósofos combina vocabulário humano/político com explicação cosmológica: a pólis é o horizonte linguístico disponível, projetado na fala sobre o cosmos.
2ª (V) — Correta. Dóxa deriva de verbos como dokéō/dokeîn (parecer, julgar, decidir) e pertence ao léxico da deliberação e opinião política.
3ª (F) — Falsa. Embora a filosofia inicial empreste formas retóricas, ela aspira a explicações racionais (alma da alétheia), não se reduz à mera persuasão ou ao exercício retórico dos guerreiros/políticos.
4ª (V) — Correta. No contexto mítico e pré-pólis, a verdade frequentemente aparece vinculada ao que foi revelado nos oráculos — memória do que foi ouvido/divino — relacionando alétheia a procedimentos divinatórios.
Por que C? Porque combina corretamente V – V – F – V, concordando com a leitura tradicional (Chauí) e estudos sobre sofistas e pré-socráticos (ver também entradas sobre “Sophists” e “Pre-Socratic Philosophy” na Stanford Encyclopedia of Philosophy).
Análise rápida das demais alternativas: Todas incorrem em pelo menos um erro de sinalização das assertivas (por exemplo, apresentar a 3ª como verdadeira ou negar o vínculo oracular da 4ª), logo não correspondem ao conjunto correto.
Fontes recomendadas: Marilena Chaui, Introdução à História da Filosofia; Stanford Encyclopedia of Philosophy (entradas “Sophists”, “Pre-Socratic Philosophy”).
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