Fazer filosófico: o que é, qual a importância e como cai no Enem

Publicado em: 18/10/2023

O que é o fazer filosófico? Essa denominação é utilizada para designar a atividade intelectual de produção do conhecimento filosófico. Essa tarefa envolve diversos momentos, como a observação e problematização de certo aspecto da realidade, a leitura de textos onde se encontram as exposições de outros pensadores e o registro escrito das ideias desenvolvidas. Todas essas etapas devem estar alicerçadas nos princípios da lógica e nos fundamentos racionais que guiam o pensamento filosófico. Utilizando o logos, a filosofia é capaz de impulsionar o conhecimento acerca do mundo desde o seu nascimento na Antiguidade grega.

O desenvolvimento das pólis gregas

As pólis foram um dos principais aspectos da dimensão política da civilização grega antiga. Se caracterizando como a forma de organização social produzida pelo povo helênico, tiveram sua origem ainda no final do período homérico e perduraram até o helenístico. As pólis eram marcadas por certo nível de autonomia política, de modo que cada comunidade decidia a nível local os rumos que seriam tomados pelos governantes. Em Atenas, a mais proeminente das pólis, era praticada a democracia e os cidadãos se envolviam diretamente nas decisões políticas através dos debates e assembleias. Essas discussões ocorriam em espaços chamados ágoras e criavam um sentimento de pertencimento à comunidade (urbanidade) por parte dos cidadãos que compunham o corpo político.

Além dos debates públicos, o intenso comércio também movimentou as pólis gregas. Mercadores de outras regiões visitavam o solo helênico com a intenção de comercializar mercadorias, o que acabou propiciando um valioso intercâmbio entre culturas. O contato entre os gregos e membros de outros povos, o uso da moeda e a intensa atividade política da época fomentaram no mundo grego o surgimento do logos enquanto forma racional e argumentativa de pensamento, essencial para o fazer filosófico que nascia nesse contexto social.

Sofistas e filósofos

Nesse contexto marcado por discussões políticas, surge a figura dos assim chamados sofistas. Eles eram sábios que viajavam entre as pólis e ministravam ensinamentos sobre variados assuntos mediante o pagamento de valores. Esses pensadores eram oradores habilidosos e mestres em uma técnica de persuasão conhecida como retórica. Através dessa habilidade, os sofistas eram capazes de formular argumentos que defendiam por meios racionais o ponto de vista dos indivíduos que pagavam por seus serviços. Nesse sentido, a atividade sofística ficou marcada pelo seu caráter relativista, tendo em vista que eles não possuíam compromisso em descobrir a verdade acerca das coisas, mas apenas de defender racionalmente as perspectivas que lhes fossem apresentadas. Esses personagens contrastavam com os filósofos e sua atividade de busca pela verdade. Enquanto os sofistas defendiam as certezas relativas de seus alunos, os filósofos perseguiram certezas objetivas sobre a realidade por meio de suas investigações racionais. Apesar das divergências, ambos os tipos de pensadores foram protagonistas na produção do conhecimento filosófico da época, pois movimentaram calorosas discussões sobre temáticas relacionadas ao ser humano e à natureza.

Estruturas do pensamento lógico

O pensamento lógico é indispensável para todo e qualquer fazer filosófico. Essa forma de pensar utiliza categorias e noções que orientam a concatenação das ideias em direção a raciocínios precisos e coesos sobre o mundo. Os elementos essenciais para a construção de argumentos são as premissas. Podemos compreendê-las como proposições, ou seja, enunciados que comunicam algo sobre a realidade. Ao partirmos de duas premissas, é possível alcançar uma conclusão estabelecendo um novo juízo lógico. A esse tipo de procedimento, atribui-se o nome de silogismo. Essa é uma forma básica de argumentação, mas que expressa os princípios racionais que orientam o pensamento. Segue-se um exemplo simples de silogismo:

Premissa 1: Todos os cachorros da vizinha são pastores alemães. Premissa 2: Pluto é um cachorro da vizinha. Conclusão: Pluto é um pastor alemão.

Também fazem parte do pensamento lógico os chamados axiomas. Esse termo designa um tipo específico de proposição que, embora seja indemonstrável, serve como fundamento para a dedução de raciocínios a partir dela. Outra noção fundamental para o pensamento lógico é dialética. Utilizada por Sócrates como um método de diálogo baseado na contraposição de ideias, na Modernidade a dialética se tornou uma forma de lógica utilizada para se pensar sobre as contradições existentes na realidade. Enquanto a lógica clássica entende uma contradição como algo falso e incompatível com o pensamento, a dialética entende aquilo contraditório como algo que pode ser resolvido em uma síntese.

A filosofia do ser x a filosofia do vir-a-ser

Destacam-se, entre os pensadores mais influentes da Antiguidade grega, os nomes de Parmênides e Heráclito. Esses filósofos elaboraram concepções distintas acerca do mesmo objeto: o ser, que se refere à existência dos objetos que constituem a natureza. Para Parmênides, a razão nos diz que o ser é e não pode não ser, ao mesmo tempo, em que o não-ser não é e não pode ser. Isso significa que a existência de todas as coisas é permanente e, portanto, não está sujeita ao movimento. Tudo permanece inalterado, tendo em vista que a transformação implicaria em uma passagem do ser ao não-ser (ou vice e versa), o que seria inconcebível para a razão. Heráclito, por sua vez, defendia que a natureza é um constante vir-a-ser, ou seja, um permanente processo de transformação. Tudo o que existe está em movimento, de modo que a passagem do ser ao não-ser não somente é possível como caracteriza verdadeiramente a natureza.

O fazer filosófico no ENEM

As questões que abordam o fazer filosófico no ENEM costumam explorar problemas relacionados à lógica e à construção de raciocínios assertivos sobre a realidade. São abordados filósofos que trataram em seus pensamentos sobre temáticas relacionadas à produção de ideias e argumentos que possuam coerência entre si e veracidade em relação ao mundo e ao seu funcionamento. Para responder corretamente tais questões, é necessário conhecer as principais categorias da lógica e do modo de construção do pensamento filosófico.

(ENEM PPL 2011) A confusão era grande e ficou ainda maior depois do discurso do presidente norte-americano Barack Obama em defesa da guerra, ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2009. Como liberal, Obama poderia ter utilizado os argumentos do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que também defendeu, na sua época, a legitimidade das guerras como meio de difusão da civilização européia.

FIORI, J. L. A moral internacional e o poder. Revista CULT. Nº 145. São Paulo: Bregantini, abr. 2010.

O argumento utilizado por Barack Obama ao defender a guerra em nome da paz constitui um tipo de raciocínio:

a) Indutivo.

b) Dedutivo.

c) Paradoxal.

d) Metafórico.

e) Analógico.