Mito e Filosofia: origens, diferenças e importâncias para o Enem

Publicado em: 18/10/2023

Existem diversos traços em comum entre mito e filosofia. Embora estejam baseadas em fundamentos diferentes, ambas se tratam de esforços de compreensão da realidade. Antes de serem capazes de investigar logicamente a natureza e de elaborarem teorias racionais para a explicação dos fenômenos, os seres humanos utilizaram suas imaginações para criar maneiras de atribuir significado aos objetos e acontecimentos ao seu redor. Ao falarmos de mito, não nos referimos a meras narrativas fantásticas e irreais, mas sim a uma das primeiras formas desenvolvidas pela humanidade para compreender e explicar o mundo em tempos remotos da história. As questões sobre mito no ENEM exploram a importância cultural e intelectual que essas narrativas possuíam para os povos antigos, relacionando-a com as ideias que os filósofos desenvolveram ao longo dos séculos. 

Origem do mito

Os mitos representaram um importante traço da identidade das civilizações, revelando como os indivíduos viam e compreendiam o mundo ao seu redor. Mas, o que é mito? É uma narrativa de caráter simbólico e fantasioso elaborado oralmente ou de forma escrita por um povo e tem como uma de suas principais funções a tarefa de esclarecer e explicar a origem do universo e das forças que atuam sobre a natureza. Não possuem estrutura argumentativa e não estão baseados no raciocínio lógico. Essas narrativas partem da imaginação e do fantástico. Envolvem a figura de deuses, forças da natureza, heróis e outros tipos de objetos que podem simbolizar o modo de vida de um povo.

Embora as narrativas míticas estejam presentes nas mais diversas civilizações, é entre os mitos elaborados pelos gregos antigos que surgem as formas de pensamento que, associadas ao contexto político helênico, criariam as condições necessárias para o florescimento da atividade filosófica. Inicialmente, as narrativas míticas dos gregos eram transmitidas oralmente, contadas pelos mais velhos para os mais jovens, servindo assim como um processo de formação cultural e educacional. Com o reaparecimento da escrita na Grécia, os mitos passaram a ser registrados e declamados pelos poetas. Fenômenos naturais como a chuva, eclipses, terremotos e até mesmo o nascimento do universo eram explicados, ainda que de forma não racional, pelas grandes narrativas míticas.

Destaca-se uma concepção importante para o estudo das narrativas míticas: os mitos não eram formas de iludir ou enganar os indivíduos. Embora suas estruturas estejam alicerçadas no fantástico e na imaginação, seu simbolismo expressa elementos reais e existentes na natureza. Os mitos e suas histórias revelam o esforço humano para a explicação do mundo em uma época onde a filosofia e as ciências ainda não haviam avançado do modo como conhecemos hoje. Sem a presença dos mitos no passado, seria difícil imaginar o desenvolvimento do pensamento humano em direção à elucidação das grandes questões acerca da realidade.

Surgimento da filosofia

Com o passar dos séculos, as narrativas míticas amplamente presentes na sociedade grega passaram a ceder o seu lugar de importância para outras formas de explicação da realidade. Em meio aos debates públicos, às assembleias e às discussões políticas, começa a nascer o logos, uma forma de pensar baseada na argumentação racional e que serviu como alicerce para o desenvolvimento do pensamento filosófico. Mas, o que é filosofia? Podemos compreendê-la como uma área do conhecimento humano que se debruça racionalmente sobre as principais questões relacionadas à realidade e à existência dos seres humanos. Ela surgiu em meio ao agitado contexto social e político helênico e permaneceu ao lado da humanidade até hoje, movimentando diversos pensadores em seus estudos sobre temáticas profundas.

Com o surgimento dessa nova forma de explicação da realidade, as narrativas míticas entraram em decadência. Essa passagem deve ser compreendida como um processo e não como uma ruptura. Algumas características dos mitos permaneceram vivos nas tradições do povo grego e até mesmo na exposição das ideias de alguns filósofos. Nesse sentido, destacam-se o registro escrito e o ímpeto em conhecer as causas dos fenômenos. A simbologia e o fantástico presentes nos mitos deram lugar à argumentação e ao esforço racional de investigação da realidade próprios do pensamento filosófico.

Diferenças entre o mito e a Filosofia

Enquanto os mitos se construíram a partir de noções sobrenaturais e fantásticas, a filosofia utiliza a razão para desenvolver reflexões e teorias sobre as questões por ela abordadas. Embora ambas compartilhem o traço em comum de serem expressões do esforço de compreensão da natureza, a filosofia procede de maneira muito mais rigorosa, não aceitando como verdadeiras ideias que não estejam baseadas em uma argumentação clara e coesa. As narrativas míticas contam o nascimento e a trajetória de deuses e heróis, cujos feitos ecoam no imaginário popular. A filosofia, desenvolve argumentos lógicos, amparados na racionalidade, para tentar explicar o surgimento do universo, a origem do conhecimento, as melhores formas de agir e de se organizar a sociedade. Com efeito, o principal contraste entre esses dois campos reside no uso do pensar racional e na estrutura argumentativa e não fantasiosa na criação e exposição de ideias.

Mitos:

  • Baseiam-se na fantasia e no simbolismo para representar a realidade;
  • Buscam explicar o mundo e seus fenômenos;
  • Expressam a visão de mundo de um povo;
  • Se associam aos ritos religiosos e à cultura de uma civilização.

Filosofia:

  • Baseia-se na razão e utiliza argumentos para expor as ideias;
  • Busca explicar o mundo e seus fenômenos de forma lógica;
  • Utiliza o pensamento racional para investigar suas questões;
  • Expressa o desejo humano de busca pelo conhecimento;
  • Nasce entre os gregos e permanece junta à humanidade até o presente.

Mito e filosofia no ENEM

As questões sobre mito e filosofia no ENEM costumam abordar o significado e a importância que as narrativas mitológicas possuíam na sociedade grega. São relacionados elementos que fazem parte do pensamento filosófico e trechos dos escritos míticos, com a intenção de explorar a relação existente entre ambos. Para responder corretamente a essas questões sobre filosofia no ENEM, é importante compreender o papel dos mitos para os gregos e se afastar de ideias que definem tais narrativas como meras fantasias desprovidas de importância.

(ENEM 2010) Quando Édipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma profecia na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evitá-la, ordenaram a um criado que matasse o menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um casal de camponeses que morava longe de Tebas para que o criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu então da casa de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou-se com Laio e seu séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada. Édipo reagiu e matou todos os integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou a viagem até chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ela decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se rei de Tebas e casou-se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia.

Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em: 28 ago. 2010 (adaptado).

No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos são características do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é:

a) “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.” (Jean Paul Sartre).

b) Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.” (Santo Agostinho).

c) “Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.” Arthur (Schopenhauer).

d) “Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo.” (Michel Foucault).

e) “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança.” (Friedrich Nietzsche).