“O massacre físico do povo palestino se
sustenta na sua eliminação simbólica. Armas,
imagens e palavras são dispositivos bélicos, cada
um com sua especificidade, mas todos articulados
em torno de um objetivo estratégico: o povo
palestino deve desaparecer. É da imaterialidade das
palavras e imagens que Israel estrutura a
legitimação da violência. Em que consiste esta
violência simbólica? Há dois eixos discursivos
conectados: o não reconhecimento da existência de
um povo que habitava as terras que serviriam para
o território-cemitério de Israel (‘cemitério’ porque
em cada pedaço de metro quadrado construído por
Israel há uma história assassinada, memórias
negadas, corpos palestinos enterrados). Por outro, a
ressignificação do ‘árabe’ como ser genérico, sem
rosto, sem singularidade.”
BENTO, Berenice. Os muros que separam os palestinos do
mundo. In: Outras palavras. Publicado em 28/05/2019.
Disponível em:
https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/cartilhapara-riscar-os-palestinos-do-mapa/
Na passagem acima, as expressões “imagens e
palavras são dispositivos bélicos” e “eixos
discursivos conectados” correspondem à concepção
de poder
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa A
Tema central: a questão trata da concepção de poder como prática discursiva e dispositiva — ou seja, como palavras, imagens e instituições produzem efeitos de verdade, excluem sujeitos e legitimam violência simbólica. Essa perspectiva remete diretamente às formulações de Michel Foucault sobre poder, discurso e dispositivos.
Resumo teórico (claro e progressivo): Foucault entende poder não apenas como propriedade de um agente (rei, Estado) mas como relação difusa que opera em práticas, saberes e instituições. Conceitos-chave: dispositivo (dispositif) — arranjo heterogêneo de discursos, instituições e práticas — e assujeitamento — modos pelos quais sujeitos são produzidos e controlados. Em "Vigiar e Punir" e em "A História da Sexualidade" ele mostra como discursos e imagens funcionam como tecnologias do poder para normalizar, excluir e eliminar simbolicamente grupos.
Por que a alternativa A é correta: A descreve o poder como relações de força sustentadas por discursos que se realizam em dispositivos institucionais de disciplinamento e assujeitamento — exatamente o núcleo da teoria foucaultiana. A expressão do texto (“imagens e palavras são dispositivos bélicos”; “eixos discursivos conectados”) corresponde ao entendimento de que o poder age por meio de discursos e dispositivos que produzem invisibilização e desumanização.
Análise das alternativas incorretas:
B (Maquiavel): refere-se à estratégia do governante (ser temido vs amado) e ao poder como cálculo político/prático, não à noção de dispositivos discursivos que produzem sujeitos e exclusões simbólicas.
C (Marx): foca no poder como expressão das relações de classe e das estruturas econômicas e vê a ideologia como legitimação; embora haja intersecção (ideologia/legitimação), falta a ênfase foucaultiana em discurso, técnicas e dispositivos que disciplinam cotidianos.
D (Hobbes): apresenta o poder como soberania que põe fim ao estado de natureza por contrato, com ênfase no monopólio da força estatal — abordagem distinta da análise do poder como rede discursiva e simbólica.
Dica de prova: Palavras-chave como dispositivo, discurso, assujeitamento e legitimação simbólica apontam para Foucault. Ao ler alternativas, conecte cada descrição ao autor e à ênfase teórica (discurso vs. estrutura econômica vs. soberania vs. estrategema político).
Principais referências: Michel Foucault — Vigiar e Punir; A História da Sexualidade; entrevistas e ensaios sobre dispositivo e poder-saber.
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