Em mais de um momento, no livro A rosa do povo, o
poeta Carlos Drummond de Andrade mostrou um aflito
interesse no desenrolar das tragédias da Segunda Guerra.
É o que se pode comprovar com estes versos:
Considere o texto abaixo.
Deve ter sido importante para Drummond o poema do escritor chileno Pablo Neruda, lido na cidade do México em 1942 e logo depois afixado em cartazes nas ruas da cidade: “Canto a Stalingrado”. O poema de Neruda não fala de vitória, e sim de resistência, além de clamar de modo indignado pela abertura da Segunda Frente que viria aliviar a União Soviética da pressão nazista. Já na “Carta a Stalingrado”, de Drummond, o núcleo propriamente do poema se espraia tanto para o lado épico, que relaciona a vitória de Stalingrado aos destinos da humanidade, como para o lado lírico, em que a batalha é vista a partir das suas ressonâncias no “eu”.
(MOURA, Murilo Marcondes de. O mundo sitiado. São Paulo: Editora 34, 2016, p. 128)
Onde foi Troia,
onde foi Helena,
onde a erva cresce,
onde te despi
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial − inatingível.
Passo nos escritórios. Nos espelhos,
nas mãos que apertam, nos olhos míopes, nas bocas
que sorriem ou simplesmente falam eu desfilo.
As lições da infância
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras
nem delas careço.
Meus olhos são pequenos para ver
toda essa força aguda e martelante
a rebentar do chão e das vidraças (...)