Questõesde FGV sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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1d8b04c7-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Tipologia Textual, Tipos de Discurso: Direto, Indireto e Indireto Livre, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Entre as técnicas narrativas que entram na composição do excerto encontra-se


I o emprego dos discursos direto, indireto e indireto livre;

II o foco da narração incidindo primeiramente sobre a vida mental e de relação, mas bem situado em contexto histórico-social determinado;

III o narrador onisciente, que, no entanto, constitui as personagens principalmente a partir da disseminação de indícios e de sugestões, demandando a perspicácia do leitor.


Está correto o que se afirma em

Texto para a questão.


Machado de Assis, Quincas Borba. 

A
I, apenas.
B
II, apenas.
C
I e III, apenas.
D
II e III, apenas.
E
I, II e III.
1da7c037-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao declarar que imaginara construir o livro “pela divisão do trabalho”, explicando a seguir o que entende por esse método, Paulo Honório revela que

Texto para a questão 


Capítulo um


        Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.

         Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa.

São Bernardo, Graciliano Ramos. 

A
as desgraças decorrentes de seu egoísmo ensinaram-lhe as virtudes do compartilhamento.
B
adquirira a consciência de que toda obra relevante é eminentemente coletiva.
C
respeitara sempre, malgrado as aparências, as instituições da Igreja, da Educação e da Imprensa.
D
mantém, ainda, basicamente, a mesma mentalidade que regera sua ascensão social.
E
reconhecera, finalmente, o valor da literatura no desenvolvimento nacional.
1d9aa604-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Vista no contexto da obra e observada nos termos em que se dá, a consideração da “questão servil”, que ocorre no excerto, remete a um contexto histórico no qual

Texto para a questão.


Machado de Assis, Quincas Borba. 

A
os processos de atualização em curso no País já encontram na escravidão um entrave ou um embaraço, tal como ocorre em O cortiço.
B
o aumento desmedido do tráfico negreiro demanda a intervenção da Coroa, tal como ocorre nas Memórias de um sargento de milícias.
C
o brilho social, a que almeja a Corte, se vê empanado pela presença dos escravos, tal como se postula em Senhora.
D
já se considera a presença do elemento servil no ambiente escolar um impedimento à formação do jovem, tal como se declara em O Ateneu.
E
a prefiguração do fim do cativeiro já enseja uma compreensão do Brasil como ente multirracial, conforme se verá, simbolicamente, em Macunaíma.
1d7e681f-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Morfologia - Verbos, Flexão verbal de tempo (presente, pretérito, futuro), Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Empregou-se o presente com ideia de futuro no seguinte excerto do texto:

Texto para a questão.


Machado de Assis, Quincas Borba. 

A
“ela ia entre vinte e sete e vinte e oito” (L 2).
B
“conquanto ache” (L 8).
C
“ou volta para Barbacena” (L. 18).
D
“Meu desejo é ficar” (L. 20).
E
“quero gozar a vida” (L. 20).
1d84333d-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Manifesta-se, no excerto de Quincas Borba, um tema que, relativamente frequente na ficção dos dois últimos séculos, é central nesse romance, a saber, o tema

Texto para a questão.


Machado de Assis, Quincas Borba. 

A
do contraponto entre o apego provinciano à tradição e a modernização urbana.
B
do interiorano ingênuo esbulhado pela gente da capital.
C
do “fugere urbem” — o do abandono das cidades, em busca do bucolismo campestre.
D
da mulher sentimental, dividida entre dois amores.
E
da oposição entre tendências nacionalistas e cosmopolitas.
1d6aef0c-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

I No primeiro parágrafo, o autor apresenta a teoria segundo a qual existem duas possibilidades de implantação de uma língua em um novo ambiente. Ao chamá-las de “extremas”, ele revela que não concorda com a referida teoria, por considerá-la exagerada.

II No segundo parágrafo, introduzem-se informações novas referentes ao esquema exposto no primeiro, as quais têm a finalidade de relativizar a apresentação desse esquema.

III No terceiro parágrafo, ao comparar a história do português com a do latim, o autor introduz uma terceira possibilidade de implantação de uma língua em um novo ambiente.

IV No quarto parágrafo, o autor explica por que a implantação do português no Brasil se insere na segunda possibilidade apresentada no início do texto.


Está correto apenas o que se afirma em

texto para a questão.




J. Mattoso Câmara Jr., A língua literária. In: A. Coutinho (org.), A literatura no Brasil, 1968. 

A
I e III.
B
II e III.
C
II e IV.
D
I, II e IV.
E
I, III e IV.
1d63f1fe-de
FGV 2013 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Examine o seguinte texto, extraído de uma matéria jornalística:

Segundo estudos da USP, por ano, 50 milhões de raios caem no país. Especialistas dizem que numa tempestade a pessoa deve evitar lugares altos e abertos, como campos de futebol e ficar sob árvores, dentro de mar ou piscina.

Folha de S. Paulo, 07/01/2012.


Tendo em vista sua finalidade comunicativa, pode-se apontar, nesse texto, o defeito da

A
ambiguidade.
B
redundância.
C
prolixidade.
D
inadequação léxica.
E
mistura de variedades linguísticas.
2e04f3fc-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Por perceber na mineralização (da personagem) um processo de reificação (coisificação) do ser, recusa-se expressamente a converter-se em mineral a personagem

    Depois de uma parte de concerto, que foi como descanso reparador, seguiu-se a oferta do busto. Teve a palavra o Professor Venâncio.
(...)
O orador acumulou paciente todos os epítetos de engrandecimento, desde o raro metal da sinceridade até o cobre dúctil, cantante das adulações. Fundiu a mistura numa fogueira de calorosas ênfases, e sobre a massa bateu como um ciclope, longamente, até acentuar a imagem monumental do diretor.
    Aristarco depois do primeiro receio esquecia-se na delícia de uma metamorfose. Venâncio era o seu escultor.
    A estátua não era mais uma aspiração: batiam-na ali. Ele sentia metalizar-se a carne à medida que o Venâncio falava. Compreendia inversamente o prazer de transmutação da matéria bruta que a alma artística penetra e anima: congelava-lhe os membros uma frialdade de ferro; à epiderme, nas mãos, na face, via, adivinhava reflexos desconhecidos de polimento. Consolidavam-se as dobras das roupas em modelagem resistente e fixa. Sentia-se estranhamente maciço por dentro, como se houvera bebido gesso. Parava-lhe o sangue nas artérias comprimidas. Perdia a sensação da roupa; empedernia-se, mineralizava-se todo. Não era um ser humano: era um corpo inorgânico, rochedo inerte, bloco metálico, escória de fundição, forma de bronze, vivendo a vida exterior das esculturas, sem consciência, sem individualidade, morto sobre a cadeira, oh, glória! Mas feito estátua.
    “Coroemo-lo!” bradou de súbito Venâncio.

                                               Raul Pompeia, O Ateneu
A
Leonardo (pai), de Memórias de um sargento de milícias.
B
João Romão, de O cortiço.
C
Rubião, de Quincas Borba.
D
Macunaíma, de Macunaíma.
E
Olímpico, de A hora da estrela.
2e082838-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Esse livro representa a fase intensa, mas breve, de uma esperança que nasceu sob a resistência do mundo livre à fúria nazifacista, mas que logo se retraiu com o advento da guerra fria.
As indicações presentes na afirmação acima permitem concluir que o livro nela mencionado é 

A
Macunaíma, de Mário de Andrade.
B
São Bernardo, de Graciliano Ramos.
C
A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade.
D
Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.
E
A hora da estrela, de Clarice Lispector.
2e0b763b-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Tanto esse trecho de Drummond quanto o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, apresentam a figuração de coletivos humanos em ação. Embora em proporções diferentes, em ambas as obras esses coletivos são movidos sobretudo por forças de caráter

NOSSO TEMPO


(...)
                                 V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se. 
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas. 
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos! 
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa, 
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso. 
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida, 
mais tarde será o de amor. 
Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem. 


O esplêndido negócio insinua-se no tráfego. 
Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem cheiro. 
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul, 
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões, 
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem. 
(...) 

                                                 Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.

A
econômico e biológico.
B
ético e social.
C
aleatório e histórico.
D
filosófico e materialista.
E
doutrinário e espontâneo.
2e0fd729-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A representação de um processo generalizado de alienação social só NÃO é realizada, no poema, pela figuração

NOSSO TEMPO


(...)
                                 V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se. 
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas. 
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos! 
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa, 
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso. 
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida, 
mais tarde será o de amor. 
Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem. 


O esplêndido negócio insinua-se no tráfego. 
Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem cheiro. 
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul, 
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões, 
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem. 
(...) 

                                                 Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.

A
da massificação da sociedade.
B
de ações automatizadas.
C
da coisificação do homem.
D
da inconsciência da realidade.
E
de práticas erótico-amorosas.
2e134287-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Morfologia - Verbos, Coesão e coerência, Flexão verbal de modo (indicativo, subjuntivo, imperativo), Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

I A expressão “num passe” (verso 2) exprime noção de tempo.
II Segundo o poeta, “na hora formidável do almoço”, ocorrem os movimentos de fluxo e refluxo, expressos, respectivamente, por “esvaziam-se” e “se recuperam”.
III O último verso contém dois verbos no imperativo (“toma” e “extrai”), por meio dos quais o poeta se dirige ao leitor.

Está correto apenas o que se afirma em 

NOSSO TEMPO


(...)
                                 V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se. 
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas. 
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos! 
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa, 
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso. 
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida, 
mais tarde será o de amor. 
Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem. 


O esplêndido negócio insinua-se no tráfego. 
Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem cheiro. 
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul, 
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões, 
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem. 
(...) 

                                                 Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.

A
I.
B
II.
C
III.
D
I e II.
E
I e III.
2e011ce0-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No excerto, diz o narrador que Aristarco “mineralizava-se todo”, via-se mudado, de ser vivo, em elemento mineral. Processos de mineralização são também centrais na caracterização da principal personagem feminina do romance

    Depois de uma parte de concerto, que foi como descanso reparador, seguiu-se a oferta do busto. Teve a palavra o Professor Venâncio.
(...)
O orador acumulou paciente todos os epítetos de engrandecimento, desde o raro metal da sinceridade até o cobre dúctil, cantante das adulações. Fundiu a mistura numa fogueira de calorosas ênfases, e sobre a massa bateu como um ciclope, longamente, até acentuar a imagem monumental do diretor.
    Aristarco depois do primeiro receio esquecia-se na delícia de uma metamorfose. Venâncio era o seu escultor.
    A estátua não era mais uma aspiração: batiam-na ali. Ele sentia metalizar-se a carne à medida que o Venâncio falava. Compreendia inversamente o prazer de transmutação da matéria bruta que a alma artística penetra e anima: congelava-lhe os membros uma frialdade de ferro; à epiderme, nas mãos, na face, via, adivinhava reflexos desconhecidos de polimento. Consolidavam-se as dobras das roupas em modelagem resistente e fixa. Sentia-se estranhamente maciço por dentro, como se houvera bebido gesso. Parava-lhe o sangue nas artérias comprimidas. Perdia a sensação da roupa; empedernia-se, mineralizava-se todo. Não era um ser humano: era um corpo inorgânico, rochedo inerte, bloco metálico, escória de fundição, forma de bronze, vivendo a vida exterior das esculturas, sem consciência, sem individualidade, morto sobre a cadeira, oh, glória! Mas feito estátua.
    “Coroemo-lo!” bradou de súbito Venâncio.

                                               Raul Pompeia, O Ateneu
A
Senhora, de José de Alencar.  
B
Quincas Borba, de Machado de Assis.
C
O cortiço, de Aluísio Azevedo.
D
Macunaíma, de Mário de Andrade.
E
São Bernardo, de Graciliano Ramos.
2dfdacd4-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Tendo em vista que a cena aqui reproduzida representa o ápice da solenidade bienal de distribuição dos prêmios aos colegiais, confirma-se o paradoxo de que o colégio Ateneu tem como objetivo primordial

    Depois de uma parte de concerto, que foi como descanso reparador, seguiu-se a oferta do busto. Teve a palavra o Professor Venâncio.
(...)
O orador acumulou paciente todos os epítetos de engrandecimento, desde o raro metal da sinceridade até o cobre dúctil, cantante das adulações. Fundiu a mistura numa fogueira de calorosas ênfases, e sobre a massa bateu como um ciclope, longamente, até acentuar a imagem monumental do diretor.
    Aristarco depois do primeiro receio esquecia-se na delícia de uma metamorfose. Venâncio era o seu escultor.
    A estátua não era mais uma aspiração: batiam-na ali. Ele sentia metalizar-se a carne à medida que o Venâncio falava. Compreendia inversamente o prazer de transmutação da matéria bruta que a alma artística penetra e anima: congelava-lhe os membros uma frialdade de ferro; à epiderme, nas mãos, na face, via, adivinhava reflexos desconhecidos de polimento. Consolidavam-se as dobras das roupas em modelagem resistente e fixa. Sentia-se estranhamente maciço por dentro, como se houvera bebido gesso. Parava-lhe o sangue nas artérias comprimidas. Perdia a sensação da roupa; empedernia-se, mineralizava-se todo. Não era um ser humano: era um corpo inorgânico, rochedo inerte, bloco metálico, escória de fundição, forma de bronze, vivendo a vida exterior das esculturas, sem consciência, sem individualidade, morto sobre a cadeira, oh, glória! Mas feito estátua.
    “Coroemo-lo!” bradou de súbito Venâncio.

                                               Raul Pompeia, O Ateneu
A
o desenvolvimento físico do estudante, não o intelectual.
B
a realização do pedagogo, não a do estudante.
C
o fortalecimento do caráter do educando, não sua maior flexibilidade moral.
D
o incremento da filosofia, não o da técnica.
E
a metalurgia, não a pedagogia.
2dfa0c2c-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerada no contexto de O Ateneu, a cena em que Aristarco se vê, simbolicamente, convertido em estátua de metal representa o resultado ou a consumação das motivações principais da personagem, a saber, a

    Depois de uma parte de concerto, que foi como descanso reparador, seguiu-se a oferta do busto. Teve a palavra o Professor Venâncio.
(...)
O orador acumulou paciente todos os epítetos de engrandecimento, desde o raro metal da sinceridade até o cobre dúctil, cantante das adulações. Fundiu a mistura numa fogueira de calorosas ênfases, e sobre a massa bateu como um ciclope, longamente, até acentuar a imagem monumental do diretor.
    Aristarco depois do primeiro receio esquecia-se na delícia de uma metamorfose. Venâncio era o seu escultor.
    A estátua não era mais uma aspiração: batiam-na ali. Ele sentia metalizar-se a carne à medida que o Venâncio falava. Compreendia inversamente o prazer de transmutação da matéria bruta que a alma artística penetra e anima: congelava-lhe os membros uma frialdade de ferro; à epiderme, nas mãos, na face, via, adivinhava reflexos desconhecidos de polimento. Consolidavam-se as dobras das roupas em modelagem resistente e fixa. Sentia-se estranhamente maciço por dentro, como se houvera bebido gesso. Parava-lhe o sangue nas artérias comprimidas. Perdia a sensação da roupa; empedernia-se, mineralizava-se todo. Não era um ser humano: era um corpo inorgânico, rochedo inerte, bloco metálico, escória de fundição, forma de bronze, vivendo a vida exterior das esculturas, sem consciência, sem individualidade, morto sobre a cadeira, oh, glória! Mas feito estátua.
    “Coroemo-lo!” bradou de súbito Venâncio.

                                               Raul Pompeia, O Ateneu
A
autoglorificação e a vocação científica.
B
inveja e o sonho de invulnerabilidade.
C
vaidade e a sede de lucro.
D
luxúria e o desejo de santificação.
E
gula e a ganância.
2df261ff-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Parênteses, Adjetivos, Uso dos dois-pontos, Pontuação, Morfologia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Depreende-se da leitura do texto que

A exaltação do indivíduo como representante dos mais elevados valores humanos que esta sociedade produziu, combinada ao achatamento subjetivo sofrido pelos sujeitos sob os apelos monolíticos da sociedade de consumo, produz este estranho fenômeno em que as pessoas, despojadas ou empobrecidas em sua subjetividade, dedicam-se a cultuar a imagem de outras, destacadas pelos meios de comunicação como representantes de dimensões de humanidade que o homem comum já não reconhece em si mesmo. Consome-se a imagem espetacularizada de atores, cantores, esportistas e alguns (raros) políticos, em busca do que se perdeu exatamente como efeito da espetacularização da imagem: a dimensão, humana e singular, do que pode vir a ser uma pessoa, a partir do singelo ponto de vista de sua história de vida.

                Eugênio Bucci e Maria R. Kehl, Videologias: ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo, 2004.
A
o uso de parênteses no trecho “alguns (raros) políticos” introduz uma pausa no texto, sem, contudo, atribuir ao adjetivo um sentido especial.
B
o adjetivo “empobrecidas” contém um julgamento mais neutro do que o termo “despojadas”.
C
os dois-pontos no final do texto introduzem uma explicação que se refere ao trecho “do que se perdeu”.
D
a “espetacularização da imagem” se opõe aos “apelos monolíticos da sociedade de consumo”.
E
o “singelo ponto de vista da história de vida de uma pessoa” também é um efeito da espetacularização do indivíduo.
2dedacb6-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerados no contexto em que ocorrem, os trechos “exaltação do indivíduo” e “achatamento subjetivo sofrido pelos sujeitos” estabelecem, entre si, relação de

A exaltação do indivíduo como representante dos mais elevados valores humanos que esta sociedade produziu, combinada ao achatamento subjetivo sofrido pelos sujeitos sob os apelos monolíticos da sociedade de consumo, produz este estranho fenômeno em que as pessoas, despojadas ou empobrecidas em sua subjetividade, dedicam-se a cultuar a imagem de outras, destacadas pelos meios de comunicação como representantes de dimensões de humanidade que o homem comum já não reconhece em si mesmo. Consome-se a imagem espetacularizada de atores, cantores, esportistas e alguns (raros) políticos, em busca do que se perdeu exatamente como efeito da espetacularização da imagem: a dimensão, humana e singular, do que pode vir a ser uma pessoa, a partir do singelo ponto de vista de sua história de vida.

                Eugênio Bucci e Maria R. Kehl, Videologias: ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo, 2004.
A
aparente contradição.
B
redundância.
C
causa e consequência.
D
todo e parte, respectivamente.
E
oposição, do tipo positivo e negativo, respectivamente.
2de0708d-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Das características abaixo atribuídas às aspas, a única que NÃO expressa a opinião do autor é:

Sem aspas na língua


    De início, o que me incomodava era o peso desproporcional que as aspas dão à palavra. Se escrevo mouse pad, por exemplo, suscito em seu pensamento apenas o quadradinho discreto que vive ao lado do teclado, objeto não mais notável na economia do cotidiano do que as dobradiças da janela ou o porta-escova de dentes. Já "mouse pad" parece grafado em neon, brilha diante de seus olhos como o luminoso de uma lanchonete americana. Desequilibra.
    Tá legal, eu aceito o argumento: não se pode exigir do leitor que saiba outra língua além do português. Se encasqueto em ornar meu texto com "dramblys" ou "haveloos" - termos em lituano e holandês para elefante e mulambento, respectivamente -, as aspas surgem para acalmar quem me lê, como se dissessem: "Queridão, os termos discriminados são coisa doutras terras e doutra gente, nada que você devesse conhecer".
    Pois é essa discriminação o que, agora sei, mais me incomoda. Vejo por trás das aspas uma pontinha de xenofobia, como se para circular entre nós a palavra estrangeira precisasse andar com o passaporte aberto, mostrando o carimbo na entrada e na saída.
    Ora, por quê? Será que "blackberries" rolando livremente por nossa terra poderiam frutificar e, como ervas daninhas, roubar os nutrientes da graviola, da mangaba e do cajá? "Samplers", sem as barrinhas duplas de proteção, acabariam poluindo o português com "beats" exógenos, condenando-o a uma versão "remix"? Caso recebêssemos "blowjobs" sem o supracitado preservativo gráfico, doenças venéreas se espalhariam por nosso exposto vernáculo?
    Bobagem, pessoal. Livremos as nossas frases desses arames farpados, desses cacos de vidro. A língua é viva: quanto mais línguas tocar, mais sabores irá provar e experiências poderá acumular.


                            Antônio Prata, Folha de S. Paulo, 22/05/2013. Adaptado

A
têm efeito discriminativo.
B
têm um quê de xenofobia.
C
são necessárias, em alguns casos.
D
chamam a atenção do leitor desnecessariamente.
E
expõem o vernáculo a ataques exógenos.
2de45f92-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nos trechos abaixo, o autor dirige-se ao leitor. Desses trechos, o único que pressupõe a opinião do leitor é:

Sem aspas na língua


    De início, o que me incomodava era o peso desproporcional que as aspas dão à palavra. Se escrevo mouse pad, por exemplo, suscito em seu pensamento apenas o quadradinho discreto que vive ao lado do teclado, objeto não mais notável na economia do cotidiano do que as dobradiças da janela ou o porta-escova de dentes. Já "mouse pad" parece grafado em neon, brilha diante de seus olhos como o luminoso de uma lanchonete americana. Desequilibra.
    Tá legal, eu aceito o argumento: não se pode exigir do leitor que saiba outra língua além do português. Se encasqueto em ornar meu texto com "dramblys" ou "haveloos" - termos em lituano e holandês para elefante e mulambento, respectivamente -, as aspas surgem para acalmar quem me lê, como se dissessem: "Queridão, os termos discriminados são coisa doutras terras e doutra gente, nada que você devesse conhecer".
    Pois é essa discriminação o que, agora sei, mais me incomoda. Vejo por trás das aspas uma pontinha de xenofobia, como se para circular entre nós a palavra estrangeira precisasse andar com o passaporte aberto, mostrando o carimbo na entrada e na saída.
    Ora, por quê? Será que "blackberries" rolando livremente por nossa terra poderiam frutificar e, como ervas daninhas, roubar os nutrientes da graviola, da mangaba e do cajá? "Samplers", sem as barrinhas duplas de proteção, acabariam poluindo o português com "beats" exógenos, condenando-o a uma versão "remix"? Caso recebêssemos "blowjobs" sem o supracitado preservativo gráfico, doenças venéreas se espalhariam por nosso exposto vernáculo?
    Bobagem, pessoal. Livremos as nossas frases desses arames farpados, desses cacos de vidro. A língua é viva: quanto mais línguas tocar, mais sabores irá provar e experiências poderá acumular.


                            Antônio Prata, Folha de S. Paulo, 22/05/2013. Adaptado

A
“suscito em seu pensamento”.
B
“Tá legal, eu aceito o argumento”.
C
“nada que você devesse conhecer”.
D
“Ora, por quê?”.
E
Bobagem, pessoal”.
2ddbeb1f-d8
FGV 2014 - Português - Interpretação de Textos, Denotação e Conotação, Funções da Linguagem: emotiva, apelativa, referencial, metalinguística, fática e poética., Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O título do texto resulta de um trocadilho com a frase feita de origem popular “não ter papas na língua”. Comparados título e frase feita, pode-se afirmar:

Sem aspas na língua


    De início, o que me incomodava era o peso desproporcional que as aspas dão à palavra. Se escrevo mouse pad, por exemplo, suscito em seu pensamento apenas o quadradinho discreto que vive ao lado do teclado, objeto não mais notável na economia do cotidiano do que as dobradiças da janela ou o porta-escova de dentes. Já "mouse pad" parece grafado em neon, brilha diante de seus olhos como o luminoso de uma lanchonete americana. Desequilibra.
    Tá legal, eu aceito o argumento: não se pode exigir do leitor que saiba outra língua além do português. Se encasqueto em ornar meu texto com "dramblys" ou "haveloos" - termos em lituano e holandês para elefante e mulambento, respectivamente -, as aspas surgem para acalmar quem me lê, como se dissessem: "Queridão, os termos discriminados são coisa doutras terras e doutra gente, nada que você devesse conhecer".
    Pois é essa discriminação o que, agora sei, mais me incomoda. Vejo por trás das aspas uma pontinha de xenofobia, como se para circular entre nós a palavra estrangeira precisasse andar com o passaporte aberto, mostrando o carimbo na entrada e na saída.
    Ora, por quê? Será que "blackberries" rolando livremente por nossa terra poderiam frutificar e, como ervas daninhas, roubar os nutrientes da graviola, da mangaba e do cajá? "Samplers", sem as barrinhas duplas de proteção, acabariam poluindo o português com "beats" exógenos, condenando-o a uma versão "remix"? Caso recebêssemos "blowjobs" sem o supracitado preservativo gráfico, doenças venéreas se espalhariam por nosso exposto vernáculo?
    Bobagem, pessoal. Livremos as nossas frases desses arames farpados, desses cacos de vidro. A língua é viva: quanto mais línguas tocar, mais sabores irá provar e experiências poderá acumular.


                            Antônio Prata, Folha de S. Paulo, 22/05/2013. Adaptado

A
O primeiro deve ser entendido em sentido conotativo; a segunda, em sentido denotativo.
B
Ambos têm caráter metalinguístico e se referem à liberdade de expressão.
C
O título traduz revolta e a frase feita, submissão.
D
Tanto o título quanto a frase feita sugerem que escrever é mais complicado do que falar.
E
Ambos poderiam ser acompanhados pelo comentário metalinguístico “literalmente falando”.