Tanto esse trecho de Drummond quanto o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, apresentam a
figuração de coletivos humanos em ação. Embora em proporções diferentes, em ambas as obras
esses coletivos são movidos sobretudo por forças de caráter
NOSSO TEMPO
(...) VEscuta a hora formidável do almoçona cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se. As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas. Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos! Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa, olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso. Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida, mais tarde será o de amor. Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego. Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem cheiro. Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul, vem na areia, no telefone, na batalha de aviões, toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem. (...) Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.
NOSSO TEMPO
Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.
Gabarito comentado
Análise da questão – Interpretação de Texto / Semântica:
Esta questão exige a interpretação de texto, mais especificamente a identificação das forças dominantes que movem coletivos humanos, tanto no poema de Carlos Drummond de Andrade quanto no romance “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo.
Ponto-chave: Na interpretação de textos literários, especialmente em provas de concursos, é fundamental analisar não só o que está explícito, mas aquilo que está implícito pelas imagens, metáforas e símbolos. Obras ligadas ao Naturalismo e ao contexto da urbanização, como as citadas, geralmente enfocam aspectos práticos, fisiológicos e econômicos da vida humana coletiva.
Justificativa da Alternativa Correta – Letra A:
No trecho poético, as ações descritas (almoçar, voltar ao trabalho, negócios) remetem a necessidades econômicas (trabalho, produção, negócios) e biológicas (alimentação, instinto de sobrevivência). De modo semelhante, em “O Cortiço”, os personagens agem impulsionados pela busca pela sobrevivência material e por necessidades fisiológicas, elementos clássicos do naturalismo (como lembra Rocha Lima, a análise das motivações humanas nesses contextos é essencial – Gramática Normativa da Língua Portuguesa).
Crítica às alternativas incorretas:
B) Ético e social: Não há destaque para dilemas éticos nem para o papel de normas sociais, mas sim para a natureza instintiva e prática das ações.
C) Aleatório e histórico: As condutas não são aleatórias; são claramente determinadas por necessidades básicas. O aspecto histórico existe, mas não é a força motriz dos coletivos.
D) Filosófico e materialista: Apesar do materialismo parecer viável, o termo “filosófico” não descreve o determinismo das ações descritas no texto.
E) Doutrinário e espontâneo: Não há foco em doutrinas ou na espontaneidade das ações; os personagens agem de forma quase programada pelas necessidades.
Estratégia para futuras questões: Busque primeiramente identificar o tema central do texto e, depois, analise quais são as motivações dos personagens ou grupos. Questões literárias em concursos frequentemente exigem esse tipo de leitura focada nas forças motrizes dos personagens.
Em gramáticas de referência como Bechara e Cunha & Cintra, interpretação exige atenção ao contexto sociocultural das obras, como se aplica aqui.
Gabarito: A) econômico e biológico.
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