Depreende-se da leitura do texto que
A exaltação do indivíduo como representante dos mais elevados valores humanos que esta
sociedade produziu, combinada ao achatamento subjetivo sofrido pelos sujeitos sob os apelos
monolíticos da sociedade de consumo, produz este estranho fenômeno em que as pessoas,
despojadas ou empobrecidas em sua subjetividade, dedicam-se a cultuar a imagem de outras,
destacadas pelos meios de comunicação como representantes de dimensões de humanidade que o
homem comum já não reconhece em si mesmo. Consome-se a imagem espetacularizada de atores,
cantores, esportistas e alguns (raros) políticos, em busca do que se perdeu exatamente como efeito da
espetacularização da imagem: a dimensão, humana e singular, do que pode vir a ser uma pessoa, a
partir do singelo ponto de vista de sua história de vida.
Eugênio Bucci e Maria R. Kehl, Videologias: ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo, 2004.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto e Pontuação — Uso dos Dois-Pontos.
Esta questão avalia sua habilidade de interpretar relações de sentido entre as partes do texto, especialmente a partir do uso normativo dos dois-pontos. Conforme a Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara, os dois-pontos são usados para introduzir explicação, exemplificação ou esclarecimento de uma ideia exposta anteriormente.
Justificativa para a alternativa correta (C):
A alternativa C está correta porque, ao final do texto, os dois-pontos introduzem uma explicação detalhada para o que vem sendo discutido: “o que se perdeu exatamente como efeito da espetacularização da imagem”. O trecho após os dois-pontos (“a dimensão, humana e singular, do que pode vir a ser uma pessoa, a partir do singelo ponto de vista de sua história de vida”) explicita o que foi perdido, cumprindo a função de esclarecimento exigida pela regra normativa.
Análise das alternativas incorretas:
A) O uso do parêntese em “alguns (raros) políticos” não é neutro. Ele serve para enfatizar que os políticos destacados são poucos, conferindo sentido especial à palavra “raros”, e não apenas para criar uma pausa. Pegadinha clássica: cuidado, pois o parêntese costuma realçar termos.
B) “Empobrecidas” não é mais neutro que “despojadas”; ambos expressam perda, mas “empobrecidas” tende até a ser mais crítico, pois sugere carência indesejada. Segundo Cunha & Cintra, termos de valor negativo carregam julgamento no contexto.
D) Não há oposição entre “espetacularização da imagem” e “apelos monolíticos da sociedade de consumo”; eles se complementam no texto, sendo ambos efeitos do mesmo fenômeno.
E) O “singelo ponto de vista de sua história de vida” não é um efeito, mas uma perda provocada pela espetacularização — exatamente o oposto do que afirma a alternativa.
Estrategicamente: sempre identifique a função dos sinais de pontuação e seu papel na construção do sentido textual. Grifos, pontuações e palavras entre parênteses QUASE SEMPRE dão pistas interpretativas importantes sobre ênfase, ironia ou esclarecimento.
Resumo: Dois-pontos introduzem explicação (regra gramatical), e identificar esse papel resolve a questão. Confira sempre no texto para não se confundir com opiniões pessoais ou pegadinhas de adjetivos e conectivos.
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