Leia o diálogo a seguir:
Dormir é com o Seu Soronho, escanchado beato, logo atrás do pigarro.
De lá do coice, voz nasal, cavernosa, rosna Realejo. E todos falam.
— Se o carro desse um abalo maior...
— Se nós todos corrêssemos, ao mesmo tempo...
— O homem-do-pau-comprido rolaria para o chão.
— Ele está na beirada...— Está cai-não-cai, na beiradinha...
— Se o bezerro, lá na frente, de repente gritasse, nós teríamos de
correr, sem pensar, de supetão...
— E o homem cairia...— Daqui a pouco... Daqui a pouco...— Cairia...
Cairia... — Agora! Agora!— Môung! Mûng!— ...rolaria para o chão.
— Namorado, vamos!!!...
Tiãozinho deu um grito e um salto para o lado, e a vara assobiou no
ar...
E os oito bois das quatro juntas se jogaram para diante, de uma vez...
E o carro pulou forte, e craquejou, estrambelhado, com um guincho do
cocão.
— Virgem, minha Nossa Senhora!... Ôa, ôa, boi!... Ôa, meu Deus do
céu!...
Agenor Soronho tinha o sono sereno, a roda esquerda lhe colhera
mesmo o pescoço, e a algazarra não deixou que se ouvisse xingo ou praga — assim não se pôde saber ao certo se o carreiro despertou ou não,
antes de desencarnar.
(ROSA, João Guimarães. “Conversa de bois”. Sagarana.
Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, p. 234-235.)
O trecho acima, do conto “Conversa de bois”, de Guimarães Rosa, além
da consciência dos bois, que dialogam entre si, revela a seguinte ação
contra um homem, que está dormindo e é carregado por estes bois:
Leia o diálogo a seguir:
Dormir é com o Seu Soronho, escanchado beato, logo atrás do pigarro.
De lá do coice, voz nasal, cavernosa, rosna Realejo. E todos falam.
— Se o carro desse um abalo maior...
— Se nós todos corrêssemos, ao mesmo tempo...
— O homem-do-pau-comprido rolaria para o chão.
— Ele está na beirada...— Está cai-não-cai, na beiradinha...
— Se o bezerro, lá na frente, de repente gritasse, nós teríamos de correr, sem pensar, de supetão...
— E o homem cairia...— Daqui a pouco... Daqui a pouco...— Cairia... Cairia... — Agora! Agora!— Môung! Mûng!— ...rolaria para o chão.
— Namorado, vamos!!!...
Tiãozinho deu um grito e um salto para o lado, e a vara assobiou no ar...
E os oito bois das quatro juntas se jogaram para diante, de uma vez... E o carro pulou forte, e craquejou, estrambelhado, com um guincho do cocão.
— Virgem, minha Nossa Senhora!... Ôa, ôa, boi!... Ôa, meu Deus do céu!...
Agenor Soronho tinha o sono sereno, a roda esquerda lhe colhera mesmo o pescoço, e a algazarra não deixou que se ouvisse xingo ou praga — assim não se pôde saber ao certo se o carreiro despertou ou não, antes de desencarnar.
(ROSA, João Guimarães. “Conversa de bois”. Sagarana.
Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, p. 234-235.)
O trecho acima, do conto “Conversa de bois”, de Guimarães Rosa, além
da consciência dos bois, que dialogam entre si, revela a seguinte ação
contra um homem, que está dormindo e é carregado por estes bois: