NÃO corresponde à ideia de poemas em “estado de dicionário”:
Texto para a questão:
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
(DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A rosa do povo (1945).
Rio de Janeiro: Record, 2006. pp. 25-6 (fragmento)
Texto para a questão:
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
(DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A rosa do povo (1945). Rio de Janeiro: Record, 2006. pp. 25-6 (fragmento)
Gabarito comentado
Tema central da questão:
Trata-se de uma questão de interpretação de texto, com foco no entendimento de metáforas, semântica e figuras de linguagem. O ponto-chave é compreender o significado da expressão "estado de dicionário" no contexto do poema de Carlos Drummond de Andrade.
Análise da alternativa correta (D):
A alternativa D) poemas “que provocam” NÃO corresponde à ideia de “estado de dicionário”. No poema, quando Drummond fala de poemas em “estado de dicionário”, refere-se ao estado inerte, potencial e silencioso das palavras antes de se transformarem em poesia. As palavras estão isoladas, aguardando serem ativadas e organizadas pelo poeta. Provocar sugere uma atitude ativa, inquieta, de movimentação, o oposto do que caracteriza o “estado de dicionário”, que é expectativa e passividade. Por isso, a alternativa D está correta ao apontar o que não corresponde à metáfora apresentada.
Análise das alternativas incorretas:
A) “que esperam ser escritos”;
B) “Estão paralisados”;
C) “sós e mudos”;
E) “no limbo”
Todas essas expressões reforçam o sentido de latência, espera e ausência de ação, exatamente como ocorre com as palavras catalogadas no dicionário, que só aguardam serem escolhidas e utilizadas. São metáforas do potencial poético ainda não realizado, perfeitamente coerentes com a ideia de “estado de dicionário”.
Estratégia de resolução:
Ao interpretar poesia, leia atentamente as imagens e metáforas. Sempre associe expressões do texto à ideia central (neste caso, inércia ou atividade). Cuidado com opções que mudam sutilmente o sentido, substituindo um estado passivo por um ativo — essa é uma pegadinha clássica.
Referências gramaticais:
Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, a metáfora atribui sentido novo, como no caso do “estado de dicionário”, e Bechara lembra que a prosopopeia está presente quando damos vida ou intenção ao que é estático ou abstrato.
Resumo: As alternativas corretas pertencem ao campo da inércia e expectativa; a errada, ao da ação e provocação.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






