Questão 50b126f7-df
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Infância, de Graciliano Ramos, é considerado um livro de memórias, ou
seja, o narrador conta, literariamente, ao leitor as recordações de um
período de sua vida. Sabendo disso, assinale a alternativa que apresente todas as afirmações corretas:
I. O texto pode ser considerado autobiográfico, o que pode ser verificado pelo uso de primeira pessoa do singular (“E senti pena de
Nero”);
II. Há, no texto, a convivência de dois tempos o do enunciador, ou seja,
o momento em que o narrador conta a história aos leitores, e o do
enunciado, o tempo em que os acontecimentos narrados ocorreram;
III. A subjetividade do narrador impregna o texto a partir de imagens
que simbolizam tal fato da infância: “qualquer coisa de frio, úmido,
viscoso, que me dava a absurda impressão de uma lesma vertebrada
e muito rápida”;
IV. A variedade de características negativas ligadas ao personagem descrito amplifica o sentimento que o narrador parece ainda guardar
por Fernando.
Infância, de Graciliano Ramos, é considerado um livro de memórias, ou
seja, o narrador conta, literariamente, ao leitor as recordações de um
período de sua vida. Sabendo disso, assinale a alternativa que apresente todas as afirmações corretas:
I. O texto pode ser considerado autobiográfico, o que pode ser verificado pelo uso de primeira pessoa do singular (“E senti pena de
Nero”);
II. Há, no texto, a convivência de dois tempos o do enunciador, ou seja,
o momento em que o narrador conta a história aos leitores, e o do
enunciado, o tempo em que os acontecimentos narrados ocorreram;
III. A subjetividade do narrador impregna o texto a partir de imagens
que simbolizam tal fato da infância: “qualquer coisa de frio, úmido,
viscoso, que me dava a absurda impressão de uma lesma vertebrada
e muito rápida”;
IV. A variedade de características negativas ligadas ao personagem descrito amplifica o sentimento que o narrador parece ainda guardar
por Fernando.
Texto para a questão:
É uma das recordações mais desagradáveis que me fi caram: sujeito magro, de olho duro, aspecto tenebroso. Não me lembro de o ter visto sorrir.
A voz áspera, modos sacudidos, ranzinza, impertinente, Fernando era assim. E junto a isso qualquer coisa de frio, úmido, viscoso, que me dava a
absurda impressão de uma lesma vertebrada e muito rápida. [...]
Essas noções me chegavam lentas e incompletas. Novo ainda, eu não
entendia certas coisas. Entretanto, aquele indivíduo me causava arrepios.
Sempre foi demasiado grosseiro comigo, e isto me levou a aceitar sem
exame os boatos que circulavam a respeito dele. Acostumei-me a julgálo um bicho perigoso. E lendo no dicionário encarnado, onde existiam
bandeiras de todos os países e retratos de personagens vultosas, que Nero
tinha sido o maior dos monstros, duvidei. Maior que Fernando? A afirmação do livro me embaraçava. Como seria possível medir por dentro as
pessoas? E senti pena de Nero, que nunca me havia feito mal. Fernando
me atormentava e era péssimo. Talvez não fosse o pior monstro da Terra, mas era safadíssimo. O rosto de caneco amassado, a fala dura e impertinente, os resmungos, o olho oblíquo e cheio de fel, um jeito impudente e
desgostoso, um ronco asmático findo em sopro, tudo me dava a certeza
de que Fernando encerrava muito veneno. Se aquele sopro, rumor de
caldeira, se transformava em palavras, saíam dali brutalidades. O sujeito se
tornou para mim um símbolo — e pendurei nele todas as misérias.
(RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008. pp. 185-6.)
Texto para a questão:
É uma das recordações mais desagradáveis que me fi caram: sujeito magro, de olho duro, aspecto tenebroso. Não me lembro de o ter visto sorrir.
A voz áspera, modos sacudidos, ranzinza, impertinente, Fernando era assim. E junto a isso qualquer coisa de frio, úmido, viscoso, que me dava a
absurda impressão de uma lesma vertebrada e muito rápida. [...]
Essas noções me chegavam lentas e incompletas. Novo ainda, eu não
entendia certas coisas. Entretanto, aquele indivíduo me causava arrepios.
Sempre foi demasiado grosseiro comigo, e isto me levou a aceitar sem
exame os boatos que circulavam a respeito dele. Acostumei-me a julgálo um bicho perigoso. E lendo no dicionário encarnado, onde existiam
bandeiras de todos os países e retratos de personagens vultosas, que Nero
tinha sido o maior dos monstros, duvidei. Maior que Fernando? A afirmação do livro me embaraçava. Como seria possível medir por dentro as
pessoas? E senti pena de Nero, que nunca me havia feito mal. Fernando
me atormentava e era péssimo. Talvez não fosse o pior monstro da Terra, mas era safadíssimo. O rosto de caneco amassado, a fala dura e impertinente, os resmungos, o olho oblíquo e cheio de fel, um jeito impudente e
desgostoso, um ronco asmático findo em sopro, tudo me dava a certeza
de que Fernando encerrava muito veneno. Se aquele sopro, rumor de
caldeira, se transformava em palavras, saíam dali brutalidades. O sujeito se
tornou para mim um símbolo — e pendurei nele todas as misérias.
(RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008. pp. 185-6.)
A
I e II;
B
II e III;
C
III e IV;
D
I, II e III;
E
I, II, III e IV.