Questão 50b126f7-df
Prova:Esamc 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Infância, de Graciliano Ramos, é considerado um livro de memórias, ou seja, o narrador conta, literariamente, ao leitor as recordações de um período de sua vida. Sabendo disso, assinale a alternativa que apresente todas as afirmações corretas:


I. O texto pode ser considerado autobiográfico, o que pode ser verificado pelo uso de primeira pessoa do singular (“E senti pena de Nero”);
II. Há, no texto, a convivência de dois tempos o do enunciador, ou seja, o momento em que o narrador conta a história aos leitores, e o do enunciado, o tempo em que os acontecimentos narrados ocorreram;
III. A subjetividade do narrador impregna o texto a partir de imagens que simbolizam tal fato da infância: “qualquer coisa de frio, úmido, viscoso, que me dava a absurda impressão de uma lesma vertebrada e muito rápida”;
IV. A variedade de características negativas ligadas ao personagem descrito amplifica o sentimento que o narrador parece ainda guardar por Fernando.

Texto para a questão:


     É uma das recordações mais desagradáveis que me fi caram: sujeito magro, de olho duro, aspecto tenebroso. Não me lembro de o ter visto sorrir. A voz áspera, modos sacudidos, ranzinza, impertinente, Fernando era assim. E junto a isso qualquer coisa de frio, úmido, viscoso, que me dava a absurda impressão de uma lesma vertebrada e muito rápida. [...]
     Essas noções me chegavam lentas e incompletas. Novo ainda, eu não entendia certas coisas. Entretanto, aquele indivíduo me causava arrepios. Sempre foi demasiado grosseiro comigo, e isto me levou a aceitar sem exame os boatos que circulavam a respeito dele. Acostumei-me a julgálo um bicho perigoso. E lendo no dicionário encarnado, onde existiam bandeiras de todos os países e retratos de personagens vultosas, que Nero tinha sido o maior dos monstros, duvidei. Maior que Fernando? A afirmação do livro me embaraçava. Como seria possível medir por dentro as pessoas? E senti pena de Nero, que nunca me havia feito mal. Fernando me atormentava e era péssimo. Talvez não fosse o pior monstro da Terra, mas era safadíssimo. O rosto de caneco amassado, a fala dura e impertinente, os resmungos, o olho oblíquo e cheio de fel, um jeito impudente e desgostoso, um ronco asmático findo em sopro, tudo me dava a certeza de que Fernando encerrava muito veneno. Se aquele sopro, rumor de caldeira, se transformava em palavras, saíam dali brutalidades. O sujeito se tornou para mim um símbolo — e pendurei nele todas as misérias.
(RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008. pp. 185-6.)

A
I e II;
B
II e III;
C
III e IV;
D
I, II e III;
E
I, II, III e IV.

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