Questão 963cd9d0-e6
Prova:Esamc 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O terceiro parágrafo do texto apresentado, ao comparar o universo de leitura de mundo dos cães ao dos seres humanos, estabelece também uma relação de equivalência entre:

Cientistas descobrem o que passa pela cabeça dos animais

(Alexandre Versignassi e Eduardo Szklarz)


    [...] Para começar a entender como funciona a inteligência em mentes que não são de Homo sapiens, temos que compreender como elas percebem o mundo. Para os humanos, uma rosa é uma flor romântica. Para um besouro, ela é um território de caça. Um leopardo mal percebe que as rosas existem. Um cachorro não vai ligar pra ela, a menos que ela contenha xixi de outro cachorro ou tenha sido tocada pelo dono. Aí sim, ele vai dar à rosa um montão de significados.

    “Enquanto somos seres visuais, os cães sentem a realidade com o focinho”, diz a psicóloga americana Alexandra Horowitz, especialista em comportamento animal. Ao cheirar um cafezinho, por exemplo, algumas pessoas conseguem saber se ele foi adoçado com uma colherinha de açúcar. Já um beagle consegue farejar uma colher de açúcar diluída numa quantidade de café equivalente a duas piscinas olímpicas.

    Assim, o universo dos cachorros é um extrato de cheiros diferentes. Talvez por isso eles não liguem para a própria imagem no espelho. Mesmo que não concluam que a imagem é a deles, não sentem nenhum cheiro diferente, então não interpretam como sendo outro cachorro. Esse supernariz também lhes confere a habilidade de um detetive. Graças aos odores que você exala e às células epiteliais que deixa pelo caminho, seu cão sabe quase tudo sobre você: por onde andou, que objetos tocou, o que comeu, se beijou alguém ou se correu um pouco. Exceto a comida, claro, ele não se interessa pelos outros dados. O olfato do cão é capaz até de rastrear doenças em humanos, como mostra um recente estudo da Universidade Kyushi, no Japão. O labrador Marine, de 8 anos, detectou câncer de intestino ao cheirar o hálito e as fezes de pacientes. Tumores de pele, pulmão e bexiga também já foram farejados por cães em estudos anteriores. Mas nem vem, cachorrada: nossa capacidade de ler placas lá longe na estrada deixaria vocês morrendo de inveja.

    [...] Golfinhos aprendem linguagens artificiais, como demonstrou o psicólogo Louis Herman, da Universidade do Havaí, EUA. Numa delas, palavras representadas por sons de computador formavam 2 mil frases. Quando os golfinhos ouviam “ESQUERDO BOLA BATER”, por exemplo, entendiam que era para bater na bola do lado esquerdo. E também compreendiam a ordem das palavras. Sabiam que o pedido “PRANCHA PESSOA ÁGUA” era para que levassem uma prancha a uma pessoa que estava na água. Já “PESSOA PRANCHA ÁGUA” era para levar a pessoa à prancha na água. Não existe diferença entre fazer isso e aprender um idioma. Ponto para os golfos.

    Mas talvez nem eles sejam páreo para Chaser, uma border collie. A cadela aprendeu o nome de mais de mil objetos - a maioria brinquedos, mas tudo bem. Seu dono, um psicólogo, já nem conta mais quantas palavras ela sabe. Agora ele prefere lhe ensinar rudimentos de gramática. Então estamos de acordo: certos animais, quando treinados, conseguem compreender parte da linguagem humana. [...] a ideia de que eles praticamente não se comunicam entre si morreu faz tempo. Até as abelhas fazem isso: elas dançam para informar a distância e a direção das fontes de alimentos.

    Golfinhos têm uma linguagem interna. Eles se comunicam por assobios e sinais corporais como saltos, tapas da cauda na água e fricção da mandíbula. Cada animal tem uma modulação única, o que lhe confere uma voz individual.

    Kathleen Dudzinski, diretora do Dolphin Communication Project, escuta esses animais há quase 20 anos com aparelhos que registram a frequência e as nuances de sua linguagem. Mas admite que ainda falta muito para decifrá-la, sobretudo porque golfinhos nadam rápido e é difícil captar uma conversa entre vários animais debaixo d’água. Além disso, cada sinal varia conforme o contexto. Com os humanos é igual: dependendo da situação, uma pessoa que levanta a mão aberta quer dizer “tchau”, “pare” ou “custa R$ 5”. [...]

    Golfinhos têm um lado sádico: se aproximam sorrateiramente de gaivotas que descansam na água, dão um caldo nelas e as liberam depois de mantê-las alguns segundos debaixo d’água, sofrendo.

    Mas o macaco rhesus, um primata asiático com jeito de babuíno, está aí para redimir seus colegas aquáticos. Num estudo da Universidade Northwestern, EUA, os macacos precisavam apertar um botão para ganhar comida. Mas sempre que eles faziam isso outros rhesus levavam um choque (de leve, mas um choque). Alguns macacos não se importaram. Mas com outros foi diferente. O psicólogo americano Frans De Wall conta melhor: “Um macaco parou de apertar o botão por 12 dias depois de ver outro levar choque. Ele estava morrendo de fome para não causar sofrimento aos outros”. Pois é. Não precisa ser gente para pensar, se emocionar ou aproveitar a vida. Nem para ser gente fina.

    [...]


(Adaptado de http://super.abril.com.br/ciencia/cientistas-descobrem-o-que-passapela-cabeca-dos-animais?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=f acebook&utm_campaign=redesabril_super)

A
olfato e odores
B
olfato e letras
C
odores e texturas
D
odores e visão
E
odores e letras

Gabarito comentado

J
João PedroMonitor do Qconcursos

Tema e habilidade: interpretação de texto (analogia/ equivalência de sentidos) e leitura de elementos de coesão comparativa. O trecho usa a conjunção enquanto com valor contrastivo-comparativo, recurso descrito nas gramáticas normativas (cf. Cegalla; Bechara) para opor dois modos de perceber o mundo.

Estratégia para resolver: localizar, no 3º parágrafo, os marcadores que contrapõem humanos e cães. Palavras-chave: “somos seres visuais”, “os cães sentem a realidade com o focinho”, “o universo dos cachorros é um extrato de cheiros”, “interpretam” e “significados”. A partir disso, identifique o paralelismo: para humanos, a leitura do mundo se dá sobretudo por visão/letras; para os cães, por olfato/odores.

Alternativa correta: E — “odores e letras”

O texto sugere uma equivalência funcional: os odores para os cães cumprem papel semelhante ao que as letras cumprem para os humanos na “leitura de mundo”. Ou seja, os cães “leem” o ambiente pelos cheiros, assim como os humanos leem significados por meio de letras e visão. Essa equivalência decorre de expressões como “somos seres visuais” versus “os cães sentem a realidade com o focinho” e “universo […] é um extrato de cheiros”.

Por que as demais estão erradas

A — “olfato e odores”Incorreta. Aqui não há equivalência entre espécies, mas uma relação interna ao cão: olfato (sentido) capta odores (estímulos). A questão pede a equivalência entre o modo de leitura dos cães e o dos humanos.

B — “olfato e letras”Incorreta. Mistura níveis diferentes: opõe um sentido (olfato) a um signo (letras). O paralelo correto seria sentido a sentido (olfato ↔ visão) ou signo a signo (odores ↔ letras). A equivalência pedida é a de signos.

C — “odores e texturas”Incorreta. “Texturas” não é eixo do parágrafo; o contraste trabalhado é olfativo (cães) versus visual/linguístico (humanos).

D — “odores e visão”Incorreta. De novo, mistura categorias: compara um signo/estímulo (odores) com um sentido (visão). O texto indica que a visão humana se associa às letras na leitura de mundo, não diretamente a “odores”.

Pegadinha da questão: trocar o sentido (visão/olfato) pelo signo (letras/odores). Para não errar, pergunte-se: “O que, para o cão, funciona como ‘unidade de leitura’ do ambiente?” Resposta: os odores. “E, para o humano?” Resposta: as letras.

Notas de norma:

- Conjunção enquanto com valor contrastivo-comparativo (não apenas temporal), conforme a Gramática Normativa (Cegalla; Bechara). Ex.: “Enquanto uns preferem a visão, outros privilegiam o olfato.”

- Ortografia conforme o VOLP: olfato, odor(es), letra(s).

Resumo para memorizar: Humanos “leem” o mundo por visão + letras; cães “leem” por olfato + odores. Logo, a equivalência pedida é odores ↔ letras (alternativa E).

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