Questõesde CÁSPER LÍBERO 2019

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Foram encontradas 38 questões
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o excerto crítico relacionado a Minha vida de menina, de Helena Morley:

A
“Para expor o painel amplo, diacrônico, das significações imaginárias que configuram as formas da identidade brasileira, a obra tem que enfrentar as separações radicais que existem na sociedade. Essa pode ser uma razão para que tenham sido abandonados a estruturação fragmentária, mais descritiva, e o veio paródico das primeiras páginas”. (Eneida Leal Cunha).
B
“Há um verdadeiro acontecimento cultural e estético na união entre prosa clara, objetiva, de recorte raciocinante, orientada pelo interesse pessoal, e, de outro lado, a religiosidade tradicional, as imensas parentelas, as classes sociais excluídas da propriedade, a massa de bens que só ocasionalmente têm forma mercantil”. (Roberto Schwarz).
C
“A obra é a que trabalha mais extensiva e conscientemente com as complexas interconexões entre ficção e história. Descartando deliberadamente a linearidade preferida por historiadores e romancistas realistas, a autora constrói uma série de subenredos que pontuam a intersecção entre as histórias pessoais e familiares de dezenas de personagens de diversas classes e origens sociais”. (Luiz Fernando Valente).
D
“O leitor, no entanto – quando aprende a lidar com os obstáculos naturais que a obra lhe coloca, alerta para não se atordoar pela vertiginosa sucessão de assuntos, para não perder, neste ir e vir cronológico, a coerência evolutiva da trama principal – é recompensado com protagonistas nos quais psicologia individual e fundo mítico atingem uma combinação poderosa”. (Rodrigo Lacerda).
E
“Só assim harmonizaremos os dois aspectos de sua obra: a da crítica e cronista, sempre atenta aos valores reais da literatura, no plano da erudição e da crítica, e a da romancista que construiu um livro de indiscutível unidade e que individualizou a sua presença na evolução do romance de língua portuguesa”. (Josué Montello).
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que está em desacordo com as características de Minha vida de menina, de Helena Morley:

A
“Depoimento circunscrito ao plano biográfico ou geográfico”.
B
“A meio caminho do documento e da ficção”.
C
“Caderno de anotações escrito à margem da literatura”.
D
“Prosa coloquial, cheia de chiste e tão próxima (...) da sua fonte popular”.
E
“Penetrante nos juízos, exata e espirituosa nas análises”.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Funções morfossintáticas da palavra SE

Assinale a opção em que o vocábulo “se” tem a mesma função sintática daquele presente em “Quanto tempo se perde por esperarmos pelos outros”:

A
Trabalha-se muito por ali.
B
Não se abre telhado com chuva.
C
Ela se obrigou a uma viagem indesejável.
D
Ele resolveu alistar-se.
E
Arrepender-se é uma virtude.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente a forma narrativa de Sagarana, de João Guimarães Rosa (Todas as definições são do crítico literário Luiz Costa Lima):

A
“Ocorre a libertação completa do anedótico que antes encompridava a narrativa”.
B
“O anedótico sobre o qual assenta a narrativa é seguido com uma fidelidade constante. O seu conjunto é realmente um conjunto de contos”.
C
“O autor não se contenta com a afirmação em linha reta e faz do seu mesmo descontentamento verbal a sua forma de riqueza. Ao contrário, elas se lançam adiante em um ritmo cumulativo”.
D
. “A palavra se confunde com uma pincelada solta, irregular, que menos visasse a distinguir as criaturas do seu contorno do que os apreender simultaneamente”.
E
“A palavra caminha solta. Não tem que seguir os contornos do acontecimento”.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o excerto crítico relacionado a Sagarana, de João Guimarães Rosa:

A
“A obra se caracteriza pela paixão de contar. O autor chega à condescendência excessiva para com ela, a ponto de quebrar a espinha das suas histórias a fim de dar relevo a narrativas secundárias, terciárias, cujo conjunto resulta mais importante do que a narrativa central. (...). Todos os meios e até a ampliação retórica são bons, desde que nos arrebatem da vida, transportando-nos para a vida mais intensa da arte”. (Antonio Candido).
B
“Estonteado pela multiplicidade dos temas, a polifonia dos tons, o formigar dos caracteres, o fervilhar de motivos, o leitor naturalmente há de, no fim do volume, tentar uma classificação das narrativas. É provável que a ordem alfabética de sua colocação dentro do livro seja apenas um despistamento e que a sucessão delas obedeça a intenções ocultas”. (Paulo Rónai).
C
“O internado pode ser o espaço onde o mal campeia; de tanto viver nesse espaço, aceitando as regras do jogo, e de um jogo tremendo que leva à morte e à danação, o sujeito como que transporta o espaço exterior para dentro de si. (...) Esse subconjunto de imagens (...) aparecem em historietas avulsas ao enredo, aparecem sob a forma de ideias gerais como o ditado e o adágio, aparecem na história de vida de personagens secundários, aparecem nos incidentes que compõem a trama do enredo, seja em discurso direto, seja em falar figurado”. (Walnice Nogueira Galvão).
D
“Se há necessidade de classificação literária para a obra, não há dúvida de que se trata de uma epopeia. (...) A intercalação de episódios convergentes com a ação principal, mas de função adjuntiva, podendo adquirir independência formal, aparece frequentemente”. (Manuel Cavalcanti Proença).
E
“A obra constitui, a nosso ver, a experiência estrutural mais arrojada de João Guimarães Rosa. O aspecto caótico daquelas páginas sugere imediatamente uma aproximação com James Joyce. (...) mas no caso presente, a descontinuidade narrativa é apenas aparente, não estando a serviço daquele propósito de simultaneidade tão indiscutível em Ulisses”. (Rui Mourão).
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o que representa a filosofia do humanitismo em Quincas Borba, de Machado de Assis:

A
O absurdo da economia brasileira.
B
O idealismo político do século XIX.
C
Um egotismo sofisticado.
D
Um julgamento moral imemorial.
E
A dimensão tragicômica da vida.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que está em desacordo com a estrutura narrativa de Quincas Borba, de Machado de Assis:

A
Trama complexa, do ponto de vista narrativo; ambicioso painel que explora situações psicológicas e tensões morais.
B
Obra alegórica, contendo uma dimensão política oculta, subjacente à trama. Muitos personagens de ficção demasiado próximos às de figuras históricas.
C
Onisciência e onipotência do narrador; variação do foco da ação; ampliação do grupo de personagens em torno do qual gira a obra.
D
Narrador que comenta caprichosamente os acontecimentos; afirmação da ironia essencial do ficcionista diante da fábula.
E
Discreta paródia de certos expedientes do romance-folhetim; repetidas alusões a personagens, palavras e obras exemplares da literatura universal.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o excerto crítico relacionado a Quincas Borba, de Machado de Assis:

A
“Os homens retratados por Machado de Assis em sua ficção são filhos de mulheres, não de homens – muitas vezes ausentes. Tem sido notado que as mulheres de Machado de Assis são, com frequência, mais bem retratadas e constituem personagens maiores que os homens em suas obras. Em outras palavras, o romance forma um “panegírico de santa Mônica” das mulheres brasileiras, e de todas as mulheres”. (Helen Caldwell).
B
“Após a revelação da estrutura mítica, poder-se-ia afirmar que nesse rumo é que foi dirigido o “pensamento interior e único” de que trata o prólogo do romance? (...) Não há como dissociar qualquer dessas duas direções do núcleo interior do pensamento do romancista, notando-se que ambas contribuíram para assegurar ao romance um cunho universal, fazendo-o, por outro lado, transcender as naturais e inevitáveis limitações do tempo histórico”. (Eugênio Gomes).
C
“O tom do romance, em sua gratuidade, logo postula um ambiente de aceitação irresponsável e ironia solta, um és não és de farsa metafísica. O leitor não pode levar a sério o tom do suposto autor e logo de saída vê-se na contingência de engatilhar um sorriso divertido ou meio forçado, conforme entram a reagir os seus nervos”. (Augusto Meyer).
D
“O romance aqui é um simples acidente. O que é fundamental e orgânico é a descrição dos costumes, a filosofia social que está implícita. (...) Com efeito, vemos de um lado o ceticismo, perguntando se, atrás de um ato que desperta o entusiasmo e desafia a crítica e a malevolência, não há motivos recônditos que o reduzem a proporções de um fato qualquer banal. De outro, há a satisfação, o contentamento, que acha que tudo vai muito bem, no melhor dos mundos imagináveis”. (Capistrano de Abreu).
E
“... é muito mais rico de vida e substância humana do que o romance anterior. É o mais arejado dos seus livros, e o que apresenta a melhor dramatização. A atitude sarcástica e falsa do livro anterior cede lugar a uma severa dramaticidade, que suporta a medida do trágico. (...). A motivação psicológica da ação dos personagens é muito mais fina e sutil”. (Barreto Filho).
09f3798c-eb
CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Assinale a opção em que o advérbio tem o mesmo valor semântico daquele presente em “Debalde eles lutavam contra a má sorte”.

A
Certamente, ela seria mais feliz na Europa.
B
Quiçá teremos um final de semana ensolarado.
C
Cerrou os olhos profundamente.
D
Outrora, retumbaram hinos.
E
Então, não se cava a terra?
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Ortografia, Acentuação Gráfica: Proparoxítonas, Paraxítonas, Oxítonas e Hiatos

Assinale a opção que apresenta a palavra cuja acentuação destoa das demais segundo as regras da norma culta:

A
Bávaro
B
Período
C
Ínterim
D
Lâmpada
E
Saída
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Sintaxe, Concordância verbal, Concordância nominal

Assinale a opção que não atende corretamente às regras de concordância nominal, de acordo com a norma culta:

A
Usavam ternos e gravatas claros.
B
Ofereci-lhe lindas rosas e lírios.
C
Temos feito bastantes exercícios.
D
Elas estavam meias chateadas.
E
Achei simpático o aluno e seus pais.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Pronomes relativos, Coesão e coerência, Morfologia - Pronomes

Assinale a opção que identifica corretamente o termo a que se refere o pronome relativo que aparece em: “Conheci no ano passado uma pessoa incrível a partir de cuja amizade meus dias ficaram mais inteligentes”.

A
Passado
B
Incrível
C
Dias
D
Pessoa
E
Amizade
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Adjetivos, Morfologia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o adjetivo que qualifica a acepção de realidade apresentada no texto:

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
A
Plural
B
Fenomenológica
C
Cotidiana
D
Singular
E
Comprimida
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

É correto afirmar que o conceito de política, no sentido amplo pensado no texto, compreende:

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
A
um sistema de produção empresarial submetido às mesmas pressões e demandas sofridas pelo mundo das atividades econômicas.
B
não apenas a atividade das pessoas envolvidas diretamente com os partidos políticos, mas também uma prática legitimada por artistas e seus mais variados públicos.
C
as ações relativas à restrição de poderes, ao controle de identidades e à discriminação de lugares e direitos no espaço público.
D
o resultado da interação entre pessoas eleitas, filiadas a um partido, responsáveis por fazer leis ou administrar.
E
a produção de discursos – em outras palavras, as manifestações artísticas, culturais, literárias, musicais – que marcam a posição dos indivíduos e grupos diante da realidade.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

Assinale a opção que identifica corretamente o paradoxo a que se refere o terceiro parágrafo do texto:

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
A
a própria dinâmica da sociedade.
B
se dissolve quando se lembra.
C
a dialética da produção cultural.
D
vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais.
E
ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a opção que identifica corretamente o sentido da expressão “em diagonal” na frase: “Em uma acepção de ‘popular’ que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latinoamericanos”:

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
A
que discorda radicalmente.
B
que reflete a luz da objetiva para a ocular.
C
que não segue o mesmo caminho.
D
que está em relação de ubiquidade.
E
que demonstra malícia ou sinuosidade.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De acordo com o texto, é correto afirmar que, em uma cultura vinculada às mídias, o entretenimento:

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
A
é um veículo de representações e sentidos que serão negociados com o público e apropriados de maneiras diversas.
B
caminhou ao lado das tecnologias disponíveis, adotando os códigos, as formas e as linguagens específicas dessas mídias para constituir um universo à parte.
C
é uma ação apolítica, na medida em que está somente vinculado a representações de identidades e à construção de visões de mundo de determinados grupos sociais.
D
é um lugar pouco afeito à construção de representações sociais.
E
pode se tornar uma espécie de local de hostilidades e guerra cultural.
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CÁSPER LÍBERO 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De acordo com o texto, é correto afirmar que as relações entre entretenimento e política implicam a ideia de que:

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
A
à medida que os ambientes das mídias digitais e as transformações da indústria cultural se afirmam como espaços de participação avessos à política, a própria noção de democracia vem se transformando para dar conta dos cenários contemporâneos.
B
a produção cultural vinculada de alguma forma aos meios de comunicação é parcialmente responsável por auxiliar na construção de gostos, ideias, significados e estilos de vida.
C
quando se pensa o poder como a seleção de alguns dos discursos em circulação pela sociedade, responsáveis por gerar tanto práticas quanto representações, o domínio da política se restringe consideravelmente.
D
devido à descrença quanto à ação dos políticos, busca-se viver um dia de cada vez e refugia-se em um repertório povoado de personagens de filmes e novelas, música popular e citações de séries de televisão.
E
as diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na cultura de massa um poderoso instrumento para a veiculação de ideias e a consequente formação e manipulação da opinião pública.