Questão 09d97ecf-eb
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Assinale a opção que identifica corretamente o sentido da expressão “em diagonal” na frase:
“Em uma acepção de ‘popular’ que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latinoamericanos”:
Assinale a opção que identifica corretamente o sentido da expressão “em diagonal” na frase:
“Em uma acepção de ‘popular’ que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latinoamericanos”:
DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino
As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação
tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível
destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de
política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de
natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva
crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar
essa questão
O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque
ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas
estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo
parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”,
como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos
discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu
trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas,
trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes
na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado
de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos,
permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações.
Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo
tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma
medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se
lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana.
Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida
humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante
articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos
como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença
inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias
da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.
A realidade compartilhada
O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a
atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta
disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de
alguma maneira com as interações mediadas.
Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação,
transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida
e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais
foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar
também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento
de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano”
– torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis,
múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades,
sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia
em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas
presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações,
inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar
um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas
categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea.
Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura
vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história
cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação
e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não
tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das
pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB,
rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).
DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino
As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação
tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível
destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de
política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de
natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva
crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar
essa questão
O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque
ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas
estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo
parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”,
como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos
discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu
trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas,
trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes
na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado
de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos,
permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações.
Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo
tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma
medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se
lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana.
Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida
humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante
articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos
como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença
inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias
da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.
A realidade compartilhada
O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a
atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta
disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de
alguma maneira com as interações mediadas.
Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação,
transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida
e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais
foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar
também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento
de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano”
– torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis,
múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades,
sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia
em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas
presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações,
inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar
um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas
categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea.
Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura
vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história
cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação
e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não
tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das
pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB,
rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).
A
que discorda radicalmente.
B
que reflete a luz da objetiva para a ocular.
C
que não segue o mesmo caminho.
D
que está em relação de ubiquidade.
E
que demonstra malícia ou sinuosidade.