Segundo a conhecida alegoria da caverna, que aparece no Livro VII da República, de Platão, há
prisioneiros, voltados para uma parede em que são projetadas as sombras de objetos que eles não podem ver.
Esses prisioneiros representam a humanidade em seu estágio de mais baixo saber acerca da realidade e de si
mesmos: a doxa, ou “opinião”. Um desses prisioneiros é libertado à força, num processo que ele quer evitar
e que lhe causa dor e enormes dificuldades de visão (conhecimento). Gradativamente, ele é conduzido para
fora da caverna, a um estágio em que pode ver as coisas em si mesmas, isto é, os fundamentos eternos de
tudo o quê, antes, ele via somente mediante sombras. Esses fundamentos são as Formas. Para além das
Formas, brilha o Sol, que representa a Forma das Formas, o Bem, fonte essencial de todo ser e de todo
conhecer e unicamente acessível mediante intuição direta. Com base nisso, responda à seguinte questão: se
chegamos ao conhecimento das Formas mediante a dialética, que é o estabelecimento de fundamentos que
possibilitam o conhecimento das coisas particulares (sombras), é CORRETO dizer:
Gabarito comentado
Alternativa correta: D
Tema central: A questão explora a alegoria da caverna (República, Livro VII) e a função da dialética na subida do conhecimento da doxa (opinião) às Formas e, além delas, ao Bem (a Forma das Formas). É importante distinguir: (1) conhecimento das coisas particulares (sombras), (2) conhecimento das Formas (coisas em si) e (3) a apreensão do Bem.
Resumo teórico: Para Platão, a dialética é o método racional que, por refutação e estabelecimento de princípios, permite a ascensão do conhecimento sensível para o inteligível — ou seja, levar o filósofo das opiniões para as Formas. As Formas são realidades inteligíveis; o Bem é superior às próprias Formas e, na alegoria, é simbolizado pelo Sol. Segundo o enunciado dado, o Bem exige uma intuição direta final, além da prática dialética (cf. Platão, República, Livro VI–VII; Stanford Encyclopedia of Philosophy, “Plato’s Middle Period”).
Por que D está correta: A alternativa D afirma que a dialética não é o último estágio do ser e do conhecer, mas permite, por um processo difícil e exigente, chegar às coisas em si (as Formas). Isso concorda com a descrição: a dialética conduz ao conhecimento das Formas mediante esforço intelectual. No contexto fornecido, o Bem (a Forma das Formas) ultrapassa mesmo a dialética, exigindo uma intuição direta — daí a precisão de D.
Análise das incorretas:
- A: Errada — dialética não é conhecimento imediato (doxa) dos particulares; é justamente o oposto: método para superar a doxa e alcançar o inteligível.
- B: Errada — o Bem não é objeto sensível nem conhecido imediatamente por todos; é a causa última, acessível apenas ao filósofo que o intui.
- C: Errada — as Formas não são meras suposições teóricas sem realidade; para Platão elas têm realidade inteligível e fundamento ontológico.
- E: Errada — contradiz a explicação do enunciado: aqui a dialética não é apresentada como o último estágio capaz, por si só, de apreender o Bem; o Bem exige além da dialética uma intuição direta.
Dica de interpretação: Busque termos-chave no enunciado (por ex., "intuição direta", "dialética", "Formas", "Bem"). Muitas pegadinhas combinam conceitos (ex.: confundir doxa com episteme). Relacione sempre método (dialética) → objeto (Formas) → princípio supremo (Bem) e verifique se a alternativa respeita essa ordem.
Fontes úteis: Platão, República (Livro VI–VII); Stanford Encyclopedia of Philosophy — “Plato’s Middle Period”.
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