Leia atentamente o fragmento a seguir:

“O homem selvagem, entregue pela natureza unicamente ao instinto, ou melhor, compensado daquele que talvez lhe falte, por faculdades capazes primeiro de o substituírem e depois de elevá-lo muito acima do que era, começará, pois, pelas funções puramente animais: perceber e sentir será seu primeiro estado, que lhe será comum com todos os animais. Querer e não querer, desejar e temer, serão as primeiras e quase as únicas operações de sua alma até que novas circunstâncias nele provoquem novos desenvolvimentos”.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os

homens. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.174.

A respeito do pensamento contratualista de Rousseau, podemos afirmar que: 

Resposta correta: Alternativa B

1. Tema central: trata-se do estado de natureza em Rousseau e da origem da moral e da liberdade. É essencial distinguir seu pensamento do de Hobbes e Locke para não confundir conclusões sobre propriedade, poder e liberdade.

2. Resumo teórico sucinto: em Discurso sobre a Desigualdade (1755), Rousseau descreve o homem no estado de natureza como movido por amour de soi (amor-próprio natural) e pela pitié (compaixão), com liberdade natural — não uma liberdade legal, mas ausência de dominação. A moral, para ele, nasce com o desenvolvimento das faculdades humanas e das relações sociais; o sentimento (incluindo a compaixão e o amor-próprio natural) é priorizado nas fases iniciais sobre a razão abstrata. (Fonte: Rousseau, Discourse on the Origin of Inequality; ver também Stanford Encyclopedia of Philosophy.)

3. Justificativa da alternativa correta (B): Rousseau sustenta que, no estado de natureza, a conduta humana é guiada por sentimentos naturais (percepção, desejo, medo, compaixão) — daí a ideia de que a moral primária está enraizada na sensibilidade e na liberdade natural. Assim, dizer que "a moral é fundada na liberdade, isto é, na primazia do sentimento sobre a razão" sintetiza corretamente a posição rousseauniana sobre as primeiras motivações morais.

4. Por que as demais estão erradas:

A: diz que o bom selvagem não tem livre-arbítrio. Incorreto — Rousseau admite capacidades volitivas (querer/não querer) naturais; o que falta é uma moral socializada, não a faculdade de escolha.

C: afirma que Rousseau defende retorno à animalidade. Errado — ele descreve o homem natural como menos corrompido, mas não preconiza regressão; critica a desigualdade gerada pela sociedade.

D: afirma que no estado natural a propriedade é direito dos mais fortes. Isso é oposto a Rousseau: a propriedade surge historicamente com a sociedade e é fonte de desigualdade; não é um direito natural legitimado por Rousseau.

E: atribui ao Estado a finalidade de manter o direito de propriedade (visão lockeana). Rousseau critica essa justificativa: o contrato social legítimo visa a liberdade e a vontade geral, não a proteção primeiro da propriedade privada.

5. Estratégia para concursos: ao ver termos como "propriedade", "direito natural" e "finalidade do Estado", compare mentalmente as posições de Locke, Hobbes e Rousseau. Palavras-chave rousseaunianas: amour de soi, pitié, desigualdade como produto social.

Referências: ROUSSEAU, J.-J., Discourse on the Origin of Inequality (1755); Stanford Encyclopedia of Philosophy — entry “Rousseau”.

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