Leia o poema a seguir.

de que seda
é tua pele?

de que fogo
minha sede?

de que vida
tua vinda?

pedaço que padeço
sonho que teço

que jogo
nos vence?

cedo
mais cedo
do que penso

(RUIZ S., Alice. Dois em um. São Paulo: Iluminuras, 2018. p. 41.)

Com base no poema, considere as afirmativas a seguir.

I. Ao unir “sede” e “fogo” no mesmo dístico, o sujeito lírico reforça os paradoxos do desejo e o vigor da sensualidade.

II. No jogo entre “vida” e “vinda”, há a sugestão de que o sentimento é motivado por uma ocorrência extraordinária.

III. Na última estrofe, o termo “cedo”, além da semelhança com “seda” e “sede”, comporta ambiguidade, pois pode ser verbo e advérbio.

IV. No verso “pedaço que padeço”, há uma antítese que reitera a dualidade dos sentimentos expostos também nos demais versos.

Assinale a alternativa correta.

Tema central: Interpretação de texto poético com foco em figuras de linguagem (paradoxo, ambiguidade, paronomásia, antítese) e análise semântica de versos.

Justificativa da alternativa correta (letra D):

Para resolver a questão, é preciso identificar como o poeta emprega recursos estilísticos para expressar emoções e jogos de sentidos. A interpretação de texto poético exige atenção às relações entre palavras, ao duplo sentido e à representação simbólica nas imagens construídas no poema.

• I – Correta. Ao aproximar “fogo” e “sede”, cria-se um paradoxo: o fogo é fonte de calor e destruição, mas aparece como aquilo que alimenta a sede do eu-lírico. Isso traduz o desejo intenso, conforme ensina Evanildo Bechara: o paradoxo reforça contrastes internos e sensuais.
• II – Correta. O jogo entre “vida” e “vinda”, recurso de paronomásia, sugere que a chegada da pessoa desejada é um evento transformador, impregnando de sentido novo (“vida”) o presente do eu-lírico, o que indica uma ocorrência extraordinária, conforme ensina Celso Cunha.
• III – Correta. “Cedo” pode ser advérbio de tempo (logo, antes do esperado) ou verbo “ceder” (eu cedo, eu me entrego). Essa ambiguidade amplia as interpretações: pode sugerir entrega amorosa ou um acontecimento inesperado e precoce. A análise semântica aqui é essencial: atenção à polissemia!
• IV – Incorreta. A expressão “pedaço que padeço” apresenta sentido metafórico de falta ou sofrimento, mas não há antítese, visto que não há oposição clara de ideias (não se contrapõe, apenas sugere que o eu-lírico sofre devido a uma parte ausente). Por regra, antítese só se configura com polos claramente opostos.

Análise das alternativas:
Apenas as afirmativas I, II e III estão de acordo com a interpretação cuidadosa do texto e a correta identificação das figuras de linguagem. Cuidado: a IV pode enganar por mencionar “dualidade”, mas “padecer” reforça o sentimento de incompletude, e não contraste opositivo.

Dicas para provas:
Sempre leia detidamente cada alternativa, reflita sobre definições exatas de figuras de linguagem e examine se realmente há dupla interpretação, antítese ou paradoxo, para não cair em pegadinhas!

Gabarito: Letra D

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