Leia o texto a seguir.
E se escrevo em francês, que é a língua de meu país, e não em latim, que é a de meus preceptores, é porque
espero que aqueles que se servem apenas de sua razão natural inteiramente pura julgarão melhor minhas
opiniões do que aqueles que não acreditam senão nos livros dos antigos. E quanto aos que unem o bom senso
ao estudo, os únicos que desejo para meus juízes, não serão de modo algum, tenho certeza, tão parciais a favor
do latim que recusem ouvir minhas razões, porque as explico em língua vulgar.
DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção “Os pensadores”. p.
79.
Com base nos conhecimentos sobre Descartes e o surgimento da filosofia moderna, assinale a alternativa correta.
Leia o texto a seguir.
E se escrevo em francês, que é a língua de meu país, e não em latim, que é a de meus preceptores, é porque espero que aqueles que se servem apenas de sua razão natural inteiramente pura julgarão melhor minhas opiniões do que aqueles que não acreditam senão nos livros dos antigos. E quanto aos que unem o bom senso ao estudo, os únicos que desejo para meus juízes, não serão de modo algum, tenho certeza, tão parciais a favor do latim que recusem ouvir minhas razões, porque as explico em língua vulgar.
DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção “Os pensadores”. p. 79.
Com base nos conhecimentos sobre Descartes e o surgimento da filosofia moderna, assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: A questão trata do sujeito moderno em Descartes — a aposta na razão natural como fundamento do conhecimento e da autoridade intelectual, e da escolha do vernáculo (francês) para comunicar ideias.
Resumo teórico (síntese didática): Em Descartes o sujeito moderno é o sujeito pensante — o “cogito” — que fundamenta o saber pela razão e pelo método (dúvida metódica). Ao escrever em língua vulgar, Descartes quer alcançar leitores que julguem pelas suas próprias faculdades racionais, não pela autoridade dos antigos ou do latim acadêmico. Importante: Descartes não renega Deus; pelo contrário, a existência divina garante a verdade das ideias claras e distintas (Discurso do Método; Meditações).
Justificação da alternativa E: Ao afirmar que “a razão natural inteiramente pura” é atributo inerente à natureza humana, a alternativa capta a intenção cartesiana: Descartes confia numa faculdade racional comum a todos os homens, passível de uso independente da aceitação acrítica da tradição ou dos livros antigos. Ele dirige-se aos que usam “somente a sua razão natural inteiramente pura” — isto é, à capacidade racional que todos possuem. Assim, E expressa corretamente a ênfase cartesiana na universalidade da razão como base do julgamento.
Análise das alternativas incorretas:
A — Imprópria: a escolha do francês teve finalidade pragmática (alcance e persuasão) e não uma afirmação teórica de que o vernáculo “expressa melhor o espírito da modernidade”. Modernidade não se reduz à língua.
B — Incorreta: comparar Descartes a Lutero é enganoso. Lutero democratizou um texto sacro; Descartes usa o vernáculo para tornar acessível um método filosófico. Além disso, Descartes não pretende tal sacralização nem promove uma reforma religiosa equivalente.
C — Errada: a crítica cartesiana à tradição intelectual não conduz ao abandono de Deus. Pelo contrário, para Descartes a prova da existência divina é central para garantir a verdade e evitar o ceticismo radical.
D — Falaciosa: Descartes quebra com certos métodos escolásticos, mas não faz uma ruptura total com o passado; ele seleciona, critica e reconstrói o saber (reforma metodológica, não destruição absoluta).
Dica de prova: Procure termos absolutos (total, sempre, independentemente). Leia o enunciado à luz do que o autor enfatiza — aqui, “razão natural” e a intenção pedagógica de Descartes — e confronte com passagens-chave do Discurso do Método.
Fonte principal: René Descartes, Discurso do Método / Meditações. Para contextualização acadêmica: Stanford Encyclopedia of Philosophy (entrada “René Descartes”).
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